VIVENDO
EM CONSTANTE VIGILÂNCIA
INTRODUÇÃO
Nesta lição veremos a definição da palavra “vigilância”;
pontuaremos algumas causas da necessidade da vigilância na batalha espiritual;
elencaremos como devemos vigiar na batalha contra as hostes do maligno; e por
fim, analisaremos a importância da vigilância espiritual para vencermos Satanás
e seus anjos.
I
– DEFINIÇÃO DA PALAVRA VIGILÂNCIA
Definição exegética. O verbo “vigiar” traduz pelo menos
cinco palavras hebraicas no AT e outras cinco palavras gregas no NT. O lexicógrafo Houaiss explica que o verbo
“vigiar” quer dizer: “observar com atenção; estar atento a; velar; espiar,
espreitar atentamente”. No hebraico o principal verbo é “shamar” que significa:
“vigiar, guardar”. No grego o termo “gregoreo” significa literalmente “vigiar”
e é encontrado em 22 lugares no NT. Já o verbo “agrypneo” significa: “manter-se
acordado, vigiar, guardar, cuidar”. Pode-se ainda citar o verbo “eknepho” que
só aparece uma vez no NT (1Co 15.34).
Na Bíblia a palavra “vigiar” é aplicada em diferentes
contextos e, é usado acerca de:
(a) “manter-se acordado” (Mt 24.43; 26.38.40.41);
(b) “vigilância espiritual” (At 20.31; 1Co 16.13; Cl 4.2;
1Ts 5.6.10; 1Pd 5.8; Ap 3.2.3; 16.15).
II - Vigiar na Bíblia
Mt
24.42 - Vigiai,
pois, porque não sabeis a que hora há de vir o vosso Senhor.
Mt
26.41 - Vigiem e orem para que não caiam em tentação. O espírito
está pronto, mas a carne é fraca.
1Pe 5.8,9 - Estejam alertas e vigiem. O Diabo, o
inimigo de vocês, anda ao redor como leão, rugindo e procurando a quem possa
devorar. Resistam-lhe, permanecendo firmes na fé, sabendo que os irmãos que
vocês têm em todo o mundo estão passando pelos mesmos sofrimentos Mt
25.13 - Ap 16.15), ou ainda para evitar que alguém negue ou abandone a Cristo
(Mt 26.41) ou caia em pecado (1 Ts 5.6; 1 Co 16.13; 1 Pe 5.8; Ap 3.2)”.
O ensino sobre a vigilância é constante no ministério de Jesus (Mt 26.41). No intuito de demonstrar de que forma devemos nos manter vigilantes, o Senhor Jesus narrou a parábola dos dois servos, primeiramente contrastando o perfil de ambos ao mostrar que um era bom e o outro mau. A ambos os servos o “senhor” da narrativa confiou a tarefa de cuidar de seus conservos. O bom os alimentava em quantidade e hora corretas.
O mau os espancava, desprezava-os, e como se ainda não
fosse o bastante, comia e bebia com bêbados. O servo bom, além de fiel, era
vigilante, administrando bem aquilo que recebeu do seu senhor. O destaque à
vigilância, nesta parábola se manifesta como sendo o exercício correto da
mordomia, ou seja, o homem vigilante pratica a administração responsável do que
recebeu do seu senhor, sabendo que está lidando com o que não é seu e que
brevemente terá de prestar contas.
O mesmo princípio é rememorado pelo apóstolo Paulo quando
em 1 Coríntios 4.1,2, diz: “Que os homens nos considerem como ministros de
Cristo e despenseiros dos mistérios de Deus. Além disso, requer-se nos
despenseiros que cada um se ache fiel”. Jesus nos manda estar acordados,
alertas, vigilantes, circunspectos (Mt 25.13; Mc 14.34,37,38), isto é,
precisamos estar completamente alertas!
III
– CAUSAS DA EXORTAÇÃO A VIGILÂNCIA NA BATALHA ESPIRITUAL
O apóstolo Paulo fala da importância da armadura de Deus,
do poder de Deus, da oração e também da vigilância para vencermos as astutas
ciladas do inimigo: “orando em todo tempo com toda oração e súplica no Espírito
e vigiando nisso com toda perseverança e súplica [..]” (Ef 6.18). A vigilância
é o ato de estarmos atentos em todos os aspectos da vida cristã. Vejamos o
porque da importância da vigilância:
A
fraqueza humana.
Sabendo da fragilidade humana, Jesus exortou os apóstolos
a estarem vigilantes, para vencerem as tentações (Mt 26.41; Mc 14.38). Fomos
perdoados e libertos dos nossos pecados (1Jo 2.12; Rm 6.22), todavia, ainda não
estamos livres da presença do pecado na nossa natureza humana. Isto somente se
dará quando nosso corpo for glorificado, por ocasião do arrebatamento da Igreja
(1Co 15.51-54). Precisamos viver vigilantes, a fim de não sermos vencidos pelo
pecado (Rm 6.11,12; 1Co 15.34).
A
astúcia do Diabo.
Além da fragilidade humana, o crente precisa vigiar
também porque “[...] o diabo, vosso adversário, anda em derredor, bramando como
leão, buscando a quem possa tragar” (1Pd 5.8). Toda tentação é proveniente da
própria natureza humana (1Co 10.13; Tg 1.13-15), todavia, o principal agente da
tentação é Satanás (Mt 4.3; Lc 4.2; 1Ts 3.5; Tg 4.7).
Precisamos estar vigilantes e fortalecermo-nos no Senhor
a fim de vencer as batalhas espirituais, que somos submetidos (Ef 6.10-18).
Jesus exortou os crentes de Esmirna a serem fiéis até a morte, mesmo diante das
tentações do diabo (Ap 2.10). Da mesma forma, falou aos crentes de Filadélfia,
dizendo: “Eis que venho sem demora; guarda o que tens, para que ninguém tome a
tua coroa” (Ap 3.11).
A
repentina vinda do Senhor.
A necessidade da vigilância espiritual se dá também pelo
fato de ser o retorno de Cristo um evento repentino. Diversas vezes, Jesus
exortou os seus discípulos sobre isso (Mt 24.36,42,44; 25.13; Mc 13.33; Lc
12.46). Infelizmente, não são poucos aqueles que têm a promessa do Senhor como
tardia, ao ponto de desacreditarem dela (2Pe 3.4). Todavia, Jesus nos assegurou
que viria “sem demora” (Ap 3.11; 22.12,20). A Bíblia nos exorta a estarmos
vigilantes para não sermos pegos de surpresa e sermos achados dormindo naquele
dia (Mc 13.36; Lc 21.34).
III
– COMO DEVEMOS VIGIAR NA BATALHA ESPIRITUAL
Notemos quais atitudes devemos ter para vencermos as
batalhas espirituais:
Vigiando
em oração.
Jesus associou o verbo vigiar com o verbo orar: “Vigiai e
orai, para que não entreis em tentação; o espírito, na verdade, está pronto,
mas a carne é fraca” (Mt 26.41), são duas atividades que se misturam e se
completam. Não basta orar: é preciso vigiar cuidadosamente. A Bíblia nos exorta
a aguardarmos o Senhor vigiando em oração (1Pd 4.7).
É por meio desta prática constante: “Orai sem cessar”
(1Ts 5.17) que o cristão mantém contato com Deus (Jr 33.3; Tg 4.8). Ela
expressa uma atitude de sujeição e inteira dependência da Sua graça, ou seja,
quem ora reconhece que precisa da ajuda divina para vencer as batalhas
espirituais e as dificuldades da vida (Is 38.1-5; 2Cr 20.3,4).
Faz-se necessário entender que, os últimos dias da Igreja
de Cristo aqui na terra, serão dias de esfriamento espiritual na vida de alguns
cristãos (Mt 24.12; Ap 3.15,16). Portanto, devemos ter cuidado para não sermos
cristãos superficiais, mas de profunda comunhão com Deus.
Vigiando
em santidade.
A ausência de vigilância é terreno propício para que a
tentação encontre brechas e nos conduza à derrota espiritual (Hb 12.1,2). Jesus
anunciou que antecipadamente que os dias que antecedem a sua vinda, serão de
extrema corrupção moral, comparando com o período antediluviano e geração de
Sodoma e Gomorra (Mt 24.37; Lc 17.28).
Os apóstolos também fizeram: a mesma afirmação (2Tm
3.1-5; 2Pd 3.3). Sabedores disto, nós cristãos, devemos no meio desta geração
pervertida, vigiar em santidade, a fim de não contaminarmos com o pecado (Fp
2.15). A santidade é tipificada na Bíblia como vestes (Ap 19.8,14).
Por sua vez, a falta de santidade pode ser retratada como
vestes sujas ou a nudez (Zc 3.3,4; Ap 3.18; 16.15).
A exortação bíblica é que devemos estar vestidos e com
vestes limpas em todo tempo (Ec 9.8; Ap 3.4), e só assim, venceremos as
batalhas espirituais.
Vigiando
em todo tempo.
O ensino sobre a vigilância é constante no ministério de
Jesus (Mt 26.41 ver Ef 6.18). Já vimos que a palavra “vigiar” significa: “estar
atento”. O contrário da palavra “vigiar” é justamente “dormir” (Mc 14.37; Ef
5.14; Rm 13.11).
Do ponto de vista bíblico, o sono espiritual, tem
conotação negativa, pois leva o homem a um estado de invigilância. Jesus falou
disto quando disse: “Vigiai, pois, porque não sabeis quando virá o senhor da
casa; se à tarde, se à meia-noite, se ao cantar do galo, se pela manhã, para
que, vindo de improviso, não vos ache dormindo” (Mc 13.35,36).
Foi quando as dez virgens cochilaram que chegou o esposo
“E, tardando o esposo, tosquenejaram todas, e adormeceram” (Mt 25.5). A
“demora” da volta de Cristo se constitui num teste de resistência e fidelidade
para aqueles que professam segui-lo. Por isso, somos exortados a perseverança
(Mt 24.13; Lc 8.15; Rm 2.7; 1Tm 4.16; Ap 3.10-11). Devemos também exorta-nos uns
aos outros (Hb 10.25).
IV
– A IMPORTÂNCIA DA VIGILÂNCIA ESPIRITUAL
A vigilância é o ato ou efeito de vigiar, o estado de
quem permanece alerta, de quem procede com precaução nas várias áreas da vida,
principalmente na vida espiritual. A atitude de vigiar na vida espiritual
implica em algumas atitudes. Notemos:
Vigiar
implica ficar de atalaia.
O atalaia exercia um papel bastante importante na
segurança da cidade e se aquele atalaia falhasse na sua função, colocaria a
cidade em risco (2Cr 20.2-10). Para proteger o gado, a lavoura e os centros
urbanos, os judeus construíam as chamadas torres de vigia nos pastos (Mq 4.8;
Mt 21.33), nas vinhas (Is 5.2) e nas cidades (Sl 127.1).
A vigilância era de dia e de noite e os guardas ansiavam
pelo romper da manhã (Sl 130.6). No NT Jesus também insiste muito na prática da
vigilância e o imperativo vigiai aparece três vezes na parábola da figueira (Mc
13.33, 35, 37), uma vez na parábola das dez virgens (Mt 25.13) e duas vezes na
cena do Getsêmani (Mc 14.34,38).
O texto de Marcos 13.37 é muito enfático: “O que, porém
vos digo, digo a todos: vigiai”. A ordem para vigiar não está apenas no ensino
de Jesus. Encontra-se também em Paulo, tanto no discurso dirigido aos
presbíteros de Éfeso (At 20.31) como nas cartas endereçadas aos Coríntios (1Co
16.13) e aos Tessalonicenses (1Ts 5.6).
Aos cristãos judeus expulsos de Jerusalém e espalhados
pelo Ponto, pela Galácia, Capadócia, Ásia e Bitínia, Pedro escreve: “Sede
sóbrios e vigilantes” (1Pe 5.8).
A igreja em Sardes recebe a mesma exortação (Ap 3.2).
Depois de glorificado Jesus declarou que é: “bem-aventurado aquele que vigia
[...]” (Ap 16.15). É exigido daquele que vigia atitude de alerta permanente
(1Ts 5.6; Rm 13.11).
Vigiar
implica ficar acordado.
A vigilância na fé cristã pode ser entendida o ato de
permanecer acordado (Lc 12.3638; 1Ts 5.6). Estar alerta e acordado tem como
objetivo evitar o comportamento negligente ou indolente que pode levar alguém a
cair em alguma cilada ou ceder a alguma tentação que acaba enfraquecendo sua fé
em Cristo (Mt 24.42; 25.13; 26.41; 1Co 16.13; 1Ts 5.6; 1Pd 5.8; Ap 3.2; 16.15).
Todos nós precisamos de vigilância espiritual, e são
inúmeras as recomendações bíblicas acerca da importância da vigilância
constante para o crente. Diariamente somos submetidos a diversas tentações, e
diante disso o conselho Jesus é: “Vigiai e orai, para que não entreis em
tentação” (Mt 26.41).
Vigiar
implica ter consciência das realidades espirituais.
Ter consciência dos perigos espirituais contidos no reino
oposto de Satanás, e resiste-lhes ativamente. Tal batalha trava-se no reino
espiritual das nossas vidas, pois nós não lutamos contra carne e sangue, mas
sim contra um poder espiritual hostil e seus malévolos princípios (Ef 6.12).
Quanto mais nos lembrarmos da realidade desse outro mundo
invisível, mais vigilantes devemos estar. Acerca disso Paulo diz: “Porque não
ignoramos os seus ardis” (2Co 2.11). Pedro também afirmou que: “o diabo […]
anda em derredor, bramando como leão, buscando a quem possa tragar” (1Pd 5.8).
Quanto mais inclinados estivermos para o mundo secular,
menos vamos considerar as realidades espirituais, desprezando assim ordenar as
nossas vidas de harmonia com elas. Estar vigilante no sentido bíblico, requer
que os nossos olhos estejam abertos a certas realidades e que tal conhecimento
determine as nossas decisões e ações.
CONCLUSÃO
Aprendemos que o ensino bíblico sobre a vigilância
envolve precaução, cuidado, perseverança, fé e obediência, considerando esta
verdade sigamos o ensino de Jesus: “Vigiai e orai, para que não entreis em
tentação; o espírito, na verdade, está pronto, mas a carne é fraca” (Mt 26.41).
Por. Pb. Mickel S. Porto
REFERÊNCIAS
ANDRADE, Claudionor Corrêa de. Dicionário Teológico. RJ: CPAD, 2006.
HOWARD, R.E, et al. Comentário
Bíblico Beacon. RJ: CPAD 2010.
HOUAISS, Antônio. Dicionário da Língua Portuguesa. RJ: OBJETIVA, 2001.
STAMPS, Donald C
(Trad. Gordon Chown). Bíblia de Estudo Pentecostal. RJ: CPAD, 1995.
VINE, W.E, et al
(Trad. Luís
Aron). Dicionário Vine. RJ: CPAD, 2002.
IEADPE -Superintendência de Escola Dominical