14 de junho de 2016

COSMOVISÃO MISSIONÁRIA


COSMOVISÃO MISSIONÁRIA

TEXTO ÁUREO = “E desta maneira me esforcei por anunciar o evangelho, não onde Cristo houvera sido nomeado, para não edificar sobre fundamento alheio.”

VERDADE PRÁTICA = Os crentes que foram alcançados pela graça e vivem pela fé, em Jesus Cristo, precisam ter uma visão missionaria amorosa e abrangente.

LEITURA BIBLICA = Romanos 15.20-29

INTRODUÇÃO

A essência da Epístola está agora concluída, e restam apenas as seções finais de explicação, saudação e encorajamento pessoal.

 

Godet mostra como a conclusão se correlaciona com o prefácio de Paulo (1.1-5).1 Primeiro, o apóstolo se desculpa pela ousadia com a qual escreveu aos cristãos romanos, lembrando-os de sua missão aos gentios (15.14-21). Isto corresponde a 1.14-15, onde ele se declara um “devedor” a todos os gentios, inclusive aos romanos. Ele então explica o que o tem mantido no Oriente (15.22-33). Isto completa o que ele disse em 1.11-13 sobre a impossibilidade de se por a caminho de Roma mais cedo. As saudações pessoais de 16.1-23 correspondem ao pronunciamento em 1.7: “A todos os que estais em Roma, amados de Deus”. Finalmente, a doxologia (16.25-27) nos traz de volta para a afirmação de abertura da carta, aquela do cumprimento do plano divino pelo evangelho que havia sido “antes... prometido pelos seus profetas nas Santas Escrituras” (1.1-2).

 

Justificativa de Paulo Para as Suas Admoestações

 

Como em 1.8, Paulo começa com uma referência ao bom relatório da igreja romana. Ele gentilmente se justifica pelo calor do sentimento com o qual escreveu, especial­ mente na seção anterior. A sua declaração de abertura e sensível. Eu próprio, meusirmãos, certo estou, a respeito de vós, que vós mesmos estais cheios de bondade, cheios de todo o conhecimento, podendo admoestar-vos uns aos outros

 

(14). “Embora eu tenha às vezes falado de maneira muito forte, isto não significa que eu não esteja ciente do zelo espiritual da vossa igreja”.Ele reconhece tanto a bondade de coração como a plenitude do conhecimento cristão deles.

O apóstolo continua: Mas, irmãos, em parte (apo merous, “sobre alguns pontos”, NASB, RSV), vos escrevi mais ousadamente, como para vos trazer outra vez isto à memória (15). A NEB traduz este texto do seguinte modo: “Tenho-vos escrito pararefrescar a vossa memória, e às vezes um pouco ousadamente” (tendo em vista o fato de que a igreja romana não havia sido fundada por ele).3“Paulo tinha escrito apenas sobrealguns pontos - como que dizendo: ‘Sei que há muito que vós poderíeis me ensinar acercada vida cristã’ [cf. 1.11-12] - isto indica a graça especial que lhe foi dada como o Apóstolo dos Gentios, e que tanto exige dele como o qualifica a escrever” (cf. 1.5; 12.3).

 

Ele agora chama o seu trabalho de ministrar o evangelho de serviço sacerdotal, no qual ele é o mediador do amor de Deus em Cristo aos gentios, e aquele por meio de quem os gentios se oferecem como um sacrifício a Deus (cf. 12.1). Ele fala de si mesmo como um ministro de Jesus Cristo entre os gentios, ministrando o evangelho de Deus, para que seja agradável a oferta dos gentios, santificada pelo Espírito Santo (16).

 

Três palavras gregas são empregadas como termos sacrificiais. Na LXX, a palavra ministro (leitourgon) é usada definitiva e tecnicamente em relação a um sacerdote; naEpístola aos Hebreus, Cristo é descrito como “ministro [leitourgos] do santuário e do verdadeiro tabernáculo” (Hb 8.2). Ministrando (hierourgounta) tem o sentido de “ser o sacerdote sacrificial” do evangelho de Deus. Paulo é um sacerdote, sua proclamação do evangelho, um serviço sacerdotal; seus convertidos gentios são a oferta{heprosphora) que ele apresenta a Deus.

 

Observamos anteriormente que o sacerdote do AT oferecia dois tipos gerais de sacrifício: 1) aqueles oferecidos para efetuar a reconciliação dos pecadores com Deus (a oferta pelo pecado e a oferta pela transgressão) e 2) aqueles oferecidos após a reconciliação para celebrar a expiação (a oferta queimada e a oferta pacífica). Como um sacerdote sob a nova aliança de Deus, Paulo ministrou o evangelho como 1) o mediador do amor redentor de Deus em Cristo, pelo qual Deus reconcilia os homens pecadores consigo mes­ mo (3.21-26; cf. 2 Co 5.18-21), e 2) como um chamado para os homens redimidos se apresentarem a Deus “em sacrifício vivo, santo e agradável a Deus, que é o... culto racional deles” (12.1; cf. 6.13). Como Godet observa, estas correspondem às duas principais divisões de Romanos.

 

Santificada pelo Espírito Santo é uma frase-chave. “Houve alguns, sem dúvida,que sustentaram que os convertidos de Paulo eram ‘impuros’, pelo fato de não serem circuncidados. Para estes críticos, a resposta de Paulo foi que seus convertidos eram ‘limpos’, porque foram santificados pelo Espírito Santo que veio para habitar neles...

 

Semelhantemente, no Concílio de Jerusalém, Pedro lembra aos seus companheiros crentes judeus como - quando os gentios ouviram o evangelho - Deus lhes deu o Espírito Santo ‘assim como também a nós; e não fez diferença alguma entre eles e nós, purificando o seu coração pela fé (Atos 15.8ss.).

 

A percepção desta grande verdade dá a Paulo um orgulho e confiança adequados em seu ministério. De sorte que tenho glória em Jesus Cristo nas coisas que pertencem aDeus (17). As palavras em Jesus Cristo amenizam a exaltação de Paulo (cf. G16.14). Sua glória não estava nele mesmo, mas em Cristo. Afrase: Porque não ousaria dizer coisa alguma, que Cristo por mim não tenha feito (18), pode ser traduzida da seguinteforma:

“Porque eu não me aventuraria a falar de coisa alguma, exceto do que Cristo fez pormim” (RSV). E o que era isto? Para obediência dos gentios, por palavra e por obras;pelo poder dos sinais e prodígios, na virtude do Espírito de Deus (18-19).8

 

O ministério apostólico de Paulo é aqui atestado por milagres operados pelo poder do Espírito Santo. As palavras sinais e prodígios (semeia kaiterata) são empregadas ao longo de todo o NT para expressar o que chamamos de milagres. Teras implica algo maravilhoso ou extraordinário em si; semeion representa o mesmo evento, mas visto como um sinal ou prova da mediação pela qual ele é realizado, ou o propósito que ele pretende cumprir. No Evangelho de João, os milagres de Jesus são vistos como sinais (semeia) da glória celestial.

 

Freqüentemente uma terceira palavra,dynameis, é acrescentada, para indicar que estas obras são a manifestação de um poder mais do que natural. Aqui Paulo varia a expressão dizendo que os feitos realizados em seu ministério foram efetuados “pelo poder dos sinais e prodígios” (endynameisemeionkaiteraton). Este poder é posteriormente qualificado como a virtude do Espírito(endynameipneumatos).

“Não pode haver dúvida”, dizem Sanday e Headlam, “de que nesta passagem Paulo assume que possui o poder apostólico de operar o que é comumente chamado de milagre”. A narrativa histórica de Atos apóia esta reivindicação (cf. Hb 2.3-4).

 

Devemos ter em mente que o propósito de Paulo em toda esta seção é defender a sua reivindicação de uma comissão divina como apóstolo para os gentios. Que sua missão foi poderosa e efetiva é um fato que ninguém pode negar, e ele oferece o seu registro à igreja romana como parte de suas credenciais. Ele considerou as províncias orientais do Império Romano como seu território, excluindo os lugares onde outros missionários cristãos trabalharam. Seu trabalho neste território está agora terminado, visto que desde Jerusalém e arredores até ao Ilíricoele havia pregado exaustivamente o evangelho (peplerokenaitoeuangelion,“completou a pregação do evangelho”, NEB) de Jesus Cristo. O trabalho de Paulo no Oriente estava completo.

 

A menção de Jerusalém como o ponto de partida de seu ministério pode ser explicada pelo fato de ele considerar a igreja-mãe como a base de todo o movimento cristão (cf. Lc24.47; At 1.4,8; 8.14; 9.22; 15.2). Ilíricorepresenta o ponto mais ocidental do seu ministério. Não há menção desta província (que delimita o litoral oriental do Mar Adriático) em Atos ou em qualquer uma das cartas de Paulo até este momento. Há motivo para acreditar, porém, que ele tenha evangelizado o Ilírico durante a sua prolongada estada em Efeso, em sua última viagem.

 

Há indicação de que ele cruzou a Macedônia no verão ou no outono de 55d.C. (cf. 2Co2.12-13) e passou os 15 ou 18 meses seguintes na Macedônia e Acaia. Isto deve ter ocorrido durante o período em que ele viajou ao longo da Via Egnatia em direção ao Ocidente até a fronteira do Ilírico, provavelmente atravessando o Ilírico e pregando o evangelho ali. Parece não haver nenhum outro ponto onde uma viagem ao Ilírico possa ser inserida em seu itinerário.

 

Dentro da área, porém, entre Jerusalém e o Ilírico, havia lugares onde ele não tinha pregado. Ele acreditava que a sua comissão era pregar o evangelho onde Cristo não era conhecido, a fim de não competir com outros missionários. E, ele continua, portanto, desta maneira me esforcei por anunciar o evangelho, não onde Cristohouvera sido nomeado, para não edificar sobre fundamento alheio (20). Paulodescreve o seu trabalho em outra passagem como colocando o “fundamento”, ou “colocando a pedra fundamental” (1Co3.10).

Ele então descreve no versículo 21 o objetivo de sua missão nas palavras de uma citação do AT: Antes, como está escrito: Aqueles a quem não foi anunciado o verão, e os que não ouviram o entenderão (Is 52.15, LXX). Paulo corretamente toma estas palavras para aplicá-las à extensão do conhecimento do Servo Sofredor, a lugares onde o seu Nome não foi mencionado. Isaías está falando da surpresa das nações e seus reis quando vis­ sem a exaltação do Servo Sofredor que eles anteriormente haviam desprezado.

 

Os Planos de Paulo, 15.22-33

 

Visto que Paulo concluiu o seu ministério no Oriente, ele está agora pronto para ir a Roma. O leitor percebe que ele está ciente de que a igreja romana pode sentir que a sua visita está muito atrasada, e é por esta razão que ele toma as suas dores para mostrar-lhes por que não foi antes. Pelo que (diokai, “Por essa razão”, NASB, NTLH) também mui­tas vezes tenho sido impedido de ir ter convosco (22; cf. 1.13). A razão pela qual atéaquele momento Paulo vinha sendo impedido de ir a Roma, não era tanto pelo temor de que ele poderia edificar sobre o fundamento de outro homem, mas pela necessidade de “completar a pregação do evangelho” (v. 19) em seu território anteriormente designado.

 

Mas, agora, que não tenho mais demora nestes sítios, e tendo já há muitos anos grande desejo de ir ter convosco (cf. 1.9-11), quando partir para a Espanha, irei ter convosco (23-24). A. T. Robertson comenta a franqueza surpreendente de Paulo. “Paulo está agora livre para ir a Roma, porque não há nenhuma necessidade a ser suprida pelo apóstolo no local onde ele está”. Mas a sua viagem será simplesmente uma escala em sua viagem para a Espanha.

 

Não havia necessidade de permanecer muito tempo em Roma, visto que a igreja ali era forte e próspera; era a Espanha que o estava chamando. A Espanha era uma província romana com muitos judeus, e Paulo não ficaria satisfeito até que proclamasse a Cristo na margem ocidental do império. Para usar as palavras de Wesley: a sua igreja era o mundo todo.

 

Pois espero que, de passagem, ele continua, vos verei e que para lá seja encaminhado (propempthenaiekei,“ajudado em meu caminho para lá”, NASB) por vós, depois de ter gozado um pouco da vossa companhia.

Ele agora menciona uma outra razão que causará algum atraso em sua visita a Roma, e em sua viagem missionária à Espanha. Mas, agora, vou a Jerusalém paraministrar aos santos (25). A frase ministrar aos santos (diakonontoishagiois) équase uma expressão técnica usada por Paulo para as contribuições feitas pelos cristãos gentios à igreja em Jerusalém.12Os membros da igreja em Jerusalém são os santosporexcelência (cf. 1 Co 16.1; 2 Co 9.12). Mas os convertidos de Paulo e outros cristãos gentiosse tornaram “concidadãos dos santos” (Ef 2.19), o povo santo de Deus. (Cf. 1.7, com comentários. Mais detalhes sobre a coleta são encontrados em 1Co 16.1-4 e 2 Co 8-9. Foi uma tarefa à qual Paulo conferiu grande importância).

 

Porque pareceu bem à Macedônia e à Acaia13(veja o mapa 1) fazerem uma coleta para os pobres dentre os santos que estão em Jerusalém (26). O verbo pareceu bem (eudokesan) implica que a contribuição deles foi voluntária, e feita comsinceridade e boa vontade (cf. 10.1; 1Co 1.21; G11.15). Desde o princípio parece haver um grupo bastante grande de santos pobres na igreja de Jerusalém (cf. Atos 2.44-45, 4.34-35; 6.1-3; 11.27-30). Parece que os cristãos de Jerusalém se referiam a si mesmos como “os pobres” (cf. G12.10), e em anos posteriores os cristãos judeus foram conhecidos como ebionitas (da forma heb. ebyonim, “pobre”).

 

Paulo enfatiza a boa vontade com a qual a contribuição foi feita, repetindo o verbo pareceu bem (eudokesan), mas ele continua a salientar que em outro sentido eles estavam apenas pagando uma dívida justa. Isto lhes pareceu bem, como devedores quesão para com eles. Porque, se os gentios foram participantes dos seus bens espirituais, devem também ministrar-lhes os temporais (27). Espirituais (pneumatikos) e temporais[sarkikois) são termos paulinos característicos (cf. 1 Co 9.11; 2 Co 10.4). ANASB traduz este texto da seguinte forma: “Porque se os gentios compartilharam as suas coisas espirituais, eles estão em dívida, e também devem lhes ministrar as coisas materiais”. O verbo ministrar (leitourgesai) possivelmente sugere que Paulo pensava nesta oferta como uma extensão maior de seu serviço sacerdotal (cf. v. 16).

Em 2 Coríntios 9.12 ele chama a coleta de um “serviço” (leitourgia), de onde derivamos a palavra “liturgia”.

 

Ele agora retoma o seu argumento e declara outra vez os seus planos de visitar Roma. Assim que, concluído isto, e havendo-lhes consignado (sphragisamenos) este fruto, de lá, passando por vós, irei à Espanha (28). Em vez de consignado este fruto, na NEB lê-se: “e entregar os produtos sob o meu próprio selo”.

Paulo sugereque levando a contribuição para Jerusalém e apresentando-a à igreja ali, ele coloca o seu “selo” sobre ela (como um administrador colocaria o seu selo nos frutos colhidos sob a sua direção). Ele iria assim mostrar que a contribuição era o fruto de seu ministério entre os gentios. Bruce, no entanto, pensa que talvez “não seja no próprio selo de Paulo que deva­ mos pensar, mas no selo do Espírito; aqui está a confirmação conclusiva de sua obra entre os gentios”.

 

Paulo agora dá o seu testemunho pessoal. E bem sei que, indo ter convosco,chegarei com a plenitude da (pleromata) bênção do evangelho de Cristo (29). Aspalavras do evangelho (euangelioutou) estão ausentes em todos os melhores manuscritos. Paulo está indo para Roma com a plenitude da bênção... de Cristo. Ele estava consciente da plenitude do Espírito (cf. Ef 5.18); e, portanto, poderia outorgar sobre os romanos um charisma espiritual (cf. 1.11, com comentários).

 

A referência à sua visita a Jerusalém faz o apóstolo lembrar dos perigos e ansiedades que esta viagem implica. Isto o leva a concluir a seção com uma súplica fervorosa aos cristãos romanos para que se unam em oração a seu favor. E rogo-vos, irmãos, pornosso Senhor Jesus Cristo e pelo amor do Espírito, que combatais comigo nas vossas orações por mim a Deus, para que seja livre dos rebeldes que estão na Judéia, e que esta minha administração, que em Jerusalém faço, seja bem aceita pelos santos; a fim de que, pela vontade de Deus, chegue a vós com alegria e possa recrear-me convosco (30-32). O seu apelo é baseado na devoção comum ao Senhor Jesus Cristo e ao amor do Espírito que os romanos compartilham com Paulo. Otermo que ele emprega, combatais comigo, descreve a oração que é necessária. E “uma intensa energia de oração, em luta”, uma indicação do risco que Paulo pensa estar correndo quando vai a Jerusalém.

 

Paulo não só estava preocupado acerca do tratamento que receberia dos judeus descrentes, mas também tinha receio de como esta oferta seria aceita pela igreja em Jerusalém. De fato, a igreja aparentemente recebeu a sua contribuição com gratidão (At 21.17-20). No entanto, os seus temores quanto ao que os judeus descrentes fariam se mostraram bem fundamentados. Por ordem de Tiago, Paulo foi ao Templo e executou certos ritos judaicos tradicionais em um esforço para desarmar o preconceito de seus companheiros judeus.

 

A sua presença, porém, provocou um tumulto. Ele quase foi linchado, mas foi salvo pela guarda romana (At 21.20-34). Por fim, ele foi enviado a Roma como um prisioneiro.

 

“O curso da história, no entanto, conferiu um tom profundo de ironia trágica a esta seção da carta. O homem que escreve a Roma, cheio de planos de grande projeção, que está planejando visitar a capital em seu trajeto a campos mais distantes em seus empreendimentos, foi levado a Roma, desgastado pelos anos de prisão, acorrentado, com sua esperança frustrada, e sua carreira ativa chegando ao fim”.16Portanto, no mistério da providência o apóstolo foi, pela vontade de Deus, a Roma. Esta seção termina com uma breve, mas característica, bênção paulina: E o Deusde paz seja com todos vós. Amém! (33).

 

Evangelista Isaias Silva de Jesus

Igreja Evangélica Assembléia de Deus Ministério Belém Em Dourados – MS

Comentário Bíblico Volume 08 -  Romanos e 1 e 2 Corintios

 

COSMOVISÃO MISSIONÁRIA


COSMOVISÃO MISSIONÁRIA

TEXTO ÁUREO = “E desta maneira me esforcei por anunciar o evangelho, não onde Cristo houvera sido nomeado, para não edificar sobre fundamento alheio.”

VERDADE PRÁTICA = Os crentes que foram alcançados pela graça e vivem pela fé, em Jesus Cristo, precisam ter uma visão missionaria amorosa e abrangente.

LEITURA BIBLICA = Romanos 15.20-29

INTRODUÇÃO

A CONCLUSÃO DA CARTA

 

A essa altura, Paulo tinha atrás de si o retrospecto de um enorme esforço intelectual. Dificilmente seus leitores deixaram de se sentir impressionados. A partir dessa premissa, ele retoma novamente os temas do intróito da carta em Rm 1.1-17. Insiste mais uma vez em sua qualificação como apóstolo dos gentios, reitera a intenção de visitar a comunidade em Roma, assim como seu irrestrito reconhecimento por ela, e assegura-se da comunhão em oração. Contudo, Paulo associa a isso uma informação mais precisa sobre sua situação pessoal, seus planos e desejos, bem como sobre seus contatos em Roma (lista de saudações!). É um procedimento que, aliás, corresponde integralmente aos costumes da Antigüidade nos finais de cartas (cf qi 4), embora a presente conclusão de carta tenha recebido um formato extraordinariamente longo.

 

Explicações sobre o risco da carta aos Romanos

 

 

Já em Rm 1.14-16a Paulo viu com toda a clareza que ele arriscava algo com sua visita a Roma, mesmo que com ela saldasse irrestritamente seu “débito”. Ele tinha conhecimento das correntes judaizantes que existiam dentro, mas também fora, da igreja de Roma. A presente carta aberta já mostrava que ele estava pronto a correr o risco. Mas, no que dependesse dele, queria ter paz (Rm 12.18). Para tornar esta situação melindrosa mais objetiva, ele a trouxe à consciência usando duas vezes a palavra “ousadia”, nos v. 15,18.

 

Para começar, Paulo assegura mais uma vez (cf já em Rm 1.7–8.12) a seus leitores seu apreço sincero por eles. Faz isto com uma clareza e cordialidade que haveria de banir qualquer desconfiança: E certo estou, meus irmãos, sim, eu mesmo, a vosso respeito, de que estais possuídos de bondade. As expressões “eu mesmo” e “vosso respeito” estabelecem entre si um equilíbrio. A ambos os lados se concede autonomia – premissa da verdadeira comunhão.

 

O julgamento abrangente “possuídos de bondade, cheios de todo o conhecimento, aptos para vos admoestardes uns aos outros” admite que os cristãos de Roma formam um corpo capaz de agir e de conviver. É verdade que também cristãos cheios de todo conhecimento carecem, segundo Rm 12.2, de permanente renovação, não por último prestando-se mutuamente uma ajuda corretiva. Quando não se compreende isso, o “pleno conhecimento” se tornaria algo questionável. Era essa a atitude  arriscada em Laodicéia: “Dizes: Estou rico e abastado e não preciso de coisa alguma, e nem sabes que tu és infeliz, sim, miserável, pobre, cego e nu” (Ap 3.17).

 

No v. 24, Paulo não tem dificuldades de designar a obra em Roma como seu “refrigério”. Contudo, isso não o impede de aportar sua própria contribuição. Entretanto, vos escrevi em parte mais ousadamente. De maneira alguma ele se desculpa por causa de suas exortações epistolares. Tampouco alude a outras passagens de sua carta. Na introdução para esse trecho, porém, foi estabelecida uma relação com Rm 1.14-16a.

 

Paulo estava cônscio do perigo que se formava em todo lugar em que pleiteava em prol do evangelho, porém levou-o em conta. Seu extraordinário atrevimento em relação aos ouvintes daquele tempo, às gerações posteriores e no fundo também às pessoas de hoje condensa-se, p. ex., numa inclusão no começo de seu trecho central de Rm 3.21-26 – consistindo, no grego, de duas palavras: revelação da justiça de Deus ―sem interferência da lei‖! A quantos equívocos e abusos essa pequena frase já esteve exposta! Seria assim que Paulo, ao desancorar a santa, justa e boa lei, estava proclamando uma salvação sem salvação? Isso não constituía até uma sabotagem de toda o histórico da salvação? A carta aos Romanos representa um esforço único de solucionar essa conclusão errônea.

 

 

Portanto, a pequena expressão “em parte” acrescentada não está visando determinadas partes da carta, que, ao contrário de outras, teriam sido formuladas com ousadia especialmente forte, mas está preparando a continuação: Escrevi apenas como para vos trazer isto de novo à memória. Isso significa: se minha apresentação do evangelho causou espécie, vocês, que estão cheios de conhecimento espiritual (v. 14!), deveriam manter esta estranheza dentro de limites.

 

Esta carta deveria torná-los inseguros apenas em parte, somente de forma restrita, pois apenas tirei conclusões a partir de algo que há muito é conhecido de vocês. Afinal, sempre de novo Paulo deixara claro que estavam conjuntamente firmados no evangelho transmitido, fornecendo um grande número de indícios da Escritura que tinham em comum!

No entanto, de onde tirava a ousadia para se imiscuir desse modo, como pessoa de fora, também em Roma? Acontecia por força da graça que me foi outorgada por Deus. Aqui, como em muitas outras ocasiões, “graça” alude não ao seu ser cristão, mas à graça que obteve para ser apóstolo.

 

Portanto, Paulo repete o fato de ter recebido uma incumbência especial de descerrar o evangelho aos gentios. Verifiquemos as exposições sobre Rm 1.1,5,6,14, mas observando as ampliações feitas aqui. Para que eu seja ministro (sacerdotal) de Cristo Jesus entre os gentios, no sagrado encargo de anunciar (sacerdotalmente) o evangelho de Deus, de modo que a oferta deles (como sacrifício) seja aceitável (para Deus), uma vez santificada pelo Espírito Santo.

 

Agora está sendo desenvolvida a breve menção de Rm 1.9 sobre o seu “culto a Deus no Espírito”. Sacerdote e sacrifício do AT retornam aqui de forma espiritualizada, à semelhança de Rm 12.1. Lá, no entanto, todos os cristãos prestam sacrifícios de forma ativa, enquanto aqui eles próprios, como cristãos gentílicos, são o sacrifício que Paulo celebra e pelo qual se responsabiliza. Ele considera-se encarregado de um dever de cuidado sacerdotal nesse culto de abrangência mundial. Compete ao sacerdote cuidar para que as determinações cultuais sejam observadas, porque o que se oferece precisa ser aceitável para Deus, i. é, purificado e sem defeito. Com essas palavras, evidencia-se a graça apostólica especial de Paulo (v. 15). Embora estivesse em absoluta consonância com todo o círculo dos apóstolos (1Co 1.13; 15.11) e junto com eles garantisse a transmissão do evangelho sem deturpações, assim como o Senhor pascal o transmitia (2Co 5.18), ele destacava-se num aspecto.

 

Na “sinfonia” dos apóstolos cabia-lhe um trecho de “solo”. É verdade que não tinha iniciado a missão aos gentios nem havia sido o único que a impulsionou, mas foi ele quem a defendeu teologicamente de forma mais clara. Era inegável que, sob esse aspecto, lhe estava confiada a “verdade do evangelho” (Gl 2.5,14). Seus pontos angulares são obediência da fé e liberdade da lei. Rm constitui o documento clássico dessa clareza de perspectiva.

 

No AT, pessoas e objetos eram tornados aceitáveis por meio de ritos exteriores para o culto a Deus, i. é, eram santificados. Agora, porém, algo coloca-se nesse lugar por meio do Espírito Santo, ao qual Paulo retornará no v. 19.

 

É inegável que Paulo agora está reagindo a perguntas relativas à sua autoconsciência apostólica: que estás fazendo de ti mesmo? (cf Jo 8.53). Tenho, pois, motivo de gloriar-me em Cristo Jesus nas coisas concernentes a Deus. Primeiramente Paulo assegura que ele de forma alguma passou dos seus limites: Porque não ousarei discorrer sobre coisa alguma, senão sobre aquelas que Cristo fez por meu intermédio, para conduzir os gentios à obediência.

O que lhe dava toda a coragem de correr o risco, mencionado no v. 15, era resultado do fato de que ele se precavia absolutamente de um segundo risco, diferente.

 

Esse consistiria de infidelidade diante do Exaltado, que em Damasco o havia incumbido da missão aos gentios. Desde então pesa sobre ele um ai: “Ai de mim se não pregar o evangelho” (1Co 9.16) e se o praticasse desconectado do agir do próprio evangelho! Agora, porém, em termos positivos: Paulo pode apontar para os sinais de legitimação da parte de seu Senhor. Cristo agiu através dele de modo abrangente, por palavra e por obras (“em palavra e ação” [NVI]). Ao lado da palavra poderosa colocavam-se, no caso dele, “sinais de um apóstolo” (2Co 12.12), também feitos por força de sinais e prodígios.

 

Ambos os efeitos de força, a palavra e a ação, penetravam pelo poder do Espírito Santo, como conquistadores no espaço dos poderes adversários (Rm 8.38). “Destruir fortalezas, anulando nós sofismas” (2Co 10.4,5), romperam estruturas dominantes, das quais os ouvintes estavam cativos, e eram eficazes “em direção da obediência dos gentios” (aqui, no v. 18, já com explicação mais detalhada sobre Rm 1.5). Em muitos lugares surgiram e mantiveram-se comunidades cristãs, como verdadeiro milagre da força da ressurreição (Rm 8.11), as quais glorificavam a Deus (v. 9-12). Paulo era capaz de designar todo o seu serviço como “serviço do Espírito” (2Co 3.6,8).

 

Em seguida, Paulo desenrola diante dos olhos de seus leitores o quadro de sua “campanha” (2Co 10.4): de maneira que, desde Jerusalém e circunvizinhanças até ao Ilírico, tenho divulgado o evangelho de Cristo. Também na memorável reunião de At 15 o seu procedimento de expor aos demais sua obra missionária teve um papel importante (At 15.12; Gl 2.8,9). Nela se exteriorizava um juízo de Deus: Paulo obteve a graça do apostolado! As comunidades gentílico-cristãs constituíam sua “carta de recomendação”, “selo do (seu) apostolado” (2Co 3.2,3; 1Co 9.2). Ponto de partida dessa atuação era Jerusalém. É verdade que lá jamais evangelizou, mas na mencionada reunião naquela cidade ele conquistou, para sua própria consciência e para o juízo dos co-apóstolos e da primeira cristandade, seu perfil de missionário dos gentios.

 

Sem aquela decisão de Jerusalém, qualquer data posterior ficaria para ele suspensa no ar (Gl 1.18; 2.2). Seguindo a rota do sol, seu caminho o conduziu do Leste para Oeste, até a costa do mar Adriático. A Ilíria correspondia aproximadamente à região da atual Albânia. De lá teria sido possível atravessar de navio 200 km pelo mar, chegando já à altura de Roma. Aqui encontramos a única comprovação de que Paulo atuou na Ilíria. Segundo 2Tm 4.10 seu colaborador Tito trabalhava na Dalmácia, que estava unificada com a Ilíria.

Paulo, portanto, praticou, nesse grande arco, o evangelho do Cristo. A expressão pressupõe o cumprimento de algo que foi ordenado, executado e concluído de acordo com a incumbência. Paulo se reportará a esse aspecto no v. 23.

 

De modo surpreendente Paulo dá a conhecer um princípio, que resultava menos de sua vocação que de experiências posteriores. (Nisso), porém, esforçando-me, deste modo, por pregar o evangelho, não onde Cristo já fora anunciado, para não edificar sobre fundamento alheio. Em 2Co 10.12-18, onde ele assume a mesma posição, transparece também seu motivo. Ele visa distanciar-se daqueles missionários que o seguiam, missionavam atrás dele, espionavam-no e se apoderavam, ávidos de vanglória, da sua obra. Ele evitava qualquer atrito. Por razão semelhante também não fazia valer nas igrejas recém-fundadas o seu direito por sustento material: “Tudo faço por causa do evangelho” (1Co 9.23).

 

Indiretamente, ele novamente dá a entender aos romanos: entre vocês terei apenas um papel de visitante, mas auxiliem-me no meu trabalho pioneiro na Espanha – unicamente por amor ao evangelho!  Também para decisões individuais ele encontrava apoio bíblico. Antes, (atuo) como está escrito (Is 52.15): Hão de vê-lo aqueles que não tiveram notícia dele, e compreendê-lo os que nada tinham ouvido a seu respeito (cf Rm 9.30a; 10.20).

 

As expectativas específicas dirigidas aos cristãos em Roma

 

Até o momento, Paulo havia ido ao encontro dos cristãos romanos nessa carta sobre a base da compreensão espiritual, para desse modo conquistar a adesão plena deles à sua proclamação. Na esperança de tê-lo conseguido, ele agora emite duas expectativas concretas.

 

Para tanto, volta a abordar sua intenção de finalmente visitar Roma. Em Rm 1.9-16a, ele insistira na sinceridade desse desejo, e depois disso, em Rm 15.19, também havia apontado para a razão objetiva (sua tarefa de trabalhar no Oeste). Agora ele resume: Essa foi a razão por que também, muitas vezes, me senti impedido de visitar-vos. Mas, agora, não tendo já campo de atividade nestas regiões para minha incumbência apostólica (cf qi, 4b), e desejando há muito visitar-vos…

 

Somente nesse ponto os romanos são informados em que amplo projeto seu plano de visita está inserido: …chegarei até vós quando em viagem para a Espanha, pois espero que, de passagem (Rm 1.11), estarei convosco e que para lá seja por vós encaminhado, depois de haver primeiro desfrutado um pouco a vossa companhia, ou seja depois de me haver fortalecido. Ele dará à visita o mesmo cunho de 2Co 1.24, sem interferir autoritariamente nas competências deles.

Naquele tempo, semelhante à Palestina, seu ponto oposto no Leste, a Espanha era uma ponte terrestre muito disputada e muito viva entre a Europa e África, além de ponto de convergência de rotas marítimas muito ramificadas. Há séculos estava incorporada à cultura mundial grega, sendo berço de importantes filósofos, artistas e imperadores. Há muito vivia lá uma colônia judaica em várias comunidades com sinagogas.

 

Portanto, Paulo sente-se desafiado por uma nova e importante etapa da missão. Os cristãos de Roma são convidados a constituírem a nova comunidade de apoio para ela (cf qi 4c). Essa tarefa está descrita pela palavra equipar: havia todo um grupo de colaboradores que precisavam ser providos de alimentação e dinheiro. Acrescia-se a isto a disposição para responsabilizar-se conjuntamente pelo aspecto espiritual, o envio por ocasião de uma celebração a Deus, quando não se fazia necessário também um acompanhante conhecedor da língua.

 

No entanto, surpreendentemente o auspicioso “agora até vocês!” do v. 23 é postergado mais uma vez por outro “agora”: Mas, agora, estou de partida para Jerusalém, a serviço dos santos, ou seja, à comunidade de lá (cf Rm 1.7). Na prática tratava-se, como logo ficará evidente, de um transporte de dinheiro. Mas por que Paulo tinha de participar tão definitivamente dele, adiando por causa dele mais uma vez sua viagem a Roma? Cabia explicar aos leitores a peculiaridade desse “serviço”. Porque aprouve à Macedônia e à Acaia levantar uma coleta em benefício dos (por um certo sinal de comunhão com) pobres dentre os santos que vivem em Jerusalém.

 

Tratava-se de uma ação caritativa em prol da parte empobrecida da comunidade de Jerusalém, uma ação, porém, que ao mesmo tempo visava ser um sinal para a comunidade toda. A expressão “um certo sinal” parece indicar que Paulo não estava querendo entrar nos detalhes. Ele não menciona, p. ex., como a campanha foi desencadeada, nem sua própria atividade na campanha, nem a colaboração também das comunidades da Ásia Menor, nem a entrega por uma grande delegação, conforme At 20.4; 1Co 16.3.

 

Para ele, é mais importante que seus leitores reconheçam o sentido intrínseco dessa coleta de dinheiro. Isto lhes pareceu bem, e mesmo lhes são devedores, embora não legalmente, mas moralmente. Porque, se os gentios têm sido participantes dos valores espirituais dos judeus, devem também servi-los com bens materiais. Paulo sustentou com persistência o mérito histórico da comunidade primitiva: Foi ela que entregou o evangelho ao mundo dos gentios. “Desde Jerusalém” (v. 19) a corrente da transmissão teve o seu início, e cumpre-nos permanecer fiéis aos iniciadores.

 

Acontece que Paulo insistia em que acontecesse um dar e receber recíproco, a saber, a comunhão das comunidades de origem judaica e gentílica. Por mais diferentes que fossem os respectivos bens ofertados e recebidos, cada qual dava do que tinha e recebia o que lhe faltava. Assim, todos vivem reciprocamente em dívida e “obrigados” (Josef Hainz [sugerindo o sentido de “tomados de gratidão”]). Era assim que um sinal concreto devia dar forma à verdade de Gl 3.28: “Não há judeu nem grego… pois todos são um em Cristo Jesus” (NVI).

 

Depois que Paulo os convenceu da necessidade de sua missão a Jerusalém, ele tem condições de referir-se ao v. 24. Tendo, pois, concluído isto e havendo-lhes consignado (selado) este fruto, passando por vós, irei à Espanha. O “selar” ocorre no NT quase sempre num sentido figurado, de maneira que também no presente texto podemos presumir essa acepção. Paulo faz questão de um encaminhamento ordeiro e inatacável, para que o sinal também rebrilhe de verdade. Como já no final do v. 24, ele logo se reanima com a perspectiva do fortalecimento na fé em Roma: E bem sei que, ao visitar-vos, irei na plenitude da bênção de Cristo. No v. 32 ele fala, no mesmo contexto e na mesma confiança, da esperada “alegria” e do “refrigério”.

 

No mesmo instante, porém, o apóstolo é novamente alcançado pelo presente cheio de preocupações, a partida para Jerusalém. A sua segunda intenção está ligada a essa situação: orem por mim! Nitidamente, esse pedido é mais que simples rotina em finais de cartas. Ele praticamente conjura os romanos, exorta-os por tudo que lhes é sagrado: Rogo-vos, pois, irmãos, por nosso Senhor Jesus Cristo e também pelo amor do Espírito, que luteis juntamente comigo nas orações a Deus a meu favor. Apesar de o conhecerem somente à distância, apesar de que, conforme Rm 3.8 e 16.17, também estão expostos à irradiação da propaganda adversa, Paulo parte do pressuposto de que esse grande escrito lhe proporcionou crédito em Roma. É esse saldo disponível que ele aciona agora. Pressiona-os a se decidirem: façam um pacto de luta comigo, dêem-me cobertura – seguramente diante de pessoas, mas até perante a instância máxima, perante Deus! Talvez seja estranha para nós essa luta com Deus em oração, porém ela é inerente à profundidade bíblica da oração.

 

Ao recordar Jerusalém, revolvem-no os mais graves temores. Paulo vê um duplo perigo. Primeiro: orem por mim, para que eu me veja livre dos rebeldes que vivem na Judéia, ou seja, dos judeus fora da comunidade, que não seguem ao evangelho. Ainda outro perigo era quase incompreensível e, não obstante, real: orem por mim, que este meu serviço em Jerusalém seja bem aceito pelos santos. O “sinal de comunhão” (v. 26) e, por meio dele, também um renovado reconhecimento de sua missão, livre da lei, entre os gentios, poderia ser negado pela comunidade primitiva, dependendo dos círculos que nela tivessem maior influência, se Tiago ou os judaístas.

Nesse caso não resultaria a “concórdia de louvar a Deus unânimes e a uma só voz” (v. 5,6). Palavras de banimento obstruiriam as orações de gratidão – para o desespero de Paulo.

 

Assim como acontece nos salmos, também na oração de Paulo mesclam-se partes receosas com partes esperançosas. No presente versículo impõe-se a confiança: a fim de que, ao visitar-vos, pela vontade de Deus, chegue à vossa presença com alegria e possa recrear-me convosco.

 

A referência à vontade de Deus mostra a atitude básica de orar conforme a Bíblia: O orador permanece sendo ser humano, e Deus continua Deus. É por isso que Paulo também subordina a Deus suas idéias há pouco expostas acerca do desenrolar da sua missão. De fato, tudo transcorreu de maneira bem diferente. O alegre “Estou chegando!”, repetido sete vezes em Rm, caiu no vazio.

 

Em Jerusalém, Paulo foi imediatamente preso, desaparecendo por anos na cadeia (por volta dos anos 58-60, sobretudo em Cesaréia). Apenas na primavera do ano 61, com cinco anos de atraso, Paulo chegou a Roma – num comboio de prisioneiros. Somente depois de outros dois anos de prisão ele é solto. Pelo menos é isso que At 28.30,31 parece pressupor. O NT não nos informa se a missão à Espanha sequer aconteceu mais tarde, enquanto notícias posteriores a esse respeito são controvertidas.

 

A carta ainda não termina com o voto seguinte, formulado como prece (cf Fp 4.9; 1Ts 2.11-13), mas de fato encerra-se o esforço do apóstolo de conquistar os romanos para seu objetivo prático principal. E o Deus da paz seja com todos vós. Amém! Depois de ter dado tudo de si, tão somente pode entregar na mão de Deus a decisão deles. No v. 5 ele o havia testemunhado como “Deus da paciência” e no v. 13 como o “Deus da esperança”. Agora ele encontra uma terceira designação: o  Deus da paz. Pelo que se evidencia, esse voto de acompanhamento divino estava localizado na prática celebrativa do envio, quando os fiéis reunidos dispersavam-se novamente, já é encontrado com freqüência no final das cartas. Cada indivíduo segue agora seu caminho, no aconchego da presença da salvação de Deus, que o acompanha e que se chama paz.

 

 

 

COMENTÁRIO ESPERANÇA  = Editora Evangélica Esperança

 

 

 

 

AS OBRAS SOCIAIS NA IGREJA

TEXTO ÁUREO = “E não vos esqueçais da beneficência e comunicação. porque, com tais sacrifícios, Deus se agrada” (Hb 13.16).

VERDADE PRÁTICA = A prática da filantropia ou serviço social deve estar baseada no amor, na prática do bem e na mútua cooperação.

LEITURA BÍBLICA = ROMANOS 15.22-29

INTRODUÇÃO

A parte prática da Epístola aos Romanos mostra que Deus tem interesse no bem-estar social do ser humano. Isso pode ser encontrado em toda a Bíblia. As atividades sociais devem acompanhar o trabalho de evangelização.

 

1. OS CRISTÃOS POBRES DE JERUSALÉM

 

1. O papel da Igreja na sociedade. O objetivo principal da Igreja é glorificar a Deus: “Quer comais, quer bebais ou façais outra qualquer coisa, fazei tudo para a glória de Deus” (1 Co 10.31). Alguém pode perguntar: “A tarefa principal da Igreja não é a evangelização?” A resposta é afirmativa. Isso, porém, é conseqüência do glorificar a Deus. A atividade da Igreja se direciona em dois sentidos: vertical — adoração, atividades espirituais; horizontal — servir ao próximo, atividades filantrópicas e sociais. Por isso Deus estabeleceu ministérios na Igreja.

 

2. O reconhecimento dos gentios (v.27). Os gentios deviam se sentir endividados espiritualmente com os judeus; afinal Jerusalém era a igreja-mãe. Como nós, no Brasil, reconhecemos os nossos pioneiros suecos. e temos uma admiração profunda pela Suécia, a nossa mãe, que nos enviou os primeiros missionários. Assim também, os gentios tinham um apreço especial pelos irmãos judeus de Jerusalém.

 

3. Jerusalém e suas necessidades. Agora, a igreja de Jerusalém padecia necessidades. O apóstolo Paulo era um homem muito cuidadoso. Tudo o que fazia, o fazia com dedicação e empenho (Ec 9.10). Seu cuidado com as igrejas não se restringia apenas ao plano espiritual. Paulo, sabendo dessa necessidade, levantou ofertas na Macedônia, na Acaia (v.26; 2 Co 8.1), em Corinto e na Galácia (1 Co 16.1-3; 2 Co 8.6- 11; 9.1-5), para supriras necessidades dos irmãos pobres de Jerusalém.

4. Objetivo de Paulo. O apóstolo Paulo via a necessidade de unir as igrejas gentias com a de Jerusalém. Os gentios ainda eram vistos com suspeitas por causa dos costumes judaicos. Essa oferta era um gesto espontâneo baseado no amor fraternal, e com isso levava os gentios a reconhecerem sua dívida espiritual com Jerusalém. Não era uma inovação, pois, cerca de 11 anos antes, juntamente com Barnabé, Paulo levou uma oferta para os necessitados de Jerusalém (At 11.30).

 

II. A NECESSIDADE ATUAL

 

1. “Ministrar aos santos” (v.25). Essa expressão diz respeito ao serviço social prestado pelo apóstolo aos irmãos pobres de Jerusalém. Ministério significa serviço. Deus incluiu entre os ministérios dados à Igreja, o serviço social: “Ou o que exorta, use esse dom em exortar; o que reparte, faça-o com liberalidade; o que preside, com cuidado; o que exercita misericórdia, com alegria” (Rm 12.8). “...depois, dons de curar, socorros, governos, variedades de línguas” (1 Co 12.28).

 

2. Mazelas sociais. Jesus disse: “Porque sempre tendes os pobres convosco, e podeis fazer-lhes bem, quando quiserdes” (Mc 14.7). Hoje se fala dos meninos e meninas de ruas juntamente com os idosos abandonados, da prostituição infantil, das freqüentes invasões de terra, do desemprego e de outras mazelas. O que a Igreja tem feito para aliviar o sofrimento dessa gente? E bom lembrar que desde o princípio do mundo que os trabalhos filantrópicos estiveram sempre ligados à religião (Tg 1.27).

 

3. Pão para quem tem fome. Não podemos ficar alheios ao sofrimento do próximo (1 Jo 3.17). Convém lembrar que uma cesta básica não resolve o problema do pobre. O problema é resolvido à medida que essas pessoas forem absorvidas no mercado de trabalho, ganhando seu pão com o suor do seu rosto. A cesta básica é um paliativo até que essas pessoas consigam emprego. O que não se deve é despedir sem nada o necessitado. Tiago chama esse procedimento de fé morta (Tg 2.14-17).

 

 

 

 

III. A FILANTROPIA NA BÍBLIA

 

1. A filantropia. A palavra significa “humanitário, amigo da humanidade”, e vem do gregofilos, “amigo” e anthropos, “homem”. Ora, se os que não têm esperança estão sempre dispostos a ajudar a seu próximo, por que não nós, que somos filhos da luz? O cristão tem inclinação para ajudar os pobres e necessitados, porque ele é “participante da natureza divina” (2 Pe 1.4).

 

2. Desde Moisés. O assunto da filantropia vem desde Moisés e perpassa toda a Bíblia. Jesus deu o exemplo de filantropia numa época em que não havia infra-estrutura e nem organização estatal. Quando falamos de trabalhos sociais e filantrópicos queremos mostrar as várias maneiras pelas quais a Igreja procura socorrer os pobres nas suas necessidades. Como o pecado é a causa primária dessa miséria, enquanto o mundo subsistir, estas coisas estarão presentes.

 

3. No Cristianismo. Não demorou muito para que os serviços sociais surgissem na Igreja. Os apóstolos delegaram esses trabalhos aos irmãos vocacionados, de boa reputação, cheio do Espírito Santo e de sabedoria. Os apóstolos deram, assim importância a essa atividade, não ficando alheios aos problemas dos necessitados. Isso está muito claro em Atos 6.1-6, quando houve a separação de crentes para o diaconato, a fim de servirem nesse ministério.

 

IV. AS BÊNÇÃOS DE DEUS

 

1. Comunicar e comunicação. O apóstolo Paulo costuma usar o verbo “comunicar” ou o substantivo “comunicação” com referência ao ato de o cristão compartilhar o que tem com os demais (2 Co 8.4; Fp 4.15). A Versão Almeida Atualizada usa o verbo “associar”. Isso diz respeito à ajuda aos necessitados (Hb 13.16) e também à ofertas ou ao sustento missionário (Fp 4.15).

 

2. Deus promete retribuir. Quem ajuda ao necessitado, Deus o abençoa (2 Co 9.8-12). Temos a promessa de Deus de uma boa colheita — salário abençoado. Por isso, Jesus disse que é melhor dar do que receber (At 20.35). Jesus garantiu que quem assim faz, de maneira nenhuma perderá o seu galardão (Mt 10.42).

 

3. A omissão dessa responsabilidade é pecado. Deus abençoa, tanto no sentido espiritual como no material aos que ajudam os necessitados. Ele aumenta os bens materiais para que também aumente as condições de ajuda aos necessitados. Quem dá ao pobre empresta a Deus (Pv 19.17). Qualquer omissão diante desta responsabilidade espiritual, que pesa sobre a Igreja, pode resultar em graves conseqüências. A Bíblia diz que o “que retém o trigo, o povo o amaldiçoa” (Pv 11.26).

 

4. A caridade fraternal. Infelizmente ainda há igrejas que continuam insensíveis às necessidades do pobre e aos serviços sociais. Dão muita ênfase à guerra espiritual, ao mundo invisível, mas não se importam com o mundo visível. Não devemos nos esquecer da hospitalidade, dos presos e dos maltratados (Hb 13.1-3).

 

CONCLUSÃO

 

A generosidade cristã não deve se restringir apenas aos trabalhos filantrópicos. Deve ser extensivo ao trabalho de Deus, nos dízimos e nas ofertas, para a expansão do reino de Deus. O ex-primeiro ministro de Israel, Ben Gurion, disse certa vez que Israel vive dos missim e nissim, jogo de palavras hebraicas que significa: “impostos e milagres”. A obra de Deus se faz com recursos financeiros — dízimos e ofertas — e com os milagres. A igreja de Filipos tinha essa visão e não se esqueceu do apóstolo Paulo. O apóstolo ficou deveras agradecido aos filipenses pela lembrança e pela ajuda (Fp 4.14-19).

 

Lições Biblicas CPAD 2°. Trimestre 1998