27 de agosto de 2022

A SUTILEZA DO MOVIMENTO DOS DESIGREJADOS

 

A SUTILEZA DO MOVIMENTO DOS DESIGREJADOS

 

3° Trimestre/2022

 

Texto Base: Hebreus 10:19-25

 

“Não deixando a nossa congregação, como é costume de alguns; antes, admoestando-nos uns aos outros; e tanto mais quanto vedes que se vai aproximando aquele Dia” (Hb.10:25).

Hebreus 10:

19.Tendo, pois, irmãos, ousadia para entrar no Santuário, pelo sangue de Jesus,

20.pelo novo e vivo caminho que ele nos consagrou, pelo véu, isto é, pela sua carne,

21.e tendo um grande sacerdote sobre a casa de Deus,

22.cheguemo-nos com verdadeiro coração, em inteira certeza de fé; tendo o coração purificado da má consciência e o corpo lavado com água limpa,

23.retenhamos firmes a confissão da nossa esperança, porque fiel é o que prometeu.

24.E consideremo-nos uns aos outros, para nos estimularmos ao amor e às boas obras,

25.não deixando a nossa congregação, como é costume de alguns; antes, admoestando-nos uns aos outros; e tanto mais quanto vedes que se vai aproximando aquele Dia.

INTRODUÇÃO

Nesta Aula trataremos do tema: “a sutileza do movimento dos desigrejados”. O que é isto? Desigrejados são aqueles que abandonam o convívio das Igrejas Locais, que decidem exercer sua religiosidade em modelos alternativos, ou simplesmente rejeitam qualquer estrutura congregacional tradicional, e buscam relações descentralizadas, realizando cultos em casa ou em espaços alternativos. Os arquitetos mais radicais desse movimento e seus seguidores afirmam que não possuir hierarquia religiosa, código doutrinário ou estrutura arquitetônica onde possam se reunir, é o modelo legítimo de igreja do Novo Testamento. Acreditam que agindo assim estão imitando os primeiros cristãos. Quem não seguir este modelo, dizem eles, é considerado apóstata ou desviado do modelo original existido no princípio da Igreja.

Este movimento tem crescido vertiginosamente, e tem abraçado como um ímã muitos que desejam se desvincular do formato tradicional de culto. Por que isso está ocorrendo? Acredita-se que, em geral, essas pessoas tomam tal decisão movidos por um sentimento de decepção com algo ou alguém, ou talvez estejam decepcionados com o modelo institucional tradicional, e o abandonam não por razões pessoais, mas ideológicas, ou talvez porque não querem se submeter a nenhuma liderança que impõe regras ou dogmas a seguir. São vários os motivos, que não encontram nenhum amparo na Bíblia.

Há uma previsão de que no Brasil existem 14% entre os declarados evangélicos que não têm vínculo institucional. Esse número representa, aproximadamente, cinco milhões de brasileiros. Os líderes de todas as denominações precisam se unirem no afã de buscarem cicatrizar esta sangria. É importante esclarecer que a reunião da Igreja Local, o Corpo visível de Cristo, é essencial ao crescimento espiritual e pessoal do crente. Por isso, não é possível amar a Cristo, e ignorar seu Corpo, a Igreja. A exortação bíblica é contundente: “Não deixemos de nos congregar, como é costume de alguns. Pelo contrário, façamos admoestações, ainda mais agora que vocês veem que o Dia se aproxima” (Hb.10:25).

I. VISÃO E PRÁTICA DO MOVIMENTO DOS DESIGREJADOS

1. Tipos de desigrejados

Segundo os teólogos que estudam este tema, dentro do quadro dos desigrejados, existem pelo menos três subgrupos:

- Primeiro, aquelas pessoas que abandonaram a igreja local e a fé. Esse grupo, abandona primeiramente as reuniões da igreja, torna-se desigrejado e depois se desvia da fé em Cristo.

- Segundo, aquelas pessoas que abandonaram a igreja local, mas mantém a fé. São os cristãos sem igreja; os decepcionados por terem vivido algum problema na comunidade. Eles tentam continuar a ser cristãos sem pertencer ou frequentar um templo. Neste grupo há pessoas que amam a Cristo, mas preferem viver longe dos pastores e dos irmãos. Esses não se consideram fora do corpo de Cristo. Querem servir a Jesus, só não aceitam a tutela institucional. Algumas das pessoas desse grupo são levadas a sério. Outras são criticadas, rotuladas ironicamente e discriminadas.

- Terceiro, são aqueles que não frequentam cultos e pregam o fracasso da igreja organizada. São os mais radicais. Defendem o cristianismo sem igreja. Afirmam que as pessoas devem sair da igreja local para encontrar Deus. Querem que as igrejas locais sejam extintas em todo o mundo. Que fechem suas portas. Eles pregam o fim da instituição.

Qual a diferença entre o segundo e terceiro grupo, ou seja, entre os decepcionados e os radicais? Apesar de existir pessoas que abandonaram a igreja local em ambos os grupos, a diferença principal entre eles é que o segundo grupo não faz militância pelo fim da organização, para que todos os templos fechem as portas. Eles estão ainda com as feridas abertas, mas não usam de ideias e palavras tão radicais como aqueles do terceiro grupo.

Geralmente as pessoas decepcionadas acabam migrando para projetos como reuniões nos lares ou células, por exemplo. Têm pessoas que não querem pertencer à membresia e que são usuários temporários dos serviços e eventos oferecidos pela igreja como os congressos e seminários. Existem os que usam a igreja como vida social. No segundo grupo, o que importa não é ajudar a igreja a crescer, mas usá-la para passar o tempo, fazer amigos, servir-se dela como se fosse uma instituição social secular apenas. Tudo sem o devido envolvimento de pertencimento.

E também há os cristãos sem igreja que são adeptos das ministrações pela televisão e pela internet. Fazem da rede o seu templo. São observadores, sem comunhão e sem compromisso.

2. Um ensino anti-institucional

O grupo mais radical dos desigrejados é contra a institucionalização da Igreja. Um dos maiores defensores deste ensino é o escritor Frank Viola. Em seu livro “Cristianismo Pagão” ele se apresenta contra toda organização e institucionalização da Igreja. Alega que na Igreja Primitiva não havia nenhuma instituição formal, e que a institucionalização da Igreja foi estabelecida por Constantino, o imperador romano, que assumiu as rédeas da Igreja e a converteu numa organização pagã, que passou a ter clero, um código doutrinário e um credo que passou regulamentá-la. Este tipo de pensamento vem dominando a mente de uma quantidade imensa de pessoas em todo o mundo, que cresce a cada ano. Eles são contra toda forma de estrutura arquitetônica como, por exemplo, templos, Casa de oração; na visão deles, a Igreja não necessita de estrutura formal alguma. Quando pelo menos duas pessoas “sem igreja” se encontram para orar ou ler a Bíblia, a igreja pode ser encontrada em qualquer local ou lugar - debaixo de uma árvore, numa praça, num hotel, numa lanchonete, num coffee break etc.

Porém, não há nenhum respaldo bíblico que ampare este tipo de movimento. Nota-se nos desigrejados um espírito dominante de rebeldia; demonstram uma insubmissão ao modelo bíblico tradicional talvez por estarem decepcionadas com as instituições eclesiásticas formais, e pelos muitos escândalos decorridos no curso da história, principalmente nestas últimas décadas.

É evidente que a Igreja pode tranquilamente existir fora de uma estrutura arquitetônica, o próprio Jesus afirmou isso quando dialogava com a mulher samaritana (João 4:21-24). De Moisés até Jesus, o judaísmo estava centrado em três elementos: Templo, o sacerdócio e o sacrifício. Quando Jesus veio, acabou com os três, completando-os em Si mesmo - Ele é o Templo que incorpora uma nova casa feita de pedras vivas; Ele é o Sacerdote que estabeleceu um novo sacerdócio; e Ele é o Sacrifício perfeito e consumando. Consequentemente, o Templo, o sacerdócio profissional, e o sacrifício do Judaísmo morreram com a vinda de Jesus Cristo. Ele é o cumprimento e a realização de tudo isto. Somos cônscios disso. Porém, isto não justifica não existir templos ou casas de oração; não existe paganismo nisso, e em nenhuma parte do compêndio doutrinário da Igreja há proibição de instalação de templos para realização de cultos de uma forma unida e organizada. Como afirma o pr. José Gonçalves, “a não utilização de templos por parte dos cristãos primitivos se deu por razões contextuais (cf. Atos 1:6-14). Esses cristãos estavam debaixo de perseguição e não tinham residência fixa e certa, além do fato de serem extremamente carentes. Naquele contexto, a igreja nos lares era perfeitamente justificável (cf. Rm.16:3-5). Contudo, não há nada na Bíblia que deponha contra o uso de templos ou casas de oração. Se o propósito de um templo é congregar o povo para adorar ao Senhor, o que há de mal nisso?”.

Nós somos ramos da Videira verdadeira, que é Cristo. O ramo não sobrevive fora da Videira. O ramo está ligado a outros ramos da Videira. Também, nós somos um rebanho, e quando a ovelha desgarra do rebanho, ela se torna uma presa fácil para os predadores. A ovelha não tem a capacidade de se proteger, de cuidar de si mesmo, por isso somos chamados de ovelhas; precisamos de ajuda das outras ovelhas e perto do pastor. Também, a Bíblia diz que somos o “corpo de Cristo”, por isso a Igreja é conhecida como um organismo vivo e espiritual; um membro só tem relevância, segurança e funcionalidade plena quando ele está vinculado ao corpo; fora do corpo, ele não tem vida. Então, essa ideia de que eu posso ser um crente autossuficiente, que eu posso ser um crente em minha casa, que não preciso de ir a templo nenhum, e que tenho os meus pregadores prediletos no YouTube e na TV, e quando quero uma mensagem que me agrada, eu vou lá e assisto, não é muito salutar para uma pessoa que precisa amadurecer e se firmar espiritualmente. O crente precisa convier com outros crentes, precisa se congregar; quando se reúne com outros irmãos na fé, a pessoa está também servindo a essas pessoas com as suas experiências espirituais, com os seus dons, e ao mesmo tempo sendo supridas as suas necessidades espirituais e relacionais.

3. Um ensino anticlerical

Da mesma forma que são contra o institucionalismo e toda forma de estrutura arquitetônica para a igreja, os chamados “desigrejados” não querem estar sob uma liderança ou organização eclesiástica. São contra todo e qualquer sistema de governo da igreja; não aceitam que alguém esteja na posição de autoridade sobre eles. Logo, não aceitam que na igreja exista um corpo eclesiástico como, por exemplos, diáconos, presbíteros e pastores. Declaram que na Igreja Primitiva não havia organização nenhuma e muito menos qualquer estrutura clerical. Um dos ícones desse Movimento, Frank Viola, afirma o seguinte: “Não há um só versículo em todo o Novo Testamento que apoie a existência do moderno pastor dos nossos dias! Ele simplesmente nunca existiu na igreja primitiva. A palavra pastor não aparece no Novo Testamento. Efésios 4:11 é o único versículo no Novo Testamento onde a palavra ‘pastores’ é usada. Um verso solitário é uma peça de evidência muito escassa para manter toda a fé protestante!

Viola também alega que “Efésios 4:11 não se refere a um cargo pastoral, como existe atualmente, mas meramente a uma das várias funções na Igreja. Pastores são aqueles que naturalmente proveem nutrição e cuidado às ovelhas de Deus. Porém, é um profundo erro confundir pastores com uma profissão ou título como concebem hoje. Efésios 4:11 é obliquo; não oferece nenhuma definição ou descrição sobre quem os pastores são; simplesmente, são mencionados. Nenhum cristão do primeiro século concebeu a ideia de um ofício de pastor. Os pastores de ovelhas do primeiro século eram os anciãos locais (presbíteros) e supervisores da congregação (bispos). Suas funções seriam completamente conflitantes com o papel pastoral contemporâneo”.

Alguém pode até concordar com Viola, mas isto não é motivo para uma pessoa que se diz crente desviar-se da Congregação e se rebelar contra os líderes, e viverem de forma isolada sua vida cristã, e fazer apologia desse movimento. Creio que os líderes, em sua maioria, demostram zelo pelas “ovelhas” do Senhor e se esforçam ao máximo para serem bons despenseiros do Senhor Jesus. Claro, existem, sim, muitos que se aproveitam da sua posição de líder para explorar os crentes incautos; sempre existiu os mercenários da fé, tanto na Antiga como na Nova Aliança. Para estes, a Bíblia já prever uma sentença dolorosa (cf. Mt.7:21-23).

A Igreja Local, desde o seu nascedouro, sempre esteve sob uma liderança. O apóstolo Paulo preocupou-se sobremaneira em deixar em cada Igreja que fundava um líder para cuidar da vida espiritual dos crentes. Para a Igreja de Creta, por exemplo, o apóstolo Paulo recomendou que fossem constituídos presbíteros para liderar as igrejas ali (cf.Tt.1:4 -11).

Portanto, é bíblico consentir uma liderança eclesiástica na Igreja Local. O problema é o exagero que exsurge nas decisões das chamadas Convenções regionais, que não seguem, rigorosamente, a baliza bíblica para tomar as suas deliberações. A Assembleia de Deus, por exemplo, em uma de suas Convenções na década de 30, ampliou o seu corpo eclesiástico hierárquico, a qual conhecemos hoje da seguinte forma: Auxiliar, Diácono, Presbítero, Evangelista, Pastor; e algumas igrejas derivadas desta denominação, foi mais além; afora os já citados, existem: Apóstolo, Ancião, Bispo, e por aí vai. Isto não tem apoio bíblico; é simplesmente um exagero. O modelo bíblico é simplesmente este: Diácono, Presbítero e Pastor (líder de uma Igreja local, que pode ser um Presbítero), conforme Paulo narrou em 1Tm.3:1-8 e em Tt.1:4-11). Se a Igreja Local tivesse seguido este modelo desde sempre, os conflitos internos seriam muito menores e não haveria tantas denominações que existem hoje. Creio que a Igreja seria mais coesa; haveria uma unidade esplêndida.

Deus instituiu um governo na igreja, de forma que temos de respeitar, ser reverentes e obedecer àqueles que o Senhor tem posto para presidir na Igreja Local. Há uma recomendação clássica: “Obedeçam aos seus líderes e sejam submissos a eles, pois zelam pela alma de vocês, como quem deve prestar contas...” (Hb.13:17 - NAA). Naturalmente que a obediência, como sempre, é condicionada, ou seja, devemos obedecer aos líderes na medida em que atuem em conformidade com a Palavra de Deus (At.5:29). Os líderes não devem se comportar a não ser como despenseiros da obra de Deus (Tt.1:7), ou seja, simples mordomos, que não podem querer dominar sobre o rebanho do Senhor, mas servir de exemplo aos fiéis (1Pd.5:2,3).

II. A NATUREZA DA IGREJA NEOTESTAMENTÁRIA

1. Um organismo

A Igreja é um organismo vivo (Ef.1:22,23). Nesse sentido, ela é o Corpo de Cristo (1Co.12:27). Entre Cristo e a Igreja existe uma união vital, tão intima e real como é a da cabeça com o corpo; é uma união íntima, terna e indissolúvel. A igreja é inteiramente dependente de Cristo. De Cristo, a Igreja deriva sua vida, seu poder e tudo quanto é necessário à sua existência.

A Igreja é a plenitude de Cristo. Ela está cheia da Sua presença, animada pela Sua vida, cheia com os Seus dons, poder e graça. A Igreja é o prolongamento da encarnação de Cristo. A Igreja é o corpo de Cristo em ação na terra. A Igreja está cheia da própria Trindade: Pai (Ef.3:29), Filho (Ef.1:23) e Espírito Santo (Ef.5:18).

No tocante à sua essência divina, Cristo em sentido algum pode depender da Igreja nem ser completado por ela. Contudo, como Esposo, Ele é incompleto sem a esposa; como Videira, não se pode pensar nele sem os ramos; como Pastor, não se pode vê-lo sem suas ovelhas; e como Cabeça, Ele encontra sua plena expressão em Seu Corpo, a Igreja.

Quando falamos em Igreja, temos dois significados bem distintos e que não podem ser confundidos:

- Primeiro, o significado universal da Igreja, tomada como corpo de Cristo, ou seja, como um povo de todas as nações, de todas as tribos, de todas as épocas, dos salvos por Jesus Cristo. Enquanto tomada neste significado, a Igreja é una, é universal, é um organismo vivo e espiritual, um dos três povos que existem na humanidade, o povo descrito em Ef.2:13-22. Neste aspecto, a Igreja existe à parte de estatutos, templos ou qualquer estrutura social ou governamental humana.

- Segundo, o significado local da igreja, tomada como um grupo social, ou seja, como uma porção do povo de Deus, uma comunidade que habita num determinado lugar, numa determinada época e que é salvo por Cristo Jesus. Enquanto tomada neste significado, as igrejas são várias; são organizações humanas, um dos muitos grupos que compõem uma determinada sociedade. Neste aspecto, as Igrejas Locais podem e devem ser reunidas em estruturas arquitetônicas, e isto não constitui um pecado ou desvio do Evangelho como quer nos fazer acreditar os desigrejados. Como bem diz o pr. José Gonçalves, a repulsa dos sem-igrejas pelas estruturas arquitetônicas ou por qualquer forma institucional se dá mais por razões de insubmissão do que zelo pelo Evangelho.

É importante sabermos distinguir estes dois significados, pois, se, espiritualmente, a igreja é uma só e se constitui no sal da terra e na luz do mundo, socialmente, a igreja é um grupo dinâmico que vive no meio da sociedade e que, pelo seu caráter e natureza espirituais, acabam sendo luz do mundo e sal da terra, mas que vive no meio dos demais seres humanos. A falta de consciência desta duplicidade de significado do termo igreja gera muitos equívocos, como a confusão da Igreja enquanto Corpo de Cristo com a Igreja Local (ou a denominação religiosa), que gera concepções sem qualquer respaldo bíblico como sectarismos, consideração de costumes como doutrina e outros falsos ensinamentos.

- Enquanto Igreja Universal, vemos o Corpo de Cristo, um povo santo, sem qualquer mancha ou falha (Ef.5:27). São os lavados no sangue do Cordeiro e cujas vestes são brancas (Ap.22:14). São os vencedores, que receberão a coroa da justiça (2Tm.4:8), são aqueles que desejam e clamam pela volta de Jesus (Ap.22:17). Essa igreja é invisível aos olhos humanos, mesmo os dos santos, e tem como Cabeça Jesus Cristo (Ef.1:22), e não depende de qualquer fator humano para se constituir e subsistir neste mundo (cfr.At.8:1-4). É esta Igreja que está desfrutando a sua dispensação, também chamada de dispensação do Espírito Santo ou dispensação da graça (Ef.3:1,2), cujo fim será, exatamente, quando esta Igreja for arrebatada por Jesus, que com ela Se encontrará nos ares (1Co.15:51-58).

- Enquanto Igreja Local, este povo é um grupo social que, como todo grupo humano, contém elementos sinceros e autênticos, mas também elementos insinceros e falsos. Estamos no mundo e, apesar de a Igreja Local ser formada pelo Senhor, que resgata as pessoas do pecado e do mundo, enquanto aqui estamos, o inimigo insere, também, indivíduos no meio deste grupo social, tal qual joio é colocado no meio do trigo (cfr.Mt.13:24-30, 36-43), quando não consegue enganar alguns, que se deixam seduzir pela sua própria concupiscência (Tg.1:13-16). Por isso, a Bíblia sempre adverte a respeito de falsos mestres (2Pd.2:3, Jd.4), de lobos no meio de cordeiros (At.20:29), de anticristos (1Jo.2:18,19), indivíduos que estão na Igreja Local, embora não façam parte da Igreja Universal. 

Na Igreja Local, existe um governo (Ef.4:11-13; Rm.12:8; Ap.1:20), para que possa haver ordem e edificação espiritual dos crentes na sua caminhada à glorificação.

2. Uma organização

Como vimos anteriormente, a Igreja em seu aspecto universal é um organismo vivo e espiritual e, neste aspecto, ela está à parte de estatutos, templos ou qualquer estrutura social ou governamental humana; mas, como Igreja Local, é uma organização, necessita ser organizada. Assim sendo, é necessária que nela haja ordem e, por conseguinte, progresso, mesmo porque o Seu criador e formador é o próprio Deus Todo-Poderoso – o qual não é de confusão, mas de ordem -, que a arquitetou antes mesmo da “fundação do mundo para que fôssemos santos e irrepreensíveis diante dele em amor (Ef.1:3,4). 

No Universo criado pelo Deus Onipotente, tudo obedece às normas estabelecidas por Ele. Não haveria de ser diferente na sua nova instituição criada, a Igreja. Todavia, é bom ressaltar que Jesus não fundou uma organização eclesiástica e nem estrutural; Ele criou um organismo vivo, com a Sua presença, em obediência a princípios divinos, a fim de prevalecer sobre o império das trevas e da maldade. Mas com o cresci­mento da Igreja, fez-se sentir a necessidade de haver uma estrutura organizacional administrativa e eclesiástica, de recrutar pessoas dedicadas para ajudarem nas tarefas espirituais e sociais da mesma. E onde há pessoas servindo deve haver quem as lidere, para que o seu serviço seja harmonioso e sem atropelos; isto é, cada grupo de serviço deve possuir a sua liderança, por sua vez também sujeita a uma liderança superior, que culmina no Senhor Jesus, o supremo Líder (cf. 1Co.12:28).

Um exemplo clássico de organização é o que ocorreu no princípio da Igreja. Os apóstolos fiz­eram eleger uma equipa de ajudantes que aliviassem a sua tarefa (At.6:2–4). Eles deviam dedicar-se primariamente ao estudo da Palavra e à oração. Mais tarde foram constituídos presbíteros em cada igreja para que cuidassem do rebanho enquanto os apóstolos viajavam na sua mis­são (At.14:23). Paulo aconselhou a Tito para que em cada cidade esta­b­ele­cesse presbíteros capazes, com formação moral, social e teológica, a fim de cuidarem do povo do Senhor (Tt.1:5–9).

Enfim, no princípio do Cristianismo, a Igreja tinha um sistema de governo formado por apóstolos, profetas, evangelistas, presbíteros, diáconos, pastores e mestres (Ef.4:11; At.6:1-6; At.14:23), e possuía seu código doutrinário (At.2:42-47) e disciplinar (1Pd.3:5,6; 2Ts.3:6). Ninguém vivia isoladamente e da maneira que queria (Hb.10:25). Isso pode ser visto no primeiro concílio ou convenção feita pela Igreja Primitiva (Atos 15) em que o colegiado apostólico, juntamente com o presbitério, tomou medidas para regular e disciplinar a igreja que enfrentava problemas de natureza doutrinária e de costumes. O relacionamento das igrejas locais, portanto, era sempre de cooperação (Rm.15:26,27; 2Co.8:4; 2Co.11:8; Fl.2:25). Jamais alguém deveria dizer: “não preciso de ti”, porque todos os membros eram necessários ao Corpo (1Co.12:20–22).

A Igreja, portanto, é um organismo vivo, e neste aspecto deve ser dirigida pelo Espírito Santo, pois ela, biblicamente constituída, é de Jesus. Contudo, biblicamente não existe organismo sem organização, sem um mínimo de institucionalização. Assim como o corpo humano, que é um organismo vivo, contudo organizado, a Igreja também possui organização (1Co.12). Enquanto organização religiosa, tem um Estatuto registrado em Cartório, tem Assembleia, Diretoria, Conselho Fiscal e outros cargos para cumprir determinadas funções. Nesta condição é regida pelo Código Civil e precisa seguir os parâmetros legais, inclusive fiscais.

III. A IMPORTÂNCIA E A NECESSIDADE DA IGREJA

1. A Igreja como Família de Deus

A Igreja Local é uma instituição composta de seres humanos dotados de sentimentos, desejos e volição. Nesse caso, a Igreja é "humana" em sua constituição e composição. E onde há pessoas há relacionamentos. A nossa identidade é formada em relação com os outros. Somos seres relacionais, feitos para vivermos em comunidade, no diálogo e na amizade.

Enfim, a Igreja é a família de Deus (Ef.2:19). Pela fé, entramos nessa família, e Deus tornou-se nosso Pai. Essa família está no Céu e também na Terra (Fp.3:15). Os crentes vivos na Terra e os crentes que “dormem” em Cristo no Céu. Não importa a nacionalidade, somos todos irmãos, membros da mesma família. Nessa família não há barreira racial, cultural, linguística nem econômica. Somos um em Cristo. Temos o mesmo Espírito. Fomos salvos pelo mesmo Cordeiro e purificado pelo mesmo sangue. Temos o mesmo Pai. Somos herdeiros da mesma herança. Moraremos juntos no mesmo Lar (João 14:1-3; Fp.3:20).

A Igreja, no seu aspecto local, não é formada por anjos, ou por espíritos, mas por pessoas, de carne e osso, com suas virtudes e defeitos. Só a Igreja no seu sentido universal, como Noiva do Cordeiro, é que não tem problemas ou defeitos. Assim sendo, como família de Deus, a Igreja tem ordem, regras e um governo; ela é governada por Jesus Cristo, a Cabeça da Igreja (Ef.1:22; 5:23; Cl.1:18), a quem os crentes verdadeiros, quando reunidos e unidos, devem tributar honra, respeito e adorá-lo como o Senhor da Igreja.

O cristão verdadeiro deve ter a consciência de que somos o Corpo de Cristo, e que os membros desse Corpo não podem viver isolados e de forma decentralizado. O Cristianismo jamais pode ser vivido em isolamento. E nesta Família chamada de Igreja, o sentimento de irmandade, respeito e reconhecimento mútuo deve dominar o seu ambiente (Ef.2:15,16), pois somos testemunhas da salvação em Cristo.

2. A Igreja como Testemunha da Salvação

A Igreja é testemunha da salvação em Cristo. O apóstolo Pedro disse que a missão da Igreja é proclamar as virtudes daquele que nos chamou das trevas para a sua maravilhosa luz (1Pd.2:9). Portanto, a razão de a Igreja existir, além do fato de promover adoração, companheirismo e integração, está na sua missão de testemunhar a salvação em Cristo Jesus mediante a pregação e ações, tendo sempre uma visão integral da natureza humana (o homem é corpo, alma e espírito – 1Tes.5:23). A Igreja deve pregar o Evangelho em tempo e fora de tempo (2Tm.4:2), em quaisquer circunstâncias, a judeus e a gentios, anunciar que Jesus veio salvar o homem, perdoar os nossos pecados e restabelecer a comunhão entre Deus e a humanidade. Todavia, a missão da igreja não se limita somente à evangelização, ela alcança todos os aspectos que direcionam o ser humano ao padrão que Deus sempre quis para ele: paz, justiça, alegria, felicidade, equilíbrio, vida eterna.

Mas, uma Igreja Local só se envolverá de maneira séria e responsável com a Grande Comissão de Cristo, quando estiver sob forte poder e unção do Espírito Santo. Na igreja primitiva, a evangelização atingiu o ápice quando experimentava um efusivo derramamento do Espírito Santo (At.2:1-4). Essa unção extraordinária modificou a estrutura espiritual de um grupo de homens assustados em verdadeiras brasas ardentes, e os levou a testemunharem do amor de Deus com o sacrifício de suas próprias vidas.

A Igreja pode existir em um templo, mas a sua missão só se completa fora dele. Não há igreja que seja bíblica e existe somente dentro de quatro paredes. Em Antioquia, a liderança da Igreja, em atenção à Grande Comissão, enviou o que possuía de melhor em seu ministério para as missões transculturais: Barnabé e Saulo. Isto porque existiam duas práticas lá hoje quase extintas: jejum e oração. Além disso, essa igreja vivia o que ensinava: o amor, o quebrantamento espiritual e um profundo senso de responsabilidade pela Grande Comissão. Isto levou aquela igreja a se tornar o centro de missões mundiais na igreja primitiva.

3. A Igreja como Comunidade Edificante

“Na evangelização, a Igreja focaliza o mundo; na adoração, volta-se para Deus; e, na edificação, atenta para si mesma. Repetidas vezes, nas Escrituras, os crentes são admoestados a edificar uns aos outros para assim formarem uma comunidade idônea (cf.Ef.4:12-16). A edificação pode ser levada a efeito por muitos meios práticos. Por exemplo: ensinar e instruir os outros nos caminhos de Deus certamente enriquece a família da fé (Mt.28:20; Ef.4:11,12).

“Administrar a correção espiritual numa atitude de amor é essencial na ajuda ao irmão desviado, a fim de que permaneça no caminho da fé (Ef.4:5; Gl.6:1). Compartilhar com os necessitados (2Co.9), levar os fardos uns dos outros (G1.6:2) e fornecer oportunidades para convívio e interação social entre cristãos sadios são meios relevantes de edificar o corpo de Cristo” (HORTON, Stanley. Teologia Sistemática: Uma Perspectiva Pentecostal. 10.d. Rio de Janeiro: CPAD, 2006, p.554).

CONCLUSÃO

Nesta Aula tratamos da sutileza do movimento dos desigrejados; vimos como este movimento se equivoca com relação a vários aspectos da Igreja, principalmente com relação ao governo da Igreja, a sua organização e institucionalização. Segundo eles, a Igreja não possui organização alguma e, consequentemente, não há liderança formal estabelecida. Porém, de acordo com o Novo Testamento, a Igreja Local possui liderança estabelecida e conta com estrutura organizacional constituída. O objetivo não é honrar e glorificar o homem, mas exaltar o Senhor Jesus Cristo e cumprir a missão integral para a qual Ele nos chamou: pregar, ensinar, constituir discípulos para Jesus e cumprir sua missão social, assim como ocorria no princípio da Igreja. Como uma Igreja Local poderá fazer tudo isso sem ser organizada e com uma liderança sincera firmada? Portanto, o movimento dos desigrejados é apenas um movimento de rebeldia e de indisciplina, que se desliga de uma instituição religiosa tradicional para criar outra conforme suas diretrizes desviadas da Bíblia.

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Luciano de Paula Lourenço – EBD/IEADTC

Referências Bibliográficas:

Bíblia de Estudo Pentecostal.

Bíblia de estudo – Aplicação Pessoal.

Bíblia de Estudo – Palavras Chave – Hebraico e Grego. CPAD

William Macdonald. Comentário Bíblico popular (Antigo e Novo Testamento).

Comentário Bíblico Pentecostal. CPAD.

Comentário do Novo Testamento – Aplicação Pessoal. CPAD.

Pr. Caramuru Afonso Francisco. O Cristão e a Igreja Local. PortalEBD.

Revista Cristianismo Hoje. Ed. 19 - Ano 4. Os Desigrejados.

Frank Viola & George Berna. Cristianismo Pagão. Abba.