27 de março de 2013

A MORTE DE ELISEU


A MORTE DE ELISEU

TEXTO ÁUREO =  “E sucedeu que, enterrando eles um homem, eis que viram um bando e lançaram o homem na sepultura de Eliseu; e, caindo nela o homem e tocando os ossos de Eliseu, reviveu e se levantou sobre os seus pés” (2 Rs 13.21).

VERDADE PRÁTICA = O último milagre relacionado à vida de Eliseu demonstra o poder e o exemplo de um homem que ama e teme a Deus.

LEITURA BIBLICA = 2 Reis 13: 14-21

INTRODUÇÃO

Eliseu teve um ministério longo e profícuo e a sua vida causou um grande impacto na história bíblica. Não há como minimizar a importância do profeta de Abel-meolá sobre a cultura judaico-cristã.

Neste capítulo iremos acompanhar os últimos passos do profeta Eliseu e os fatos relacionados a ele. Constataremos que Eliseu foi de fato um gigante espiritual, mas como todos os mortais, estava sujeito as limitações comuns a todos os homens — nasceu, cresceu, envelheceu e morreu.

Eliseu morreu, mas não como morre um “famoso”. Quando escrevia sobre a história do profeta Eliseu, achei interessante a análise que fez o escritor Michael Largo em seu inusitado livro: Assim Morreram os Ricos e Famosos (2008, pp.8,9). Ao escrever sobre a morte dos famosos, disse: “No caso das celebridades, em que cada gesto é alvo de atenção das publicações populares, a morte é inteiramente outra história: entre elas, a verdadeira causa do falecimento em geral é o detalhe final que costuma ser omitido ou ocultado. Existem centenas de revistas que se dedicam a acompanhar os atos mais insignificantes de pessoas famosas.

Livros e programas de televisão documentam os altos e baixos de suas carreiras. Quando elas morrem, porém, seu decesso é sujeito à maquiagem final: assessores de imprensa, agentes, empresários e curadores de suas heranças procuram evitar que a verdade chegue aos jornais. Embora reis, políticos e membros da alta sociedade sempre tenham sido fonte de notícias e fofocas, hoje a mídia transforma muitas figuras públicas em artistas, de certa maneira, cuja imagem precisa ser “administrada” mesmo após sua morte. No entanto, como observou o escritor irlandês Percival Arland Usher, “um homem não morre de amor, do fígado ou mesmo de velhice — ele morre de ser homem”.

Fica, portanto, em destaque o fato de que os homens fazem parte da história, inclusive morrendo, enquanto Deus se mostra como Senhor dela.
No caso de Eliseu, a Escritura não maquiou nenhum detalhe da sua morte, mas mostrou como Deus foi glorificado, mesmo na morte desse homem de Deus (2 Rs 13.14-25).

A doença terminal de Eliseu

A velhice de Eliseu = Um bom tempo já havia se passado desde a última aparição do profeta de Abel-meolá no registro bíblico (2 Rs 9.1). De fato entre os capítulo 9 e 13 de 2 Reis há um intervalo de aproximadamente quarenta anos. Os estudiosos acreditam que por essa época Eliseu deveria estar com a idade aproximada de oitenta anos.

Eliseu fora chamado quando ainda era jovem, mas agora estava velho e doente. Às vezes idealizamos de tal forma os homens de Deus que acabamos esquecendo que eles são humanos. Envelhecem, adoecem e também morrem. O texto bíblico deixa patente o lado humano do profeta. Fora um grande homem de Deus e ainda o era, com tudo isso era um homem.

O sofrimento de Eliseu = O mesmo texto que trata da doença e velhice de Eliseu fala também do seu sofrimento (2 Rs 13.14; 20). Eliseu estava doente (hb. choliy), e isso sem dúvida lhe causava algum sofrimento. E muito difícil dizer que Eliseu padeceu, mas não sofreu.

Mas o foco aqui não é o sofrimento em si, mas como Deus trata o profeta nesse momento de sua vida e como ele responde a isso. Mesmo alquebrado pelos anos, Eliseu continuava com o mesmo vigor espiritual de antes. Possuía ainda a mesma visão da obra de Deus. Em nada a doença, sofrimento ou quaisquer outras coisas impediu-o de continuar sendo uma voz profética.

No livro de minha autoria, A Prosperidade à Luz da Bíblia (CPAD, 2012), refutei a crença dos teólogos da Confissão Positiva acerca do sofrimento. Para esses mestres, os crentes não precisam mais sofrer, pois segundo eles, todo sofrimento já foi levado na cruz do calvário e o Diabo deve ser responsabilizado por toda e qualquer situação de desconforto entre os crentes. Aqui há uma clara influência da Ciência Cristã que também não admitia a existência do sofrimento. A Bíblia diz que o cristão não deve temer o sofrimento nem tampouco negá-lo (Cl 1.24; Tg 5.10).

John Ankerberg e Dillon Burroughs (2010, p.53), escrevem que:
O sofrimento geralmente não é uma experiência agradável.

No entanto, o bem pode ser encontrado em tempos de sofrimento, até mesmo nas situações mais extremas. Em nosso livro Defending Your Faith (Defendendo a sua Fé), compartilhamos algumas razões por que às vezes as pessoas experimentam o sofrimento:

• Para nos tornarmos exemplos para os outros.
• Para melhor nos compadecermos dos outros.
• Para permanecermos humildes
• Como uma ferramenta de aprendizado.
• Para dependermos do poder de Deus.

• Para crescermos no nosso relacionamento com Cristo (desenvolvendo o fruto do Espírito — Gálatas 5.22,23).
• Para revelar a necessidade da disciplina de Deus em nossa vida.

• Para promover a obra de Cristo (quando os maus tratos a um missionário abrem oportunidades para impactar outros com o amor de Cristo).

Um grande exemplo pode ser encontrado em Filipenses 1.12-14, onde lemos: “Quero ainda, irmãos, cientificar-vos de que as coisas que me aconteceram têm, antes, contribuído para o progresso do evangelho; de maneira que as minhas cadeias, em Cristo, se tornaram conhecidas de toda a guarda pretoriana e de todos os demais; e a maioria dos irmãos, estimulados no Senhor por minhas algemas, ousam falar com mais desassombro a palavra de Deus”.

Ainda nessa obra, em um capítulo onde procurei mostrar a melhor interpretação das palavras do apóstolo Paulo em Filipenses 4.13, tratei mais exaustivamente sobre a questão das adversidades da vida: “Ora muito me regozijei no Senhor por finalmente reviver a vossa lembrança de mim; pois já vos tínheis lembrado, mas não tínheis tido oportunidade.

Não digo isto como por necessidade, porque aprendi a contentar-me com o que tenho. Sei estar abatido, e sei também ter abundância: em toda a maneira, e em todas as coisas estou instruído, tanto a ter fartura, como a ter fome, tanto a ter abundância como a padecer necessidade. Posso todas as coisas naquele que me fortalece.

Todavia fizestes bem em tomar parte na minha aflição. E bem sabeis também vós, nenhuma igreja comunicou comigo com respeito a dar e a receber, senão vós somente. Porque também uma e outra vez me mandastes o necessário a Tessalônica.

Não que procure dádivas, mas procuro o fruto que abunde para a vossa conta. Mas bastante tenho recebido, e tenho abundância: cheio estou, depois que recebi de Epafrodito o que da vossa parte me foi enviado, como cheiro de suavidade e sacrifício agradável e aprazível a Deus. O meu Deus, segundo as suas riquezas, suprirá todas as vossas necessidades em glória, por Cristo Jesus” (Fp 4.10-19).

Aqui estão as palavras que tem sido o carro-chefe do triunfalismo
neopentecostal: “Posso todas as coisas naquele que me fortalece (Fp 4.13). Estas palavras foram escritas pelo apóstolo Paulo e endereçadas à igreja de Filipos por ocasião de sua segunda viagem missionária (At 16.6-40).

Os estudiosos da Bíblia estão de acordo que o apóstolo endereçou essa carta à igreja de Filipos por ocasião de seu aprisionamento em Roma. Mas o que essas palavras de Paulo significam não tem tido o mesmo consenso entre os evangélicos. O sentido mais popular dado a ela expõe mais presunção do que confiança; mais triunfalismo do que uma verdadeira fé.

Fora do seu contexto, o entendimento que lhe é atribuído é que o crente pode possuir o que quiser, já que é Deus quem lhe garante isso. “Tudo posso” ganhou o sentido de “Tenho Posse”. Passa, então a ser usado como um mantra que garante a conquista de bens materiais seja em que condição for. Mas será esse o real sentido desse versículo?

Como já vimos, uma das regras básicas dos princípios de interpretação da Bíblia é a análise do contexto da passagem que se está estudando. A grande maioria dos erros doutrinários surge por conta da violação desse princípio. O texto ora em estudo não foge a essa regra.

Quando alguém usa as palavras de Paulo para justificar uma vida em total saúde e riqueza e isenta de problemas, evidentemente que está fazendo uso indevido do pensamento do apóstolo. Isso por uma razão bastante simples — antes de declarar sua total suficiência em Cristo, o apóstolo diz: “Sei estar abatido, e sei também ter abundância: em toda a maneira, e em todas as coisas estou instruído, tanto a ter fartura, como a ter fome, tanto a ter abundância como a padecer necessidade” (Fp 4.12).

Somente após afirmar que passou por situações mais adversas nas quais viveu em escassez e em outras nas quais experimentou abundância é que ele diz poder todas as coisas naquEle que o fortalecia. Ao estudar exaustivamente as palavras de Paulo em sua carta aos filipenses, o erudito William Hendriksen (2005, p.593) destacou que: “Paulo não é nenhum presunçoso para proclamar: ‘Eu sou o capitão da minha vida’.

Nem tampouco é um estoico que, confiando em seus próprios recursos, e supostamente imperturbável ante o prazer ou dor, busque com todas as suas forças supor, sem a menor queixa, sua irremediável necessidade. Conhece (pessoalmente) tanto as alegrias quanto as aflições, e aprendeu a permanecer contente. Seu contentamento, porém, tem sua razão em um outro, além de si mesmo.

O verdadeiro Manancial ou Fonte da suficiência espiritual de Paulo está mencionado no versículo 13. E essa fonte jamais secará, não importa quais forem as circunstâncias (...) aqueles que rejeitam a Cristo não podem compreender como um cristão pode permanecer calmo na adversidade e humilde na prosperidade.”

Dizer, portanto, que Paulo “deu a volta por cima” é forçar a Escritura dizer uma coisa que ela não diz. Paulo não serve como exemplo de alguém que começou pobre e terminou rico. Paulo nunca se preocupou por estar por baixo e também nunca se preocupou em ficar por cima. Paulo começou seu ministério fazendo tendas, que era um trabalho duro (At 18.3), e terminou em uma prisão em Roma (Fp 3.12; At 28.30).

A prosperidade do apóstolo não dependia da abundância ou escassez de bens materiais, mas da sua suficiência em Cristo.

Hendrikson resume as palavras do apóstolo nesse contexto como segue:

1. Viver em circunstâncias de apertura = O apóstolo de fato sabia o que era passar necessidade (At 14.19; 16.22-25; 17.13; 1812; 20.3; 21—27; 2 Co 4.11; 6.4,5; 11.27,33). Ele sabia o que era fome, sede, jejum, frio, nudez, padecimentos físicos, tortura mental, perseguição, etc.

2. Ter fome = Fome e sede são com frequência mencionadas juntas (Rm 12.20; 1 Co 4.11; 2 Co 11.27; cf. como anseio espiritual: Mt 5.6).

3. Ter carência = O apóstolo, com frequência, não tinha o necessário. Sua falta de conforto era tanta, que sua situação chegava à mais dura penúria. Todavia, nenhuma dessas coisas o privou de seu contentamento.

4. Ter fartura = Antes de sua conversão, Paulo era um fariseu preeminente. O futuro se lhe divisava brilhante e promissor. Paulo possuía abundância, e isso de várias maneiras. Todavia, ele tinha carência do tesouro mais precioso: a paz centrada em Cristo.

Para o apóstolo, a sua prisão estava sendo uma fonte de bênçãos para o progresso do evangelho da mesma forma que a sua liberdade havia sido (Fp 1.13,14). O que importava naquele momento não era uma conquista pessoal, mas ser Cristo Jesus engrandecido pelo seu testemunho, mesmo que esse fosse dado de dentro de uma masmorra.

Não vemos em Paulo um escapismo triunfalista que nega o sofrimento através da confissão positiva do tipo “tudo posso, tudo posso!”. Nem vemos lamentando tampouco por Deus haver permitido tal situação. O que prevalece é o contentamento em tudo!
Somente pessoas amadurecidas na fé são conscientes de que a alegria espiritual pode brotar em meio ao sofrimento (2 Co 12.10).

O expositor bíblico R.C. Sproul (199, p.305,306), comenta que: “As vezes, a presença da dor em minha vida traz o beneficio prático de me santificar. Deus trabalha em mim através da aflição. Por mais desconfortável que a dor possa ser, sabemos que as Escrituras nos dizem constantemente que a tribulação é um meio pelo qual somos purificados e conduzidos a uma dependência mais profunda de Deus.

Há um benefício a longo prazo que presumivelmente perderíamos não fosse pela dor que somos chamados a “suportar por um pouco”. As Escrituras nos dizem para suportar por um pouco, porque a dor que experimentamos agora não pode ser comparada com as glórias reservadas para nós no futuro. Do outro lado, o prazer pode ser narcótico e sedutor, de modo que quanto mais o apreciamos e mais o experimentamos, menos conscientes nos tornamos de nossa dependência e necessidade da misericórdia, auxílio e perdão de Deus.

Prazer pode ser um mal disfarçado, produzido pelo Diabo para nos levar à ruína final. Essa é a razão porque a procura do prazer pode ser perigosa. Quer experimentando dor ou prazer, não queremos perder Deus de vista, e nem a necessidade que temos dele.

A profecia final de Eliseu

A ação de Deus na profecia Hoje está na moda o famoso jargão: “Eu profetizo sobre a tua vida”. Esse jargão é muito bonito e vem vestido de roupagens espirituais, mas não passa de uma presunção humana. Isso por uma razão bem simples: nenhuma profecia, que se ajuste ao modelo bíblico, tem seu ponto de partida na vontade humana (2 Pe 1.20,21). Esse fato é demonstrado pela expressão: “Assim diz o Senhor” (2 Rs 2.21; 3.16). As palavras de Eliseu: “Flecha da vitória do

Senhor ” (2 Rs 13.17), possui sentido semelhante. A profecia tem sua origem em Deus e não no homem. Eliseu não profetizou antes para depois se inspirar, mas foi primeiramente inspirado para depois profetizar (2 Rs 3.15).

Infelizmente há pregadores que se passam por profetas tomando como ponto de partida em suas mensagens não mais as Escrituras Sagradas, mas o ocultismo ensinado na Cabala, no judaísmo rabínico e em diversos livros apócrifos. Para esses “profetas” o mundo espiritual é formado por ciclos que se materializam neste mundo físico. Dessa forma alegam que quando Deus criou o mundo, passou-se o primeiro, o segundo, o terceiro dia até chegar ao ciclo completo que é o sábado! Depois do sábado o ciclo começa novamente! Para eles, a Bíblia é cheia de códigos e esse arranjo matemático provaria que o ciclo muda a cada “sete”, sendo que esse “sete” seria o número de Deus enquanto o seis seria o número do homem!

Fundamentado nesse artifício, que não tem uma só letra do Novo
Testamento a seu favor, derramam suas falsas profecias do tipo: “Daqui a cinquenta dias algo tremendo vai acontecer em sua vida”.

A propósito, Wayne Grudem (2004, pp.232,233) faz uma importante
observação sobre o profetizar no Novo Testamento: “No NT, a palavra “profeta” parece não descrever oficio formalmente reconhecido ou posição. Em vez disso, é um termo funcional. Os que profetizam regularmente são chamados de profetas. Contudo, mesmo quem não profetiza com regularidade podia profetizar ocasionalmente.”

A participação humana na profecia = Vimos que uma profecia genuinamente bíblica tem sua origem em Deus. Todavia a Escritura mostra que existe também a participação do homem nesse processo. A indignação de Eliseu deixa clara a sua decepção com a falta de discernimento do rei. Faltou ao rei Jeoás a fé! Ele não percebeu que não se tratava de um mero ritual no qual ele teria apenas uma participação técnica. A sua vitória seria do tamanho da resposta que ele desse ao profeta.

Deveria ter ferido a terra cinco ou seis vezes, mas fez apenas três. Uma fé tímida obtém uma vitória pela metade. O escritor C. Samuel Sorms, pertencente ao Movimento Terceira Onda, põe esse fato sobre a profecia em destaque quando diz: “A chave se acha em reconhecer que, com cada profecia, existem quatro elementos, dos quais somente um é seguramente da parte de Deus: existe a revelação propriamente dita; existe a percepção ou recepção, por parte do crente, daquilo que foi revelado; existe a interpretação daquilo que foi revelado, ou a tentativa de averiguar seu significado; e existe a aplicação daquela interpretação.

Deus é responsável exclusivamente pela revelação. Tudo quanto ele desvenda diante da mente humana é totalmente isento de erro. E tão infalível quanto o próprio Deus. Não contém nenhuma falsidade; é totalmente verdadeiro em todas as suas partes. Realmente, a revelação, que é a raiz de toda expressão verbal profética genuína, é tão inerrante e infalível quanto a própria Palavra de Deus registrada por escrito (a Bíblia). Em termo de revelação somente, o dom profético no NT não difere em nada do dom profético no AT.

O erro entra quando o ser humano que recebe a revelação de Deus a percebe, a interpreta  ou a aplica erroneamente.
O fato de Deus ter falado de modo perfeito não significa que os seres humanos escutaram de modo perfeito. E possível que interpretem e apliquem, sem erro, aquilo que Deus revelou. Mas a mera existência de uma revelação divina não garante, por si só, que a interpretação ou aplicação da verdade revelada por Deus compartilhará daquela mesma perfeição.”7

O último milagre de Eliseu

A eternidade e fidelidade de Deus = É interessante observarmos que o último milagre de Eliseu se deu postumamente. Eliseu já estava morto quando ocorre algo envolvendo seus restos mortais que desafia toda a razão humana (2 Rs 13.19,20). Essa passagem revela pelo menos dois aspectos dos atributos de Deus — em primeiro lugar ela mostra que Deus é eterno.

A. W.Tozer (2000, pp.l 1,12) chamou a atenção para esse fato quando comentou o texto bíblico: “Como fui com Moisés, assim serei contigo”.

Tozer destacou que: “A incondicional prioridade de Deus em seu universo é uma verdade no Antigo e no Novo Testamentos.

O profeta cantou essa verdade em linguagem de êxtase: ‘Não és tu desde a eternidade, ó Senhor meu Deus, ó meu Santo? O apóstolo João a expõe com cuidadosas palavras de denso significado: No princípio era o Verbo, e o Verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus. Ele estava no princípio com Deus.

Todas as coisas foram feitas por intermédio dele, e sem ele nada do que foi feito se fez. [...] Não podemos pensar certo sobre Deus enquanto não começamos a pensar nEle como estando sempre ali, e ali primeiro, sempre existente antes de tudo mais. Josué teve que aprender isso. Ele fora servo de Moisés, servo de Deus, e com tanta segurança recebera em sua boca a Palavra de Deus, que Moisés e o Deus de Moisés se fundiram na mente dele, em fusão tal que ele mal podia separar os dois pensamentos; por associação sempre apareciam juntos em sua mente.

Agora Moisés estava morto e, para que o jovem Josué não seja abatido pelo desespero, Deus lhe fala para dar-lhe segurança: ‘Como fui com Moisés, assim serei contigo. “Moisés estava morto, mas o Deus de Moisés continuava vivo. Nada mudara e nada se perdera. De Deus nada morre quando morre um homem de Deus.”

Em segundo lugar, a Escritura revela aqui a Fidelidade de Deus.
Aquilo que Ele prometeu, Ele cumpre, mesmo quando as circunstâncias parecem dizer o contrário.

Ao permitir que o toque nos restos mortais de Eliseu desse vida a um morto, Deus mostrava ao rei Jeoás que a morte de Eliseu não iria impedir aquilo que há algum tempo ele havia prometido a ele. Deus é fiel e vela sobre a sua palavra para a cumprir.

A honra de Eliseu = Mas além da fidelidade e eternidade de Deus que ficam bem patentes nesse último milagre de Eliseu, há ainda mais uma lição que o texto deixa em relevo. Aqui é possível perceber que mesmo morto, o nome de Eliseu continuaria sendo lembrado como um homem de Deus. Elias subiu ao céu vivo. Eliseu deu vida mesmo estando morto. Os intérpretes destacam que esse milagre de Eliseu mostra que o Senhor possui planos diferenciados para cada um de seus filhos e que, portanto, não devemos fazer comparações nem questionar os atos divinos (Jo 21.19-23). A Bíblia fala de homens cujas ações continuam falando mesmo depois de suas mortes (Hb 11.4).

O legado de Eliseu

Legado sócio-cultural = Já estudamos que Eliseu supervisionava a escola de profetas (2 Rs 6.1). Esse sem dúvida foi um dos seus grandes legados. Todavia Eliseu fez muito mais. Ele teve uma participação ativa na vida social da nação.

Enquanto Elias era um profeta do deserto, Eliseu teve uma atuação mais urbana. Eliseu tinha acesso aos reis e comandantes militares e possuía influência suficiente para deles pedir algum favor (2 Rs 4.13). Como povo de Deus não podemos viver isolados da vida social da nação, mas aproveitar as oportunidades para abençoar os menos favorecidos.

Legado espiritual = Há uma extensa lista de obras e milagres operados através do profeta Eliseu. Sem dúvida eles demonstram seu grande legado espiritual. Podemos enumerar alguns aqui: Abertura do Jordão (2 Rs 2.13,14); a purificação da nascente de água (2 Rs 2.19-22); O azeite da viúva (2 Rs 4.1-7); o filho da sunamita (2 Rs 4.8-37); a panela envenenada (2 Rs 4.38-41); A multiplicação dos pães e das sementes (2 Rs 4.42-44); a cura de Naamã (2 Rs 5); o machado que flutuou (2 RS 6.1-7); o caso de Dotã (2 Rs 6.11-23); escassez e festa em Samaria (2 Rs 6.24—7.20); revelação a Hazael (2 Rs 8.7-15); profecia ao rei Jeoás (2 Rs 13.14-19) e a ressurreição de um homem (2 Rs 13.21).

CONCLUSÃO

Assim termina a vida do profeta de Abel-meolá. Um grande homem de Deus que nunca deixou de ser servo. Começou pondo água nas mãos de Elias (2 Rs 3.11), um gesto claro de sua presteza em servir, e terminou sendo exaltado por Deus.
Mesmo sem ter escrito uma linha, se levanta como um dos maiores profetas bíblicos de todos os tempos. Deixou sua marca na História, mas em nenhum momento atraiu para si a atenção pelos milagres feitos. Deus a quem ele amava e servia era sua fonte de satisfação. Devemos imitá-lo nisso.

Elaboração pelo:- Evangelista Isaias Silva de Jesus


BIBLIOGRAFIA

1 - LARGO, Michael. Assim Morreram Os Ricos e Famosos — como foi a morte das grandes personalidades da história. Ed. Larousse, São Paulo,
2008.

2 - ANKERBERG, John 8c BURROUGHS, Dillon. Por que Deus permite o
Sofrimento e o Mal? São Paulo: Ed. Holy Bible.

3 - HENDRIKSON, William. Comentário do Novo Testamento — Efésios e Filipenses. Ed. Cultura Cristã, 2005.

4 - Idem, p. 594.

5 - SPROUL, R.C. Boa Pergunta — mais de 300 perguntas sobre fé e vida respondidas com honestidade e clareza. Ed. Cultura Cristã, 1999.

6 - GRUDEM, Wayne. O Dom de Profecia — do Novo Testamento ao nossos dias. Editora Vida.

7 - SORMS, C. Samuel. In: Cessaram os Dons Espirituais? — quatro pontos de vista. Org. Wayne Grudem. Editora Vida.

8 - TOZER, A. W. A Conquista Divina: a necessidade de ter Cristo como
Senhor na vida. Editor Mundo Cristão, São Paulo, 2000.


21 de março de 2013

ELISEU E A ESCOLA DOS PROFETAS


ELISEU E A ESCOLA DOS PROFETAS

TEXTO ÁUREO = “Tu, pois, meu filho, fortifica-te na graça que há em Cristo Jesus. E o que de mim, entre muitas testemunhas, ouviste, confia-o a homens fiéis, que sejam idôneos para também ensinarem os outros” (2 Tm 2.1,2).

VERDADE PRÁTICA = A escola de profetas objetivava a transmissão dos valores morais e espirituais que deus havia entregado a Israel através da sua Palavra.

LEITURA BIBLICA = 2 Reis 6: 1-7

INTRODUÇÃO

Por diversas vezes vemos a expressão “filhos dos profetas (hb. bene
ba-nabiim)” aparecer nos livros de 1 e 2 Reis. Observamos pelas
Escrituras que os filhos dos profetas estavam radicados em locais como Betel, Jericó e Gilgal (1 Rs 20.35; 2 Rs 2.3,5,7,15; 4.1,38; 6.1). O contexto dessas passagens não deixa dúvidas de que esta expressão pode ser entendida como sendo sinônimo para “Escola de Profetas”.

Esse fato serve para nos mostrar que a educação religiosa ou formal já recebia destaque no Antigo Israel. Deve ser lembrado que essas escolas de profetas não tinham como propósito ensinar a profetizar. Isso é uma atribuição divina. Todavia a Escola de Profetas é um testemunho vivo de que o povo de Deus em um passado tão distante se preocupava em passar às gerações posteriores sua herança cultural e espiritual.

Entender os princípios que fundamentavam a Escola de Profetas é de suma importância para a Educação Cristã do século XXI, pois através deles é possível fazer um contraste entre o ensino bíblico e o paradigma educacional emergente.

E fato que o paradigma educacional da cultura ocidental vem sofrendo mudanças radicais nos últimos anos. Esse fato tem provocado o espanto de especialistas que demonstram preocupação diante dos novos desafios impostos por essa reviravolta no mundo dos valores. Mas não é somente a cultura secular que tem refletido os efeitos dessas mudanças de valores na educação. A igreja evangélica como uma instituição formadora de valores também espelha essas mudanças.

O que a igreja deve saber sobre esse novo modelo ou paradigma educacional emergente e como agir diante dele? O que a Escola de Profetas, liderada pelo profeta Eliseu, tem a nos ensinar? E a pergunta que nos proporemos a responder aqui.
Antes de estudarmos a Escola de Profetas como uma entidade dedicada à instrução religiosa, procurarei dar uma visão panorâmica sobre o novo modelo educacional, também denominado de Paradigma Educacional Emergente.

Os valores fundamentais da educação

Em seu livro Os Valores Fundamentais, o teólogo e filósofo italiano Battista Mondin trouxe uma importante reflexão sobre o valor da educação hodierna. Mondim observa que a escola é uma fábrica de cultura e que para ela realizar essa função, deve ter em vista o cultivo do homem, que ele destaca como sendo as exigências fundamentais de cada cultura.

São elas: simbólica, tecnológica, ética e axiológica (porque quatro são os fundamentos da cultura: linguagem, costumes, técnicas e valores). “A escola, como é conhecida e realizada hoje”, destaca Mondim “atua ao máximo somente as duas primeiras tarefas, a simbólica e a tecnológica. Provê a primeira com o estudo da língua, da escrita, da gramática, da história, da geografia, do desenho, da literatura, das ciências, da filosofia.

A segunda, com a aprendizagem do uso de instrumentos e de máquinas. Ela deixa de lado (e nas escolas estatais parece até que isso é dever) tudo o que é mais necessário para a determinação do projeto-homem e de sua realização, isto é, as outras duas tarefas. Descubra, antes de tudo, a tarefa axiológica que é a de fazer a criança, o jovem, conhecer os valores absolutos, perenes, fazê-los conhecer e apreciar o valor absoluto, ajudá-los a descobrir a vocação que o chama à realização de seu projeto, de seu valor.

Consequentemente, deixa de ensinar aos estudantes o caminho para realizar o próprio projeto de humanidade que é o caminho da virtude.” Ele destaca que no campo dos valores a escola anda na direção oposta daquilo que pretende uma instituição que é vista como uma fábrica de cultura, isto é, como uma instituição que cuida da formação do homem em sociedade. Para esse filósofo italiano, a escola age dessa forma quando: “Critica e nega, sistemática e venenosamente, os valores absolutos, espirituais, transcendentes, perenes e favorece nos jovens a máxima libertinagem, ensinando um permissivismo completo. Assim, ela acaba por depauperar aquele tesouro precioso de sentimentos e instintos que a natureza doa à criança, ao invés de canalizá-la, como a água impetuosa de um rio para irrigar o terreno e torná-lo fecundo, permite que escapem livremente e que se transformem (como no caso da violência, da luxúria e da droga) em vícios que bloqueiam o caminho em direção à realização daquele valor absoluto, daquele projeto de humanidade a que somos chamados e destinados”.

Dizendo isso de uma outra forma: a educação contemporânea com sua proposta de total rompimento com os valores tradicionais herdados da cultura judaico-cristã, promove uma educação secularizada onde não existem valores perenes ou absolutos nem tampouco a mais tênue noção de verdade.

Em vez disso, há apenas “verdades”, e valores relativos que devem ser ajustados ao comportamento do educando. Cada um tem a sua verdade, já que não existem mais meta narrativas e a história perdeu o seu sentido. A noção de certo e errado, verdade ou mentira, deixa de ser um fenômeno universal para se ajustar à localidade de cada cultura. Cada cultura tem a sua verdade e, portanto, a sua noção de valores ético-morais.

O relatório da UNESCO para a educação do século XXI

A fim de avaliar o impacto desse novo desafio que a educação do século XXI enfrenta, a UNESCO preparou um relatório minucioso. O relatório que foi presidido pelo educador francês Jacques Delors, aponta os desafios e os caminhos para o fenômeno educacional no mundo do século XXI. A edição brasileira desse relatório foi apresentada pelo ex-ministro da educação Paulo Renato.

Em sua fala, o ex-ministro destaca aquilo que o Relatório Delors sintetiza sobre a realidade educacional global. Ele pôs em evidência esse novo cenário para esse paradigma educacional emergente, conforme demonstrado no Relatório Delors: “Existe hoje uma arena global na qual, gostemos ou não, é até certo ponto jogado o destino de cada indivíduo.

[...] Apesar de uma promessa latente, a emergência desse novo mundo, difícil de aprender e ainda mais difícil de prever, está criando um clima de incertezas, para não dizer de apreensão, que torna a busca de um enfoque verdadeiramente global para os problemas ainda mais angustiantes.”

Observa-se que os educadores estão conscientes e preocupados com os novos desafios que a cultura emergente impõe sobre a educação. Da mesma forma a igreja como uma instituição social e formadora de valores não deve fazer vista grossa para esses alertas.

Pressupostos apontados para a educação do século XXI

O ministro da educação indiano, Karan Singh, que também é um dos colaboradores do Relatório Delors, apontou alguns pressupostos de uma filosofia holística para a educação do século XXI.
Devemos ficar atentos a esses pressupostos educacionais, pois serão eles que formarão a cultura das gerações vindouras. De acordo com Singh:

1. O planeta Terra que habitamos e de que todos somos cidadãos é uma entidade única, fervilhante de vida; a espécie humana é, em ultima análise, uma grande família em que todos os membros são solidários; as diferenças de raça e de religião, de nacionalidade e de ideologia, de sexo e de preferências sexuais, de estatuto econômico social — embora em si importantes — devem ser repostas no contexto mais geral desta unidade fundamental.

2. O ódio e o sectarismo, o fundamentalismo e o fanatismo, a inveja e o ciúme, entre pessoas, grupos ou nações, são paixões destruidoras que é preciso vencer agora que nos achamos no limiar de um novo século; o amor e a compaixão, a preocupação pelo outro e a caridade, a amizade e a cooperação devem ser estimuladas, agora que a nossa consciência desperta para a solidariedade planetária.

3. As grandes religiões do mundo na luta pela supremacia devem parar de se combater e cooperar para o bem da humanidade, a fim de reforçar, graças a um diálogo permanente e criativo entre as diferentes confissões, o filão de ouro que são as suas aspirações espirituais comuns, renunciando aos dogmas e anátemas que as dividem.

4. A educação holística deve ter em conta as múltiplas facetas, físicas, intelectuais, estéticas, emocionais e espirituais da personalidade humana e tender, assim, para a realização deste sonho eterno: um ser humano perfeitamente realizado vivendo num mundo em harmonia.

Não há como negar que esses pressupostos educacionais apontados por Singh refletem os princípios de uma educação holística, mística e destituída na sua grande maioria dos valores cristãos. Algo semelhante àquilo que Battista Mondim já havia criticado como princípios que estão na contramão de uma educação verdadeiramente humanística. O relatório, portanto, é bem intencionado, mas utópico na medida em que prega um ecumenismo universal entre todos os povos e religiões. São esses vetores que procuram nortear a educação secular contemporânea. Merece destaque que esses mesmos pressupostos educacionais, vistos por uma outra perspectiva, são defendidos por renomados educadores.

Em seu conceituado livro 0 Novo Paradigma Educacional Emergente, a educadora Maria Cândida resume esse modelo emergente como sendo:

1. Construtivista — o ser humano está em constante processo de transformação diante de sua ação no mundo, em sua relação constante com o objeto. Pensar é resultado de uma construção, da ação do indivíduo sobre o objeto e da transformação desse objeto, que tem o educando como centro gerador em processo constante de construção.

2. Interacionista sujeito e objeto estão em constante interação de forma que um modifica o outro e modificam-se entre si.

3. Sociocultural o homem é um ser relacional que interage constantemente, através do diálogo, com seus pares e com o mundo físico.

4. Transcendente isto quer dizer: ir além, ultrapassar-se, superar-se. O homem é um devir a ser.

Essas são as tendências de uma nova Paideia, de um novo modelo educacional emergente. Embora seja perceptível a roupagem científica com que esse modelo está adornado, todavia é inegável que ele é mais religioso do que científico. Mais espiritual do que racional. O físico nuclear e adepto do misticismo oriental, Fritijof Capra, foi uma das primeiras vozes pós-modernas na defesa desse novo paradigma. Capra afirma:

“Precisamos de um novo paradigma — uma nova visão da realidade, uma mudança fundamental em nossos pensamentos, percepções e valores. Os primórdios dessa mudança, da transferência da concepção mecanicista para a holística da realidade, já são visíveis em todos os campos e suscetíveis de dominar a década atual.”

No livro de minha autoria, intitulado Defendendo o Verdadeiro Evangelho, mostrei as implicações que essa nova ciência tem sobre os valores cristãos, em especial sobre a Educação. Mais uma vez fiz uma análise das palavras de Fritjof Capra, principal guru dessa Nova Era: “Vivemos hoje num mundo globalmente interligado, no qual os fenômenos biológicos, psicológicos, sociais e ambientais são todos interdependentes.

Para descrever esse mundo apropriadamente, necessitamos de uma perspectiva ecológica que a visão do mundo cartesiana não oferece” (O Ponto de Mutação a Ciência, a Sociedade e a Cultura Emergente p.14). Em outro texto, também de sua autoria, ele diz: “Não existe nenhum organismo individual que viva em isolamento.



Os animais dependem da fotossíntese das plantas para terem atendidas as suas necessidades energéticas; as plantas dependem do dióxido de carbono produzido pelos animais, bem como do nitrogênio fixado pelas bactérias em suas raízes, e todos juntos, vegetais, animais e microorganismos, regulam toda a biosfera e mantêm as condições propícias à perspectiva da vida (As Conexões Ocultas a Ciência para uma Vida Sustentável).

O lado espiritual e místico desse novo paradigma fica claro em outro livro de Fritijof Capra, intitulado: 0 Tao da Física um paralelo entre a
Física Moderna e o Misticismo Oriental.

Nessa obra, diz: “Há cinco anos, experimentei algo de muito belo, que me levou a percorrer o caminho que acabaria por resultar neste livro. Eu estava sentado na praia, ao cair de uma tarde de verão, e observava o movimento das ondas, sentindo ao mesmo tempo o ritmo de minha própria respiração. Nesse momento, subitamente, apercebi-me intensamente do ambiente que me cercava: este se me assegurava como se participasse de uma gigantesca dança cósmica (...) senti o seu ritmo e ouvi’o seu som. Nesse momento, compreendi que se tratava da dança de Shiva, o deus dos dançarinos, adorado pelos hindus.”

Desafios à educação contemporânea

É, pois, possível percebermos que o conflito existente entre a cultura moderna, fundamentada no modelo cartesiano, e a pós-moderna, fincada na física quântica e em princípios holísticos, está na desconstrução dos valores tradicionais da educação que esta última produz. O sociólogo polonês Zygmunt Bauman, um dos maiores analistas do impacto que a cultura pós-moderna causa na educação contemporânea, escreveu sobre as dimensões desse conflito:

“A história da educação conheceu muitos momentos críticos nos quais ficava evidente que premissas e estratégias já testadas e aparentemente confiáveis não davam mais conta da realidade e exigiam revisões e reformas. Contudo, a crise atual parece ser diferente daquelas do passado.

Os desafios do presente desferem duros golpes contra a própria essência da ideia de educação, tal como ela se formou nos primórdios da longa história da civilização: eles questionam as invariantes dessa ideia, as características constitutivas da educação que resistiram a todos os desafios passados e emergiram intactas de todas as crises anteriores; os pressupostos que antes nunca haviam sido colocados em questão e menos ainda encarados como se já tivessem cumprido sua missão e necessitassem de substituição.

Vejamos, portanto, como esse sociólogo polonês analisa esse novo paradigma educacional:

1. Um produto descartável = Bauman chama a atenção que para esse modelo emergente de educação, a simples “ideia de que a educação pode constituir em ‘produto’feito para ser apropriado e conservado é desconcertante, e sem dúvida não depõe a favor da educação institucionalizada”.

Bauman diz acertadamente que, visto desta forma, a educação é um produto descartável, “um pacote de conhecimento criado para usar e jogar fora.
A justificativa que os pais davam para convencer os filhos a estudarem: aquilo que você aprendeu ninguém vai poder tirar,’perde sua razão de ser.”

2. Uma realidade instável = “Em todas as épocas”, observa Bauman, “o conhecimento foi avaliado com base em sua capacidade de representar fielmente o mundo. Mas como fazer quando o mundo muda de uma forma que desafia constantemente a verdade do saber existente, pegando de surpresa até os mais ‘bem-informados?’”

Ainda segundo ele, Werner Jaeger, que sem dúvidas foi um dos  maiores pesquisadores e teóricos da Educação, destacava que os fundamentos da pedagogia e da aprendizagem se fundamentavam em dois pressupostos básicos, quais sejam: a ordem imutável do mundo e a natureza igualmente eterna das leis que governam a natureza humana.
Bauman destaca que o “primeiro pressuposto justificava a necessidade e os benefícios da transmissão do conhecimento dos professores aos alunos.

O segundo infundia nos professores a autoconfiança necessária para esculpir na personalidade dos alunos, como fazem os escultores com o mármore, a forma que se presumia sempre justa, bela, boa e, portanto, virtuosa e nobre”.

A relação professor e aluno = Igualmente pertinente é o que Bauman chama de cultura off-line e on-line:

 “Para os jovens”, destaca Bauman, “a principal atração do mundo virtual deriva da ausência de contradições e objetivos contrastantes que infestam a vida off-line. O mundo on-line, ao contrário de sua alternativa off-line, torna possível pensar na infinita multiplicação de contatos como algo plausível e factível.

Isso acontece pelo enfraquecimento dos laços — em nítido contraste com o mundo off-line, orientado para a tentativa constante de reforçar os laços, limitando muito o número de contatos e aprofundando cada um deles.
Depois dessa visão geral do novo paradigma educacional emergente e suas implicações na cultura judaico-cristã, voltemos, pois, à Escola de
Profetas para uma avaliação dos seus fundamentos: Disseram os discípulos dos profetas a Eliseu: Eis que o lugar em que habitamos contigo é estreito demais para nós.

Vamos, pois, até ao Jordão, tomemos de lá, cada um de nós uma viga, e construamos um lugar em que habitemos. Respondeu ele: Ide. Disse um: Serve-te de ires com os teus servos. Ele tornou: Eu irei. E foi com eles. Chegados ao Jordão, cortaram madeira.

Sucedeu que, enquanto um deles derribava um tronco, o machado caiu na água; ele gritou e disse: Ai! Meu senhor! Porque era emprestado. Perguntou o homem de Deus: Onde caiu? Mostrou-lhe ele o lugar. Então, Eliseu cortou um pau, e lançou-o ali, e fez flutuar o ferro, e disse: Levanta-o. Estendeu ele a mão e o tomou” (2 Rs 6.1-7)

Em primeiro lugar; a Escola de Profetas deve ser vista sob a perspectiva institucional ou estrutural.

1. Noção de organização e forma = O texto de 2 Reis 6.1, mostra o lado institucional da Escola de Profeta. Eles viviam em comunidade e, portanto, careciam de um espaço físico não somente para habitar, mas onde pudessem ser instruídos: “Disseram os discípulos dos profetas a Eliseu:

Eis que o lugar em que habitamos contigo é estreito demais para nós. Vamos, pois, até ao Jordão, tomemos de lá, cada um de nós uma viga, e construamos um lugar em que habitemos.

Observa-se nesse texto que a estrutura acabou ficando inadequada e um espaço maior foi reclamado. Para que se tenha uma educação de qualidade necessita-se de uma estrutura adequada. Não podemos educar sem primeiro estruturar!

2. Noção de organismo e função = Essa Escola de Profetas estava sob uma supervisão e, portanto, possuíam um líder espiritual que lhes dava orientação. Os estudiosos acreditam que as Escolas de Profetas surgiram com Samuel (1 Sm 10.5,10; 19.20) e posteriormente se consolidou com a monarquia nos ministérios de Elias e Eliseu. No texto de 2 Reis 6.1, verificamos que esses discípulos dos profetas estavam sob a orientação do profeta Eliseu e era com o profeta de Abel-meolá que eles buscavam instrução.
Eliseu não era apenas um homem com dons carismáticos capaz de prever o futuro ou operar milagres poderosos, mas também um profeta que possuía uma missão pedagógica. Nesse contexto a unção vem junto com a educação.

Em segundo lugar; a Escola de Profetas deve ser vista sob a perspectiva teleológica, dos fins, dos objetivos.

1. Treinamento = O texto de 2 Reis 2.15,16, mostra que fazia parte desse treinamento trabalhar sob as ordens do líder, obtendo assim permissão para a execução de determinadas tarefas: “Vieram-lhe [os filhos dos profetas] ao encontro e se prostraram diante dele em terra. E lhe disseram: Eis que entre os teus servos há cinqüenta homens valentes; ora, deixa-os ir em procura do teu senhor; pode ser que o Espírito do S e n h o r  o tenha levado e lançado nalgum dos montes ou nalgum dos vales. Porém ele respondeu:

Não os envieis.” Esse processo interativo entre o líder e o liderado, entre o educador e o educando, é vital para a produção do conhecimento. Em outras situações observamos que os filhos dos profetas, quando já treinados, podiam agir por conta própria em determinadas situações (1 Rs 20.35). O discipulado ocorre quando aquele que foi instruído é capaz de repetir com outros o processo do seu aprendizado.

2. Encorajamento = Os expositores bíblicos observam que o profeta Eliseu não limitava o seu ministério à pregação itinerante e à operação de milagres, mas agia também como um supervisor de várias escolas de profetas nos seus dias. Nessas escolas ele fornecia instrução e encorajamento aos jovens que ali chegavam. O contexto dos livros de 1 e 2 Reis não deixam dúvidas de que esses dois profetas se preocupavam em transmitir à geração mais nova aquilo que aprenderam do Senhor. Nessas escolas, portanto, esses alunos eram encorajados a buscarem uma melhor compreensão da Palavra de Deus. Não há objetivo maior para um educador do que encorajar o educando a buscar a excelência no ensino.

Em terceiro lugar; a Escola de Profetas deve ser vista sob a perspectiva curricular, dos conteúdos.

1. A Escritura = Quando fazemos um acompanhamento do ministério do profeta Elias, vemos que a Palavra de Deus fazia parte do conteúdo ensinado nas Escolas de Profetas. Eliseu recebeu essa herança.

Quando se encontrava no monte Sinai, Elias se queixou que os israelitas haviam abandonado a Aliança com Deus, destruíram os locais de cultos e exterminaram os profetas (1 Rs 19.10).
A Palavra de Deus, em especial o livro de Deuteronômio, especificava que princípios e preceitos regiam a Aliança de Deus com seu povo. A Palavra de Deus era essa aliança! Assim como Elias, Eliseu também estava familiarizado com as implicações dessa Aliança. Era essa palavra que ele ensinava aos seus discípulos. E essa palavra que devemos ensinar hoje.

2. A Experiência = Tanto Elias como Eliseu eram homens experientes e compartilhavam com os outros aquilo que haviam aprendido (2 Rs 2.15; 2.19-22; 4.1-7,42-44). No entanto, no contexto bíblico, a experiência não está acima da revelação de Deus conforme se encontra escrita na Bíblia. A Palavra de Deus é quem julga a experiência e não o contrário. Elias, por exemplo, afirmou que suas experiências tiveram como fundamento a Palavra de Deus (1 Rs 18.36).

Os mais jovens devem ter a humildade de aprender com os mais experientes e os mais experientes não devem desprezar os saberes dos mais jovens. O aprendizado se dá através do processo de interação e a experiência faz parte desse processo.

Em quarto lugar, a Escola de Profetas deve ser vista sob a
perspectiva metodológica.

1. Ensino através do exemplo = Os estudiosos estão de acordo que essas Escolas de Profetas seguiam o idealismo hebreu concernente à educação. Havia uma relação entre professor e aluno na comunidade onde viviam. A educação acontecia também na sua forma oral e o exemplo era um desses métodos adotados no processo educativo. Não há como negar que Eliseu ensinava através do exemplo.

Há vários relatos sobre os milagres de Eliseu onde se percebe que o aprendizado acontecia através da observação das ações do profeta de Abel-meolá. Geazi, moço de Eliseu, sabia que seu mestre era um exemplo de honestidade. No Novo Testamento, Jesus Cristo se colocou como o exemplo máximo a ser seguido e Paulo também se pôs como um modelo a ser imitado (Mt 9.9; 1 Co 11.1).

2. Ensino através da palavra = Eliseu não deixou nada escrito. O que sabemos dele é através do cronista bíblico. Mas esse fato não significa que esse profeta não usasse a Palavra de Deus em sua vida devocional e também como instrumento de instrução na Escola de Profetas. A forma como esses homens julgavam o comportamento dos reis, aprovando-os ou reprovando-os não deixa dúvidas de que eles usam a Palavra de Deus escrita para discipular seus alunos. Eliseu, por exemplo, mediu a iniquidade de Acabe através da piedade de Josafá. 

Acabe era um rei mal por que não andava conforme a Palavra de Deus enquanto Josafá era estimado por fazer o caminho inverso.
Observamos através do ministério do profeta Eliseu que os filhos dos profetas pertenciam a uma escola dedicada ao ensino formal. Ali era ensinado a Palavra de Deus tanto na sua forma oral como escrita.

Esse fato é por si só de grande relevância para nós porque demonstra a preocupação desse homem de Deus em passar a outros o conhecimento correto sobre Deus.

Os tempos mudam e a cultura também. Hoje sabemos que a educação secular possui grande importância e infelizmente para muitos é a única forma de educação existente. Não podemos negligenciar a educação humanista, mas não podemos de forma alguma perder de vista a dimensão espiritual do conhecimento.

Um ensino fundamentado na Bíblia, mesmo sem se tornar místico, atende aos propósitos de uma educação humanitária, conforme pretendido pelos educadores da UNESCO, que são:

1. Aprender a conhecer aprender a conhecer é algo que se refere não somente à aquisição de conhecimento, mas também à forma como o indivíduo lida com o conhecimento no desenvolvimento do seu cotidiano.

2. Aprender a fazer — as aprendizagens devem evoluir e não podem mais ser consideradas como simples transmissão de práticas mais ou menos rotineiras.

3. Aprender a conviver — Num primeiro nível, a descoberta progressiva do outro. Num segundo nível, e ao lado dc toda a vida, a participação em projetos comuns. O outro aqui não se limita apenas ao indivíduo, mas a outros povos também.

4. Aprender a ser — um sujeito capaz de tomar decisões na vida, dirigido por valores próprios e de maneira crítica.


Elaboração pelo:- Evangelista Isaias Silva de Jesus
BIBLIOGRAFIA


1 - MONDIN, Battista. Os Valores Fundamentais. Ed. Edusc, 2005.

2 - MONDIN, Battista. idem.

3 - DELORS, Jacques. Educação: um tesouros a descobrir: relatório para a UNESCO da Comissão Internacional sobre Educação para o século XXI. Editora Cortez/UNESCO/MEC. 10a Edição, 2006.

4 - SOUZA, Paulo Renato. Educação: um tesouro a descobrir. Ed. Cortez, 10a edição, 2006.

5 - Veja um estudo mais aprofundado sobre o assunto no livro de Jacques Delors: A Educação para o Século XXI: questões e perspectivas. Editora Artmed, Porto Alegre, 2005.

6 - Educação: um tesouro a descobrir.

7 - MORAES, Maria Cândida. O Novo Paradigma Educacional Emergente. Editora Papirus.

8 - CAPRA, Fritijof. O Ponto de Mutação - A Ciência, a Sociedade e a Cultura Emergente. Editora Cultrix , 1999.

9 - GONÇALVES, José. Defendendo o Verdadeiro Evangelho. Rio de Janeiro: CPAD, 2007.

10 - CAPRA, Fritjof. O Tao da Física: um paralelo entre a física moderna e o misticismo oriental. Ed Cultrix.

11 - BAUMAN, Zygmunt. Capitalismo Parasitário.ed. Jorge Zahar.

12 - JAERGER, Werner. Paideia: a formação do homem grego. Editora Martins Fontes.

13 - BAUMAN, Zygmunt. Capitalismo Parasitário. Idem.

14 - DELORS, Jacques. Educação: Um Tesouro a Descobrir. Op. cit.

15 - Livro Porção Dobrada - Casa Publicadora das Assembleias de Deus - José Gonçalves – 2012