9 de novembro de 2020

A TEOLOGIA DE BILDADE SE HÁ SOFRIMENTO HÁ PECADO OCULTO

 

A TEOLOGIA DE BILDADE SE HÁ SOFRIMENTO HÁ PECADO OCULTO

Texto Áureo

1.  Então, respondeu Bildade, o suíta, e disse:

2.   Até quando falarás tais coisas, e as razões da tua boca serão qual vento impetuoso?

3.   Porventura, perverteria Deus o direito, e perverteria o Todo-poderoso a justiça?

Jó 8.1-3

 

 

(Observe que o primeiro discurso de Bildade aparece em Jó 8 e não em Jó 4.7,8, como sugere a revista).

 

 

Russel Norman Champlin observa que Bildade acusou Jó de Blasfêmia (Jó 8.2), semelhantemente ao que satanás disse que Jó se rebaixaria a fazer, caso fosse submetido a um severo teste (Jó 1.11; 2.5). O nome de Bildade só aparece 5 vezes no livro de Jó e em toda a Bíblia (Jó 2.11; 8.1; 18.1; 25.1; 42.9), o de Zofar aparece 4 vezes no livro de Jó e também em toda a Bíblia (Jó 2.11; 11.1; 20.1; 42.9), já o nome de Elifaz aparece 14 vezes na

Bíblia sendo 7 em Gênesis (36.4,10-12,15,16), 2 em 1° Crônicas (1

Crônicas 1.35,36) e 6 em Jó (Jó 2.11; 4.1; 15.1; 22.1; 42.7,9).

Para Bildade, assim como para Elifaz era óbvio que os sofrimentos de Jó eram um julgamento de Deus contra Jó. Presumiam que, a grandeza dos sofrimentos de Jó era causada por seus pecados. Por isso na visão dos amigos de Jó, afirmar a inocência de Jó era (na visão deles) dizer que Deus havia pervertido o juízo e a justiça.

*O Elifaz de Gênesis e 1° Crônicas não é o mesmo Elifaz do livro de Jó.

 

 

1 – O Pecado em Contraste com o Caráter Justo e Santo de Deus

 

 

1.     Deus é justo e reto.

Para Bildade (assim como para Elifaz) era inconcebível admitir que Jó era inocente. Observando o discurso de Bildade (Jó 8.1-22) vemos que ele se sente incomodado com a fala de Jó. No entender de Bildade, Jó, por estar sendo afligido estaria acusando o Senhor de ser injusto (Jó 6 e 7), Bildade acredita que Jó está sendo punido pelo pecado que cometeu, e por isso está convencido de que os argumentos de Jó não passam de “palavras ao vento” (Jó 8.2). Bildade estava convencido de que, se Jó reconhecesse seu pecado contra Deus, poderia novamente obter o “favor de Deus” (Jó 8.5).

 

O grande problema de Bildade é que ele (assim como seus amigos) consideravam-se justos aos próprios olhos, tão justos que, poderiam julgar seu amigo sem medo, mas, Bildade e seus amigos estavam enganados (Jó 42.7-9).

Reflexão:

Você conhece crentes como Bildade?

Crentes que se consideram tão santos e justos aos próprios olhos a ponto de acusarem seus irmãos se baseando em suas próprias suposições, e não na Palavra de Deus?

Que venhamos a examinar a nós mesmos para não sermos “crentes Bildade” (por assim dizer).

 

2.     Uma compreensão limitada da natureza de Deus.

 

 

Bildade tinha uma compreensão limitada da natureza de Deus, ele acreditava que, se há sofrimento, há pecado oculto, mas a verdade é que, nem sempre quando um servo de Deus sofre há pecado oculto. Jesus sofreu sem ter cometido nenhum tipo de pecado (Hebreus 4.15). E Jó, embora tivesse pecados (por ser um ser humano) não havia cometido pecados deliberados, como acreditavam seus amigos. A visão teológica de Bildade é uma visão que destaca a meritocracia humana no processo de justificação diante de Deus (Jó 8.5,6). Em outras palavras, Bildade tinha em foco o esforço humano que o faria se justificar diante de Deus por mérito próprio e não pela graça de Deus, Bildade não compreendia que é pela graça de Deus que o homem vive e sobrevive neste mundo, sempre foi pela graça de Deus, e não por esforço próprio do ser humano.

(Para saber mais sobre a graça de Deus, solicite gratuitamente o micro e-book do professor José Junior Graça e o seu extenso significado bíblico pelo whatsapp 18 9 9691-1591).

 

 

Parece haver uma semelhança entre os discursos de Bildade (e seus amigos) e o Pelagianismo.

 

O pelagianismo basicamente defende que o homem, independentemente da Graça de Deus pode chega-se a Deus sozinho. Mas o pelagianismo é um equívoco teológico dos mais terríveis (Falaremos mais sobre o pelagianismo em momento oportuno).

 

3.     A imperfeição humana.

Diante da argumentação de Bildade Jó mostrava-se mais sábio do que seu amigo:

Na verdade sei que assim é porque como se justificaria o homem para com Deus?

9.2

 

Jó sabia que o ser humano não é perfeito e que é impossível alcançar o favor de Deus por mérito próprio, mas a questão para Jó em resumo era;

Jó não estava querendo dizer a seus amigos que ele não tinha pecados, ele estava afirmando que seus imensos sofrimentos não eram a causa de algum pecado oculto, como sugeriam seus amigos.

Deus já havia testemunhado acerca da integridade e justiça de Jó, isto deixa claro que nem sempre o sofrimento é fruto de uma imperfeição moral ou resultado de um pecado pessoal (Jó 1.8; 2.3; 9.2).

Analisando os discursos de Bildade (Jó cap. 8 e 18) percebemos que Bildade concentrava-se apenas no aspecto da natureza de Deus, sua santidade e justiça. Mas Bildade deixava de lado seu amor sua misericórdia e bondade. Se as palavras de Bildade tivessem vindo de Deus teriam

“edificado Jó” (por assim dizer), as palavras de Bildade vinham apenas dele próprio e por isso não fizeram bem algum a Jó.

 

Embora Bildade insistisse que Jó havia pecado, a experiência de Jó com Deus (ou seja, sua vida reta da qual o próprio Deus deu testemunho) dizia que isso não era verdade.

 

2 – O Pecado Visto Como Quebra da Moralidade Tradicional

 

 

1.     Moralismo por tradição.

2.     A subversão de ordem moral.

 

Ao contrário de Elifaz, Bildade não menciona nenhuma só vez suas experiências (veja nosso estudo da lição 6, para uma melhor compreensão sobre isso), nem o que fosse resultado de sua própria observação, Bildade apela para a “antiguidade ou moralismo por tradição”.

 

8.    Porque, eu te peço, pergunta agora às gerações passadas e prepara-te para a inquirição de seus pais.

9.    Porque nós somos de ontem e nada sabemos; porquanto nossos dias sobre a terra são como a sombra.

10.    Porventura, não te ensinarão eles, e não te falarão, e do seu coração não tirarão razões?

Jó 8.8-10

 

 

É possível observar que Bildade nos conduz a um ponto muito mais vasto (por assim dizer) do que aquele de Elifaz, pois a autoridade de uma multidão de anciãos (ou sábios das gerações passadas) tem muito mais peso do que a experiência de um simples indivíduo (Veja o subtópico 1 do tópico 1 do nosso estudo da lição 6 para compreender melhor as diferenças entre o discurso de Bildade e Elifaz).

Elifaz se baseava nas próprias experiências, enquanto Bildade se baseava na tradição (ou ensino das gerações passadas). Embora houvesse diferença entre o discurso de Elifaz e Bildade, seus discursos levavam para a mesma direção, ou seja, para eles, Jó havia pecado e precisava se arrepender para que a “justiça divina o deixasse viver e se recuperar física, moral e espiritualmente” (por assim dizer). Assim como Elifaz, Bildade também não entendia que na verdade Jó é que era o mais sábio dentre ele e seus amigos e não o contrário.

 

3.     Contemplando a cruz.

O capítulo 19 do livro de Jó é todo dedicado a defesa de Jó (Professor da EBD, leia todos os capítulos e versículos abordados na lição para poder ensinar bem seus alunos).

O que mais nos chama a atenção no capítulo 19 de Jó é o versículo 25:

 

 

Porque eu sei que o meu Redentor vive, e que por fim se levantará sobre a terra.

E depois de consumida a minha pele, ainda em minha carne verei a Deus.

Jó 19.25,26

 

 

Apesar de sua situação desesperadora Jó demonstrava otimismo, isto me faz lembrar de uma frase que diz “Um homem otimista pode até se perder, mas um homem pessimista já está perdido”.

(Em resumo) Embora seus amigos até aqui lhe dissessem que seus sofrimentos poderiam ser o resultado da “lei da colheita e semeadura ou que ele estava sendo disciplinado por Deus”, Jó afirmava que isto não se aplicava a ele e que seus sofrimentos eram injustos e sem causa.

Sobre a palavra “Redentor” em Jó 19.25 Russel Norman Champlin observa que a palavra “Redentor” que no hebraico é “Goel” pode significar: Redentor, vingador ou defensor dos oprimidos. Quando Jó usa esta palavra “Goel” (que é traduzida em nossas versões geralmente por Redentor) Jó está se referindo a Deus e não a Jesus como supõem muitos teólogos e pregadores em geral.

Jó acreditava que Deus finalmente defenderia o seu caso e diria; Jó é inocente apesar do sofrimento que ele passou (por assim dizer). Por isso é certo dizer que Jó não está aqui prevendo ou profetizando a Cristo, mas sim se referindo ao seu Deus (e nosso Deus), crendo que Deus finalmente se levantaria para julgar sua causa. Champlin ainda observa que no vers. 25 Jó não falava de salvação, mas de vindicação (reclamação legal, protestar sua inocência, certeza de que obteria justiça em seu favor, por assim dizer).

 

 

No vers. 26 Jó fala de sua morte (isto é, ele observa que por sua enfermidade a morte está próxima, é possível que ele acreditasse que após sua morte, ele veria a Deus e (por ser inocente das acusações de seus amigos) obteria a justiça de Deus a seu favor.

(Champlin ainda observa que é muito difícil traduzir ao pé da letra o que Jó quis dizer na segunda parte do vers. 26, pois na septuaginta e em outras versões ao longo da história há nítida mudança de palavras, o que torna dificílimo uma tradução ao pé da letra da parte b do vers. 26 de Jó 19).

 

3 – O Pecado Em Contraste Com a Majestade de Deus

 

1.     A grandeza de Deus.

O terceiro discurso de Bildade (Jó 25.1-6) não traz nada de novo em sua tese e argumentos, pois ao longo do debate Bildade parece ter esgotado seu poder argumentativo. Embora Bildade destacasse a grandeza de Deus (Jó 25.2), ele acabava por criar um abismo que não existe entre a criatura e o criador. Bildade embora defendesse a grandeza de Deus, misturava isso a tradição humana, resultando em “achismos”, este tipo de atitude de Bildade ainda é muito comum em nossos dias, grande é o número de pregadores que mistura verdades bíblicas com tradições humanas e isto resulta em “achismos”, e estes “achismos” acabam por confundir a mente de muitas pessoas, que com o tempo, pautam-se muito mais em tradições humanas e achismos do que na Santa Palavra de Deus.

 

2.     Onipotente, mas não ausente.

Nos capítulos 26 e 27 do livro de Jó, vemos que Jó repreende a Bildade e exalta o poder de Deus. Jó conseguia ver perfeitamente os achismos e tradições humanas presentes nas argumentações de seus amigos, Jó sabia da onipotência de Deus, mas também sabia do amor e cuidado de Deus.

A verdade é que, todos nós precisamos vigiar para que, em momentos de sofrimento não venhamos a “manchar a imagem de Deus”, assim como fizeram os amigos de Jó ao misturar o conhecimento de Deus com sabedoria humana, tradições humanas e achismos em geral , pois Deus e sua Palavra estão acima de achismos e tradições humanas. Bildade e seus amigos não compreendiam que nem a tradição e nem a experiência, podem ser postas acima de Deus e sua Palavra. Deus é onipotente e bem presente na vida daqueles que o temem.

 

 

Conclusão:

Nesta lição aprendemos um pouco sobre a visão teológica de Bildade, que era carregada de tradicionalismo humano, vigiemos, pois, para que nosso conhecimento teológico não seja como o de Bildade, pautado em achismos e tradições humanas.

 

 

 

Fontes

 

Enciclopédia Bíblica R. N. Champlin,

Bíblia de Estudo Pentecostal,

 Revista Cristão Alerta 4 ° Trimestre de 2020,

Jó e seus amigos – Charles Henry Mackintosh,

A fragilidade Humana e a Soberania Divina (livro de apoio),

Comentário Bíblico Africano,

Comentário Bíblico Russel Shedd,

Apontamentos teológicos professor José Junior