29 de junho de 2020

DANIEL ORA POR UM DESPERTAMENTO


DANIEL ORA POR UM DESPERTAMENTO

Texto Áureo

Confessai as vossas culpas uns aos outros e orai uns pelos outros, para que sareis; a oração feita por um justo pode muito em seus efeitos. Tiago 5.16

“Confessai as vossas culpas uns aos outros”  John MacArthur observa que, a honestidade mútua, a fraqueza e a expressão das necessidades permitirão que os cristãos sustentem uns aos outros na luta espiritual.

“Orai uns pelos outros, para que sareis” Russel Norman Champlin observa que, no contexto do texto estão em foco os presbíteros (ou anciãos) dotados com os dons de cura dados pelo Espírito Santo, mas é perfeitamente aplicável entender, que nós devemos orar não apenas por cura física, mas por tudo o que diz respeito a vida de nossos irmãos e a nossa própria vida.

“A oração feita por um justo pode muito em seus efeitos” Geziel Gomes observa que a oração pode: 

1- Fazer com que uma mulher estéril tenha filhos, 1 Samuel 2.
2- Limpar corações, Salmo 51.10.
3- Fechar a boca de leões, Daniel 6.27.
4- Abrir a porta do paraíso, Lucas 23.42,43.
5- Fazer tremer uma casa, Atos 4.31.
6- Produzir missionários, Atos 13.1-3.
7- Abrir prisões, Atos 16.23-26.
8- Sarar o enfermo, Tiago 5.14,15.
9- Muito em seus efeitos, Tiago 5.16.
10 - Fazer chover, Tiago 5.17,18.


1- Daniel Foi Despertado Para Orar

No capítulo 1 do livro de Daniel, o jovem (Daniel) era provavelmente um adolescente entre 15 e 17 anos, quando foi levado cativo e devia ter cerca de oitenta anos quando teve as visões dos capítulos 9 a 12. 

Ao ler o profeta Jeremias (Jeremias 29.10), Daniel observou que os 70 anos de cativeiro na Babilônia estavam chegando ao fim (Daniel 9.2), Mas humanamente falando, ainda não era possível notar qualquer sinal de que Deus estava agindo em favor de seu povo. 

Daniel sabia que Deus enviaria o livramento para seu povo (Daniel 9.2), Daniel só não sabia como e qual a data exata em que Deus faria estas coisas. Ao não entender os planos e o “tempo de Deus”, Daniel fez algo extraordinário, começou a orar, humilhando-se na presença do Senhor (Daniel 9.3).
 
1. Daniel vivia uma vida consagrada a Deus.

 Muitas pessoas dizem coisas do tipo: “Eu vou esperar as coisas melhorarem para buscar a Deus”. Tais pessoas não percebem que as coisas só vão melhorar se elas começarem a buscar a Deus agora. 

Daniel chegou a Babilônia como um prisioneiro e, mesmo nos seus melhores dias em Babilônia, ainda era um prisioneiro. Mas Daniel não esperou o “milagre chegar” para começar a buscar a Deus em oração, desde que chegou em terra estranha, Daniel procurou viver uma vida consagrada a Deus (Daniel 1.8).
 
E isto lhe dava condições para ter suas orações respondidas
A oração dos retos é o seu contentamento. Provérbios 15.8
 Deus ouve a oração dos justos. Provérbios 15.29

 Pedi, e dar-se-vos-á; buscai e encontrareis; batei, e abrir-se-vos-á. Mateus 7.7

Daniel poderia perfeitamente se curvar diante do paganismo a sua volta, mas Daniel não fez isso, Babilônia estava a sua volta e ele não podia impedir isso, mas Babilônia não estava em seu coração, Daniel não podia impedir Babilônia de estar a sua volta, mas podia impedir Babilônia de entrar em seu coração. Assim deve ser o cristão, não podemos impedir o “sistema mundano” de estar a nossa volta, mas podemos impedir o “sistema mundano” de entrar em nossos corações. Daniel é considerado como um modelo e exemplo para todos os crentes.

2. A estatura espiritual de Daniel capacitava-o para enfrentar verdadeiros combates em oração.

Muitos cristãos não conseguem ser de ajuda decisiva com suas orações, e existem muitos fatores que fazem com que as orações de muitos cristãos não seja útil (Para saber mais sobre isso leia o nosso micro e-book Fatores que impedem nossas orações (você pode solicitar este micro e-book gratuitamente através da página SUBSÍDIOS EBD ANDRADINA no FACEBOOK ou pelo whatsapp 18 9 9691-1591). 

Certa vez ouvi um pastor muito sábio dizer que a oração é como uma conta poupança em um banco, se surgir um aperto financeiro, você só precisará ir até o banco e terá a ajuda necessária para suprir a necessidade, porquê você tem um saldo positivo no banco. 

Estas palavras fazem sentido, se você for um cristão verdadeiro, Deus não deixará de responder suas orações, porquê você tem um saldo positivo, por assim dizer, ou seja, você tem a estatura espiritual aprovada por Deus e necessária para que suas orações sejam de grande valia a seus favor e a favor de outros. 

A grande maioria dos cristãos não ora nem 20 minutos por dia e raramente vão a um culto de oração (algumas igrejas nem tem culto de oração, infelizmente). Certa vez Leonard Ravenhill disse: “Quer conhecer a popularidade de uma igreja, vá em um domingo de manhã, quer conhecer a popularidade de um pregador, vá em um domingo a noite, quer conhecer a popularidade de Deus em uma igreja, vá a um culto de oração”

Daniel sabia e valorizava a necessidade e a benção de poder orar, Daniel orava 3 vezes ao dia (Daniel 6.10). Mesmo diante do decreto real, que puniria com a morte aqueles que fizessem petição a Deus ou qualquer um que não fosse o rei Dário durante 30 dias, Daniel continuou a orar ao seu Deus sem temer o decreto de homens (Daniel 6.7). O cristão genuíno aceita sofrer qualquer pena, mas não aceita de maneira nenhuma perder a comunhão com o seu Deus. Daniel era um homem experiente na vida de oração, foi sua vida de oração (ou seja, sua comunhão com Deus) que o mantiveram vivo durante mais de 80 anos.

3. Coincidindo com o período de oração de Daniel, profundas mudanças estavam para acontecer na Babilônia.

O reino da Babilônia estava em guerra com medos e persas* 

 Veja abaixo um pouco do contexto histórico da época de Daniel: 

*Medos - povo de língua indo-europeia que surgiu na área elevada do antigo país asiático chamado Média. Mantinham estreitas relações com os persas, com quem são, em geral, confundidos por escritores que fazem referência ao povo daquela área com o termo quase genérico “medo”. Na realidade, os medos habitaram uma área nas montanhas Zagros, posicionados entre 915 e 1.520 metros acima do nível do mar, em uma região montanhosa dividida por vales. A capital, Ecbatana (hoje Hamadã), estava situada na principal rota de comercio com a Mesopotâmia.

Persas – povo da Pérsia, país localizado a oeste da Mesopotâmia (o moderno Iraque), cobrindo praticamente o mesmo território ocupado hoje pelo Irã. Conhecido nos tempos antigos como Fars ou Pars, chegou ao Ocidente como Pérsia, e esse nome persistiu até 1935, quando foi alterado para Irã. O idioma moderno oficial do país é o persa, língua indo-europeia escrita em caracteres árabes.

Babilônia - Terra ao sul da Mesopotâmia. Politicamente, a Babilônia se refere ao antigo reino que floresceu ao sul da Mesopotâmia, especialmente durante os séculos 7 e 6 a.C., cuja capital era Babilônia (ou Bab-ilu, que significa “portão de deus”). O termo também pode ser usado geograficamente para designar toda uma região (atualmente o sudeste do Iraque).

O adjetivo “babilônio” (ou babilônico) tem um significado ainda mais livre: pode se referir a terra ou a seus habitantes, ao reino ou a seus súditos ou a um dialeto de uma das principais línguas mesopotâmicas antigas.

Caldéia – Região dos caldeus, (região) antiga na Mesopotâmia. O nome vem de tribos caldeias (ou Kaldu) que compartilhavam a Babilônia a sudeste da Mesopotâmia com vários outros povos, especialmente sumérios e acadianos. Depois que o velho Império Babilônico foi absorvido pelos assírios, os caldeus, sob a liderança de Nabucodonosor, assumiram o controle e construíram um império neobabilônico que dominou o Oriente próximo por aproximadamente um século. A região chamada de Caldéia está também associada ao patriarca Abraão, cujo lar mesopotâmico era “Ur dos caldeus” (Gênesis 11.28).

Nesta época de guerra (a que se refere o comentarista da lição) o rei da Babilônia era Nabonido (um rei que alcançou o trono através de conspiração), Os historiadores bíblicos mais aprofundados concordam que Nabonido não tinha nenhum parentesco de sangue com Nabucodonosor, John Dwight Pentecost (teólogo americano) observa que o Belsazar de Daniel 5 foi o filho mais velho de Nabonido nomeado por ele como coregente da Babilônia. Nabucodonosor aparece como pai de Belsazar (Daniel 5.2,11,13,18) no sentido de que era seu ancestral ou predecessor.

Essa corregência (situação em que a nação é governada por duas pessoas com os mesmos poderes e autoridade) de Belsazar (dada por Nabonido), explica por quê Belsazar foi chamado rei (Daniel 5.1), e porquê ele exercia autoridade real, embora Nabonido fosse quem, na realidade, estava sentado no trono. 

Russel Norman Champlin observa que (embora seja muito bom conhecer a historicidade a fundo), não devemos perder de vista o que realmente importa na história, que foi escrita para nos ensinar a verdades irrefutáveis sobre o agir de Deus na vida daqueles que o buscam. 

(Em Daniel 5) vemos que Belsazar organizou uma festa para seus grandes, os historiadores gregos Heródoto e Xenofonte escreveram sobre as orgias e blasfêmias que aconteciam em tais banquetes. 

Nesta festa em questão, Belsazar mandou trazer os vasos sagrados que o rei Nabucodonosor havia trazido do templo de Deus em Jerusalém, ele e todos os seus convidados na festa cercada por orgia e blasfêmia beberam vinho nestes vasos santos (Daniel 5.2-4). Houve então uma intervenção divina, observe que há um limite para tudo, enquanto estavam bebendo e blasfemando em meio a orgia, Deus não interviu, mas a partir do momento em que ousaram usar os vasos santos em sua rebeldia, isto foi para eles, o “limite de Deus”. E a audácia de Belsazar custou-lhe a vida (Daniel 5.30). Belsazar foi pesado na balança de Deus e foi achado em falta (Daniel 5.27), a verdade é que todos somos pesados na balança todos os dias, devemos vigiar para não sermos achados em falta, nem com nosso Deus e nem com nosso próximo.

2 – A Resposta as Orações de Daniel

Daniel havia orado lembrando-se da promessa de Deus registrada pelo profeta Jeremias (Porque assim diz o SENHOR: Certamente que, passados setenta anos na Babilônia, vos visitarei e cumprirei sobre vós a minha boa palavra, tornando-vos a trazer a este lugar. Jeremias 29.10). Com a queda do reino babilônico e com o início do governo do rei Ciro, as coisas evoluiriam com muita rapidez, deixando todos surpreendidos e admirados.

1. A Bíblia relata o que realmente aconteceu.

1. No primeiro ano de Ciro, rei da Pérsia ( para que se cumprisse a palavra do SENHOR, por boca de Jeremias ), despertou o SENHOR o espírito de Ciro, rei da Pérsia, o qual fez passar pregão por todo o seu reino, como também por escrito, dizendo:

2. Assim diz Ciro, rei da Pérsia: O SENHOR, Deus dos céus, me deu todos os reinos da terra; e ele me encarregou de lhe edificar uma casa em Jerusalém, que é em Judá.

3. Quem há entre vós, de todo o seu povo, seja seu Deus com ele, e suba a Jerusalém, que é em Judá, e edifique a Casa do SENHOR, Deus de Israel; ele é o Deus que habita em Jerusalém. Esdras 1.1-3

O livro de Esdras (No Antigo Testamento hebraico Esdras e Neemias formavam originalmente um só livro) relata a sequência da história dos judeus depois do exílio (cativeiro da Babilônia). O livro de Esdras relata como Deus cumpriu sua promessa profética através de Jeremias (Jeremias 29.10-14), no sentido de restaurar povo judeu depois de 70 anos de exílio (cativeiro na Babilônia) e trazê-lo de volta a sua própria terra (Esdras 1.1).

2. Conforme esta declaração de Ciro, estava cumprida a promessa divina dada através do profeta Jeremias.

 Deus fez tudo muito mais abundantemente além do que os judeus pediam ou pensavam, Paulo observando a grandeza de Deus, ensinou sobre essa maravilhosa forma de Deus agir aos irmãos efésios.

Ora, àquele que é poderoso para fazer tudo muito mais abundantemente além daquilo que pedimos ou pensamos, segundo o poder que em nós opera, 
a esse glória na igreja, por Jesus Cristo, em todas as gerações, para todo o sempre. Amém! Efésios 3.20,21

É muito interessante notar que Deus, cerca de 170 anos antes do nascimento de Ciro, usou Isaías para profetizar acerca do governante chamado Ciro, que permitiria a volta dos judeus a sua pátria, para reedificarem Jerusalém e o templo (Isaías 41.1,2; 44.26-28; 45.1,4,5,13).

Francis Davidson (comentarista bíblico) faz uma observação importante a respeito de Ciro: 

“Sabemos pelas inscrições do próprio Ciro que (embora aparentemente cresse em Deus) ele também atribuiu as suas vitórias ao deus babilônio Marduk. É provável que Ciro sentisse respeito por vários deuses em geral e redigisse os seus decretos numa linguagem que agradasse a todas as nações. Provavelmente pediu a qualquer dirigente judaico (quem sabe se Daniel) para redigir o decreto de forma que este fosse aceitável para os judeus”


Podemos concluir que, na visão de Ciro, o deus Marduk (considerado o deus supremo da Babilônia) lhe concedeu vitórias, mas sabemos que o Deus todo poderoso é que lhe concedeu vitórias e lhe deu um grande nome na história da humanidade.

3 – O Resultado de Um Despertamento Proveniente de Deus

 1. O rei Ciro foi despertado em seu espírito.  

No primeiro ano de Ciro, rei da Pérsia (para que se cumprisse a palavra do SENHOR, por boca de Jeremias ), despertou o SENHOR o espírito de Ciro Esdras 1.1

Quando Esdras 1.1 diz: “No primeiro ano de Ciro, rei da Pérsia”, não se refere ao primeiro ano de seu reinado, mas sim aos seus primeiros anos após a conquista da Babilônia. 

Quando Esdras 1.1 diz: “despertou o SENHOR o espírito de Ciro”, significa que Deus, usando seu poder, o capacitou e motivou a decretar o retorno dos judeus para Jerusalém e a reconstrução do templo.  

Observe as palavras de Ciro em Esdras 1.2: 

Assim diz Ciro, rei da Pérsia: O SENHOR, Deus dos céus, me deu todos os reinos da terra; e ele me encarregou de lhe edificar uma casa em Jerusalém, que é em Judá. Esdras 1.2

Aqui há algumas observações importantes. Marduk (ou Bel)* reverenciado por Ciro (segundo a história), é considerado o Deus supremo da Babilônia, e segundo a história, Ciro aparentemente respeitava vários deuses pagãos, portanto, quando Ciro diz: “O Senhor Deus dos céus, me deu todos os reinos da terra”, precisamos ter em mente que o “deus Marduk” é visto, por seus adeptos, como um “portador de luz” e tem a função de “criador do mundo”.

Portanto, quando Ciro disse, “O SENHOR, Deus dos céus, me deu todos os reinos da terra”, é provável que Ciro não se referia ao Deus todo poderoso, mas sim ao deus Marduk.

Embora Ciro (por adorar e reverenciar outros deuses), não tivesse a visão correta sobre o Deus todo poderoso, sabemos que, não foi Marduk que lhe deu vitórias, mas sim, o Deus todo poderoso criador dos céus e da terra. 

Veja abaixo um breve resumo sobre a história de Marduk com o objetivo de nos ajudar a compreender melhor o contexto bíblico e histórico envolvidos nesta primeira lição.

* Nos escritos babilônicos existe uma Soteriologia (doutrina da salvação) babilônica, nesta Soteriologia, Marduk é um deus solar (também chamado Bel, que significa “senhor”), Marduk é apresentado como um herói celestial que luta contra o dragão Tiamat e o expulsa do céu, Marduk também é chamado de “o deus misericordioso”. 
Na história de Marduk há muitas semelhanças entre Deus e Jesus, Marduk era reverenciado como o “deus supremo” cerca de 2000 mil anos antes de Cristo.
A história de Marduk trata-se de uma “doutrina de demônios” que tem o objetivo de distorcer a Santa Palavra de Deus, pois a história de Marduk tem inegáveis semelhanças com a cosmovisão bíblica a respeito de criação, redenção e salvação da humanidade. 

2. O rei Ciro recebeu bençãos espirituais.

Ciro foi chamado de “O ungido do Senhor” (Isaías 45.1). Muitos historiadores bíblicos creem que Ciro se tornou servo de Deus, mas analisando a fundo a cultura Babilônica e a historicidade da época, isto talvez não seja verdade. É muito possível que Ciro quando se referia ao nosso Deus como Senhor, talvez tivesse em mente o deus Marduk (mas isto é a opinião de um simples, mas profundo pesquisador das sagradas escrituras, José Junior, posso estar errado, mas também pode ser que eu esteja certo). Os judeus (e é claro, nós também) sabemos que nosso Deus deu vitórias a Ciro, mas pode ser que na visão de Ciro, o deus que lhe dava vitórias fosse Marduk). 

Deus não precisa que as pessoas o conheçam ou reconheçam sua existência a fim de que possam servi-lo (Isaías 45:4,5).
 
Fica evidente que Ciro recebeu de Deus (mesmo não o conhecendo como deveria) bençãos espirituais, do contrário Ciro jamais teria alcançado a posição que alcançou.

Conclusão: Devemos ser como Daniel, mesmo com a Babilônia a nossa volta (ou seja, sistema mundano) devemos nos manter firmes e fieis ao nosso Deus, pois mesmo em tempos de lutas terríveis veremos o agir de Deus a nosso favor, devemos estar sempre orando por um despertamento nosso e das pessoas a nossa volta, para vermos o agir de Deus em meio a crise.

Fontes

Bíblia de Estudo Pentecostal,
Enciclopédia Bíblica R. N. Champlin,
Comentário Bíblico Francis Davidson,
Comentário Bíblico Africano,
Bíblia de Estudo Arqueológica,
Bíblia de Estudo MacArthur, Bíblia para Pregadores e Líderes – Geziel Gomes,
Dicionário Bíblico Tyndale, Babilônia a Mesopotâmia e o nascimento da civilização - Paul Kriwaczek,
Apontamentos teológicos Professor José Junior

23 de junho de 2020

A BATALHA ESPIRITUAL E AS ARMAS DO CRENTE



Texto Áureo

Revesti-vos de toda a armadura de Deus, para que possais estar firmes contra as astutas ciladas do diabo; Efésios 6.11

John Stott observa que (em Efésios 6.10-20) Paulo mostra aos Efésios (e também a nós) uma realidade mais dura que os sonhos. O apóstolo recorda-nos da oposição que enfrentamos. Por baixo das aparências (muito além do que os olhos físicos podem ver), está sendo travada furiosamente uma batalha espiritual invisível. Ele apresenta-nos o diabo, (já mencionado em Efésios 2:2 e 4:27) e certos principados e potestades sob seu comando. Paulo não nos fornece nenhuma biografia do diabo, e nenhuma explicação da origem das forças das trevas. Admite a existência delas como um terreno comum entre ele e seus leitores. De qualquer maneira, seu propósito não é satisfazer a nossa curiosidade, mas sim, advertir-nos quanto à hostilidade dessas forças e ensinar-nos a vencê-las. 

1- O Preparo Espiritual do Crente Para a Batalha

1. Fortalecidos no poder do Senhor.  No demais, irmãos meus (esta expressão “No demais irmãos meus” teria sido melhor traduzida como, “A partir de agora”, no sentido de “durante o tempo que nos resta”, pois este é o sentido transmitido pelos melhores manuscritos), fortalecei-vos no Senhor e na força do seu poder.

Efésios 6.10 Fortalecei-vos no grego é “endunamoo” que significa: fortalecer ou tornar-se forte. Temos aqui uma convocação para os crentes buscarem o poder espiritual tão plenamente ilustrado em Efésios 1.19-23. É somente através do poder de Deus que ressuscitou e exaltou a Cristo, assim conquistando todos os seus adversários ( Colossenses 2.15 ) que podemos esperar obter uma vitória similar.

Este poder nos é conferido (outorgado, concedido) através do Espírito Santo de Deus. Quando buscamos ao Senhor com orações, jejuns, meditações na Palavra, obediência a Deus e sua Palavra, recebemos através do Espírito Santo o poder necessário para vencer as forças do mal, isto é, somos fortalecidos/nos tornamos fortes no Senhor e na força do seu poder.

2. Vigilantes em toda a oração e súplica. orando em todo tempo com toda oração e súplica no Espírito e vigiando nisso com toda perseverança e súplica por todos os santos Efésios 6.18

Paulo enfatiza a necessidade de uma vida cristã permeada pela prática da oração. Não é possível entrar em combate sem a cobertura de tão preciosa arma espiritual (Lucas 21.36).  

A oração deve ser constante, dirigida pelo Espírito Santo e feita por todos os “santos”, isto é, todos os cristãos.

A oração deve ser perseverante e conter súplicas (implorações, clamores, rogos urgentes). O evangelista Leonard Ravenhill, homem aprofundado na oração disse que:
“Um cristão que não ora, está desviando” A frase de Ravenhill é verdadeira. Realmente, um cristão que não ora está desviando ou já desviou. Alguém que passa um dia sem orar não deve se considerar um cristão.

A expressão “orando em todo tempo com toda oração e súplica no Espírito” (Efésios 6.18) significa clamar pelo favor divino em qualquer circunstância e oportunidades. A oração também deve ser acompanhada de vigilância, isto é, não adiante eu orar pedindo a Deus livramentos se eu não vigiar e me colocar em lugares e situações onde sei que é um ambiente propício “para eu pecar” (Isaías 59.1,2). 

2- Conhecendo o Campo da Batalha

 1. As astutas ciladas do diabo. Revesti-vos de toda a armadura de Deus (O cristão deve se revestir de toda a armadura de Deus), (por quê?) para que possais estar firmes contra as astutas ciladas do diabo; Efésios 6.11

“Revesti-vos de toda a armadura de Deus” - Revesti-vos transmite a ideia de “permanência” indicando que a armadura deve ser o traje sustentador ao longo da vida do cristão. Um bom soldado jamais tira a sua armadura quando está na guerra, perceba que, enquanto o cristão estiver vivo neste mundo, estará em guerra, por isso jamais deve despir-se de sua armadura (em outras palavras, jamais deve andar fora da direção de Deus).

 “para que possais estar firmes” – O cristão deve ser firme

1- Na esperança (Salmo 40.1).
2- Na doutrina (Atos 2.42).
3- Na oração (Romanos 12.12).
4- No trabalho (1 Coríntios 15.58)
5- Na fé (1 Pedro 5.9). 

 “as astutas ciladas do diabo” – As astutas ciladas (planos que tem o objetivo de enganar, machucar, destruir), perceba que, satanás é um grande estrategista, ele jamais se apresenta como satanás, ele se apresenta aparentemente com a “proposta dos sonhos”, ele se apresenta disposto a oferecer aquilo que as pessoas desejam, com o único objetivo de enganar, machucar e destruir, foi assim desde o jardim do Éden. 

O cristão está engajado num conflito espiritual contra o mal, este conflito é descrito como “o combate da fé” (ou milícia, peleja da fé) 2 Coríntios 10.4; 1 Timóteo 1.18,19; 6.12.

2. O conflito contra o reino das trevas. porque não temos que lutar contra carne e sangue, mas, sim, contra os principados, contra as potestades, contra os príncipes das trevas deste século, contra as hostes espirituais da maldade, nos lugares celestiais. Efésios 6.12

Paulo enfatiza que esse conflito não é “contra carne e sangue” (Efésios 6.12). Não se trata de lutar contra o ser humano, mas contra o reino das trevas nas “regiões celestes”. Essas declarações indicam que a batalha não é física, mas travada no mundo espiritual. 

O termo “lutar” (Efésios 6.12) retrata a ideia de um combate corpo a corpo, isto é, “um contra um” no campo de batalha, significando que, cada pessoa   trava uma luta particular para estar “firme na fé”, por assim dizer. O comentarista da revista, Douglas Baptista observa que esta luta é tanto na área individual, quanto na área coletiva da “igreja” (1 Pedro 5.8,9). 

O termo “carne” tem significados distintos nas Escrituras, mas a combinação “carne e sangue” é um hebraísmo que diz respeito ao ser humano e, (colocadas) dessa maneira, as palavras “carne e sangue” só aparecem mais duas vezes em todo o Novo Tratamento (Mateus 16.17; 1 Coríntios 15.50).

William Hendriksen (historiador do Novo Testamento) arrazoa que o texto indica a desigualdade dessa batalha, uma vez que a luta não é natural, não é contra homens frágeis, mas contra uma hoste extraterrena inumerável de espíritos malignos, e o Diabo é quem controla pessoalmente todas essas legiões e procura atacar os cristãos.

O historiador bíblico Francis Foulkes observa que, “O homem moderno sente-se capaz de lutar contra poderes que, mesmo sendo descritos em termos materiais, estão além de seu controle, pois o homem moderno tem habilidade em penetrar nos mistérios do universo material e trazê-lo a sujeição”.  Mas, em se tratando de lutar contra poderes espirituais, o homem não tem chance alguma de vencer, a não ser pelo poder de Deus. John Stott enfatiza que as forças organizadas contra nós não são de pessoas, mas de inteligências cósmicas; nossos inimigos não são humanos, mas demoníacos, o que mostra que, só com a ajude de Deus é possível triunfar em tal batalha. 

3. As agências das potestades do ar. Os termos “principados, potestades, príncipes das trevas deste século, hostes espirituais da maldade” servem para descrever a hierarquia no mundo espiritual, referem-se a forças demoníacas, batalhões de anjos caídos, espíritos maus que têm imenso poder.

Embora não possamos vê-los, estamos cercados constantemente por seres espirituais malignos. 

Mesmo sendo verdade que não podem habitar num crente verdadeiro, eles podem oprimi-lo e molestá-lo. ( É muito provável que, o termo “principados, potestades, príncipes, hostes espirituais” também sirvam para descrever a hierarquia no mundo espiritual de ambos os lados, o bom e o mau).
O termo “nos lugares celestiais” abrange todo e qualquer lugar onde o reino de Deus esteja. Onde estiver um crente fiel, ali se tornará um campo de batalha. Como a batalha é espiritual, resta ao crente lutar com as armas espirituais contra poderes espirituais. 

3- As armas Espirituais Indispensáveis ao Crente
 1. A armadura completa de Deus.

11. Revesti-vos de toda a armadura de Deus, para que possais estar firmes contra as astutas ciladas do diabo;

12. porque não temos que lutar contra carne e sangue, mas, sim, contra os principados, contra as potestades, contra os príncipes das trevas deste século, contra as hostes espirituais da maldade, nos 
lugares celestiais.

13. Portanto, tomai toda a armadura de Deus, para que possais resistir no dia mau e, havendo feito tudo, ficar firmes. Efésios 6.11-13

Assim como o poder é de Deus, a armadura também é (Efésios 6.11), a armadura é composta de armas de defesa e ataque. Em Efésios 6.10-20 Paulo parece ter em mente a armadura militar romana (Mas também pode estar em pauta armadura grega, ou até mesmo ambas). Russel Norman Champlin observa que, segundo os escritos de Políbio e Platão *, percebe-se que havia poucas diferenças entre a “armadura grega e armadura romana”. 

Paulo era homem intensamente viajado pelo império romano ( e também pelo mundo grego), tendo sido encarcerado e solto por diversas vezes, e estaria bem familiarizado com as armaduras do seu tempo (familiarizado não só com as armaduras romanas, mas certamente também com as armaduras gregas).

*Políbio: Geógrafo e historiador da Grécia antiga (220 a.C. a 146 a.C).

*Platão: Filósofo e matemático da Grécia antiga (427 a.C a 447 a.C).

As armaduras antigas eram compostas de: Escudo, espada (nem sempre, as vezes o soldado levava apenas a lança), lança, capacete e armadura das pernas (que cobria as coxas até os joelhos).

Paulo acrescenta em sua analogia o cinturão e a espada, embora estes 2 itens realmente nem sempre fizessem parte da armadura antiga, eram muito necessárias para o soldado antigo.

Objetos muito apropriados para ilustrar o equipamento espiritual necessário para derrotar o mal. Perceba que em Efésios 6.13 encontramos o termo “tomai”, em outras palavras, “estendei a mão”, ou seja, “a armadura está a disposição de vocês, revesti-vos dela”. Ou seja, a ordem de Paulo é que nos apropriemos do poder espiritual a nós oferecido.

E como se faz isso? Com vida de oração (tudo começa com oração), procurar conhecer as Escrituras de maneira aprofundada, por em prática tudo o que se aprende com Palavra de Deus, fé, obediência e perseverança. Pondo esta “receita” em prática, seremos soldados revestidos de toda a “armadura de Deus”. Nenhuma parte da armadura deve ser deixada de lado, pois se uma parte da armadura for menosprezada e deixada de lado, satanás irá concentrar seus ataques exatamente “naquele ponto de sua vida, onde faltar uma parte da armadura”.

Segundo Russel Norman Champlin, em épocas de guerras na antiguidade, os soldados mais debilitados tinham permissão para tirar partes de suas armaduras em combate, o resultado disso era que, muitos inimigos se aproveitavam e atacavam exatamente estes soldados “com a armadura incompleta” e muitos morriam. Paulo deviam ter conhecimento sobre isto, e alertou,  tomai toda a armadura de Deus (Efésios 6.13). O revestimento completo da “armadura de Deus” se faz através da constante comunhão com Ele. 

 2. As armas indispensáveis de defesa. Vejamos aqui uma lista de armas espirituais disponíveis aos soldados do Senhor: Tendo cingidos os vossos lombos com a verdade.. (Efésios 6.14).
 
Faz referência a doutrina de Cristo. Este simbolismo parece se alicerçar no trecho de Isaías 11.5 onde a verdade também é “pintada” como um cinturão que deve ser colocado. O que devemos entender aqui é a “verdade cristã”, 

que se encontra na pessoa de Cristo, tudo o que está envolvido desde a conversão, incluindo a conduta do crente, de acordo com padrões verdadeiramente bíblicos. Isto é, o verdadeiro cristão está envolvido com a/e na verdade, quando olhamos para um verdadeiro cristão, enxergamos Cristo (Cristo é a verdade, João 14.6).

Vestida a couraça da justiça (Efésios 6.14). Veja Isaías 59.17 que também se refere ao simbolismo do “peitoral” de uma armadura. O peitoral protegia os órgãos vitais do tórax e da parte superior do abdômem do soldado na batalha, isto, para o soldado era uma proteção extremamente importante, assim é para o cristão a justiça (ou retidão) uma proteção imprescindível.

Calçados os pés na preparação do evangelho da paz (Efésios 6.15). Este trecho lembra Isaías 52.7 “Quão formosos.. são os pés do que anuncia as boas novas (No NT as boas novas são o Evangelho)”. Assim o cristão, onde quer que vá, deve ser um porta voz do Evangelho, com suas palavras, modo de se vestir e se comportar. O cristão verdadeiro deve estar pronto para isso, através da sua comunhão com Deus.

Tomando sobretudo o escudo da fé (Efésios 6.16). Símbolo de proteção. Salmo 3.3; Gênesis 15.1; Deuteronômio 33.29; 2 Samuel 22.3; Salmo 28.7; 33.20; 59.11; 84.9-11; 115.9-10; Efésios 6.16.  A fé aqui (neste trecho) não representa a “doutrina cristã em si”, mas sim confiança em Deus e a certeza de que Ele fará, não o que queremos, mas sim o que Ele quer, segundo a sua boa vontade sobre nós. A fé é um infalível escudo de proteção para o cristão.

O capacete da salvação (Efésios 6.17). A parte mais vulnerável e vital do corpo é a cabeça, tanto no sentido físico quanto intelectual. O termo “capacete da salvação” refere-se a uma mente guiada e protegida pelo Espírito de Deus. Uma mente guiada e protegida pelo Espírito de Deus está fortalecida contra as tentativas de satanás de fazer desviar o cristão. Satanás deseja atacar nossa mente, foi assim que ele derrotou Eva (veja Gênesis 3). 

 3. A imprescindível arma ofensiva. Todos percebem rapidamente que a espada é uma arma de ataque. Mas, na verdade, um soldado habilidoso pode usar a espada tanto para atacar quanto para se defender. O cristão habilidoso nas Escrituras pode se valer da Palavra de Deus tanto para atacar quanto para se defender, por assim dizer. Uma espada física perfura o corpo, mas a Palavra de Deus perfura o coração.

Quanto mais você usa uma espada física, mais cega ela fica; mas usar a Palavra de Deus apenas a torna mais afiada em nossa vida. Uma espada física exige a mão de um soldado, mas a espada do Espírito tem poder próprio, pois é viva, e eficaz (Hebreus 4.12, 2 Timóteo 3.16)

O Espírito escreveu a Palavra, e o Espírito empunha a Palavra quando a tomamos pela fé e a colocamos em uso. Uma espada física fere para causar dano e matar, mas a espada do Espírito fere para curar e dar vida.

 Conclusão

A vitória da Igreja de Cristo contra as forças do mal é garantida pela sobre excelente grandeza do poder de Deus (Efésios 1.19). Os ardis de Satanás não podem ser subestimados, porém, o reino das trevas não deve amedrontar o cristão. A Escritura convoca o salvo a combater e a vencer as potestades do ar, revestido com a armadura de Deus (Efésios 6.11). 

Matthew Henry observa que (juntamente com a armadura completa) Outro remédio contra o pecado é o cuidado ou a cautela, (sem o cuidado, cautela, hábito de vigiar) é impossível manter a pureza de coração e de vida. 

Referências

Bíblia de Estudo Pentecostal,
Enciclopédia Bíblica R. N.
Champlin, Bíblia de Estudo MacArthur, 
Efésios – Introdução e comentário Francis Foulkes, 
Ebook Sobsídios EBD 20 – A Igreja Eleita,
Livro de apoio do 2° trimestre de 2020, 
A mensagem de Efésios – John Stott,
Comentário Matthew Henry,
Bíblia para pregadores e líderes Geziel Gomes,
Apontamentos teológicos Professor José Junior