23 de maio de 2017

Hulda, a Mulher que Estava no Lugar Certo


Hulda, a Mulher que Estava no Lugar Certo

Texto Áureo = “Assim diz o Senhor: eis que trarei mal sobre este lugar e sobre os seus habitantes, a saber, todas as maldições que estão escritas no livro que se leu perante o rei de Judá.”

Verdade Prática = Quando opovo se corrompe. Deus levanta homens e mulheres como instrumentos de advertência contra o pecado.

LEITURA BIBLICA – 2 Crônicas 34.22-28

INTRODUÇÃO

Hulda foi uma mulher sábia e prudente que entrou em cena num período da história de Judá e de Israel em que os reis corromperam-se mais do que os povos ímpios que não reconheciam a Deus. Mesmo vendo a situação calamitosa de seu povo, não se apressou em emitir profecia ou mensagem de sua própria vontade. Porém, no tempo de Deus, ela foi tirada do anonimato e foi usada para transmitir uma mensagem muito dura contra o povo de Judá, no reinado de Josias, filho de Amom e neto de Manassés, que foram reis perversos que levaram a nação inteira a dar as costas para Deus e voltar-se para a idolatria mais perversa que a Bíblia registra. Josias foi contemporâneo dos profetas Jeremias (Jr 1.2) e Sofonias (Sf 1.1), que o ajudaram em sua missão de reconduzir o povo aos caminhos do Senhor. Mas Deus não quis usar nenhum desses homens para entregar a mais tremenda mensagem de condenação a seu povo por suas iniquidades. Ele quis usar a profetisa Hulda para advertir o povo da grande tragédia que haveria de cair sobre Judá e Jerusalém.

Hulda entrou em cena na história do povo de Judá, mas logo desapareceu após cumprir a missão árdua que Deus lha confiara. Pouco se sabe sobre ela, a não ser que era esposa de Salum, guardador das vestiduras, e que habitava em Jerusalém, “na segunda parte” da cidade, ou na “cidade baixa” (2 Rs 22.14). Ela entrou para a história quando o rei Josias tomou conhecimento do conteúdo do livro da Lei, que fora perdido na Casa do Senhor. Ao ouvir a leitura do livro da Lei e as maldições que cairiam sobre seu povo, o rei mandou consultar ao Senhor sobre tamanha desgraça causada pela desobediência do povo. E o sacerdote Hilquias procurou Hulda, a profetisa, para saber como proceder. E Hulda, usada por Deus, proferiu terrível profecia contra Judá, mostrando que Deus derramaria terrível juízo sobre a desobediência do povo.

Apesar disso, a mensagem de Deus para o rei Jos jas foi de amor e misericórdia. Por meio de Hulda, Deus mandou dizer ao jovem monarca que vira o seu coração humilde e o seu quebrantamento e que não traria mal algum que previra sobre Judá no tempo de seu reinado. De pronto, o rei tomou as medidas urgentes e necessárias para levar o povo ao arrependimento. Ele próprio fez concerto com Deus de obedecê-lo em seu reinado. Depois, levou o povo a fazer o concerto com Deus. E, de forma mais concreta, mandou retirar todas as abominações que o povo adotara em Judá e Jerusalém.

 

I- HULDA, VIVENDO NUM TEMPO DE CRISE

1. Quem Foi Hulda

Foi uma serva de Deus que demonstrou ter um caráter firme, decidido e discreto, num tempo em que reis e profetas desviaram-se dos caminhos do Senhor. Pouco se sabe acerca dela. Seu nome, no hebraico, significa «doninha”. O texto em estudo diz que ela era esposa de Salum, filho de Ticva, que era guardador das vestiduras e habitava em Jerusalém, “na segunda parte” da cidade, ou na “cidade baixa” (2 Rs 22.14).

Ela exerceu a atividade de profetisa num tempo em que esse ofício era predominantemente confiado a homens. A Bíblia registra que houve apenas mais duas profetisas em toda a história do Antigo Testamento: Miriã, irmã de Moisés (Ex 15.20), e Débora, que, além de profetisa, era Juíza (Jz 4.4). Hulda entrou em cena num momento especial e dramático da história do reino de Judá, no reinado de Josias (639—609 a.C).

Deus não fica impedido de operar quando os homens fogem à sua responsabilidade como líderes para servir a seu povo. Em termos espirituais e morais, a situação de Israel era das piores. Avaliamos melhor o papel de Hulda no meio de seu povo, bem como o seu testemunho eloquente de mulher de Deus, quando vemos, ainda que de forma resumida, o pano de fundo histórico em que ela vivia. O texto bíblico dá a entender que Hulda reconhecia o seu lugar como profetisa, mas ela só entrou em ação quando foi solicitada.

2. Ascensão e Decadência do Reino

Hulda viveu no tempo do reinado do rei Ezequias. Ele foi um grande rei usado por Deus de forma extraordinária (716—687 a.C). Porém, ele terminou mal os seus dias por ter dado lugar à exaltação em sua vida, O sucesso em seu reinado e o êxito como administrador fizeram-no sentir-se orgulhoso (2 Cr 32.25). A Bíblia adverte: “A soberba precede a ruína, e a’altivez do espírito precede a queda” (Pv 16.18). Sua prosperidade superou a de muitos reis que o antecederam (2 Cr 32.27-30), mas ele não soube administrar o sucesso sem perder a humildade.

Quando cometeu a imprudência de revelar segredos a emissários da Babilônia, Deus repreendeu-o, prometendo juízo sobre seu povo em tempos posteriores. Numa demonstração de egocentrism0 ele disse que era boa aquela palavra (2 Rs 20.19). Ezequias é o exemplo de líder que foi escolhido por Deus, que realizou um excelente ministério, mas que não soube consolidar os resultados até o fim. Ele começou bem e terminou de forma melancólica.

II - HULDA VË O TEMPO DO AVIVAMENTO

Podemos afirmar que Hulda era uma mulher de oração, de profunda comunhão com Deus em seu ofício incomum de profetisa, num tempo em que os homens eram as referências no ministério profético de caráter nacional. Ela testemunhou os desvios e desmandos de Ezequias e seus sucessores.

Certamente, com angústia na alma, ela pedia a Deus a mudança daquele quadro. Humanamente, isso era impossível, mas quando Deus quer agir, o impossível não faz parte de sua linguagem. Se os outros reis não tomaram conhecimento de seu ministério profético, Hulda viu Deus trabalhar de forma evidente para ouvir suas orações e levantou um menino para promover mudanças impactantes no reino de Judá.

III - HULDA É USADA POR DEUS

1. A Dura Mensagem de Deus

Hulda poderia ter sido usada como outros profetas que, ao contemplarem os desvios do povo, levantaram-se para combater reis, sacerdotes e o povo em geral. Ela, porém, ficou no seu lugar. Essa atitude fazia parte do seu caráter reservado. No tempo de Deus, ela foi apresentada a serviço do seu povo. O sumo sacerdote Hilquias e os demais assessores do rei foram procurar a profetisa Hulda para saber o que iria acontecer com Judá, tendo em vista a grande pecaminosidade de seu povo, motivada pela desobediência à palavra de Deus.

Os emissários relataram o grave acontecimento por terem tomado conhecimento dos terríveis castigos previstos na Lei de Deus para as transgressões deliberadas do povo. Desse modo, cumprindo sua missão, ainda que num tempo bastante curto como fiel mensageira do Senhor, Hulda deu a resposta ao rei: “E ela lhes disse: Assim diz o SENHOR, Deus de Israel: Dizei ao homem que vos enviou a mim: Assim diz o SENHOR: Eis que trarei mal sobre este lugar e sobre os seus habitantes, a saber, todas as maldições que estão escritas no livro que se leu perante o rei de Judá. Porque me deixaram e queimaram incenso perante outros deuses, para me provocarem à ira com toda a obra das suas mãos; portanto, o meu furor se derramou sobre este lugar e não se apagará” (2 Cr 34.23-25).

Tanto o rei como os seus assessores já sabiam da gravidade da situação quando ouviram a leitura do livro da lei que foi achado na Casa do SENHOR. Talvez, o povo mais abençoado por Deus, o povo de Israel, por motivos estranhos, nunca permaneceu por longo período em obediência plena ao Senhor. O livro de Juízes mostra a obstinação do povo em pecar, em afastar-se dos caminhos do Senhor. Quando obedeciam a Deus, havia paz, havia bonança e prosperidade. Quando desobedeciam, havia guerra, opressão, cativeiro, escassez e miséria. Por misericórdia, Deus sempre dava um escape, mas a desobediência sempre foi recorrente no meio daquele povo. No texto em estudo, vemos o povo do reino do Sul, em Judá, numa situação espiritual deplorável. Dá a entender que já fazia muito tempo que a lei sequer era lida perante o povo. O livro da Lei estava perdido!

A resposta profética de Hulda resume a situação de miséria espiritual do povo: idolatria vergonhosa, a ponto de deixarem de adorar ao Deus de seus pais, que os tirou do cativeiro egípcio e os levou pelo deserto abrasador em segurança até Canaã; o povo inclinava-se perante ídolos ou deuses feitos pelas mãos dos homens, provocando a ira do Senhor.

 A sentença de Deus através de Hulda foi: “[... o meu furor se derramou sobre este lugar e não se apagará” (v. 25). Era o prenúncio do cativeiro dejudá anos depois.



2. Hulda Profetiza para o Rei Josias

Deus sabe separar aquele que é bom no meio dos maus; ele sabe ver o justo no meio da injustiça; Ele reconhece o caráter de homens que não se corrompem no meio da multidão dos corrompidos. Ele viu Noé e sua família no meio da população mundial de sua época e considerou-os dignos de serem poupados da destruição do Dilúvio. Na crise espiritual de Judá e Jerusalém, Deus mostrou à profetisa Hulda que o rei Josias não seguiu os maus caminhos de seus pais, mas humilhou-se diante de Deus, reconhecendo a calamidade espiritual de seu povo quando tomou conhecimento do que estava escrito no livro da Lei, além das maldições que eram previstas por Deus para a nação desobediente e idólatra. E, assim, ela fez saber a Josias que tinha visto o seu coração sincero perante seu Deus. A profecia de Hulda para Josias foi um alento para ele, face o seu desespero diante da tragédia que estava prevista sobre seu povo.

Disse Hulda aos mensageiros do rei:

“Porém ao rei de Judá, que vos enviou a consultar ao SENHOR, assim lhe direis: Assim diz O SENHOR, Deus de Israel, quanto às palavras que ouviste: Como o teu coração se enterneceu, e te humilhaste perante Deus, ouvindo as suas palavras contra este lugar e contra os seus habitantes, e te humilhaste perante mim, e rasgaste as tuas vestes, e choraste perante mim, também eu te tenho ouvido, diz O SENHOR. Eis que te ajuntarei a teus pais, e tu serás recolhido ao teu sepulcro em paz, e os teus olhos não verão todo o mal que hei de trazer sobre este lugar e sobre os seus habitantes. E voltaram com esta resposta ao rei” (2 Cr 34.26-28).

Deus teve misericórdia do jovem rei de Judá. Sua resposta para ele, através de Hulda, mostra que o Senhor considerou as atitudes corretas de Josias.

O seu coração ficou enternecido, ou seja, ficou sensível, quebrantado; ele humilhou-se perante Deus quando ouviu a leitura do livro sagrado, que fora desprezado de forma tão irresponsável por seus pais; num sinal de profunda tristeza, vergonha e dor pela situação de seu povo perante Deus, ele rasgou suas vestes; mais que isso, Josias chorou diante de Deus. O Senhor agrada-se quando um homem prostra-se humilhado ante os próprios pecados ou então quando se humilha, intercedendo por outros ou por seu povo. E interessante notar que Josias não viu tais comportamentos em seu pai e em seu avô. Pelo contrário, ele viu a desobediência, a rebeldia e a obstinação deles em andar de modo contrário à vontade de Deus. Porém, mesmo sendo muito jovem, ele entendeu que o caminho seria o do retorno à vontade do Senhor. Por is9guebrantoue e foi reconhecido por Deus. Diz a Bíblia: “Os sacrifícios para Deus são o espírito quebrantado; a um coração quebrantado e contrito não desprezarás, ó Deus” (Sl 51.17).

A resposta de Deus a Josias foi altamente positiva e confortadora para ele: “Eis que te ajuntarei a teus pais, e tu serás recolhido ao teu sepulcro em paz, e os teus olhos não verão todo o mal que hei de trazer sobre este lugar e sobre os seus habitantes” (2 Cr 34.28).

3. O Efeito da Profecia sobre Judá e Jerusalém

Quando um profeta merece credibilidade, sua palavra é reconhecida como sendo da parte de Deus por ser diferente da dos falsos profetas (Dt 18.18-22). Após ouvir a mensagem profética de Hulda, Josias tomou de imediato algumas medidas que demonstram o seu cuidado e zelo em ouvir a voz de Deus. Ele fez uma convocação urgente “a todos os anciãos de Judá e Jerusalém”.

As mudanças numa nação ou numa igreja só têm efeito se começarem pela liderança. Em segundo lugar, ele próprio “subiu à Casa do SENHOR com todos os homens de Judá e os habitantes de Jerusalém, e os sacerdotes, e os levitas, e todo o povo, desde o maior até ao menor”. Depois de reunir todo o povo, “[...] ele leu aos ouvidos deles todas as palavras do livro do concerto, que se tinha achado na Casa do SENHOR” (2 Cr 34.29,30). Até então, apenas o rei e seus assessores tinham conhecimento do conteúdo do livro da Lei e das maldições previstas contra a desobediência do povo. Por isso, Josias providenciou para que a leitura do livro fosse feita perante todo o povo, a exemplo do que fizera Esdras, o sacerdote, no tempo de Neemias, diante todo o povo (Ne 8.2,3).

Todas essas medidas eram de caráter conscientizador, mas faltavam as medidas de caráter prático. Somente a conscientização e o arrependimento sem as mudanças concretas, na prática, no dia-a-dia do povo, nada resolvem. O rei foi sábio e corajoso. Primeiramente, ele próprio fez concerto com Deus para obedecer a sua palavra: “E pôs-se o rei em pé em seu lugar e fez concerto perante o SENHOR, para andar após o SENHOR e para guardar os seus mandamentos, e os seus testemunhos, e os seus estatutos, com todo o seu coração e com toda a sua alma, cumprindo as palavras do concerto, que estão escritas naquele livro” (2 Cr 34.3 1). Ele entendeu que precisava dar o exemplo de liderança e, antes de propor um concerto do povo com Deus, assumiu o compromisso diante de Deus e do povo de pautar seu reino pelos mandamentos do Senhor.

Em seguida, ele levou o povo a fazer o concerto com Deus: “E fez estar em pé a todos quantos se acharam em Jerusalém e em Benjamim; e os habitantes de Jerusalém fizeram conforme o concerto de Deus, do Deus de seus pais” (2 Cr34.32). Por fim, Josias usou da autoridade que Deus concedera a ele e determinou que “todas as abominações” fossem tiradas do meio de Israel. Tais abominações eram os ídolos perante quem seus pais ficavam curvados, afrontando a santidade de Deus, e também as práticas abomináveis que provocaram a ira do Senhor sobre Israel e Judá, como oferecer sacrifícios humanos aos demônios, incluindo crianças inocentes.

E Josias usou da sua autoridade respaldada na palavra de Deus para obrigar o povo a oferecer o verdadeiro culto ao Senhor: “E Josias tirou todas as abominações de todas as terras que eram dos filhos de Israel; e a todas quantos se achara em Israel obrigou a que com tal culto servissem ao SENHOR, seu Deus; todos os seus dias não se desviaram de após o SENHOR, Deus de seus pais” (2 Cr 34.33).

Depois das reformas necessárias, Josias cumpriu o que Deus determinara e, então, celebrou a Páscoa ao SENHOR em Jerusalém (2Cr 35.1-19).

 

CONCLUSÃO

 

A profetisa Hulda foi uma mulher de Deus que teve um papel significante para a história de seu povo, ainda que de modo muito passageiro. Todavia, o que importa é a qualidade de seu trabalho, e não a extensão de seu ministério. Hulda soube colocar-se discreta e humildemente no lugar que Deus reservou a ela. Mas, no momento certo, entregou a mensagem de condenação de Deus ao povo de Judá, que, de maneira contumaz, afastara-se dos caminhos do Senhor.

 

Evangelista Isaias Silva de Jesus

Igreja Evangélica Assembléia de Deus Ministério Belém Setor I - Em Dourados – MS

Livro O Caráter do Cristão –Elinaldo Renovato de Lima –CPAD 1º. Edição 2017

 

 

 

 

18 de maio de 2017

Abigail, um Caráter Conciliador


Abigail, um Caráter Conciliador

Texto Áureo = "A resposta branda desvia o furor, mas a palavra dura suscita a ira." (Pv 15.1)

Verdade Prática = A mulher sábia, além de edificar a sua casa, contribui para apaziguar os ânimos dos que vivem ao seu redor.

LEITURA BÍBLICA EM CLASSE = 1 Samuel 25.18-24,27,28

INTRODUÇÃO

Abigail aparece na Bíblia em circunstâncias estranhas. Ela era esposa de um rico fazendeiro, proprietário de grandes rebanhos de ovelhas e de cabras que vivia nas proximidades do Carmelo, em Maom, não muito distante do deserto de Parã. Para esse deserto, Davi deslocou-se com seus homens para evitar confrontos com o rei Saul, que teimava em persegui-lo sem razão, temendo perder o reino para o jovem pastor de ovelhas.

Naquelas circunstâncias, os pastores de Davi travaram contato com os pastores de Nabal. Durante vários dias, eles ficaram reunidos, e os homens de Davi serviam de apoio e de guarda para os rebanhos de Nabal. Mas talvez esse fato não tivesse sido bem comunicado a ele. Em certo tempo, os homens de Davi, bem como suas famílias, que se achavam acampados na região, tiveram necessidade de víveres, de alimentos. E Davi, imaginando que Nabal reconheceria os benefícios feitos a seus pastores e seus rebanhos no deserto, resolveu mandar alguns criados falarem com Nabal, pedindo algum alimento, quando soube que ele tosquiava suas ovelhas no Carmelo.

Aquilo que parecia uma solicitação razoável e sem maiores pretensões tornou-se motivo de uma grande questão, com lances imprevisíveis de mal-estar e má vontade. Davi não exigiu de Nabal que mandasse grandes quantidades de víveres, mas, sim, que enviasse para seus homens o que achasse à mão, ou seja, o que pudesse mandar. Porém, ao ouvir o pedido de Davi, Nabal encolerizou-se diante dos mensageiros e disse que não iria atender o pedido de um homem que, na visão dele, era mais um fugitivo de “seu senhor”, dizendo ainda que não iria alimentar homens que sequer sabia de onde vinham (1 Sm 25.10.11).

Se a resposta de Nabal a Davi, mesmo sendo negativa, tivesse sido dada de forma adequada, respeitosa e com as devidas justificativas, provavelmente a reação teria sido diferente. Poderia não ter satisfeito as expectativas, mas teria sua razoabilidade. No entanto, como a resposta foi desaforada, desrespeitosa e em tom de deboche, acabou mexendo com os brios humanos de Davi, despertando seu lado temperamental. Davi ficou irado, convocou 400 homens dos que formavam seu grupo no deserto e dirigiu-se a Maom para atacar Nabal e a todos de sua casa, com o propósito de vingar a desmoralização pela resposta insolente do insensato fazendeiro.

 

Como Deus sempre age nas situações de crise, um homem de Nabal fez saber a ameaça à sua esposa. Ao saber da terrível decisão contra a sua casa, Abigail agiu rapidamente, preparou alimentos e levou-os com seus criados ao encontro de Davi. Assim, ao vê-lo, prostrou-se em terra, assumindo a culpa da desfeita, e deu sábios conselhos a Davi, mostrando que Deus poderia agir em seu lugar para que ele não manchasse suas mãos de sangue sem necessidade. Davi ficou impressionado com a atitude de Abigail, ouviu o seu conselho, recebeu a sua dádiva e retornou de sua temivel empreitada de vingança.

Pouco tempo depois, Nabal foi ferido por Deus e morreu, e Davi tomou Abigail como sua esposa e, como se diz nas histórias de amor, “foram felizes para sempre”, com a bênção de Deus.

I- ABIGAIL: UM POUCO DE SUA HISTÓRIA

Para entendermos o caráter de uma pessoa, faz-se necessário conhecer um pouco de sua história, de suas atitudes e ações. Abigail só passou a fazer parte da história bíblica por causa do comportamento insensato e precipitado de seu marido. Aqui, temos uma narrativa que confirma que Deus utiliza-se até mesmo de loucos para criar circunstâncias que propiciam condições para seus propósitos serem alcançados.

1. Davi Recorre a Nabal e É Desconsiderado

Davi e seus homens acamparam-se no deserto de Parã, nas proximidades do Carmelo e das propriedades de Nabal. Ali ele ficou com seus homens e sua família. Como sua tropa dependia de ajuda para alimentar-se no deserto, Davi, ao saber que Nabal, um homem riquíssimo e muito próspero, estava tosquiando ovelhas, mandou dez jovens para saudá-lo, desejando paz a ele e à sua casa e solicitando que enviasse o que pudesse para seus homens. Com seu temperamento colérico, Nabal sequer agradeceu a saudação.

E respondeu de forma grosseira e irônica aos criados de Davi: “Quem é Davi, e quem é o filho de Jessé? [...].Tomaria eu, pois, o meu pão, e a minha água, e a carne das minhas reses que degolei para os meus tosquiadores e o daria a homens que eu não sei de onde vêm?” (1 Sm 25.6-11). Ele desdenhou de Davi e de seus homens. Os servos ou soldados de Davi já se tornaram amigos dos pastores de Nabal. Enquanto esses estavam acampados no mesmo deserto, as tarefas comuns acabaram aproximando-os, e Davi tinha informações de Nabal, e é possível que Nabal tivesse informações de Davi, como o texto indica, em sua referência ao pai de Davi.

A resposta dura de Nabal, sem dúvida alguma, era uma grande afronta a Davi e a seu grupo de guerreiros dispostos a lutar por sua causa em defesa de Davi, deles próprios e de suas famílias. Ao tomar conhecimento da resposta grosseira de Nabal, Davi tomou 400 homens para ir em direção a Nabal, deixando outros 200 com a bagagem. A intenção de Davi era atacar Nabal e tudo o que ele tinha, com extrema vingança, disposto a destruir tudo sem deixar ninguém com vida, “mesmo até um menino” (1 Sm 25.22).

 

A reação de Davi foi temperamental. Numa ocasião em que ele estava sendo perseguido por Saul, suas emoções estavam à flor da pele. Era, porém, uma reação carnal, humana, carregada de ressentimento e vingança, o que não era da vontade de Deus (1 Sm 25.10-13, 21,22).

Com aquele comportamento agressivo e desequilibrado, Davi estava dando um péssimo exemplo para seus homens e seus filhos. Nem parecia o Davi que agiu com temor de Deus e amor por Saul quando teve a oportunidade de eliminar Saul com um só golpe, numa caverna, no deserto de En-Gedi.

Para mostrar que ele tivera tal chance, ele apenas cortou um pedaço do manto do seu feroz perseguidor e não o matou, em respeito à unção de Deus sobre Saul (1 Sm 24.1-6). Ele não agiu assim apenas uma vez. Depois dos acontecimentos envolvendo Nabal e Abigail, Davi poupou a vida de Saul outra vez, em respeito à unção (1 Sm 26.7-11).

Esse era seu caráter de homem segundo o coração de Deus. Como, então, ele agiu assim diante de um homem insensato, que talvez não tivesse a seu serviço homens armados, mas tão somente pastores de ovelhas? isso mostra que, se a natureza humana não for controlada pelo Espírito Santo, poderá mudar num momento, de santo para ímpio, de manso para violento, de ovelha para leão feroz, disposto a destruir e a matar o que encontrar pela frente.

Por isso, Paulo doutrinou com muita propriedade aos crentes da Galácia: “[...] Andai em Espírito e não cumprireis a concupiscência da carne” (Gi 5.16). As vezes, mesmo homens de Deus esquecem sua condição espiritual e agem de forma intempestiva e irracional. Moisés era o homem mais manso da terra, mas, num acesso de ira, quebrou as tábuas que Deus fez (Nm 12.3; Ex 32.19).

Não é de admirar que Davi, o homem segundo o coração de Deus (1 Sm 2.35), também perdesse o equilíbrio emocional numa ocasião crítica. E foi nesse cenário conturbado e ameaçador que apareceu a figura de Abigail, que, com sua atitude sábia, diligente e moderadora, evitou uma tragédia e mudou a história de Davi e de seus homens. Diante desses exemplos, devemos vigiar nosso temperamento no seu lado defeituoso, carnal, para não darmos lugar à ira a ponto de perdermos o equilíbrio e a sanidade. Há poucos dias, vimos, na Internet, o caso de um pastor nos Estados Unidos que matou outro pastor, jubilado, por uma discussão de natureza teológica!

II - ABIGAI DEMONSTRA O SEU CARÁTER

1. Uma Mulher Prudente

O nome Abigail significa “pai da alegria” ou “exultação”.’ Seu nome também corresponde ao seu caráter pacificador e humilde. Ela era uma mulher dotada de beleza física e entendimento (1 Sm 25.3). Um servo de Nabal comunicou à sua senhora o mal que iria cair sobre sua casa por causa da loucura de Nabal em ter sido afrontoso com Davi;

E também disse para ela o quanto ele e seus companheiros, pastores de Nabal, tinham sido tão bem acolhidos por Davi e por seus homens enquanto ficaram no deserto, apascentando as ovelhas do patrão. E advertiu sobre o que iria fazer, pois a decisão de Davi como vingança era exterminar tudo o que pertencesse a Nabal (1 Sm 25.14-17).

E foi diante de tamanho perigo que Abigail teve oportunidade de demonstrar quem era ela. Normalmente, é nas horas difíceis e nos momentos críticos e adversos que as pessoas demonstram claramente sua índole, formação e caráter. Abigail deu uma lição que é importante para todos os que servem a Deus: saber agir nos momentos de crises e ameaças.

2. O Caráter Diligente e Sábio

Ao saber do mal que estava arquitetado contra seu esposo e sua casa, Abigail não se demorou. Com diligência e sabedoria, ela apressou-se em agir. Abigail não foi apenas orar a Deus. Cremos que ela fez isso, sim, mas também agiu de forma rápida e eficiente. Ela preparou uma carga de cereais, frutas e vinho, colocou-os sobre alguns jumentos e mandou que os criados seguissem adiante enquanto ela ia atrás. Entretanto, ela fez tudo isso sem comunicar nada ao seu marido insensato. Caso fizesse, todo o plano para evitar o mal teria resultado num fracasso e numa tragédia maior do que estava projetada. Ela colocou sua vida em risco, mas foi usada por Deus para evitar um grande desatino por parte de Davi. Em sentido contrário, em direção à sua casa, lá vinha Davi com seus 400 homens, respirando raiva e sentimento de vingança.

Ao encontrar os servos de Nabal, Davi desabafou, dizendo: “[...] Na verdade, em vão tenho guardado tudo quanto este tem no deserto, e nada lhe faltou de tudo quanto tem, e ele me pagou mal por bem. Assim faça Deus aos inimigos de Davi e outro tanto, se eu deixar até à manhã, de tudo o que tem, mesmo até um menino” (1 Sm 25.21-22).

Naquela hora tão desagradável, lá estava o homem escolhido por Deus, ungido por Samuel, deixando-se dominar pela natureza carnal, respirando vingança e desejo de fazer justiça com as próprias mãos. Que diferença tão grande entre o que acontecia no Antigo Testamento e o que Jesus ensinou em seu evangelho, mandando amar os próprios inimigos, bendizendo-os e orando por eles (Mt 5.44). Naquele contexto histórico e cultural, Deus permitia a vingança (Ex 21.24; Sl 57.6; 94;109;).

3. O Caráter Conciliador de Abigail

Davi cavalgava com a fúria dos homens de coração ferido. Sua mente fervia sentimentos de vingança. Ele não via o momento em que ordenaria a seus homens que levantassem as espadas e lanças e começassem a destruir tudo o que pertencia a Nabal e, por fim, destruíssem sua própria vida. No entanto, em sentido contrário, vinha Abigail montada em seu jumento. Em seu coração, ela levava sentimento de humildade, de amor e de perdão. Ao ver Davi, ela desceu de seu animal e prostrou-se com o rosto em terra diante daquele que intentava destruir sua família.

Seu gesto, em vez de significar subserviência ou medo, demonstrou coragem, humildade e determinação: “E lançou-se a seus pés e disse: Ah! Senhor meu, minha seja a transgressão; deixa, pois, falar a tua serva aos teus ouvidos e ouve as palavras da tua serva” (1 Sm 25.24).

Grande parte do capítulo em análise registra as palavras de Abigail visando dissuadir Davi de levar adiante o seu intento de violência e morte. Além de avocar para si a culpa de Nabal, Abigail diz a Davi que ele não leve em conta o que o seu esposo fez, porque o seu nome indicava sua loucura. E fez Davi ver que Deus livrara-o de vir com sangue e fazer justiça com as próprias mãos, e mostrou “a benção” que levara para Davi e seus homens, pedindo perdão a Davi como se ela fosse a causadora do tão grande transtorno, e ainda reconheceu que Davi guerreava as guerras do Senhor e que não era culpado de nenhum mal.

Ela ainda anteviu a vitória de Davi sobre seus inimigos e disse que ele seria feito por Deus “chefe sobre Israel” e que, quando assim sucedesse, Davi não se esquecesse dela (1 Sm 25.25-31). Foi uma atitude de muito significado e efeito sobre o coração de Davi. Ele nunca imaginara que sua sede de vingança e sua fúria unidas ao seu desafeto pudessem ser anulados pela sabedoria e pela força do sentimento de uma mulher de caráter pacificador.

III - O RESULTADO DO CARÁTER DE ABIGAL

1. Davi Foi Aplacado por Abigail

Uma tragédia estava planejada no coração de Davi. Com os pensamentos de vingança, ele planejara, de forma carnal e precipitada, em eliminar Nabal e toda a sua casa, “mesmo até um menino”! Mas, ao encontrar-se com Abigail, foi vencido pela palavra sábia e prudente de uma verdadeira mulher de Deus, que tinha tudo para ser rainha, e não esposa de um louco desvairado. Cumpriu-se o que diz Salomão: “A resposta branda desvia o furor, mas a palavra dura suscita a ira” (Pv 15.1).

A atitude humilde e conciliadora de Abigail foi uma resposta à atitude agressiva de Davi. Certamente, ele aprendeu uma grande lição para a sua vida. Ele era corajoso e provou isso quando enfrentou Golias. Faltava-lhe, porém, a lapidação de seu caráter para enfrentar situações adversas e oposições. Na verdade, Nabal não era seu inimigo. Era apenas um homem insensato, usando a lógica de quem possui seus bens e não quer repartir com quem não conhece.

Em primeiro plano, em nossa mente, vemos Abigail ensinando a Davi como um homem de Deus deve comportar-se. Na verdade, porém, devemos ver Deus ensinando a Davi através de Abigail. Assim como Moisés só aprendeu no deserto as lições mais preciosas para a sua vida, Davi também precisou ir para o deserto de Parã antes de ir para o palácio (1 Sm 25.1).

 

Se não fosse a atitude pacificadora de Abigail, não somente seu esposo insensato e sua família seriam destruídos pela fúria de Davi, mas este próprio teria em sua história uma página suja de sangue e de insensatez; ele teria feito uma loucura e tornado-se tão louco quanto Nabal. Matar um tolo por causa de seu egoísmo e insensatez não era uma atitude própria para um homem que já fora ungido por Deus para ser rei, e matar sua esposa e sua família seria muito mais ignominioso. Deus já havia dito que familiares não deveriam ser mortos por causa dos seus pais (Dt 24.16).

Abigail foi abençoada e aprovada por Deus como uma mulher de paz. Jesus disse: “bem-aventurados os pacificadores, porque eles serão chamados filhos de Deus” (Mt 5.9). “As suas palavras foram como um bálsamo de cura para o espírito raivoso e o orgulho ferido de Davi. Ele estava a um passo de macular o seu futuro reinado com uma mancha que, talvez, nunca superasse. E teria vivido com esse borrão em seu relato real para o resto de sua vida”.

2. Nabal Foi Ferido por Deus

Por causa da atitude prudente de Abigail, Nabal não sabia o que tinha acontecido no dia anterior da ameaça que pairava sobre ele e sua casa, nem do encontro com Davi. Ela deixou para contar-lhe os fatos em torno de suas atitudes no momento certo. Se ela tivesse falado com Nabal enquanto ele estava embriagado, sem a menor dúvida poderia ter sido agredida por ele, diante dos seus servos, ou então Nabal poderia ter preparado jumentos e ido contra Davi, com seus homens, o que causaria grande confusão e contenda que resultaria numa luta ou até numa carnificina.

Abigail só contou o risco que ele correra por causa de sua insensatez no dia seguinte, quando já estava mais calmo após o efeito da bebida alcoólica em sua cabeça. Ao relatar os acontecimentos, se amorteceu nele o seu coração, e ficou ele como pedra” (1 Sm 25.37).

Deus tem seus caminhos e suas maneiras de agir no seu tempo. Desde que Nabal sofreu o impacto das más notícias acerca do que poderia ter-lhe acontecido pela sua insensatez, a Bíblia diz de forma bem simples e direta: “E aconteceu que, passados quase dez dias, feriu o SENHOR a Nabal, e este morreu” (1 Sm 25.38). Não se sabe de que mal ele morreu. Pode ter sido um ataque cardíaco fulminante, um acidente vascular cerebral ou outro sério problema de saúde. Dez dias depois, foi feito o sepultamento do homem duro, intolerante e maligno, o “tal filho de Belial” (1 Sm 25.17). Se Davi tivesse feito justiça com suas próprias mãos, as coisas teriam tomado um rumo imprevisível e perigoso. Mas, como a sábia mulher agiu com presteza e eficiência, ele foi poupado de manchar suas mãos e sua história com o sangue de Nabal. A sentença contra ele já estava expressa por Deus: “Minha é a vingança e a recompensa, ao tempo em que resvalar o seu pé; porque o dia da sua ruína está próximo, e as coisas que lhes hão de suceder se apressam a chegar” (Dt 32.3 5).

 

3. Davi Casa-se com Abigail

Em seu encontro com Davi, depois de sua intercessão conciliadora, Abigail pediu-lhe que se lembrasse dela, quando o Senhor o fizesse “chefe sobre Israel”, ou seja, quando assumisse o reinado (1 Sm 25.30,3 1). Contudo, logo após a morte de Nabal, Davi agradeceu a Deus por ter-lhe livrado de cometer um grave erro diante do Senhor: “E mandou Davi falar a Abigail, para tomá-la por sua mulher” (v. 39). E ele assim fez, mandando seus criados falar com Abigail, transmitindo o honroso convite: “Davi nos tem mandado a ti, para te tomar por sua mulher” (v. 40).

Ao ouvir as palavras dos emissários de Davi, Abigail “[...] se levantou, e se inclinou com o rosto em terra, e disse: Eis aqui a tua serva servirá de criada para lavar os pés dos criados de meu senhor” (v. 41). Nessa declaração, podemos mais uma vez observar o quanto Abigail era humilde. Ela poderia ter dito que lavaria os pés de Davi, de seu senhor, mas colocou-se na disposição de ser serva dos criados do rei, lavando os seus pés.

Ela apressou-se, certamente mudou suas vestes, “montou num jumento com as suas cinco moças que seguiam as suas pisadas; e ela seguiu os mensageiros de Davi e foi sua mulher” (v. 42). Poderíamos dizer: e viveram felizes para sempre. Mesmo havendo outras esposas de Davi, cremos que Abigail foi muito amada por ele por ter sido usada por Deus como conselheira eficaz. Tempos depois, quando moravam em Ziclague, os amalequitas, durante a ausência de Davi, tomaram a cidade e levaram cativos todos os moradores, incluindo Abigail e Ainoã. Foi grande a angústia de Davi e de seus homens, mas ele orou a Deus, e o Senhor deu-lhe tão grande vitória que ele recuperou suas esposas e livrou todos os habitantes daquela cidade (1 Sm 30.1-2 1)

CONCLUSÃO

A Bíblia diz que “Deus escolheu as coisas vis deste mundo, e as desprezíveis, e as que não são para aniquilar as que são” (1 Co 1.28). Nabal era um homem insensato, dotado de um temperamento duro e violento, mas Deus permitiu que Davi precisasse dele, para que uma mulher sábia e prudente protagonizasse um exemplo marcante para seus servos e suas servas em todo o mundo ao longo dos séculos. Viúva de um homem irascível, que era bem-sucedido em suas atividades produtivas, mas um tolo e insensato no relacionamento humano, Abigail jamais imaginou ser esposa do rei Davi, o mais afamado monarca de Israel. Vivendo próximo ao deserto de Parã, ela nunca seria parte da história de Davi se não fosse a mão de Deus movendo as circunstâncias e os tempos para realizar seus planos. O Deus de Davi é o nosso Deus, o qual provê tudo para os que nEle confiam.

 

 

 

Evangelista Isaias Silva de Jesus

 

Igreja Evangélica Assembléia de Deus Ministério Belém Setor I - Em Dourados – MS

 

Livro O Caráter do Cristão –Elinaldo Renovato de Lima –CPAD 1º. Edição 2017

 

 

 

9 de maio de 2017

Rute, Uma Mulher Digna de Confiança


Rute, Uma Mulher Digna de Confiança

 

Texto Áureo - “[...] porque, aonde quer que tu fares, irei eu e, onde quer que pousares à noite, ali pousarei eu; o teu povo é o meu povo, o teu Deus é o meu Deus." (Rt 1.16)

 

Verdade Prática = Deus usou Rute, quebrando todos os paradigmas raciais, para torná-la parte da linhagem do Messias.

 

INTRODUÇÃO

 

O livro de Rute é considerado umas das mais belas peças literárias do Antigo Testamento. Nele, está registrada a genealogia do rei Davi, que se tornou, por desígnio de Deus, o ancestral mais importante da genealogia de Jesus Cristo, o Messias e Salvador do Mundo.

 

A história de Rute desenrola-se “nos dias em que os juízes julgavam” (Rt 1.1). Por permissão de Deus, houve uma grande fome em Israel, provavelmente por castigo pela desobediência do povo. Uma família de Belém de Judá, cujo líder era Elimeleque, teve de deixar sua terra para ir em busca de sobrevivência na região de Moabe.

 

Acompanhado de Noemi, sua esposa, e de seus dois filhos, Malom e Quiliom, Elimeleque estabeleceu-se “nos campos de Moabe” (Rt 1.1). Ali, morreu o pai daquela família e, mais tarde, os seus dois filhos casaram-se com mulheres daquela terra — Malom casou-se com Rute, e Quiliom casou-se com Orfa’. Ambos também morreram, completando o ciclo da morte na família. E Noemi e suas duas noras ficaram viúvas e desamparadas. No tempo estabelecido por Deus, Noemi volta para Belém — após a bênção de Deus ter vindo sobre aquela terra — acompanhada apenas de sua nora Rute, visto que a outra moça preferiu retornar à casa de seus pais.

 

I- RUTE: UM RESUMO DE SUA ORIGEM

 

1. Uma Estrangeira

 

Neste estudo, refletiremos sobre o caráter de uma mulher que se destacou de forma marcante e muito significativa na história de Israel. Não foi por acaso que sua história mereceu ser organizada num livro, que foi aceito como parte integrante do cânon do Antigo Testamento. Sua identidade mostra-nos que ela era moabita, oriunda da terra de Moabe. Essa condição, por motivos históricos e raciais, não lhe favorecia em termos de relacionamento com o povo de Israel.

 

O nome Moabe aparece em Gn 19.30-38, como o filho de Ló, numa relação incestuosa com sua filha mais velha, que se tornou “pai dos moabitas”. Assim como Israel, Moabe era um povo semita, e Rute pertencia a esse povo.

Certamente, sua genealogia era vista de forma negativa pelos israelitas, mas um episódio que tornou os moabitas adversários de Israel ocorreu quando o povo hebreu deslocava-se em direção a Canaã. Por razões geográficas, o povo de Israel precisava passar pelo território do deserto de Moabe sob a liderança de Moisés. Os moabitas, porém, não permitiram, mas o Senhor Deus disse a Moisés para não molestar a Moabe nem contender com eles em peleja (Dt 2.9).

 

Por esse motivo bastante negativo, foi escrito um preceito legal, pelo qual, nem moabitas nem amonitas poderiam fazer parte da “congregação do SENHOR” ou do povo de Israel, “nem ainda a sua décima geração”.

 

A animosidade entre os dois povos foi agravada por outro episódio bíblico. Os moabitas alugaram o profeta Balaão para amaldiçoar Israel, mas eles não conseguiram esse intento maligno porque Deus transformou a maldição em bênção (Dt 23.4-6; Ne 13.2). Essa é a origem étnica de Rute.

 

2. Como Rute Vinculou-se a uma Família Israelita

 

Como já foi dito, Deus não escreve certo por linhas tortas, como diz um ditado popular. Ele escreve perfeita e divinamente certo por suas próprias linhas. Em sua soberania, Ele cria ou muda circunstâncias. De modo singular, fora da lógica histórica, geográfica ou cultural, Rute entrou na história do povo de Israel, não por coincidência, como se poderia supor, mas, sim, por providência de Deus, e Ele usou fatos estranhos para que isso fosse possível. O Senhor age como quer. As vezes, Ele age aparentemente contrariando seus próprios critérios, mas só de modo aparente. Diz o salmista: “Mas o nosso Deus está nos céus e faz tudo o que lhe apraz” (Sl 115.3).

 

Uma família judaica teve que sair de Belém para escapar da seca que assolava a região. Eram eles: Elimeleque, o líder; Noemi2’, sua esposa; e Malom e Quiliom, os dois filhos do casal. Eles emigraram para a terra de Moabe, pois lá a estiagem não tinha chegado e havia alimento. Ali, viveram durante quase dez anos (1.4). Não padeceram fome, mas sofreram as agruras de uma vida atribulada. Maus dias alcançaram aquela família. Lá, o patriarca Elimeleque faleceu. Os dois filhos adaptaram-se àquele lugar e sua gente. Uma seca e três óbitos mudaram as histórias dessas pessoas.

 

3. Em Direção à Terra de Judá

 

A mão de Deus move-se de um lado para outro conforme a sua santa e soberana vontade. O Senhor permitiu uma grande seca em Belém e levou a família de Noemi para os “campos de Moabe”, onde havia alimento (Rt 1.1). Dez anos depois, Ele concedeu a bênção da fartura de pão em Israel (Rt 1.6). E a viúva de Elimeleque convidou suas duas noras, também viúvas, para irem a Belém’, onde havia alimento. A princípio, as duas noras começaram a jornada em direção a Belém de Judá.

 

Mas Noemi, sem dúvida, pensando no futuro e no bem-estar delas, deteve-se e sugeriu às duas que retornassem à casa de suas respectivas mães, desejando de coração que o Senhor usasse de benevolência com elas, assim como usaram com Noemi e com os falecidos esposos (Rt 1.8). E ela deu essa sugestão com muita sinceridade e desprendimento, acrescentando: “O Senhor vos dê que acheis descanso cada uma em casa de seu marido. E, beijando-as ela, levantaram a sua voz, e choraram” (Rt 1.9). Nessa atitude, vemos um traço valioso do caráter de Noemi: ela preferiria viver a solidão em sua terra do que ver suas noras sofrerem ao seu lado. Ela imaginava que, em Israel, elas talvez não seriam bem aceitas, tornando-se quase impossível conseguir outro casamento.

 

Era a visão humana, lógica, amorosa e sincera. Mas os planos de Deus eram outros em relação a Rute. Os planos de Deus estão muito acima e além do que podemos imaginar (cf. Is 55.8). A Bíblia diz que nós, cristãos, não devemos buscar só o nosso proveito, mas também o de outros (1Co 10.24,33). E nosso dever cultivar o altruísmo em lugar do egoísmo. Noemi semeou amor, plantou altruísmo. E, mais tarde, colheu os resultados (GI 6.7).

 

II - O CUIDADO DE NOEMI E O CARÁTER DE RUTE

 

1. O Caráter Amoroso de Rute

 

1) Um caráter amoroso e confiante. Em sua decisão de prosseguir na companhia de sua sogra no seu retorno a Belém, Rute demonstrou que tinha verdadeiro amor por Noemi, além de plena confiança em sua pessoa. No tempo em que viveu com Malom, o falecido esposo, Rute viu em Noemi um exemplo de vida, não apenas como sogra, mãe e esposa, mas também como serva de Deus. Enquanto sua cunhada beijou a sogra e retornou à sua família, Rute beijou-a, chorou, mas em seu coração confiante e grato, tomou a resolução de ficar ao lado da sogra: “Disse, porém, Rute: Não me instes para que te deixe e me afaste de ti; porque, aonde quer que tu fores, irei eu e, onde quer que pousares à noite, ali pousarei eu [...]“ (Rt 1.16a).

 

Essa foi uma declaração notável de amizade que se fundava no amor, na confiança e no respeito. De um lado, vemos uma sogra, mulher de Deus que, em meio à amargura e o sofrimento, tinha zelo e cuidado por sua nora, viúva como ela. De outro lado, vemos o cuidado, o zelo e o amor de Rute por Noemi, pensando em sua situação de mulher viúva, desamparada, que voltava para sua terra sozinha. Como uma verdadeira serva de Deus, Rute demonstrou ter um caráter agradecido e generoso. Ela tomou a decisão consciente dos possíveis dissabores que poderia enfrentar ao lado de Noemi. Ela estaria a seu lado, em qualquer lugar e em qualquer circunstância.

 

2) Um caráter fortalecido na fé em Deus. Por sua origem, Rute era de uma família que adorava outros deuses quando se casou com Malom. Porém, ao conviver com Noemi, recebeu dela a mensagem do Deus de Israel. Com toda a certeza, ela foi convertida à Lei do Senhor. Em sua declaração de amor a Noemi, ela disse com toda a convicção: “[...] o teu povo é o meu povo, o teu Deus é o meu Deus” (Rt 1.16b). Essa decisão mostra a sua fé em Deus. Rute não tinha a menor ideia do que poderia acontecer com ela em sua caminhada em direção a Belém, nem o que ocorreria quando ela ali estivesse vivendo com a sogra. Se pensasse com base na lógica e nas circunstâncias, ela teria motivos para voltar atrás e seguir o exemplo da cunhada, mas Rute deu exemplo do que é ter fé, como diz a Bíblia: “Ora, a fé é o firme fundamento das coisas que se esperam e a prova das coisas que se não vêem” (Hb 11.1). Rute ficou ao lado de Noemi, como vendo o invisível, sob a mão de Deus.

 

3) Um caráter decidido e firme. Suas atitudes demonstravam não ser apenas uma expressão de um impulso emocional muito comum em meio a situações críticas. Além de demonstrar que tinha fé em Deus e também confiança em Noemi, Rute expressou sua inabalável convicção de que valeria a pena enfrentar as circunstâncias quaisquer que fossem elas, mesmo tudo parecendo incerto e nebuloso. Por isso, ela completou diante da sua sogra, amiga e irmã de fé sua decisão consciente:

 

“Onde quer que morreres, morrerei eu e ali serei sepultada; me faça assim o SENHOR e outro tanto, se outra coisa que não seja a morte me separar de ti. Vendo ela, pois, que de todo estava resolvida para ir com ela, deixou de lhe falar nisso”  (Rt 1.17,18).

 

Rute não era apenas nora e amiga, mas também companheira de Noemi, na jornada da vida que Deus reservara às duas. Uma lição de grande valor para os dias atuais, quando muitos que se dizem cristãos desistem de seguir a Cristo por causa dos desafios, das lutas e das provações, desprezando amizades, companheirismo e amor por causa da visão humana, imediatista e desprovida da verdadeira fé em Deus. Vivemos numa época tão perigosa em que até casamentos são desfeitos em pouco tempo por motivos muitas vezes banais e incoerentes. O exemplo de Rute e Noemi deveriam ser considerados por todos os cristãos.

 

III - COMO RUTE ENTROU NA GENEALOGA DE JESUS

 

1. Rute Chega a Belém

 

Saindo das terras de Moabe, Rute chegou a Belém em companhia de Noemi. Ali, ela pôde ver como as pessoas receberam a sogra com admiração e espanto, por ver que ela voltara em condição bem diferente da que safra: viúva, sem filhos e em companhia de uma estrangeira. Diz o texto: “Assim, pois, foram-se ambas, até que chegaram a Belém; e sucedeu que, entrando elas em Belém, toda a cidade se comoveu por causa delas, e diziam: Não é esta Noemi?” (Rt 1.19). Foi tão duro para Noemi ouvir as indagações de seus patrícios que ela respondeu de forma triste e amargurada:

 

“Não me chameis Noemi; chamai-me Mara, porque grande amargura me tem dado o Todo-poderoso. Cheia parti, porém vazia O SENHOR me fez tornar; por que, pois, me chamareis Noemi? Pois O SENHOR testifica contra mim, e o Todo-poderoso me tem afligido tanto” (vv 20,21). O nome Noemi significa “agradável”, enquanto Mara significa “amargurada”. Tal era o sentimento que enchia o coração de Noemi.

Elas chegaram em Belém “no princípio da sega das cevadas” (v. 22). Deus permitiu uma estiagem para motivar Elimeleque e Noemi a deixarem sua terra e migrarem para os campos de Moabe. O Senhor também usou a tristeza da morte de Elimeleque e seus dois filhos como motivação negativa para Noemi voltar a sua terra; e também a benção da fartura em Belém como motivação positiva para que ela fosse para a terra de Israel em busca de dias melhores.

 

2. Rute Chama a Atenção de Boaz

 

Rute era uma mulher trabalhadora. Ela não comia “o pão da preguiça” (Pv 3 1.27). Ao chegar a Belém, após se acomodarem, Rute não esperou Noemi sugerir algum trabalho para a sua manutenção. Ela mesma tomou a iniciativa: “E Rute, a moabita disse a Noemi: Deixa-me ir ao campo, e apanharei espiga atrás daquele em cujos olhos eu achar graça. E ela lhe disse: Vai minha filha” (Rt 2.2). Em Israel, era comum as mulheres, especialmente as mais jovens, trabalharem na colheita, como indica o texto (v. 8). Era um tempo de festa; tempo em que as plantações produziam conforme o esperado, um sinal da benção de Deus (Is 9.3).

 

1) A providência de Deus. Em vários campos, nas propriedades agrícolas, havia muitas pessoas trabalhando na colheita da cevada. Mas, por providência de Deus, Rute dirigiu-se ao campo “certo”. Diz o relato do livro de Rute: “Foi, pois, e chegou, e apanhava espiga no campo após os segadores; e caiu-lhe em sorte uma parte do campo de Boaz, que era da geração de Elimeleque” (Rt 2.3). Isso mostra que, quando uma pessoa procura andar na vontade de Deus, Ele dirige seus passos até em detalhes mínimos. Pouco tempo depois, Boaz, o proprietário daquele campo, chegou, saudou a todos os trabalhadores e teve a atenção chamada para Rute, que estava colhendo espigas. Havia outras moças, mas sua atenção voltou-se para a moabita: “Depois, disse Boaz a seu moço que estava posto sobre os segadores: De quem é esta moça?” (Rt 2.5).

 

Se Rute chegou no campo “certo”, Boaz chegou na hora “certa” e perguntou quem era aquela moça, uma jovem senhora que, apesar do sofrimento da viuvez, era bela e agradável aos olhos. Certamente, a “beleza interior” sobressaía ante a aparência física, mas o que chamou a atenção de Boaz foi a beleza de Rute. Ao perguntar quem era ela, o supervisor do campo de Boaz respondeu: “Esta é a moça moabita que voltou com Noemi dos campos de Moabe. Disse-me ela: deixa-me colher espigas, e ajuntá-las entre as gavelas após os segadores. Assim, ela veio e, desde pela manhã, está aqui até agora, a não ser um pouco que esteve sentada em casa” (1.7).

 

2) Fatos significativos no encontro de Boaz com Rute. Até o desfecho desta história de amor que estava sob a benção e a providência de Deus, diversos acontecimentos foram desenrolados numa sucessão de cenas dignas de uma produção literária, teatral ou até cinematográfica do melhor nível, como, de fato, já existe no mercado das artes baseadas na Bíblia. Boaz dirige-se a Rute, para a surpresa dela, e diz a ela que não vá a outro campo, mas que fique ali juntamente com as suas moças.

 

Rute, cheia de admiração, inclinou-se a terra e perguntou: “Por que achei graça em teus olhos, para que faças caso de mim, sendo eu uma estrangeira?” (Rt 2.10). Então, Boaz respondeu que ele soubera o quanto Rute fora generosa com Noemi, sua sogra, depois da morte do seu esposo; e de como ela deixara a casa de seu pai e a terra onde nascera e viera abrigar-se com um povo que não conhecia. E fez uma declaração profética: “O SENHOR galardoe o teu feito, e seja cumprido o teu galardão do SENHOR, Deus de Israel, sob cujas asas te vieste abrigar”.

 

Diante de tão grande declaração, Rute respondeu: “Ache eu graça em teus olhos, senhor meu, pois me consolaste e falaste ao coração da tua serva, não sendo eu nem ainda como uma das tuas criadas” (v. 13). Se Boaz já estava admirado pela beleza de Rute diante de tal demonstração de humildade e gratidão, agora, sem dúvida, o homem passou a sentir mais simpatia e amor por ela.

 

3) Noemi orienta Rute acerca de Boaz. Aquela altura, Boaz já sentia por Rute a atração de um homem por uma mulher digna de ser amada por ele, sendo grandemente generoso a respeito dela. Ao voltar para casa, Rute contou a Noemi o que havia acontecido e disse o nome do homem que a tratou com total desvelo e atenção. Ao saber que era Boaz, Noemi bendisse a Deus e fez saber a Rute que Boaz era um “parente chegado” e um dos “remidores” da sua família. Era Deus mostrando que, apesar de todas as circunstâncias, Ele está no controle das situações e que seus propósitos insondáveis hão de ser estabelecidos. Noemi aconselhou Rute a não procurar outros campos: “Assim, ajuntou-se com as moças de Boaz, para colher, até que a sega das cevadas e dos trigos se acabou; e ficou com a sua sogra” (Rt 2.19-23).

 

Sendo uma mulher experiente, Noemi percebeu que os sentimentos de Boaz por Rute não eram apenas de alguém que admirava sua amizade e consideração pela sogra, mas, sim, de um homem que tinha intenções mais profundas. Então, ela agiu como uma sogra hábil, esperta e bem informada, e disse para Rute que Boaz estaria naquela mesma noite na eira, a fim de padejar a cevada. E ela deu instruções a Rute para se preparar para ir ao encontro do “remidor” de forma agradável e atraente, bem vestida e perfumada (cuidados que certas mulheres cristãs esquecem ao fado dos esposos).

 

E, ao perceber Boaz dormindo, Rute deveria deitar-sé aos seus pés e aguardar os acontecimentos. E assim ela fez. Ela percebeu as intenções da sogra. Quando Boaz já estava dominado pelo sono e dormindo, Rute chegou de mansinho e deitou-se aos seus pés.

Certamente, ela correu um grande risco de ser possuída pelo homem que tanto a admirava, mas Deus age em meio às atitudes sinceras de quem nEle confia, dando o livramento necessário. Ao despertar à meia-noite, Boaz percebeu a presença da moça aos seus pés e estremeceu, perguntando quem era ela, pois não havia luz no ambiente.

 

Rute declarou-se, pedindo que ele estendesse a aba de sua túnica sobre ela, pois ele era o remidor. Boaz, profundamente admirado pela atitude de Rute, disse que ele era “o remidor”, mas que havia outro que tinha prioridade na remissão da família; Boaz, então, promete procurá-lo. Se ele redimisse a família, assim seria feito. Se não redimisse, ela deveria aguardar, pois ele — Boaz — faria a remissão. Com profundo respeito, ele permaneceu ao lado dela, mas não tiveram relações sexuais. Ao retornar para Noemi, Rute contou como foi a experiência daquela noite, e Noemi entendeu que tudo estava ocorrendo como ela orientara, como se fosse uma hábil escritora de um romance. E disse: “Sossega, minha filha, até que saibas como irá o caso, porque aquele homem não descansará até que conclua hoje este negócio” (Rt 3.18).

 

Além de o amor de Deus estar presente na história de Rute, havia também o amor humano ardendo no coração de Boaz, que sonhava em casar-se com a linda jovem moabita. Deus permite que coisas humanas — às vezes, fora do padrão normal — aconteçam para mostrar que Ele faz como quer, quando quer e com quem quer.

 

3. Rute Casa com Boaz

 

Boaz procedeu de acordo com a lei, convidando o remidor mais credenciado para remir as terras da família de Noemi e, ao mesmo tempo, casar com Rute “para suscitar o nome do falecido sobre a sua herdade” (Rt 4.5). O homem aceitava redimir as terras, mas não teve interesse em redimir Rute e casar-se com ela. Tudo estava dentro do plano de Deus. Boaz, então, perante os anciãos da cidade, declarou que eles eram testemunhas de que tomara tudo quanto pertencera a Elimeleque e a seus filhos, da mão de Noemi. E, mais que isso, disse ele: “[...] também tomo por mulher a Rute, a moabita, que foi mulher de Malom, para suscitar o nome do falecido sobre a sua herdade, para que o nome do falecido não seja desarraigado dentre seus irmãos e da porta do seu lugar: disto sois hoje testemunhas” (Rt 4.11).

 

1) Um casamento singular. Foi um casamento interessante e completamente fora dos padrões dos israelitas. Ao que tudo indica, o primeiro remidor não quis casar-se com Rute porque ela era moabita, estrangeira, viúva, pobre e excluída da comunhão do seu povo. O amor, porém, supera tudo, quando as pessoas envolvidas estão no centro da vontade de Deus. Boaz amava Rute de todo o coração e propôs-se a suscitar o nome do falecido mesmo sem ser seu irmão carnal, como era preceito legal em Israel (Dt 25.5).

 

Como todo casamento que se preza e é valorizado pelas famílias e pela sociedade, o matrimônio de Boaz e Rute teve dez testemunhas especialmente convidadas para confirmar o ato legal perante o seu povo (Rt 4.2).

Além dos dez anciãos tomados como testemunhas, parte do povo fez-se presente à cerimônia, tendo sido atraídos pelo inusitado acontecimento, que foi divulgado “pelas redes sociais” da época, em que um hebreu estava casando-se com uma moabita.

 

Quando Deus aprova um casamento, os noivos ficam felizes, as famílias aprovam, e os amigos também se alegram com a união dos noivos. No matrimônio de Rute e Boaz, houve uma manifestação de júbilo pelos que se reuniram à porta da cidade. Diz o texto: “E todo o povo que estava na porta e os anciãos disseram: Somos testemunhas; o SENHOR faça a esta mulher, que entra na tua casa, como a Raquel e como a Léia, que ambas edificaram a casa de Israel; e há-te já valorosamente em Efrata e faze-te nome afamado em Belém. E seja a tua casa como a casa de Perez (que Tamar teve de Judá), da semente que o SENHOR te der desta moça” (vv. 11,12).

 

2) Rute e Boaz — Como Cristo veio para nossa salvação. A história de Rute e seu casamento com Boaz é prova inequívoca de que Deus trabalha com seus parâmetros divinos, que transcendem toda lógica e compreensão humana. A inclusão de uma estrangeira, moabita, na genealogia de Jesus Cristo demonstra que Deus não é Deus apenas de Israel, mas também é “Senhor do céu e da terra” (Mt 11.25; At 17.24). E Jesus Cristo é salvador “do seu povo” e também do mundo, da humanidade, como indica o seu nome, dado pelo anjo que anunciou isso a José, quando este pensava em fugir ante o tremendo impacto da gravidez de sua noiva: “E, projetando ele isso, eis que, em sonho, lhe apareceu um anjo do Senhor, dizendo.

 

José, filho de Davi, não temas receber a Maria, tua mulher, porque o que nela está gerado é do Espírito Santo. E ela dará à luz um filho, e lhe porás o nome de JESUS, porque ele salvará o seu povo dos seus pecados” (Mt 1.20,21); isso é afirmado na mensagem do próprio Cristo em seu sermão a Nicodemos: “Porque Deus amou o mundo de tal maneira que deu o seu Filho unigênito, para que todo aquele que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna. Porque Deus enviou o seu Filho ao mundo não para que condenasse o mundo, mas para que o mundo fosse salvo por ele (Jo 3.16,17).

 

Em seus planos divinos, Deus projetou a salvação para todos os homens, sem barreiras de quaisquer naturezas. Na bênção a Abraão, Ele disse que nele seriam “benditas todas as famílias da terra” (Gn 12.3b). Jesus mandou seus seguidores pregarem o evangelho “por todo o mundo” a “toda criatura” (Mc 16.15). Ele jamais predestinou alguns para a salvação eterna e outros para a condenação inexorável ao abismo eterno. Ele é justo, misericordioso, compassivo e não faz acepção de pessoas (Dt 10.17; At 10.34; Tg 2.9).

Boaz, na condição de “remidor” e “parente mais chegado”, é figura de Cristo, que “se fez carne e habitou entre nós” (Jo 1.14). Ele tornou-se remidor não apenas de um povo, mas também veio para redimir toda a raça humana. Boaz pagou o preço das terras de Elimeleque e dos filhos falecidos para poder resgatar a família de Noemi. Cristo pagou o preço exigido pela santidade de Deus para resgate do homem.

O livro de Rute é muito mais que uma história de amor entre um homem e uma mulher estranha à sua família. O livro mostra também a linda história de amor entre Deus e o homem, que tudo fez para salvar o pecador.

 

CONCLUSÃO

 

A história de Rute, a jovem moabita, que se casou com um judeu e passou a fazer parte da ascendência de Jesus Cristo, o Salvador do mundo, demonstra, de forma clara, que Deus criou o homem, mesmo sabendo que ele iria cair na perspectiva de um plano de salvação para todas as pessoas, em todos os lugares, independentemente de sua nacionalidade, de sua cor ou condição social. Pela lógica humana, jamais uma mulher moabita faria parte da linhagem santa, da qual nasceu o Messias de Israel, o Salvador do mundo. O amor de Deus está além de toda a compreensão limitada do homem.

 

 

 

Evangelista Isaias Silva de Jesus

 

Igreja Evangélica Assembléia de Deus Ministério Belém Setor I - Em Dourados – MS

 

Livro O Caráter do Cristão –ElinaldoRenovato de Lima –CPAD 1º. Edição 2017