6 de julho de 2010

A NATUREZA DA ATIVIDADE PROFÉTICA

A NATUREZA DA ATIVIDADE PROFÉTICA

CONSIDERAÇÕES INICIAIS

O termo hebraico para profeta (navi’) significa o que “prediz”, “proclama” ou “anuncia” a palavra de DEUS, isto é, o que apresenta uma mensagem da parte de DEUS. Os profetas levantados pelo SENHOR na Bíblia anunciaram a mensagem de DEUS ao povo através da inspiração Divina. Os profetas não somente “anunciavam” a verdade, mas também tinham a habilidade para “predizer” eventos futuros. O cânon hebraico é composto unicamente pelos escritos e proclamações dos profetas.

Israel tinha extrema necessidade dos profetas, porque eles falavam da parte de DEUS. Depois da queda (Gen 3), o SENHOR não falou mais de forma “imediata” (direta) com a humanidade criada à SUA imagem, mas da maneira “intermediada” (indireta). A voz profética tornou-se o principal canal de comunicação entre DEUS e SEU povo. A respeitabilidade pela função dos profetas, entretanto, era, na melhor das hipóteses, mínima. Muitos deles foram rejeitados, a despeito de falarem em nome de DEUS.

A primeira pessoa a quem a Bíblia chama de profeta foi Abraão (Gn 20:7 – Sl 105:15), mas a profecia no Antigo Testamento recebeu sua forma normativa na vida e na pessoa de Moisés, que passou a constituir padrão de comparação para todos os profetas futuros (Dt 18: 15 à 19).

A iniciativa da chamada de alguém para o ofício profético depende de DEUS (Ex 3:1 à 4 – Is 6 – Jr 1: 4 à 19 – Ez caps. 1 à 3 – Os 1:2 – Am 7:14,15 – Jn 1:1). O objetivo e o efeito primário da chamada era uma introdução à presença de DEUS, conforme fica demonstrado nas passagens observadas acima. Esse era o “segredo” ou “conselho” do SENHOR (I Rs 22:19 – Jr 23:22 – Am 3:7). O profeta aparecia perante os homens na qualidade de um homem que se apresentara perante DEUS (I Rs 17:1; 18:15).

O objetivo deste estudo é trazer algumas informações, colhidas dentro da literatura evangélica, com a finalidade de ampliar a visão do que o comentarista desta lição chama de “modus operandi” da atividade profética. Não há nenhuma pretensão de esgotar o assunto ou de dogmatizá-lo, mas apenas trazer ao professor da EBD alguns elementos e ferramentas que poderão enriquecer sua aula.

I. AS FORMAS DE COMUNICAÇÃO DE DEUS AOS PROFETAS

“[...] Veio a mim a palavra do SENHOR...”. Literalmente, o verbo empregado era o verbo “ser”, “a palavra do SENHOR se tornou ativamente (é) presente para...”. Trata-se da afirmação de uma consciência direta e pessoal. Isso é a experiência básica do profeta. É declarado pela primeira vez em (Ex 7:1,2; 4:15,16). DEUS é o autor das palavras que ELE transmite ao profeta e, por intermédio deste, ao povo. Foi exatamente esta a experiência que Jeremias teve quando a mão do SENHOR tocou em seus lábios (Jr 1:9), e essa passagem nos diz tanto quanto temos a permissão de saber: que no contexto da comunhão pessoal com DEUS, iniciada pelo SENHOR, o profeta recebe uma dádiva de palavras. Jeremias posteriormente expressou a sua experiência com “estar no conselho do SENHOR”, mediante o qual alguém teria sido capacitado de fazer o povo ouvir as palavras de DEUS. Isto dava ao profeta uma responsabilidade surpreendente; eram capazes de falar e escrever palavras carregadas de autoridade DIVINA absoluta. Eles podiam dizer: “Assim diz o SENHOR” e as palavras que se seguiam eram palavras do próprio DEUS. Estão registradas nas Escrituras para todas as épocas e não crer ou desobedecer a estas palavras significa não crer ou não obedecer ao próprio DEUS.

Sonhos e visões também tinham seu lugar na inspiração do profeta. Algumas vezes afirma-se que Jr 23:38 ensina a invalidade de sonhos como método de verificação da palavra do SENHOR. Entretanto, a luz de Nm 12: 6,7 e de I Sm 28:6,15, que ensinam a validade dos sonhos, vemos que Jr 23:28 deve ser entendido como trecho que fala sobre “algum mero sonho”, ou sobre “algum sonho da própria imaginação” do sonhador. De fato, parece que o próprio Jeremias recebeu a palavra de DEUS através de um sonho (Jr 31:26). A experiência das visões é melhor exemplificada no caso do profeta Zacarias, mas, tal como no caso dos sonhos, as visões nada adicionam ao nosso conhecimento – ou antes, à nossa ignorância – acerca da mecânica da inspiração. Exatamente a mesma coisa pode ser dita no tocante aos casos em que a palavra é recebida por meio de um símbolo (Jr cap. 18 – Am 7:7 e segs; 8:1 à 3). A inspiração é um milagre; não sabemos de que maneira DEUS faz a mente de um homem tornar-se consciente para com sua palavra.

Isso levanta a questão da atividade do ESPÍRITO DE DEUS na inspiração profética. Existem 18 passagens que associam a inspiração profética com a atividade do ESPÍRITO: em Nm 24:2, a referência diz respeito a Balaão; Nm 11:29 – I Sm 10:6 à 10; 19:20 à 23 tratam do êxtase profético. A clara suposição que a profecia se origina no ESPÍRITO DE DEUS pode ser encontrada em I Rs 22:24 – Jl 2:28,29 – Os 9:7 – Ne 9:30 – Zc 7:12; uma reivindicação direta sobre a inspiração do ESPÍRITO aparece em Mq 3:8

A inspiração do ESPÍRITO acerca da palavra profética é afirmada em I Cr 12:18 – II Cr 15:1; 20:14; 24:20 – Nm 9:20 e Ez 11:5. É evidente que esta informação não está espalhada de modo uniforme por todo o Antigo Testamento, e em particular, que os profetas pré-exílicos estão esparsamente representados. É fato que Jeremias não menciona o ESPÍRITO DE DEUS em qualquer contexto, mas como afirma E. Jacob em Theology of the Old Testamen “...a Palavra pressupõe o ESPÍRITO, o sopro criativo da vida, e no caso dos profetas estava tão claramente evidenciado que julgaram desnecessário declará-lo de modo explícito”.

II. AS FORMAS DE TRANSMISSÃO DA MENSAGEM DOS PROFETAS AO POVO

Os profetas apresentavam-se aos seus contemporâneos como homens que tinham uma palavra a dizer. O oráculo falado é a forma pela qual a palavra de DEUS era expressada. Cada profeta deixava estampado os sinais de sua própria personalidade e experiência nas suas palavras: os oráculos de Amós e de Jeremias são tão diferentes como o eram as personalidades dos dois profetas. Por conseguinte, havia dupla consciência nos livros dos profetas: por um lado, aquelas eram as palavras que DEUS dera ao profeta. DEUS escolhe aquele homem para ser SEU porta-voz; as palavras são palavras de DEUS. Por outro lado, aquelas são as palavras de um determinado indivíduo, proferidas em determinada ocasião, sob certas circunstâncias.

É costume, entre alguns teólogos, tirar conclusões que a palavra desta maneira se tornava até certo ponto imperfeita e falível. Mas precisamos deixar perfeitamente claro que tal conclusão teria que se alicerçar em bases que não o testemunho dos próprios profetas, conforme temos tal testemunho nos seus respectivos livros. Não será analisada aqui a relação entre as palavras de homens inspirados e as palavras do DEUS que os inspirava, mas podemos dizer que os livros dos profetas podem ser pesquisados sem que se descubra qualquer traço de sugestão que os profetas pudessem pensar que a palavra dita por meio deles fosse qualquer coisa de menos que a própria palavra de DEUS. Os profetas possuíam uma total certeza a respeito de suas próprias palavras, o que só pode acontecer com desequilibrados ou, então, com homens que estiveram presentes nos conselhos de DEUS e ali receberam o que deviam dizer sobre a terra.

Algumas vezes os profetas punham seus oráculos na forma de parábolas ou alegorias (por exemplo: Is 5: 1 à 7 – II Sm 12: 1 à 7 – e especialmente Ez 16 e 23), porem, a mais dramática apresentação de sua mensagem era feita por meio do “oráculo por ação”. Se começarmos a pensar que o oráculo por ação era uma espécie de auxílio visual, terminaremos com o conceito errado acerca de sua natureza e função. Naturalmente era um auxílio visual, mas em associação com a noção hebraica da eficácia da palavra, isso servia para fazer a percepção da palavra, numa situação contemporânea, ainda mais poderosa.

Isso pode ser visto com mais cuidado na entrevista entre o rei Joás e Eliseu, que estava por morrer (II Rs 13:14 e segs). No versículo 17 a flecha de vitória do SENHOR é lançada contra a Síria. O profeta havia introduzido o rei em uma esfera de ação simbólica. Agora pergunta até que ponto o rei teria fé para abraçar essa palavra de promessa: o rei feriu a terra por três vezes, e seria justamente essa a extensão em que a palavra eficaz seria cumprida e não se tornaria vazia. Aqui vemos muito claramente a relação exata em que o símbolo estava em relação à palavra e em que ambos estavam em relação aos acontecimentos.

A palavra corporificada no símbolo é extremamente eficaz; é impossível que deixe de ser cumprida; realizará exatamente aquilo que o símbolo declarava. Por esse motivo é que Isaias teve de andar despido e descalço (Is cap. 20), Jeremias despedaçou o vaso do oleiro no lugar dos cacos de barro (Jr cap. 19), Aías rasgou sua roupa nova em doze pedaços e entregou dez pedaços a Jeroboão (I Rs 11:29 e segs), Ezequiel cercou uma cidade em miniatura (Ez 4:1 à 3), escavou através do muro da casa (Ez 12:1 e segs) e não lamentou a sua esposa falecida (Ez 24:15 e segs).

Precisamos distinguir claramente entre o oráculo por ação dos profetas israelitas e a magia simpática dos cultos cananeus. Essencialmente, este último é um movimento do homem para seu deus: a realização de uma determinada ação da parte do homem como tentativa de coagir Baal ou qualquer outro deus que estivesse em mente para que agisse em conformidade com a magia. O oráculo por ação era um movimento da parte de DEUS para com o homem: a palavra de DEUS, a atividade a respeito da qual DEUS já se resolvera, era dessa maneira declarada e promovida sobre a terra. Nisso, como em todo outro aspecto da religião bíblica, a iniciativa repousa exclusivamente em DEUS.

III. A QUESTÃO EXTÁTICA DO PROFETA

A concepção pagã da profecia era de uma condição absolutamente passiva no profeta, de modo que, quanto mais inconsciente se mostrava, mais apto estava para receber a mensagem divina. Alguma coisa deste gênero se pode ver na história israelita. Aquelas danças sagradas dos profetas de Baal, durante as quais eles batiam em si furiosamente, cortando-se com canivetes, para que pudessem receber um sinal visível de aprovação divina, era na realidade, uma manifestação típica (I Rs 18:26 à 28). É provável que em tempos posteriores os falsos profetas tomassem disposições semelhantes, com o fim de provocarem em si próprio o estado de êxtase para as suas arengas. Mas a idéia pagã de profecia se apresenta muito claro em Balaão. A sua vontade e os seus próprios pensamentos são vencidos pela inspiração DIVINA, proclamando ele a mensagem celestial, contrariamente aos seus particulares desejos (Nm 22 à 24).

Quando se analisa os escritos proféticos bíblicos observa-se a total impossibilidade de se produzir tais conteúdos em estado de mero êxtase. São escritos com grande escolha de palavras e frases, revelando a vida anterior dos profetas, os seus interesses e ocupações, e apresentando em vários graus a cultura e as circunstâncias do tempo em que cada profecia foi revelada. As profecias de Amós, de Miquéias, de Isaias e de Jeremias, por exemplo, estão muito longe das de Balaão, tanto na visão espiritual como nos conscientes pensamentos e deliberados estudos. Os profetas haviam aprendido que DEUS SE servia das próprias faculdades e aptidões deles como instrumento das SUAS revelações.

Na verdade, querendo formar a mais alta concepção do estado do profeta, na recepção das comunicações DIVINAS, temos este ideal em JESUS CRISTO, que estava em comunhão com o SEU PAI, e anunciava aos homens o que DELE ouvia (Jo 8:26 à 40; 15:15; 17:8). Em Jesus não havia o estado de êxtase, mas manifestava-se uma clara comunicação espiritual, tendo a SUA alma um grandioso poder receptivo e ativo. Na proporção em que os profetas alcançavam este dom maravilhoso de profecia, podiam eles receber e transmitir perfeitamente a mensagem DIVINA.

CONCLUSÃO

A grande e única profecia que possuímos hoje para a igreja do SENHOR, quando a posicionamos de forma coletiva, se chama Bíblia Sagrada. Nela devemos nos debruçar e beber de suas profecias, pois são lâmpadas para nossos pés e luz para os nossos caminhos. As profecias proferidas hoje não podem ser fontes de novas verdades apresentadas à igreja, mas sim exposições da verdade já revelada. Neste sentido Paulo nos orienta julgá-las, tendo por base a Palavra de DEUS. Portanto, espero em DEUS ter contribuído para despertar o seu desejo de aprofundar-se em tão precioso ensino e ter lhe proporcionado oportunidade de agregar algum conhecimento sobre este assunto. Conseguindo, que a honra e glória seja dada ao SENHOR JESUS.

REFERÊNCIAS BÍBLIOGRÁFICAS

BUCKLAND, A. R. Dicionário Bíblico Universal – 9ª Ed. – São Paulo, SP: Editora Vida, 1996

DOUGLAS, J. D. (org.). O Novo Dicionário da Bíblia. São Paulo,SP: Vida Nova, 1995.

GEORGE, A. Mather, Larry A. Nichols. Dicionário de Religiões, Crenças e Ocultismo - São Paulo, SP: Editora Vida, 2000

GRUDEM, Weine A. Teologia Sistemática. São Paulo: Vida Nova, 1999

Elaboração por: Ev. Jose Costa Junior

Dourados Ms.

Advertências Contra Falsos Mestres

Advertências Contra Falsos Mestres

2 Pedro 2.1-22

Há muitas razões para darmos total atenção à inspirada Palavra de Deus. Uma das mais importantes é a presença de falsos mestres que nos querem privar de estarmos preparados mediante a obediência à verdade. Este capítulo enfatiza que o juízo de Deus está, e estará sobre estes, e sobre os que por eles são enganados. Deus sabe o que os falsos mestres farão (2 Pe 2.1-3), mas já demonstrou que também sabe como resgatar o santo, e julgar o incrédulo (2 Pe 2.4-9). Mostra-nos, por isso, o que ocorre quando os cristãos são confundidos (2 Pe 2.20-22).

1 - Deus Sabe o que Farão os Falsos Mestres

Os santos profetas de Israel tiveram de contender com os falsos profetas que surgiam no meio do povo (Mq 2.11; Ir 14.13-15; 5.31; 23.9-22; 29.9). Eles gritavam: “Assim diz o Senhor”, talvez mais alto que os mensageiros de Jeová. Incitavam o farisaísmo e o mundanismo. Negavam a mensagem divina. Mas os fatos provavam estarem eles completamente errados. Haja vista o que se deu em relação à Jerusalém. Diziam os falsos profetas que a cidade jamais seria destruída. No entanto, veio Nabucodonosor, e deitou-a por terra, demonstrando que a mensagem divina, na boca de Jeremias e de quantos haviam predito tal desgraça, era realmente a verdade.

Não devemos ficar surpresos se falsos mestres encontram-se entre nós. Pois os maiores inimigos de nossa fé não se acham entre os ateus e comunistas Estes atacam- nos de fora para dentro, mas os que se dizem cristãos, e não o são, o fazem de dentro para fora. Buscam introduzir secretamente na casa de Deus, heresias e opiniões que têm como alvo a perdição eterna. Não era o que se dava com as várias seitas e cultos surgidos nos primeiros séculos do Cristianismo? Hoje, além das seitas, estamos às voltas com os chamados modernistas, ou liberais, cujo criticismo destrutivo da Bíblia vem induzindo a muitos a negar o Senhor e Mestre que nos resgatou mediante o Calvário. Mas, ao negarem-no, trazem sobre si mesmos súbita destruição - a perdição eterna no lago de fogo. Embora julguem-se a salvo, não hão de escapar no dia do Juízo Final.

Pedro logo percebeu (2 Pe 2.2) que os falsos mestres teriam vasta influência. Muitos seguiriam seus caminhos perniciosos - conduta ultrajante e baixos padrões morais. Com os seus ensinamentos, zombam da verdade. Em sua linguagem abusiva e blasfema, desonram o nome de Deus. Os falsos mestres e profetas não se preocupam com o que pode acontecer aos seus seguidores. São movidos (2 Pe 2.3) não por Deus, nem, pelo Espírito Santo, mas pela cobiça - ignoram os direitos alheios. Com palavras falsas, forjadas em suas próprias mentes, fazem comércio de seus seguidores.

São profissionais que geram lucrativos negócios a partir de seus ensinamentos nocivos. Tudo o que fazem é para o próprio ganho. Sua sentença, porém, já está lavrada. Sua condenação não descansará; certamente virá.

II - Deus Sabe Como Resgatar o Justo e Julgar o Pecador

Os falsos mestres negam a idéia do inferno e da punição eterna. Mas o Juízo Final não é nenhum pesadelo ou sonho, mas algo que Deus preparou para julgar a humanidade. Três ilustrações são usadas aqui (2 Pe 2.5-8), não apenas para mostrar que o julgamento dos falsos mestres e profetas certamente virá, como também para trazer conforto e certeza aos que por eles são atacados. O Senhor livra da provação os piedosos, e reserva sob custódia o injusto até que o dia do julgamento traga sua punição (2 Pe 2.9).

Levemos em conta que Deus (2 Pe 2.4) não poupou nem mesmo os anjos que pecaram, mas lançou-os no inferno, e os pôs em cadeias - poço de trevas - onde aguardam o Julgamento Final. Alguns estudiosos, indevidamente, buscam relacionar tais anjos com os filhos de Deus mencionados em Gênesis 6. Só que os filhos de Deus, aqui mencionados, nada têm a ver com os anjos; eram os descendentes de Sete que se haviam desviado da verdade. Voltando ao assunto, deixamos claro que, se Deus tem um julgamento à espera dos anjos caídos, não há de ignorar os falsos mestres e profetas.

Deus também não isentou o mundo antigo da punição (2 Pe 2.5), embora o haja criado e declarado que tudo era bom (Gn 1.3 1). Antes enviou o dilúvio para punir os injustos (ver Gn 6.6,7). Noé, porém, o proclamador da justiça divina, foi preservado pelo Justo Senhor. Deus soube como salvá-lo e protegê-lo.

O mesmo se deu em Sodoma e Gomorra (2 Pe 2.6). Ambas as cidades foram condenadas à ruína, demonstrando a certeza do juízo divino sobre todos os que vivem de forma injusta e irreverente. Mas Ló (2 Pe 2-2.7) era justo.

Achava-se atormentado em conseqüência da conversa imunda e do viver ultrajante, indecente e lascivo daquela gente. Jamais se acostumara àquele estilo de vida. Sua alma piedosa era torturada constantemente por tudo aquilo (2 Pe 2.8). Todavia, Deus o resgatou, pondo- o a salvo da destruição que logo se abateria sobre Sodoma, Gomorra e outras cidades vizinhas. Estejamos certos de uma coisa: Deus sabe como nos resgatar da opressão do mal, da imundície e das pressões que nos fazem “os homens perversos e impostores que irão de mal a pior, enganando e sendo enganados” (2 Tm

3.13).

III - Falsos Mestres e Seus Métodos

Sim, os falsos mestres e profetas serão julgados. Pedro, agora, passa a descrevê-los (2 Pe 2.10). Vivem os tais segundo a carne e em imundas paixões; menosprezam as autoridades, sejam estas divinas ou humanas.

Em sua presunção, não temem falar do mal e blasfemar das gloriosas forças angelicais. Como sua vida não tem freios, sentem-se livres para escarnecer da santidade divina, dos anjos e das demais coisas espirituais que jamais lograram entender.

Quão diferente é a atitude dos anjos (2 Pe 2.11). Embora maiores em força, não ousam fazer acusações afrontosas contra os tais diante de Deus. Miguel, por exemplo, mesmo sendo o arcanjo, não proferiu juízo infamatório ao contender com o diabo (Jd 9). Em lugar de maldizer o tentador, uma só palavra é encontrada em seus lábios: “O Senhor te repreende” (Zc 3.2).

A falta de entendimento (como o grego de 2 Pe 2.12 indica) é gerada por uma ignorância obstinada. Os falsos mestres e profetas não tinham conhecimento pessoal das coisas espirituais, por haverem rejeitado a eficácia do sangue de Cristo. Embora se declarem líderes espirituais, sua real preocupação é com as coisas materiais; seu único desejo é satisfazer os apetites da carne. Dizem-se intelectuais, mas agem como animais irracionais; são bestas brutas sujeitas à captura e à destruição. Eis o seu lema: “Comamos e bebamos, que amanhã morreremos” (1 Co 15.32). Em sua corrupção, destruir-se-ão a si mesmos, recebendo a recompensa de sua iniqüidade, “porque o salário do pecado é a morte” (Rm 6.23).

IV - Como Balaão

Os falsos mestres também (2 Pe 2.15) abandonam a senda dos justos, e afastam-se da verdade. Trilham assim o caminho de Balaão, que resolveu apegar-se ao galardão da iniqüidade. Seus intentos, porém, foram desmascarados (2 Pe 2.16), sendo ele repreendido pela jumenta. Voltemos ao capítulo 22 de Números. Os israelitas, na fase final de sua viagem à Terra Prometida, circundando Moabe, acamparam-se no vale do Jordão, defronte a Jericó. Desse lugar, movimentaram-se rumo ao norte, e conquistaram Seom, rei dos amorreus, em Gileade; e Ogue, rei de Basã. O rei Balaque, de Moabe, ao assistir toda essa movimentação, teve o bom senso para perceber que Israel obtinha suas vitórias não por causa da excelência de seus exércitos, mas porque Deus os abençoava, conduzindo-os de triunfo em triunfo.

Balaque temia que Moabe fosse a próxima conquista de Israel. Mas os seus temores eram infundados, porque Deus havia instruído a Israel que o deixasse em paz (Dt 2.9). Como Balaque não sabia disso, resolveu lutar contra Israel. Todavia, como vencer o povo de Deus? Havia somente um jeito. Encontrar alguém que pudesse desviar os favores divinos de Israel. Assim, ordenou trouxessem, da região do Eufrates, a Balaão. Em seguida, exigiu que o profeta amaldiçoasse o arraial hebreu. Através da jumenta, porém, o Senhor advertiu a Balaão que o não fizesse (Nm 22.35).

Embora dissesse ser Yahweh o seu Deus (Nm 22.18), ele demonstrou ser ainda levado por atitudes pagãs. Pois instruiu a Balaque a oferecer vários sacrifícios, em lugares predeterminados, como o faziam os idólatras. O que ele buscava, desde o início, era de fato forçar a Deus a amaldiçoar a Israel. Mas, ao invés de amaldiçoar os israelitas, o Senhor os abençoou ainda mais. Aliás, foi o próprio Balaão quem proferiu a belíssima profecia acerca da estrela que procederia de Jacó (Nm 24).

Não obstante, Balaão arranjou uma maneira de amaldiçoar a Israel e, assim, arrancar dinheiro a Balaque. Ele induziu a este a introduzir prostitutas moabitas no arraial hebreu, para que seduzissem aos israelitas. E, dessa forma, a maldição cairia sobre eles. E o relato subseqüente mostra que Balaão estava certo (Nm 25.1-5; 3 1.16). Ele, pois, usou o conhecimento que tinha da natureza de Deus para obter vantagens pessoais (1 Tm 6.5).

V - Meros Profissionais

Pedro descreve ainda os falsos mestres como meros profissionais, pois nada têm a oferecer de real ao rebanho de Cristo. Eles são fontes sem água (2 Pe 2.17). Todavia, nós possuímos os “rios de água viva” (Jo 7.38). Eles não possuem a verdadeira fé, nem podem transmitir a vida que nos vem do Espírito Santo. São também nuvens impelidas por súbitas borrascas, por isto lhes estão reservadas as trevas exteriores. Eles proferem palavras arrogantes a fim de cativar seguidores (2 Pe 2.18). Usam como atrativo a sensualidade da carne. Suas vítimas prediletas são os novos convertidos.

Mas a este respeito a advertência de Cristo é severa: “E quem receber urna criança, tal como esta, em meu nome, a mim me recebe. Qualquer, porém, que fizer tropeçar a um destes pequeninos que crêem em mim melhor lhe fora que se lhe pendurasse ao pescoço urna grande pedra de moinho, e fosse afogado na profundeza do mar” (Mt 18.5,6).

A liberalidade é a grande promessa que os falsos mestres e profetas fazem aos incautos (2 Pe 2.19). Entretanto, eles mesmos são escravos da corrupção. Afinal, daquele “de quem alguém é vencido, do tal faz-se também servo”. Paulo enfatiza que a liberdade cristã não significa indulgência para com a carne, O Senhor espera que andemos “em novidade de vida”, reconhecendo que a velha natureza já está crucificada com Cristo, e que, doravante, não mais sirvamos ao o pecado (Rm 6.4,6).

Já naqueles dias, os falsos profetas ensinavam ser graça de Deus tão admirável que os crentes podiam andar como melhor lhes agradasse, sem que isso afetasse seu relacionamento com Cristo. Noutras palavras: usavam a graça de Deus como justificativa para as suas imoralidades, esquecidos de que a Palavra de Deus recomenda: “Aparte-se da injustiça todo aquele que professa o nome do Senhor” (2 Tm 2.19).

Eis o que recomenda ainda Paulo: “Como viveremos ainda no pecado, nós os que para ele morremos?” (Rm 6.1-16). O salário do pecado continua sendo a morte, e Deus espera que seus servos produzam o fruto da santidade (Rm 6.22,23; Is 59.2 e 20.21).

Muitos dos que hoje se dizem crentes, alegam que é melhor não vivermos vidas santas para que jamais venhamos a confiar nas boas obras. Um escritor chegou a dizer que, se realmente confiamos na graça de Deus, devemos cometer algum pecado grave, de vez em quando, para fazermos o diabo reconhecer que Deus é capaz de purificar-nos. Tal idéia é falsa, pois a Bíblia nos ensina a “negar a impiedade e as paixões mundanas”, para que vivamos no presente século “sensata, justa e piedosamente” (Tt 2.12).

Ministros evangélicos chegam ao absurdo de aprovarem publicamente o homossexualismo e o sexo pré-marital. Por certo eles se esqueceram de que há um lugar reservado, no lago do fogo, para os que persistirem na imoralidade (Ap 22.8; Rm 1.26-37). Outros mostram-se mais sutis, dizendo que não há perigo algum nesses peca- dos, e até insinuam que devemos diminuir um pouco nossos padrões, um pouco aqui e um pouco ali. Mas verdade é esta: “Não sabeis que aquele a quem vos ofereceis como servos para obediência, desse mesmo a quem obedeceis sois servos, seja do pecado para a morte, ou da obediência para a justiça?” (Rm 6.16).

VI - O Estado dos Crentes que se Misturam com os Falsos Mestres

O pecado é verdadeiramente uma servidão, e traz consigo o próprio castigo. Haja vista o que acontece com os falsos profetas e suas vítimas. Terminam num estado simplesmente lastimável; pior que antes (2 Pe 2.20). Os pecadores que jamais ouviram o Evangelho, têm maior esperança de arrependimento do que aqueles que, embora tendo-o um dia conhecido, apostataram da fé. São cães que voltaram ao próprio vômito (2 Pe 2.22). Essa ilustração pode não ser agradável, mas descreve muito bem o estado de quem abandona a verdade de Cristo. Pedro insta-nos a que nos afastemos dos falsos mestres, para que não sejamos vítimas de suas manobras. Estejamos, pois, sempre prontos para apresentarmos as razões da esperança que há em nós.

Por:- Ev. Isaias Silva de Jesus

Comentário Bíblico 1 e 2 Pedro Stanley M. Horton