29 de janeiro de 2014

A TRAVESSIA DO MAR VERMELHO



A TRAVESSIA DO MAR VERMELHO

TEXTO ÁUREO = “Se, pois o Filho vos libertar, verdadeiramente sereis livres” (Jo 8.36).

VERDADE PRÁTICA = A saída do povo de Israel do Egito para a liberdade da Terra Prometida é uma figura da caminhada para a Canaã Celeste.

TEXTO BÍBLICO  = Êx 13.17,19-20; 14.13-15,19,21,22,27,29-31

INTRODUÇÃO

A saída de Israel do Egito foi um fato histórico de repercussão extraordinária para todos os povos daquela época e de gerações futuras. O império egípcio foi dobrado diante do Senhor Deus de Israel. Ele permitiu que seu povo fosse oprimido por muito tempo, mas não para sempre. Caminhando sem bússola e sem mapa, o povo israelita jamais errou o caminho. Deus os guiava com sua mão poderosa e perfeita direção. As ameaças do inimigo, não foram suficientes para frustrar a marcha do povo liberto.Nesta lição, estudaremos o começo da caminhada dQ povo hebreu em direção à Terra Prometida.

0 CAMINHO MAIS LONGO (Êx 13.17,18)

Segundo os estudiosos do Êxodo, Deus não levou o povo israelita diretamente a Canaã, pelo caminho dos filisteus, porque, naquela rota, havia muitas fortificações de soldados egípcios. Seria o caminho mais curto. Entretanto, por ali, o povo poderia arrepender-se da caminhada, ‘vendo a guerra”, e tomar ao Egito. Olhando um mapa da Palestina àquele tempo, verifica-se que, antigamente, antes de haver o atual canal de Suez, havia passagem por terra, saindo do Egito para Canaã. O percurso duraria questão de poucos dias. Mas o povo, ao longo de tantos anos de vida pacata, na vida pastoril e depois, como escravo, não estava preparado psicológica e fisicamente para a guerra. Então, Deus, na sua sabedoria, fez o povo rodear pelo ‘caminho do deserto, perto do Mar Vermelho”. (SG e DF) O caminho era mais longo, mas era o escolhido por Deus. Muitas vezes, nós queremos que o Senhor nos conduza por caminhos mais curtos, quando enfrentamos lutas e dificuldades. Contudo, é melhor confiar no Senhor, aprendendo a conviver com as circunstâncias propiciadas por Ele, na sua infinita sabedoria e misericórdia.

O POVO ARMADO (Êx 13.18b).

O exército de Israel era formado por 600.000 homens armados, que caminhava à frente do povo (Nm 1.46). Não teriam eles condições de enfrentar o exército egípcio, indo pelo caminho mais curto? Certamente não, pois Deus não o permitiu. Ainda que eram o povo de Deus, precisavam estar armados. Mais adiante, acostumados ao deserto, enfrentaram tropas mais numerosas e foram vitoriosos.

Nos dias em que vivemos, o povo de Deus, a Igreja, precisa de manter-se muito bem armado, diante do inimigo avassalador, que é o Diabo. Em nossa caminhada, precisamos revestir-nos da ‘armadura de Deus” para vencê-lo Nesta armadura(Ef 6. 10-17), temos o cinto da verdade, a couraça da justiça, os sapatos do evangelho da paz, o escudo da fé. Moisés, para libertar o povo, não contou com o apoio dos políticos do Egito, mas com o poder de Deus. Atualmente, a política é atividade desgastada, ainda que importante. A Igreja do Senhor não pode confiar na homem para ser vitoriosa, mas nas armas poderosas para a destruição do inimigo (2 Co 10.4).

NADA FICOU NO EGITO

Faraó quis proibir que saíssem do Egito os meninos e as mulheres de Israel (Ex 10.7); depois, exigiu que ficasse o gado (Êx 10.24). Moisés, com determinação, afirmou que no Egito não ficaria “nenhuma unha”. Muito tempo antes, José, pela fé, pedira que, quando o povo fosse para Canaã, não deixasse os seus ossos no Egito (Gn 50.25; Hb 11.2). Esses fatos têm significados espirituais para os nossos dias. Quando o crente aceita a Jesus, e vem para a Igreja, o inimigo, o “Faraó moderno”, deseja que o mesmo mantenha comunhão com o mundo, fazendo concessões a respeito de interesses, comportamento e conduta. Há aqueles que vêm para a Igreja, mas o coração fica no mundo. E impossível servir a Deus assim. Jesus disse que ninguém pode servir a dois senhores (Mt 6.24).

A PARTIDA DO EGITO (Êx 13:20).

1.0 lugar. O povo partiu de Ramessés para Sucote (Êx 12.37), inicialmente. A segunda fase da marcha começou em Sucote, indo até Etã,, à entrada do deserto (Êx 13.20).

2. Deus Ia adiante do seu povo (Êx 13.21). Deus não desamparou o povo, nem o deixou sem direção divina. (SD) Indo à frente do Seu povo, o Senhor garantia a certeza de uma caminhada segura, sob sua proteção. Durante o dia, havia a coluna de nuvem, que guiava e, ao mesmo tempo, protegia do excesso de calor e dos raios solares prejudiciais à saúde do povo. Durante à noite havia uma coluna de fogo, que iluminava o caminho. Em todo o percurso, naquele imenso deserto, o Senhor os guiou em segurança (Dt 8.2; 32.2; Is 53.14; Jr 2.6). É muito importante que tenhamos a direção de Deus, ao iniciarmos qualquer empreitada. O Senhor nos ensina e nos guia (Is 48.17). O Espírito Santo foi-nos enviado para nos consolar e ensinar todas as coisas (Jo 14,.26).

3. A perseguição de Faraó (14.9). O povo já estava à entrada do deserto, quando Moisés recebeu ordem de Deus para voltar e acampar “diante de PiHirote, entre Migdol e ornar, diante de “Baal-Zefon” (Ex 14.2). Essa foi urna manobra determinada pelo Senhor, a fim de manifestar mais uma vez o Seu poder diante dos egípcios.

Com esse retomo, Faraó pensava que os israelitas estavam com medo de enfrentar o deserto, e resolveu persegui-los (Êx 14.5). Não sabia ele, que não passava de um mortal, manobrado pelo Senhor. A exemplo de Faraó, o Diabo procura perseguir aqueles que deixam o mundo, e resolvem caminhar para os céus com Jesus em suas vidas. Ameaças, opressões, críticas, zombarias e até violência, são algumas das armas usadas pelo inimigo para intimidar o servo de Deus, principalmente o novo convertido. Daí, porque é por demais indispensável que, em cada igreja, haja um trabalho de assistência e integração do novo convertido, a fim de que o mesmo se fortaleça, enfrentando os desafios do inimigo.

4. 0 desânimo do povo (Êx 14.10- 12). O povo, ao perceber a aproximação do exército de Faraó, com canos e cavalos, temeu e clamou ao Senhor. Essa foi uma atitude correta. Buscar o socorro do Senhor (v.10). Contudo, após isso, o povo desesperou-se e passou a murmurar contra Moisés, dizendo-lhe que prefeririam ter ficado no Egito, servindo aos egípcios. Ao que parece, eles não passaram na primeira grande prova de fé. A caminhada cristã assemelha-se à do povo de Israel. Uma das táticas do inimigo é a perseguição. Ela pode ocorrer no emprego, no lar, na vizinhança e, por incrível que pareça, até na igreja. Diante disso, há uma tendência de desânimo e muitos desejam voltar para o mundo, para a escravidão. Entretanto, Jesus disse que quem perseverar até o fim, será salvo (Mt 10.22).

5. A serenidade e a confiança de Moisés (Êx 14.13-14). Ante o temor e as murmuração do povo, o líder soube conduzir-se naquela ocasião difícil. Era uma multidão de milhares de pessoas amedrontadas, responsabilizando o homem de Deus pela situação crítica. Moisés passava pelo teste da liderança eficaz.

a. Manteve a calma. Diante do desespero do povo, Moisés demonstrou tranqüilidade. Essa é uma qualidade indispensável ao líder.

b. Palavra de encorajamento. “Não temais, estai quietos...”. Cremos que essas palavras foram de grande valor para o ânimo do povo. Todos olhavam para Moisés, e ele, ao invés de se abalar, dava uma injeção de coragem a todos.

c. Palavra de Fé. “Vede o livramento do Senhor, que hoje vos fará”. “0 Senhor pelejará por vós e vos calareis”. Decerto, Moisés refletiu perante o povo tanta convicção em suas palavras, que o povo ficou a esperar o resultado de tanta fé. Que Deus nos ajude a termos líderes que inspirem confiança e fé nestes dias de tanto desânimo e descrença, como resultados de certos escândalos.

A PASSAGEM PELO MAR VERMELHO

O homem de Deus, que vira o Senhor operar tantas maravilhas no Egito, agora, via diante de si e do povo o maior obstáculo natural à viagem para Canaã.
Momentos antes, pela fé, ele afirmara que Deus daria o livramento necessário. Ele não esperou para ver,mas creu antes de o fato acontecer, referindo-se, inclusive, à ruína do exército egípcio.

1. Obstáculo na caminhada. A multidão de cerca de 600.000 homens de guerra, mais suas famílias, compunha um total de aproximadamente três milhões de pessoas. Todos diante do Mar Vermelho, tendo, no seu encalço, o exército de Faraó. Era situação muito difícil. Na vida cristã há momentos em que parece não haver solução para os problemas. Mas todas as coisas contribuem para o bem dos que são chamados por Deus (Rm 8.28).

2. Deus manda Ir em frente (Êx 14.15-17). Diante da fé demonstrada por Moisés, o Senhor ordenou que o povo marchasse pelo mar em seco. Moisés levantou a vara e o mar abriu-se em duas partes, enquanto o povo caminhava a pé enxuto. Certos críticos dizem que foi um fenômeno natural; que, ali, havia uma parte rasa, um palmo d’água. Eles só não sabem explicar como o exército de Faraó afogou-se num palmo d’ág1a.

3. O anjo de Deus gula o povo (Ex 14.19). O anjo, que ia à frente, passou para irás, para defender o povo do ataque inimigo. A estratégia divina é desconcertante para o inimigo. O Senhor arvora sua bandeira pelo seu povo. (Is 59.19). A coluna de nuvem passou para trás, onde estava o perigo. Para Israel, a nuvem iluminava; para os egípcios, era escuridão (v.20). Durante toda a marcha, o chão estava seco, um muro de água à direita e à esquerda do povo. Isso nos fala da proteção total do nosso Deus. Seu anjo acampa-se e nos guarda (Sl 34.7).

Elaboração pelo:- Evangelista Isaias Silva de Jesus

Igreja Evangélica Assembléia de Deus Ministério Belém Em Dourados – MS

Lições bíblicas CPAD 1991

ESTUDO COMPLEMENTAR

A Partida do Egito (12.37-42)

a) O número dos que se puseram em marcha (12.37-39). No dia seguinte à noite da morte dos primogênitos dos egípcios, partiram os filhos de Israel para Sucote (37). Não sabemos a localização certa deste lugar, embora fosse viagem curta de um dia de Ramessés para o leste em direção ao mar Vermelho (ver Mapa 3). Deve ter sido tarefa custosa levar este grande grupo a um ponto central; talvez tivessem feito um planejamento para quando o momento da vitória chegasse.

Muita controvérsia gira em torno da questão do número de israelitas que saiu do Egito. Os estudiosos liberais, pouco propensos a considerar providência milagrosa, recusam-se a aceitar um número alto como implica o montante de seiscentos mil homens. 15 Contestam a possibilidade de a população israelita aumentar tanto levando em conta o tempo decorrido e as condições adversas descritas.

Também rejeitam a possibilidade de tantas pessoas sobreviverem no deserto. Existe a indicação de que a palavra hebraica que se refere a mil (elep) “possa ser traduzida por ‘clã’ ou ‘família’, como ocorre em outros lugares da Bíblia (e.g., Jz 6.15).16 Neste caso, o número total de 600 clãs seria bem menos.

Mas considerando a bênção especial de Deus, aceitamos que Israel crescera a uma população estimada de quase três milhões de pessoas. Sob o poder especial de Deus, as provisões no deserto teriam sido adequadas.

A mistura de gente (38) que partiu com Israel eram egípcios que se ligaram a Israel e sua religião; também eram escravos estrangeiros que, por esse meio, buscavam liberdade, e pessoas que tinham se casado com os hebreus. Mais tarde, essa gente se tornou tropeço para Israel (Nm 11.4). E interessante observar que Israel possuía ovelhas e vacas. Estes rebanhos já eram deles antes das pragas e foram protegidos da destruição (9.4). O registro bíblico não explica como os israelitas poderiam possuir tanto gado no Egito. Conjeturamos que as bênçãos de Deus estavam sobre Israel durante a escravidão. Chadwick sugere que pode ter havido uma revolta antes desta época, a qual concedeu certos privilégios para estes escravos no Egito.’8 Em todo caso, Deus lhes abas- tecera com grande multidão de gado.

A partida súbita do Egito pegou os israelitas até certo ponto desprevenidos, pois não haviam preparado comida (39) para a viagem. Só comeram bolos asmos. Este era o tipo de alimento que deveriam comer por sete dias durante a festa comemorativa (15).

b) A data da partida (12.40-42). O tempo que os filhos de Israel habitaram no Egito foi de quatrocentos e trinta anos (40). O autor não especifica se toda essa estadia foi só no Egito, ou também incluía o tempo na Palestina. Paulo (Gl 3.17) dá a entender que a lei foi dada 430 anos depois de Abraão. Mas Estêvão (At 7.6) disse que Israel ficou na escravidão em terra estrangeira por 400 anos. O número redondo 400 concorda com o número que aparece em Gênesis 15.13, cuja passagem também indica que estes anos foram passados em aflição. E seguro presumir que o autor quis se referir aos anos passados na terra do Egito. Na realidade, o tempo foi datado no relógio de Deus com uma exatidão que comprovava a Palavra divina (41).

Que noite inesquecível! “Essa foi a noite em que o SENHOR ficou vigiando” (NTLH); manteve seus filhos sob observação cuidadosa (42). No futuro, todas as gerações de israelitas a celebrariam como “noite da vigília”. Para Israel, foi como o dia em que nasceram de novo; os cristãos o celebram como o dia feliz em que seus pecados foram lavados pelo sangue de Jesus!.

 A Lei da Páscoa (12.43—13.2)

Moisés recebeu mais instruções pertinentes à celebração da Festa da Páscoa: 1) O filho de estrangeiro não deveria comer a Páscoa (43); 2) estrangeiros e servos, depois de circuncidados, tornavam-se israelitas e poderiam comer a Páscoa (44,48); 3) deviam comer o cordeiro numa casa e nada dele poderia ser levado para fora da casa (46); 4) não podiam quebrar osso algum do cordeiro (46); 5) a mesma lei se aplicava ao natural e ao estrangeiro (49).

Os últimos três pontos enfatizam a unidade na comunhão. Não devia haver divisão na congregação de Israel — o cordeiro era um e o povo era um. Assim, em Cristo todos são um; as divisões não têm lugar em seu corpo (1 Co 1—3).

A resposta dos israelitas foi imediata (50). A recente vitória tornou seus corações obedientes. Quando Deus trabalha, a vitória é completa. Exércitos (51), melhor “turmas” (NVI) ou “tribos” (NTLH). Mas as bênçãos de Deus dadas a um povo trazem responsabilidades. Visto que o Senhor poupara homens e animais, agora estes deveriam ser consagrados a Ele (2). Deus pediu a estes homens que lhe dessem o que lhe era devido. O verbo santificar conforme é usado aqui e ao longo do Antigo Testamento tem o significado de “consagrar ou separar” para propriedade especial de Deus, tendo paralelo no significado do Novo Testamento que inclui pureza moral (Ef 5.25-27; Hb 9.13,14). Neste sentido mais amplo do Antigo Testamento, o termo santificar é usado para se referir a pessoas e coisas.

O Discurso de Moisés (13.3-16)

a) O dia da recordação (13.3-10), Moisés tinha de relatar ao povo as instruções que Deus lhe dera. Os versículos 3 a 7 repetem grande parte do que aparece em 12.14-20 (ver comentários ali). No versículo 5, Moisés nomeou cinco das sete nações cuja terra Israel herdaria. As outras duas eram os ferezeus e os girgaseus que provavelmente eram menos importantes (cf. CBB, vol. II).

A importância de lembrar este mesmo dia (3) devia ser passada para os filhos (8). O sinal sobre tua mão e a lembrança entre teus olhos (9) não seriam os escritos físicos ou “filactérios” (cf. Dt 6.48). O que devia ser lembrado era a festa e as palavras da boca que vêm do coração. Em certa medida, os objetos físicos ajudam a lembrar os atos graciosos de Deus, mas o meio mais eficaz de transmissão é a lei do SENHOR... em tua boca (9) o coração transbordante de louvor e testemunho passado para os filhos.

Deus sabe que os homens o esquecem com facilidade, por isso ordenou: Tu guardarás este estatuto a seu tempo [“no dia certo”, ARA] de ano em ano (10).

b) A consagração dos primogênitos (13.11-16). Outra lembrança constante era a entrega dos primogênitos a Deus (2,12) e as respostas às perguntas dos filhos (14) a respeito das cerimônias. Todos os primogênitos machos do gado pertenciam a Deus (12) e deveriam ser oferecidos em sacrificio ao SENHOR (15).

Tudo o que abre a madre (15) diz respeito a “todos os machos que abrem a madre” (ARA). O vocábulo tudo aqui deve ser considerado alusão a animais limpos. Os animais imundos, como os jumentos (13), tinham de ser resgatados pela substituição de um cordeiro ou cabrito. Se não fossem resgatados, os animais imundos deveriam ser mortos. O jumento é mencionado porque foi o único animal de carga levado do Egito.

Para os meninos havia um arranjo especial. Considerando que não podiam ser sacrificados como oferta, tinham de ser resgatados (15). Mais tarde, a obrigação do serviço a Deus foi transferida para os levitas, e o preço da substituição pelo primogênito macho foi fixado em cinco siclos (Nm 347). Este pagamento servia como reconhecimento do direito de Deus sobre os primogênitos.

A razão para esta exigência é clara. Deus tirou Israel do Egito matando os primogênitos (15) egípcios. Portanto, os israelitas deveriam contar a história repetida- mente a todos os filhos, sobretudo ao primogênito. Este ato redentor e sacrifical deveria ser uma lembrança — por sinal sobre tua mão e por frontais entre os teus olhos (16; ver comentários sobre o v. 9).

A Coluna de Nuvem e a Coluna de Fogo (13.17-22)

A rota direta e norte entre o Egito e a Palestina (ver Mapas 2 e 3) tinha aproximadamente 320 quilômetros e podia ser percorrida em cerca de duas semanas. Quando Deus tirou os israelitas do Egito, Ele os levou por um percurso mais longo a fim de evitar o encontro com os filisteus (17) bélicos. Os filhos de Israel não eram treinados para a batalha e a fé em Deus ainda era fraca. Eles poderiam se arrepender quando vissem a guerra e voltar para o Egito. O Senhor conhecia a força limitada do seu povo e o protegeu de tentações inadequadas (ver 1 Co 10.13). Por vezes, os caminhos de Deus não são os mais simples e diretos. Ele guiou Israel pelo caminho do deserto perto do mar Vermelho (18; ver comentários sobre o mar Vermelho em 14.2).

A palavra armados (18), embora termo militar no original hebraico, deve ser referência à maneira organizada da marcha. Moffatt diz: “Os israelitas saíram do Egito em formação metódica”. Esta organização pode ter sido planejada durante o período de disputa com Faraó.

Atendendo ao pedido de José quando estava morrendo (Gn 50.25), Moisés levou os ossos (19) deste patriarca. Pode-se afirmar que Moisés sabia de tudo sobre este antigo líder e que se fortaleceu na fé pela firme esperança que havia em José. No devido tempo, Israel enterrou respeitosamente os ossos de José na terra de Canaã (Js 24.32).

A próxima parada de Israel depois de Sucote foi Etã, à entrada do deserto (20; ver Mapa 3). A localização destes lugares é incerta, em grande parte por que não sabemos o ponto exato da travessia do mar Vermelho.

Mas onde quer que tenha sido o local, Deus era o Líder. Ele aparecia diante de Israel na forma de uma coluna de nuvem (21, provavelmente de fumaça) de dia, e uma coluna de fogo, à noite. A coluna ficou bastante tempo com Israel servindo de guia nas viagens. Simbolizava o Espírito Santo, um Fogo (Mt 3.11), que guia o cristão no andar cotidiano.

Vemos “A Luz Guia de Deus” nos versículos 17 a 22. 1) Conduz os filhos de Deus para longe dos caminhos de maior perigo, 17; 2) Leva, às vezes, por caminhos circulares passando por lugares indesejáveis, 18a; 3) Dirige de forma ordeira e obediente, 18b; 4) Lidera com provas incontestáveis de que Ele está com eles, 21,22.

A Travessia do Mar Vermelho (14.1-31)

a) Um lugar arriscado (14.1-4). Visto que o texto bíblico não anuncia o local preciso onde ocorreu a travessia, é melhor presumir que os filhos de Israel iniciaram a jornada da terra de Gósen (ver Mapa 3) rumo à fronteira do Egito, onde cruzaram para entrar no deserto. Em seguida, Deus lhes ordena que voltem (2; “retrocedam”, ARA) e acampem junto ao mar. Não há como definir se viraram para o norte, em direção ao lago Manzalé, ou para o sul, em direção aos lagos Amargos. O que está claro é que havia um volume de água diante deles como obstáculo ao cruzamento.

Faraó começou a reavaliar a libertação dos escravos. Talvez soube da jornada aparentemente a esmo, e supôs que estivessem embaraçados na terra (3) e que o deserto os encerrara. Para ele, o Deus dos israelitas, embora poderoso no Egito, era impotente no deserto. Pensou que estavam irremediavelmente perdidos. Lógico que Israel teria sido destruído se não fosse a intervenção do Deus Todo-poderoso. Por vezes, Ele nos coloca em situações de aperto para nos livrar e nos mostrar que Ele é o SENHOR (4).

b) A perseguição de Faraó (14.5-9). Irritados pela recente derrota e frustração causa- da pela perda de tantos trabalhadores (5), Faraó e seus servos (os conselheiros) mudaram de idéia. Pensando que Israel estava praticamente encurralado no deserto, o rei aprontou o seu carro e tomou consigo o seu povo (6; “exército”, NVI). Também tinha seiscentos carros escolhidos (7) e muitos outros que conseguira reunir sem demora (pensamento subentendido na expressão todos os carros). Com esta força militar humana, Faraó saiu apressadamente em perseguição dos israelitas. Seu coração duro ficou mais duro ainda, porque, para ele, estes escravos tinham saído com alta mão (8; “afoitamente”, ARA; “triunfantemente”, NVI). Contraste esta condição com o grande medo que logo sentiriam (10). Foi a toda velocidade ao local onde estavam acampados junto ao mar (9; ver Mapa 3). Pi-Hairote significa “lugar de juncos, no lado egípcio do mar Vermelho” (VBB, nota de rodapé).

c) O medo do povo (14.10-12). Vendo o exército de Faraó se aproximando, o coração dos israelitas se derreteu, levando-os a clamar ao SENHOR (10). Foi um clamor desesperado, porque viam nada mais que a morte diante de si; só restava repreender Moisés por tê-los tirado do Egito para morrerem no deserto (11). Para eles, a escravidão e a melhor que a morte, e Moisés deveria tê-los deixado em paz no Egito (12). Em termos de um slogan dos dias atuais, eles sentiam que seria melhor sofrer e estar vivo do que não sofrer e estar morto.

Estes israelitas, como tantos novos-convertidos, embora libertos da escravidão do trabalho forçado, ainda possuíam “um coração mau e infiel”. Estavam com muito medo e cheios de dúvida, logo esquecendo os atos poderosos de Deus feitos a seu favor. Tinham concordado com os líderes, mas agora, diante da iminente catástrofe, a falta de compromisso sério se revelou.

d) O propósito de Deus (14.13-18). Como é freqüente a fé fraquejar justamente quando Deus está pronto para fazer sua maior obra! Mas Deus tinha seu homem de fé. O texto não diz o quanto Moisés tremia por dentro, nem é perceptível que ele já soubesse o que Deus ia fazer. Mas os encontros que teve com Deus lhe deram a certeza de que Deus estava no controle. Não havia nada que as pessoas poderiam fazer, exceto aquietar os temores, ficar quietas e ver o livramento do SENHOR (13). Deus disse a Moisés (4) que ocorreria outra vitória, e ele creu na palavra de Deus. Ele pôde declarar: O SENHOR pelejará por vós, e vos calareis (14). “Tão-somente acalmem-se” (14b, NVI).

Não havia necessidade de mais clamores a Deus. Chegara o momento de marchar. Tratava-se de uma marcha de fé, pois diante deles só havia águas traiçoeiras; mas a ordem de Deus era clara: Marchem (15). Em nosso andar espiritual, chegamos a um ponto em que as orações medrosas cessam e o passo de fé deve ser dado.

Todas as vezes que os filhos de Israel temeram o desamparo de Deus, Ele estava trabalhando em seus propósitos. A barreira de água à frente deles se dividiria quando a mão de Moisés se estendesse com a vara (16). O coração duro de Faraó o levaria a se apoiar demasiadamente na bondade Deus e seguir Israel, mas o plano de Deus era destruir o exército egípcio para, assim, obter glória e honra para si (17). Seria tarde demais para Faraó e seus cavaleiros (18), mas o restante dos egípcios saberia quem é o SENHOR.

No versículo 15, observamos o desafio de Deus ao seu povo: “Marchem!” 1) A história os impulsionava para frente, 1.13,14; 2) O presente os empurrava para frente, 14.9,10; 3) O futuro os estimulava para frente, 3.8; 14.13,14 (G. B. Williamson).

e) A coluna de proteção (14.19,20). O Anjo de Deus (19), chamado “o anjo do SENHOR” em 3.2, que estava na frente de Israel, passou agora para trás do acampamento. O movimento invisível de Deus foi verificado no movimento visível da coluna da nuvem, que se retirou de diante dos israelitas e se pôs atrás deles. Esta coluna ficou entre os dois acampamentos, impedindo os egípcios de chegar perto de Israel toda a noite (20). A coluna trouxe escuridade para os egípcios, enquanto que Israel tinha luz no acampamento.

Vemos nos versículos 10 a 20, o processo de “Como Vencer o Medo”. 1) Ficamos amedrontados ao ver o poder de Satanás, 10; 2) Expressamos nossa angústia pelas providências de Deus, 11,12; 3) Sentimos alívio quando a palavra de Deus é dada com clareza, 13- 18; 4) Aquietamo-nos completamente quando a presença de Deus se manifesta, 19,20.

f) O caminho pelo mar (14.21-25). Naquela noite, quando Moisés estendeu a sua mão sobre o mar... as águas foram partidas (21). Um forte vento oriental fez o mar se tornar em seco, talvez para secar o leito de onde as águas recuaram. Devemos ser cautelosos em não forçar a linguagem poética (15.8; SI 78.13) em rígida expressão literal e concluir que as águas desafiaram a gravidade ou se congelaram em bloco sólido.  A palavra muro (22) se refere à barreira de água que ficou em ambos os lados de Israel enquanto atravessavam em marcha.

O registro bíblico não determina a distância do cruzamento pelo mar e a largura da passagem. A área era suficiente para que quase três milhões de pessoas atravessassem em uma noite e bastante ampla para que todos os exércitos de Faraó ficassem no meio do mar (23). Ou os egípcios consideraram a abertura no mar uma ocorrência natural ou então, na sua dureza, se apoiaram na misericórdia de Deus quando marcharam pela abertura. O texto não diz se Faraó entrou com o exército, mas todos os seus cavalos, carros e cavaleiros (23) entraram (o v. 9 não registra a entrada do “exército”).

Na vigília daquela manhã (24), entre duas e seis da manhã,” Deus alvoroçou os egípcios. Pode ser que a coluna diante dos egípcios tenha começado a lampejar, talvez com raios. Os egípcios ficaram com medo e passaram a ter problemas com as rodas dos carros (25), que emperravam (ARA) ou atolavam (NTLH), de forma que transitavam dificultosamente. Pelo visto, o leito seco do mar estava afundando com o peso dos cavalos e carros. Disseram: Fujamos... porque o SENHOR por eles peleja contra os egípcios. Mais uma vez, estes ímpios reconheceram o poder de Deus. A confusão dos egípcios deu tempo para Israel completar a travessia e para todos os egípcios ficarem no leito do mar.


Elaboração pelo:- Evangelista Isaias Silva de Jesus

Igreja Evangélica Assembléia de Deus Ministério Belém Em Dourados – MS


Comentário Bíblico Beacon

21 de janeiro de 2014

A CELEBRAÇÃO DA PRIMEIRA PÁSCOA



A CELEBRAÇÃO DA PRIMEIRA PÁSCOA – Ev. José Costa Junior

CONSIDERAÇÕES INICIAIS

                O assunto desta lição diz respeito a celebração da primeira páscoa pelo povo de Israel e seu significado para a igreja do Senhor.

                Eis aqui a redenção do povo de Israel baseada sobre o sangue do cordeiro segundo o desígnio eterno de Deus. Isto dá à redenção toda a sua estabilidade divina. Exigiu-se dos filhos de Israel que oferecessem um sacrifício de sangue, e o cordeirinho sem defeito que eles mataram era um símbolo do Cristo morrendo na cruz. O sangue do cordeiro nas ombreiras das portas protegia-os do juízo de Deus: "Vendo o sangue, passarei por cima de vós".

                Hoje, "salvos pelo sangue" é o testemunho do povo de Deus no mundo inteiro, com o sangue de Cristo aplicado ao nosso coração. Mas outros também reivindicam o sangue. Adúlteros, viciados e até criminosos que estão na cadeia neste exato momento — todos vivendo em declarado pecado — dir-lhe-ão: "Deus não me julgará. Estou sob a proteção do sangue de Jesus! Há anos eu cri nele." Outros dizem: "Obediência não salva ninguém. O que você pensa a respeito do sangue não o salvará. Só o que Deus pensa acerca do sangue é importante. Obtenha a proteção do sangue e você estará salvo e seguro para sempre."

                É absolutamente verdadeiro que o sangue de Jesus proporciona proteção contra o juízo de Deus, mas apenas quando acompanhado de um coração obediente!

                Isto foi verdadeiro quanto aos filhos de Israel. A fim de estarem seguros pelo sangue sacrificial, os israelitas tiveram de satisfazer a determinadas condições de obediência. Primeiro, "que cada homem peça ao seu vizinho... jóias de prata e jóias de ouro. .. e roupas... O Senhor deu ao povo graça aos olhos dos egípcios, de modo que estes lhes davam o que pediam" (Ex 11:2; 12:35-36). Fazer isto não apenas lhes proveria para o futuro mas também provaria que as pessoas que cressem em Deus seriam postas em liberdade. Teriam de provar sua fé pelas obras.

                A seguir, ordenou-lhes "tomai um molho de hissopo, molhai-o no sangue que estiver na bacia, e marcai a verga da porta e as suas ombreiras" (Ex 12:22). Nenhum anjo executaria esta tarefa para eles, nem Deus a faria para eles; e se tivessem recusado eles mesmos fazê-la, teriam morrido. Não obstante, ainda se exigia mais deles!

                Nesta mesma noite, suas casas deviam tornar-se casas de obediência. "Nenhum de vós saia da porta da sua casa até pela manhã" (Ex 12:22). Dentro da casa, deviam comer o cordeiro da páscoa, assado no fogo. Não devia ser comido cru ou cozido em água, e os israelitas deviam comê-lo com pães asmos, ou sem fermento, e com ervas amargas. Deus lhes ordenou que o fizessem com lombos cingidos, sandálias nos pés e cajado na mão — e deviam comê-lo às pressas.

                Não se tratava de simples assentimento intelectual de fé! Estes israelitas eram um povo obediente sobre o qual havia caído o temor de Deus, e eles desejavam ser libertos. Eles desejavam mais do que segurança — desejavam liberdade das forças do Egito. Eles estavam famintos, ansiosos por obedecer! Contraste-se isso com uma doutrina hodierna que declara: "Não é a obediência que conta. Não vivemos sob a lei. Nossa esperança está só no sangue!" Este ensino declara que se dissermos que a obediência é necessária, estamos tentando diminuir o poder do sangue. Todavia, foi a obediência explícita dos israelitas que provou que eles davam valor ao sangue!

                A verdade é que você pode sentir-se seguro sob o sangue e não obstante estar no Egito — ainda ao alcance do chicote do inimigo! O Senhor deseja que tenhamos mais do que proteção contra o juízo! Ele anseia por tirar-nos da prisão e escravidão do pecado — e levar-nos para um lugar vitorioso sobre a carne.

                O objetivo deste estudo é trazer algumas informações e textos, colhidos dentro da literatura evangélica, com a finalidade de ampliar a visão a respeito da celebração da primeira páscoa pelo povo de Israel e seu significado para a igreja do Senhor . Não há nenhuma pretensão de esgotar o assunto ou de dogmatizá-lo, mas apenas trazer ao professor da EBD alguns elementos e ferramentas que poderão enriquecer sua aula.


A PÁSCOA

                A páscoa é para Israel o que o dia da independência é para um país, e mais ainda. O último juízo sobre o Egito e a provisão do sacrifício pascoal possibilitaram o livramento da escravidão e a peregrinação do povo para a terra prometida. A páscoa é, segundo o Novo Testamento, um símbolo profético da morte de Cristo, da salvação e do andar pela fé a partir da redenção (I Co 5:6-8). Além do livramento do Egito, a páscoa se constituiu em primeiro dia do ano religioso dos hebreus e o começo de sua vida nacional. 

Ocorreu no mês de Abibe (chamado Nisã na história posterior), que corresponde aos nossos meses de março e abril.

A palavra "páscoa" significa "passar de largo", pois o anjo destruidor passou de largo as casas onde havia sido aplicado o sangue nas ombreiras e na verga da porta. Os detalhes do sacrifício e as ordenanças que o acompanhavam são muito significativos:

O animal para o sacrifício devia ser um cordeiro macho de um ano, isto é, um carneiro plenamente desenvolvido e na plenitude de sua vida. Assim Jesus morreu quando tinha 33 anos aproximadamente. O cordeiro tinha de ser sem mácula. Para assegurar que assim fosse, os israelitas o guardavam em casa durante quatro dias. De igual maneira Jesus era impecável e foi provado durante quarenta dias no deserto.

O cordeiro foi sacrificado pela tarde como substituto do primogênito. Por isso morreram os primogênitos das casas egípcias que não creram. Aprendemos que "o salário do pecado é a morte", porém Deus proveu um substituto que "foi ferido pelas nossas transgressões". Os israelitas tinham de aplicar o sangue nas ombreiras e na verga das portas, indicando sua fé pessoal. No Cristianismo não basta crer que Cristo morreu pelos pecados do mundo; somente quando pela fé o sangue de Jesus é aplicado ao coração da pessoa está ela salva da ira de Deus. O anjo exterminador representa a sua ira.

As pessoas tinham de permanecer dentro de casa, protegidas pelo sangue. "Como escaparemos nós, se não atentarmos para uma tão grande salvação?" (Hb 2:3). Tinham de assar a carne do cordeiro e comê-la com pão sem fermento e ervas amargas. O fato de assar em vez de cozer o cordeiro exemplifica a perfeição do sacrifício de Cristo e o fato de que deve ser recebido por completo (Jo 19:33, 36). Assim como os hebreus comeram a carne que lhes daria força para a peregrinação, por meio da comunhão com Cristo o crente recebe força espiritual para segui--lo. O pão sem fermento simbolizava a sinceridade e a verdade (I Co 5:6-8) e as ervas amargas provavelmente representavam as dificuldades e as provações que acompanham a redenção.

Os israelitas deviam comê-lo em pé e vestidos como viajantes a fim de que estivessem preparados para o momento de partida (12:11). Assim o crente deve estar pronto para o grande êxodo final quando Jesus vier (Lc 12:35).

Desejando Deus que seu povo se lembrasse sempre da noite do seu livramento, instituiu a festa da páscoa como comemoração perpétua. A importância desta festa é demonstrada pelo fato de que na época de Cristo era a festa por excelência, a grande festa dos judeus. O rito não só olhava retrospectivamente para aquela noite no Egito mas também antecipadamente para o dia da crucificação. A santa ceia é algo parecido com a páscoa e a substitui no Cristianismo. De igual maneira, esta olha em duas direções: atrás, para a cruz, e adiante, para a segunda vinda (I Co 11:26).

                Dali para a frente, os israelitas haviam de consagrar ao Senhor, para serem seus ministros, os primogênitos dentre seus filhos, e também os de seus animais, pois pela provisão da páscoa os havia comprado com sangue e pertenciam a ele. Os que nasciam primeiro dentre os animais se ofereciam em sacrifício, exceto o jumento, que era resgatado e degolado, e assim também os animais impuros em geral (13:13; Lv 27:26, 27). Os primogênitos do homem eram sempre resgatados; depois os levitas foram consagrados a Deus em substituição deles (Nm 3:12, 40-51; 8:16-18). A aplicação espiritual ensina que Deus nos redime para que o sirvamos: "Ou não sabeis. . . que não sois de vós mesmos? Porque fostes comprados por bom preço; glorificai pois a Deus no vosso corpo, e no vosso espírito, os quais pertencem a Deus" (I Co 6:19, 20).

OS ELEMENTOS DA PÁSCOA

                O cordeiro em torno do qual a congregação estava reunida, e com o qual fazia festa, era um cordeiro assado — um cordeiro que tinha sido submetido à ação do fogo. Vemos neste pormenor "Cristo a nossa páscoa" expondo-Se a Si Mesmo à ação do fogo da santidade e da justiça de Deus, que acharam n'Ele um objeto perfeito. Ele pôde dizer: "Provaste o meu coração; visitaste-me de noite; examinaste-me e nada achaste; o que pensei, a minha boca não transgredirá" (SI 17:3).Tudo n'Ele era perfeito. O fogo provou-O e não havia impureza. "A cabeça com os pés e com a fressura". Quer dizer, o centro da Sua inteligência; a Sua vida exterior com tudo quanto lhe pertencia — tudo foi submetido à ação do fogo, e tudo foi achado perfeito.

                A maneira como o cordeiro devia ser assado é profundamente significativa, como o são em pormenor as ordenações de Deus. Nada deve ser passado por alto, porque está cheio de significação — "não comereis dele nada cru, nem cozido em água". Se o cordeiro tivesse sido comido assim não teria sido a expressão da grande verdade que prefigurava segundo o propósito divino, isto é: que o nosso Cordeiro da páscoa deveria sofrer, na cruz, o fogo da justa ira de Deus; uma verdade, aliás, preciosa para a alma. Não estamos somente sob a proteção eterna do sangue do Cordeiro, como as nossas almas se alimentam pela fé da pessoa do Cordeiro. Muitos de nós enganamo-nos a este respeito. Estamos prontos a contentarmo-nos por estarmos salvos por meio da obra que Cristo cumpriu a nosso favor sem mantermos uma santa comunhão com Ele próprio. O Seu coração amoroso nunca poderá contentar-se com isto. Ele trouxe-nos para perto de Si para que pudéssemos apreciá-Lo, alimentarmo-nos d'Ele e regozijarmo-nos n'Ele. Cristo apresenta-Se perante nós como Aquele que sofreu o fogo intenso da ira de Deus, a fim de ser, neste caráter maravilhoso de Cordeiro, alimento para as nossas almas redimidas.

                Mas como devia ser comido este cordeiro?- "...com pães asmos; com ervas amargosas a comerão". O fermento é empregado, invariavelmente, através das Escrituras, como símbolo do mal. Nunca é usado nem no Velho nem no Novo Testamento como simbolizando alguma coisa pura, santa ou boa. Assim, neste capítulo, a celebração da festa com "pães asmos" é figura da separação prática do mal como resultado próprio de havermos sido lavados dos nossos pecados no sangue do Cordeiro e a própria consequência da comunhão com os Seus sofrimentos. Nada senão pão perfeitamente livre de fermento podia ser compatível com o cordeiro assado. Uma simples partícula daquilo que era figura destacada do mal teria destruído o caráter moral de toda a ordenação. Como poderíamos nós associar qualquer espécie de mal como a nossa comunhão com Cristo nos Seus sofrimentos?- Seria impossível. Todos aqueles que, pelo poder do Espírito Santo, têm compreendido a significação da cruz, não terão dificuldade, pelo mesmo poder, de afastar entre eles o fermento.

                "Porque Cristo, nossa páscoa, foi sacrificado por nós. Peio que façamos festa, não com o fermento velho, nem com o fermento da maldade e da malícia, mas com os asmos da sinceridade e da verdade" (I Co 5:7-8). A festa de que se fala nesta passagem é a mesma que, na vida e conduta da Igreja, corresponde à festa dos pães asmos. Esta durava "sete dias"; e a Igreja, coletivamente, e o crente individualmente, são chamados para andar em santidade prática, durante os sete dias, ou seja todo o tempo da sua carreira aqui na terra; e isto, note-se, como resultado imediato de haverem sido lavados no sangue, e tendo comunhão com os sofrimentos de Cristo.

O israelita não deitava fora o fermento a fim de ser salvo, mas, sim, porque estava salvo; e se deixasse de o deitar fora, não comprometia com isso a sua segurança por meio do sangue, mas simplesmente a comunhão com a assembleia. "Por sete dias não se ache nenhum fermento nas vossas casas; porque qualquer que comer pão levedado, aquela alma será cortada da congregação de Israel, assim o estrangeiro como o natural da terra". O corte de uma alma da congregação corresponde precisamente à suspensão de um cristão da comunhão, quando acede àquilo que é contrário à santidade da presença de Deus. Deus não pode tolerar o mal.

Um simples pensamento impuro interrompe a comunhão da alma; e enquanto a mancha produzida por este pensamento não for tirada pela confissão, baseada na intercessão de Cristo, não é possível restabelecer a comunhão (vide I Jo 1:5 -10). O cristão sincero regozija-se nisto; e dá louvores em memória da santidade de Deus (SI 97:12). Ainda que pudesse, não diminuiria, nem por um momento, o estalão: é seu gozo inexcedível andar na companhia d Aquele que não andará nem por um momento com uma simples partícula de "fermento".

Vemos nas "ervas amargosas", que deviam acompanhar os pães asmos, a significação e mesma utilidade moral. Não podemos desfrutar da participação dos sofrimentos de Cristo sem recordarmos o que tornou necessários esses sofrimentos, e esta recordação deve, necessariamente, produzir um espírito de mortificação e submissão, ilustrado, de um modo apropriado, nas ervas amargosas da festa da páscoa. Se o cordeiro assado representa Cristo sofrendo a ira de Deus em Sua Própria Pessoa na cruz, as ervas amargosas mostram que o crente reconhece a verdade que Ele sofreu por nós. "O castigo que nos traz a paz estava sobre ele, e pelas suas pisaduras fomos sarados" (Is 53:5).

Por causa da leviandade dos nossos corações é bom compreendermos a profunda significação das ervas amargosas. Quem poderá ler os Salmos 6,22,38,69,88, e 109, sem compreender, em alguma medida, o significado dos pães asmos com ervas amargosas?- Uma vida praticamente santa, unida a uma profunda submissão de alma, deve ser o fruto da comunhão verdadeira com os sofrimentos de Cristo, porque é de todo impossível que o mal moral e a leviandade de espírito possam subsistir na presença desses sofrimentos.

Mas, pode perguntar-se não sente a alma um gozo profundo no conhecimento que Cristo levou os nossos pecados, e que esgotou, inteiramente, por nós, o cálice da ira justa de Deus? Por certo que é assim. E este o fundamento inabalável de todo o nosso gozo. Mas, poderemos nós esquecer que foi" por nossos pecados" que Ele sofreu? Poderemos perder de vista a verdade, poderosa para subjugar a alma, que o bendito Cordeiro de Deus inclinou a Sua cabeça sob o peso das nossas transgressões? Certamente que não. Devemos comer o nosso cordeiro com ervas amargosas; as quais, não se esqueça, não representam as lágrimas de um sentimentalismo desprezível e superficial, mas sim as experiências profundas e verdadeiras de uma alma que compreende com inteligência espiritual o significado e efeito prático da cruz.

                              
CONCLUSÃO
               
                Concluiremos vendo o que o Senhor sempre esteve e sempre está buscando fazer no caso de Israel e de Sua Igreja. Podemos dizer assim: Deus está sempre tentando trazê-los para o coração, para o espírito, para a vida, para ocupar a base da ressurreição.

Isso fica claro pela Páscoa no Egito, quando o primogênito em cada lar no Egito foi morto naquela noite terrível. Mas Israel não estava isento, como superficialmente se supõe. A idéia popular e superficial é que os primogênitos em Israel não foram mortos, apenas os do Egito morreram. Mas os primogênitos em todo o Israel foram mortos. A diferença era que os do Egito foram realmente mortos e os de Israel de forma substitutiva.

Quando o cordeiro era morto em cada lar de Israel, para cada família, o cordeiro representativamente sofria o mesmo julgamento dos primogênitos no Egito, e Israel, representativamente, passava da morte para a vida. Naquele cordeiro Israel foi levado através da morte para o terreno da ressurreição. Para o Egito não havia terreno da ressurreição; para Israel havia. Essa é a diferença.

Assim, todos morreram; uns em realidade e outros representativamente. Desse modo, Deus, bem no início do estabelecimento da vida nacional de Israel, procurou estabelecê-los no terreno da ressurreição, cujo significado é: a morte aconteceu e um fim foi introduzido. Toda uma ordem de coisas foi destruída e outra inteiramente diferente introduzida; e levá-los a tomar sua posição nessa nova base, na nova ordem, foi o esforço e propósito de Deus na Páscoa.

                Cristo foi sempre o pensamento primário de Deus, e por isso, logo que começa a falar ou atuar, Ele aproveita a ocasião para manifestar Aquele que ocupava o lugar mais elevado em Seus conselhos e afetos; e, seguindo a corrente de inspiração divina, descobrimos que cada cerimónia, cada rito, cada ordenação, e cada sacrifício indicava "o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo" (Jo 1:29); porém em nenhum de uma forma tão evidente como a Páscoa. O cordeiro da páscoa, com tudo que com ele se ligava, apresenta-nos uma das figuras mais interessantes e instrutivas das Escrituras.

                Espero em DEUS ter contribuído para despertar o seu desejo de aprofundar-se em tão precioso ensino e ter lhe proporcionado oportunidade de agregar algum conhecimento sobre estes assuntos. Conseguindo, que a honra e glória seja dada ao SENHOR JESUS.



Ev. José Costa Junior