13 de maio de 2025

Eu sou a ressurreição e a vida

 

Eu sou a ressurreição e a vida

TEXTO ÁUREO

 

 “Disse-lhe Jesus: Eu sou a ressurreição e a vida; quem crê em mim, ainda que esteja morto, viverá;” (Jo 11.25)

 

Entenda o Texto Áureo

 - Disse-lhe Jesus: Eu sou a ressurreição, e a vida – “Todo o poder de restaurar, transmitir e manter a vida reside em Mim.” (Veja em Jo 1:4;  Jo 5:21). Que reivindicação mais elevada à suprema divindade que esta grande fala pode ser concebida? quem crê em mim, ainda que esteja morto, viverá – isto é, a morte do crente será tragada em vida, e sua vida nunca se afundará em morte. Como a morte vem pelo pecado, é dEle anulá-la; e como a vida flui através de Sua justiça, é Sua para comunicá-la e eternamente mantê-la (Romanos 5:21).

VERDADE PRÁTICA

 

O Senhor Jesus Cristo é a ressurreição e a vida, e por essa razão, temos a garantia de que um dia teremos um corpo glorioso como o dEle.

Entenda a Verdade Prática:

Embora a Bíblia não descreva em detalhes os corpos glorificados que receberemos no céu, sabemos que serão como o corpo ressurreto de Jesus. Nossos corpos humanos são descritos em 1Co 15.42–53 como perecíveis, desonrosos e fracos, tudo devido ao pecado. Nossos corpos glorificados serão imperecíveis, honrosos e fortes. Nossos novos corpos não serão mais corpos “naturais”, sujeitos à decadência e à morte; viveremos em “vitória sobre o pecado e a morte”, conquistada por Cristo em nosso favor (1Co 15.57).

LEITURA BÍBLICA EM CLASSE

João 11.14, 15, 17-21, 23-27

 

14. Então, Jesus disse-lhes te: Lázaro está morto,

 - J.A. Bengel lindamente disse: “O sono é a morte dos santos, na linguagem do céu; mas aqui esta linguagem os discípulos não entenderam; incomparável é a generosidade da maneira divina de discursar, mas tal é a lentidão da apreensão dos homens de que a Escritura frequentemente tem que descer para o estilo mais miserável do discurso humano” compare Mateus 16:11.

 

15. e folgo, por amor de vós, de que eu lá não estivesse, para que acredites.

E me alegro, por causa de vós, que eu não estivesse lá – Isso certamente implica que, se estivesse presente, Lázaro não teria morrido; não porque não pudesse resistir às importunidades das irmãs, mas porque, na presença da Vida em pessoa, a morte não poderia ter chegado a seu amigo (C.E. Luthardt).

Para que creiais – Isto é acrescentado para explicar a sua “alegria” por não ter estado presente. A morte de seu amigo, como tal, não poderia ter sido “alegre” para Ele; a sequencia do relato mostra que foi “grave”; mas para eles era seguro (Filipenses 3:1).

 

17. Chegando, pois, Jesus, achou que já havia quatro dias que estava na sepultura.

Se Lázaro morreu no dia em que chegou a notícia de sua doença – e fosse, de acordo com o costume judaico, enterrado no mesmo dia (Jo 11:39; Atos 5:5-6, 10) – e se Jesus, depois de dois dias de permanência na Peréia, partisse no dia seguinte para Betânia, umas dez horas de viagem, resultaria os quatro dias; o primeiro e o último incompletos (H.A.W. Meyer).

 

18. (Ora, Betânia distava de Jerusalém quase quinze estádios.)

Quinze estádios de Jerusalém – Menos de três quilômetros. A proximidade é mencionada para explicar as visitas de consolo recebidas e mencionadas no versículo seguinte (19).

 

19. E muitos dos judeus tinham ido consolar a Marta e a Maria, acerca de seu irmão.

Assim foram fornecidas, de uma maneira muito natural, muitas testemunhas do glorioso milagre que se seguiu.

 

20. Ouvindo, pois, Marta que Jesus vinha, saiu-lhe ao encontro, Maria, porém, ficou assentada em casa.

Ouvindo pois Marta que Jesus vinha, saiu-lhe ao encontro – fiel à energia e atividade de seu caráter, como visto em Lucas 10:38-42.

Mas Maria ficou sentada em casa – igualmente fiel ao seu caráter tranquilo. Esses toques não premeditados não apenas ilustram de maneira encantadora a minuciosa fidelidade histórica de ambas as narrativas, mas também sua harmonia interna.

 

21. Disse, pois, Marta a Jesus: Senhor, se tu estivesses aqui, meu irmão não teria morrido.

 - Maria disse depois a mesma coisa mais a frente (Jo 11:32), é claro que elas fizeram essa observação uma a outra, talvez muitas vezes durante esses quatro dias tristes, e não sem ter sua confiança no amor do Senhor às vezes obscurecida. Tais provações da fé, no entanto, não são exclusivas a elas.

 

23. Disse-lhe Jesus: Teu irmão há de ressuscitar.

Teu irmão ressuscitará. Toda a história da ressurreição de Lázaro é uma parábola da Vida através da morte (vv. 4, 11, 16), da vida por meio do que é chamado de morte, da morte por meio do que é chamado de vida (v. 50). Aqui, então, no início, é dada a nota chave. Seja o que for que a morte pareça ser, há uma ressurreição. A morte não é o vencedor final. Ainda não se define a ideia de “ressurreição”. Basta que a ideia seja reconhecida.

 

24. Disse-lhe Marta: Eu sei que há de ressuscitar na ressurreição do último Dia.

 “Mas nós nunca mais o veremos em vida até lá?”

 

25. Disse-lhe Jesus: Eu sou a ressurreição e a vida, quem crê em mim, ainda que esteja morto, viverá;

 Essa é a quinta de uma série de sete grandes afirmações "Eu sou" de Jesus (veja 6.35; 8.12; 10.7,9; 10.11,14). Com essa afirmação, Jesus levou Marta de uma fé abstrata na ressurreição que acontecerá no "último dia" (cf. 5.28-29) para urna confiança personalizada nele, pois somente ele pode ressuscitar os mortos.

Não existe ressurreição ou vida eterna fora do Filho de Deus. Tempo ("no último dia") não é empecilho para aquele que tem o poder da ressurreição e vida (1.4), pois ele pode conceder vida a qualquer hora.

 

26. e todo aquele que vive e crê em mim nunca morrerá. Crês tu isso?

A verdade é apresentada em suas duas formas, como sugerido por Ressurreição e Vida. Alguns, como Lázaro, haviam crido e morrido; outros, como Marta, ainda viviam e criam. Sobre os primeiros, é dito que a morte terrena sob a qual haviam caído não é uma morte real: “Quem crê em mim, ainda que esteja morto (mesmo que morra), viverá” — continuará vivendo, viverá mesmo através dessa mudança, e não apenas retomará a vida em algum momento posterior.

Sobre os segundos, é dito que a vida celestial nunca será interrompida: “Todo aquele que vive e crê em mim”, aquele que, nessa fé, compreendeu verdadeiramente o sentido da vida, “nunca morrerá”. Para quem está em Cristo, a morte não é o que parece ser.

A inclusão do termo universal nesta sentença amplia a promessa. O versículo aponta para mistérios que ocuparam os pensamentos de filósofos orientais e ocidentais, como demonstram os famosos versos de Eurípides: “Quem sabe se viver é realmente morrer, e a morte é considerada vida por aqueles que estão abaixo?” (‘Polyid.’ Fragmento 7; cf. ‘Phryx.’ Fragmento 14). Isso indica uma forma mais elevada de vida “corporativa”, como o apóstolo Paulo expressa pela frase “em Cristo” (Gálatas 2:20; Colossenses 3:4). Compare com João 17:3, nota.

Parte desse pensamento também aparece em um ditado do Talmud: “O que o homem deve fazer para viver? Que morra. O que o homem deve fazer para morrer? Que viva” (‘Tamid’, 32a).

As últimas palavras de Eduardo, o Confessor, oferecem um paralelo mais próximo: “Não choreis”, disse ele, “não morrerei, mas viverei; e, ao deixar a terra dos moribundos, confio em ver as bênçãos do Senhor na terra dos vivos” (Richard de Cirencester, 2:292).

Para sempre não morrerá — De acordo com o uso universal do apóstolo João, este deve ser o significado da frase original (οὐ μὴ … εἰς τὸν αἰῶνα), e não “não morrerá para sempre”. Veja João 4:14, João 8:51, João 8:52, João 10:28, João 13:8.

27. Disse-lhe ela: Sim, Senhor, creio que tu és o Cristo, o Filho de Deus, que havia de vir ao mundo.

Marta aceita a revelação e, em seguida, retorna à confissão da fé que havia alcançado. Ela não diz simplesmente “Eu creio”, repetindo a forma dada, mas “Eu—eu mesma” (o pronome é enfático) “tenho crido” — “tenho feito essa crença minha”. E a fé que ela expressa, embora tecnicamente não alcance totalmente a declaração de Cristo, sendo genuína até onde vai, carrega consigo tudo o mais. Aquele que mantém firmemente o que já ganhou descobrirá depois que isso contém muito mais do que ele percebeu. já cri – Cf. João 3:18, 6:69, 16:27, 20:29; 1João 4:16, 5:10.

O Cristo – aquele de quem todos os profetas falaram. o Filho de Deus – que pode restaurar a comunhão quebrada entre o homem e seu Criador.

Que viria ao mundo – por quem, em ambos os aspectos, os homens sempre esperam. Esse título é peculiar. Compare com João 6:14; Mateus 11:3; Lucas 7:19 e seguintes. 

INTRODUÇÃO

O capítulo 11 de João registra o sétimo, o último e o maior dos milagres públicos operados por Jesus e registrados nesse evangelho. Foi realizado na última semana antes de Jesus ser preso e morto na cruz. Seu propósito foi despertar a fé nos salvos e a fúria definitiva dos inimigos. O mesmo sol que amolece a cera endurece o barro.

O mesmo milagre que produz fé em alguns provoca a fúria de outros. A hora havia chegado, e Jesus estava pronto para enfrentá-la. Essa singular narrativa é de importância vital para a história desse evangelho. O milagre que ela focaliza foi o mais admirável e o mais significativo de todos os “sinais” operados por nosso Senhor; àqueles que o presenciaram, serviu para lhes despertar e fortalecer a fé, enquanto provocou temor e ódio mortal nas autoridades que agora se dispuseram finalmente a levar Jesus à morte.

Essa passagem tratará de amizade (11.1-6), coragem (11.7-16), promessa (11.17-27), simpatia (11.28­37), poder (11.38-44) e conspiração (11.45-57).

Com base no texto bíblico comentado acima, a lição se propõe examinar três pontos:

1. O propósito de Jesus ao realizar o milagre da ressurreição de Lázaro;

2. O diálogo entre Jesus e Marta sobre a ressurreição do seu irmão, e

3. A doutrina fundamental da Ressurreição do Corpo.

Vamos examinar esses pontos a seguir.

I. O PROPÓSITO DE JESUS

1. Recebimento da notícia sobre Lázaro. No meio do deserto de hostilidades enfrentado por Jesus em Jerusalém, havia um oásis em Betânia: a amizade de Marta, Maria e Lázaro. Jesus se hospedara na casa deles. Agora, essa família enfrenta um grave problema, uma enorme aflição. Lázaro, irmão de Marta e Maria, estava enfermo. O amor de Jesus por ele não manteve longe de sua vida a doença, nem a amizade de Jesus o blindou das dificuldades. Perceba que, Lázaro, mesmo sendo amigo de Jesus, ficou gravemente doente e chegou a morrer. Há momentos em que somos bombardeados por problemas que escapam ao nosso controle: enfermidades, perdas, prejuízos, luto. Oramos, e nada acontece. Aliás, as coisas pioram. Queremos alívio, e a dor aumenta. Queremos subir e afundamos ainda mais. As crises produzem angústia. Quando a enfermidade chega a nossa casa, ficamos profundamente angustiados. Nessas horas, nossa dor aumenta, pois nossa expectativa era receber um milagre, e ele não chega. Como os discípulos de Emaús, começamos a conjugar os verbos da vida apenas no passado: Nós esperávamos que fosse ele quem redimisse a Israel, mas [...] (Lc 24.21, ARA).

2. O desapontamento de Maria e Marta. Marta e Maria enviam um mensageiro a Jesus pedindo ajuda. Apenas lhe informam que aquele a quem Jesus ama está enfermo. Nada mais era necessário acrescentar, pois quem ama tem pressa em socorrer a pessoa amada. Elas tinham plena convicção de que Jesus seria solícito em atender prontamente ao seu rogo. Uma vez que Jesus estava na Transjordânia e Lázaro morava perto de Jerusalém, a mensagem enviada a Jesus muito provavelmente levou um dia inteiro para chegar a ele. Certamente por onisciência, Jesus já sabia da condição de Lázaro (veja v. 6; 1.47). Ele pode ter morrido antes do mensageiro chegar a Jesus, pois já eslava morto há quatro dias (v. 17) quando Jesus chegou, depois de se demorar dois dias (v. 6) e gastar um dia em viagem. O mensageiro chega com uma frase tocante da amizade íntima que Jesus tinha por Lázaro. A amizade de Jesus não nos isenta dos sofrimentos desta vida, mas nos garante sua simpatia e alívio nas dores.

3. O tempo divino. Com a resposta de Jesus, não entenda que está dizendo que Lázaro não morreria nem que morreria apenas para ser ressuscitado, demonstrando, desse modo, a glória de Deus. Jesus sabia que Lázaro estava morto ao receber a notícia. O que ele está dizendo é que a essa enfermidade não se seguiria um triunfo ininterrupto da morte; antes, ela seria um motivo para a manifestação da glória de Deus, na vitória da ressurreição e da vida. A glória de Deus refulge nessa subjugação da morte.

O amor de Jesus por Lázaro e suas irmãs não impediu que eles passassem pelo vale da morte, mas lhes trouxe vitória sobre a morte. Com esse quadro pintado, aprendemos que quando a tribulação assedia um crente, é perigoso afirmar que o seu propósito é algum benefício, ou que o seu motivo é alguma bênção futura. Os propósitos de Deus estão além de nossa compreensão; o sofrimento é um mistério que nem sempre podemos desvendar. Mas é absolutamente certo que, para um amigo de Jesus, o resultado do sofrimento será algum bem eterno, alguma manifestação da glória de Deus.

A ressurreição de Lázaro teve como objetivo fortalecer a fé em Jesus como o Messias e o Filho de Deus, em face da forte rejeição dele por parte dos judeus.

II. O ENCONTRO DE MARTA COM JESUS

1. O encontro. A demora de Jesus põe nos lábios de Marta um profundo lamento (11.21). Não uma repreensão a Jesus, mas um testemunho da confiança de Marta no poder dele para curar. Muitas vezes, Jesus parece demorar. Deus prometeu um filho a Abraão e Sara, e só cumpriu a promessa 25 anos depois.

Jesus só foi ao encontro dos discípulos quando eles enfrentavam uma terrível tempestade no mar da Galileia, apenas na quarta vigília da noite. Jairo foi pedir socorro a Jesus, mas, quando chegou a sua casa, sua filha já estava morta. A fé de Marta passou por três provas: a ausência de Jesus (11.3), a demora de Jesus (11.21) e a morte de Lázaro (11.39). Baseado na sua declaração do v. 39, Marta não estava dizendo que acreditava que Jesus ressuscitasse Lázaro da morte, mas que ela sabia que Jesus tinha um relacionamento especial com Deus, de modo que as orações de Jesus podiam trazer algum bem desse triste acontecimento.

Como conciliar o nosso tempo (cronos) com o tempo (kairos) de Jesus? A distância entre Betânia e o lugar onde Jesus estava era de mais de 32 quilômetros. Levava um dia de viagem. O mensageiro gastou um dia para chegar até Jesus. Logo que o mensageiro saiu de Betânia, Lázaro morreu.

Quando deu a notícia a Jesus, Lázaro já estava morto e sepultado. Jesus demora mais dois dias. E gasta outro dia para chegar. Daí, quando chegou, Lázaro já estava sepultado havia quatro dias. Jesus se alegrou por não estar em Betânia antes da morte de Lázaro (11.15).

2. Quando Lázaro ressuscitará? Jesus sempre agiu de acordo com a agenda do Pai (2.4; 7.6,8,30; 8.20; 12.23; 13.1; 17.1). Ele sabe a hora certa de agir. Ele age segundo o cronograma do céu, e não segundo a nossa agenda. Ele age no tempo do Pai, e não segundo a nossa pressa. Quando ele parece demorar, está fazendo algo maior e melhor para nós. Marta e Maria pensaram que Jesus tinha chegado atrasado, mas ele chegou na hora certa, no tempo oportuno de Deus (11.21,32). Jesus não chega atrasado. Ele não falha.

3. Promessa de vida. O ensino essencial de todo esse episódio está contido na promessa de Jesus: Eu sou a ressurreição e a vida; quem crê em mim, mesmo que morra, viverá; e todo aquele que vive, e crê em mim, jamais morrerá [...] (11.25,26). Quando Jesus chegou a Betânia, Lázaro já estava sepultado há quatro dias.

A casa de Marta e Maria estava cheia de parentes e amigos não apenas da aldeia de Betânia, mas também de pessoas vindas de Jerusalém. Conforme o costume oriental, essas pessoas cumpriam a obrigação das exéquias e do consolo durante uma semana. Os judeus, portanto, ainda estavam consolando as duas irmãs enlutadas, quando Marta soube que Jesus estava chegando. E, com Jesus, chegavam a esperança e o consolo. Somente Jesus possui a capacidade de consolar por ocasião da morte, pois só ele é a ressurreição e a vida.

Como era próprio de sua personalidade irrequieta, Marta saiu ao encontro de Jesus, enquanto Maria ficou em casa com os amigos. Marta vai ao encontro de Jesus com uma declaração que trazia uma ponta de decepção e ao mesmo tempo uma grande demonstração de fé: Senhor, se estivesses aqui, meu irmão não teria morrido. Mas sei que, mesmo agora, Deus te concederá tudo quanto lhe pedires (11.21,22).

Quando Marta se encontra com Jesus, foi seu coração que falou através de seus lábios. Marta lamenta a demora, mas crê que Jesus, em resposta à oração a Deus, pode reverter a situação humanamente irremediável. Vale destacar que Marta ainda não tem plena consciência de que Jesus é o próprio Deus. Jesus não está preso às categorias do nosso tempo. Marta crê no Jesus que poderia ter evitado a morte (11.21), ou seja, intervindo no passado. Marta crê no Jesus que ressuscitará os mortos no último dia (11.23,24), ou seja, agindo no futuro. Mas Marta não crê que Jesus possa fazer um milagre agora, no presente. Marta vacila entre a fé (11.22) e a lógica (11.24). Somos assim também. Não temos dúvida de que Jesus realizou prodígios no passado. Não temos dúvida de que ele fará coisas extraordinárias no futuro, no fim do mundo. Mas nossa dificuldade é crer que ele opera ainda hoje com o mesmo poder.

III. A DOUTRINA BÍBLICA DA RESSURREIÇÃO DO CORPO

1. A Ressurreição do Corpo. É importante relembrarmos esse ensino esquecido e, por muito, ensinado errado. Em toda a Bíblia ninguém escreveu tanto sobre a ressurreição do corpo como Paulo, aquele a quem o Senhor, depois de ressuscitado, apareceu por último. O apóstolo Paulo refere-se a essa doutrina assim: “Se a nossa esperança em Cristo se limita apenas a esta vida, somos os mais infelizes de todos os homens.” (1Co 15.19). Deus criou o homem um ser composto de corpo e alma. Após conceder vida àquele que é considerado a coroa da criação (Sl 8), temos o relato que “viu tudo quanto fizera, e eis que era muito bom” (Gn 1.31a), portanto, não é ensino bíblico a concepção de que a alma é boa e o corpo é mau e desprezível, sendo considerado por alguns como a “prisão da alma”. Dentre as punições recebidas por Adão e Eva após a queda, e, consequentemente, estendida aos seus descendentes, encontra-se a morte física, que é a separação momentânea entre o corpo e a alma. As Escrituras ensinam que quando um ser humano morre, o corpo torna ao pó e a alma volta imediatamente para Deus que, prontamente, designará para os salvos a bem-aventurança eterna e para os perdidos a condenação perpétua (Ec 12.7; Fl 1.23; Lc 16.23,24). Quando da volta gloriosa de Cristo Jesus, todos os mortos ressuscitarão com seu próprio corpo, e não outro, embora com qualidades diferentes, e se unirão novamente à sua alma para sempre. O corpo dos injustos será, pelo poder do Salvador Jesus Cristo, ressuscitado para a desonra; o corpo dos justos será, pelo seu Espírito, ressuscitado para a honra e para ser semelhante ao próprio corpo glorioso de Cristo. O corpo é um presente de Deus e não algo impróprio e descartável.

O apóstolo Paulo mostra que a ressurreição de Cristo está cimentada com a ressurreição dos mortos. Se já é corrente pregar a primeira, já não é possível negar a segunda. Se derrubarmos um pilar, somos obrigados a derrubar o outro. Não se pode escolher uma das doutrinas como aceitável e a outra como inaceitável. Ambas são inseparáveis, como o são os dois átomos de hidrogênio e o átomo de oxigênio na composição da água. “Se não há ressurreição dos mortos, então Cristo deve estar morto ainda” (1 Co 15.13, BV).

2. Da morte para a vida. Se na destruição do templo de Jerusalém não ficou uma pedra sobre a outra (Mt 24.1), na negação da ressurreição dos mortos ou na negação da ressurreição de Cristo não fica um fato sobre outro: tudo desmorona. Se Cristo ainda está morto, se não foi ressuscitado, então está tudo perdido! Paulo tenta fazer uma lista das demolições:

1) “Se Cristo não ressuscitou, não temos nada para anunciar nem vocês têm nada para crer” (1 Co 15.14, NTLH) ou “vazia é a nossa pregação, vazia também é a vossa fé” (BP) ou “nem a nossa pregação, nem a vossa fé têm qualquer significado” (Phillips)

2) Se Cristo não ressuscitou, “nós, os apóstolos, somos todos uns mentirosos porque dissemos que Deus levantou Cristo do túmulo e isto logicamente não é verdade se os mortos não voltam novamente à vida”    (1 Co 15.15, BV)

3) Se Cristo não ressuscitou, “vocês são muito tolos, se continuam a confiar que Deus os salva, pois ainda estão sob condenação devido aos seus pecados” (1 Co 15.17, BV)

4) Se Cristo não ressuscitou, coisa horrível, “os que morreram crendo em Cristo, morreram e são perdidos por completo” (1 Co 15.18, Phillips)

5) Se Cristo não ressuscitou, nossa esperança em Cristo só vale para esta vida. Neste caso, somos, “sem dúvida, de toda a humanidade, os seres mais miseráveis!” (1 Co 15.19, Phillips).

Paulo não se detém nas conjecturas sombrias e até mesmo sádicas da demolição dos alicerces da ressurreição. Porque não existe a hipótese da não ressurreição do Senhor, nem a da não ressurreição dos mortos. Ele queria apenas mostrar o tamanho da tragédia e a quantidade dos escombros decorrentes dela.

A mudança da dúvida para a certeza, do desespero para a esperança, da heresia para a ortodoxia, começa com este pronunciamento: “Mas o facto mais importante é que Cristo realmente ressuscitou dos mortos [e] foi mesmo o primeiro a ressuscitar de todos aqueles que dormem o sono da morte” (1 Co 15.20, Phillips).

3. Uma viva esperança. Em João 11.35 “Jesus chorou”, o versículo mais curto de toda a Bíblia, e aqui a palavra grega possui a conotação de silenciosamente esvair-se em lágrimas, em contraste com o lamento em voz alta do grupo (veja v. 33).

Suas lágrimas não foram geradas pelo luto, pois ele eslava para ressuscitar Lázaro, mas pela dor em face do mundo caído, emaranhado pela tristeza e morte causadas pelo pecado. Ele era “homem de dores e que sabe o que é padecer" (Is 53.3).

O choro de Jesus foi uma espécie de quebra de paradigma na crença dos gregos acerca de Deus. Jesus se importa com você e com sua dor. Ele não é o Deus distante dos deístas, nem o Deus impessoal dos panteístas; não é o Deus fatalista dos estoicos, nem mesmo o Deus bonachão dos epicureus. Ele não é o Deus morto, pregado numa cruz, nem o Deus legalista, xerife cósmico dos fariseus. Ele é o Deus Emanuel.

Ele chora com você, sofre por você, se importa com você e se identifica com você em sua dor. Ele é o Deus que chora, que sofre, que trata a nossa dor. Jesus sabe o que é a dor do sem-teto, pois ele não tinha onde reclinar a cabeça. Jesus sabe o que é a dor da solidão, pois nas horas mais difíceis ele estava só. Foi deixado só no Getsêmani e na cruz. Jesus sabe o que é a dor da perseguição, pois foi caçado por Herodes, vigiado pelos fariseus, odiado pelos escribas e entregue pelos sacerdotes.

Jesus sabe o que é a dor da traição, pois foi rejeitado pelo seu povo, traído por Judas Iscariotes, negado por Pedro e abandonado pelos discípulos. Jesus sabe o que é a dor da humilhação, pois foi preso, espancado, cuspido, deixado nu, pregado na cruz como um criminoso. Jesus sabe o que é a dor da enfermidade, pois tomou sobre si a nossa dor e a nossa enfermidade. Jesus sabe o que é a dor da morte, pois suportou a morte para arrancar o aguilhão da morte e nos trazer a ressurreição. Aquele que enxuga as nossas lágrimas chora conosco. Jesus não apenas está presente conosco em nosso sofrimento, mas também se compadece de nós.

Jesus chorou em público, diante de uma multidão, condoendo-se daquela família enlutada. Ele chegou a ponto de descer ao Hades, em sua identificação com a nossa dor.

Sob Cristo todos ressuscitaremos para a vida Se o fio condutor do pecado e da sua irmã gêmea, a morte, é o Adão do jardim do Éden, o fio condutor da graça e de sua irmã gêmea, a ressurreição dos mortos, é o Jesus do jardim do Getsêmani (1 Co 15.21).

Dois anos depois de escrever aos coríntios, Paulo escreveria aos Romanos sobre a desastrosa desobediência daquele que gosta de chamar de “primeiro Adão” e sobre a abençoada obediência daquele que ele gosta de chamar de “segundo Adão” ou “último Adão” (Rm 5.19). “Como descendentes de Adão e membros duma raça pecaminosa todos morreremos [mas] como membros do Cristo de Deus todos ressuscitaremos para a vida” (1 Co 15.22, Phillips).

A ressurreição já começou, primeiro com Cristo (cerca de 30 d.C.) e depois com todos os que lhe pertencem, quando ele vier em poder e muita glória (em ocasião desconhecida de todos). A ressurreição do corpo resolve o problema da morte, cancela a morte, desfaz a morte, devolve a vida roubada e devorada pela morte.

Mas a morte não é o único inimigo de Deus e dos homens. É o pior de todos, o maior de todos e, na agenda de Deus, é o último a ser aniquilado. É por isso que Cristo tem de continuar a reinar até o fim da história, “até que Deus faça que ele domine todos os inimigos” (1 Co 15.25, NTLH), até a total destruição de todo domínio, autoridade e poder das pessoas e forças que se opõem à ele.

O grand finale, porém, só virá depois da derrota da morte, depois da morte da morte, depois do enterro da morte, depois de a morte ser lançada no “lago de fogo”, depois do desaparecimento da morte (Ap 20.14). Para esta apoteose o primeiro de todos os mortos (Abel) e todos os outros, e nós, os vivos, estamos a caminho, cada vez mais próximos!

A ressurreição do corpo no final dos tempos não será a ressurreição do corpo anterior, como aconteceu com o filho da viúva de Sarepta (1 Rs 17.17-24), com o filho da sunamita (2 Rs 4.32-35), com o filho da viúva de Naim (Lc 7.11-17), com a filha de Jairo (Lc 8.51-56), com Lázaro (Jo 11.38-44) e com Dorcas (At 9.36-42).

Não será um mero prolongamento ou repetição da vida terrena. Será algo absolutamente novo. Paulo tenta explicar: “Nossos corpos terrenos, que morrem e apodrecem, são diferentes dos corpos que teremos quando voltarmos novamente à vida, pois estes nunca morrerão. Os corpos que agora possuímos causam-nos tropeço, pois ficam doentes e morrem; entretanto, estarão cheios de glória quando voltarmos à vida novamente. Sim, são fracos porque agora são corpos mortais, mas quando revivermos, eles serão cheios de força. Quando morrem são apenas corpos humanos, porém, quando voltarem à vida, serão corpos sobre-humanos. Como existem corpo naturais, humanos, assim também há corpos sobrenaturais, espirituais” (1 Co 15.42-44, BV).

CONCLUINDO

Na tentativa de explicar a glória do corpo depois da ressurreição, Paulo chega a afirmar que Jesus “transformará os nossos corpos humilhados, tornando-os semelhantes ao seu corpo glorioso” (Fp 3.21). Em sua primeira Epístola, João afirma o mesmo: “Quando [Jesus] se manifestar, seremos semelhantes a ele” (1 Jo 3.2).

O processo de salvação só termina com a glorificação (o contrário de humilhação) do corpo: “Aqueles que [Deus] de antemão conheceu, também os predestinou para serem conformes à imagem de seu Filho” (Rm 8.29).

Cada um de nós, depois da ressurreição, teremos nossa identidade e história pessoal mantidas (isso é continuidade), embora em outro corpo, então glorioso (isso é descontinuidade). A biologia dos mortos que tornaram a viver no decurso da história bíblica é uma, mas a biologia do corpo da ressurreição final será outra, impossível, agora, de ser estudada, investigada e entendida!

OTIMA AUAL – AMEM.