3 de novembro de 2020

A TEOLOGIUA DE ELIFAZ SÓ OS PECADORES SOFREM?

 

 A TEOLOGIUA DE ELIFAZ SÓ OS PECADORES SOFREM?

Texto Áureo

7.   Lembra-te, agora: qual é o inocente que jamais pereceu? E onde foram os sinceros destruídos?

8.   Segundo eu tenho visto, os que lavram iniqüidade e semeiam o mal segam isso mesmo.

Jó 4.7,8

Elifaz afirma que nenhum inocente jamais pereceu, mas que aqueles que cometem impiedade e semeiam o mal, estes sempre perecem. Percebemos que Elifaz utiliza um princípio bíblico para acusar o amigo (Gálatas 6.7), imaginando que; “Se Jó colhe desgraças, é por que semeou desgraças”.

O princípio bíblico que Elifaz tinha em mente não estava errado, mas, no caso de Jó, Elifaz aplicou este princípio bíblico de forma errônea.Entenderemos melhor esta questão no decorrer da lição (Elifaz tinha em mente um princípio bíblico correto, mas o aplicou de forma errada, hoje muitos agem da mesma forma, tem o princípio bíblico certo, mas o aplicam de forma errada). 

1 – Os Pecadores No Contexto Da Justiça Retributiva 

1.                  A lei da semeadura e da colheita.  

Analisando as palavras de Elifaz (Jó 4.1-8;5.3,17), observamos que Elifaz pertencia aquela classe de gente que gosta de arguir (acusar ou qualificar) baseando-se na própria experiência e não na Palavra de Deus em si. Elifaz disse: Eu vi(Jó 5.3).  

É perfeitamente possível que aquilo que a gente vê seja absolutamente verdadeiro, mas, é um erro terrível fazer de nossa experiência individual uma “regra geral”. 

Na visão de Elifaz só os pecadores sofrem. A bíblia deixa claro que Elifaz estava equivocado, e encontramos nas palavras de Salomão uma observação clara com relação a isto:

Tudo sucede igualmente a todos: o mesmo sucede ao justo e ao ímpio, ao bom e ao puro, como ao impuro; assim ao que sacrifica como ao que não sacrifica; assim ao bom como ao pecador; ao que jura como ao que teme o juramento.

Eclesiastes 9.2

2.                  O homem colhe o que plantou.

Elifaz entendia que o pecado sempre gera consequências (e nisto ele estava certo), mas ele acreditava que somente os pecadores sofrem as consequências do pecado (e nisto ele estava equivocado).

É muito importante observar que, embora as palavras dos três amigos de Jó estejam registradas nas Escrituras, nem tudo o que eles disseram está absolutamente correto. O Espírito Santo registrou as palavras dos amigos de Jó, mas não os inspirou. No fim do livro de Jó o próprio Deus declarou que boa parte daquilo que os amigos de Jó disseram não era bom (Jó 42.7,8).

Algumas afirmações deles são realmente verdadeiras, e são repetidas no Novo Testamento (Jó 5.13, 1 Coríntios 3.19), mas é preciso muito cuidado para ver qual parte dos discursos deles está de acordo com a palavra de Deus e qual parte não está.

É fato que o ser humano colhe o que plantou, mas, não podemos de forma alguma dizer que todas as pessoas que estão sofrendo cometeram algum pecado e por isso estão sofrendo. Pois Jesus sofreu muito e não tinha pecados, e o próprio Jó (embora tivesse pecados por ser um ser humano como eu e você) não estava sofrendo por ter algum pecado deliberado, ou seja, Jó não estava sofrendo por pecar com a intenção de afrontar a Deus.

Muitos que se dizem cristãos tem o hábito de julgar precipitadamente cometendo assim injustiças e se esquecendo que Deus é o único que pode ver todo o lado da questão.

 

3.                  A queixa de Jó.

Nos capítulos 6 e 7 do livro de Jó, vemos Jó se contrapondo a teologia de Elifaz. A primeira parte da resposta de Jó é (em suma) dirigida aos amigos como um grupo (Jó 6), e a segunda parte (Jó 7) é dirigida (em suma) a Deus, voltando ao lamento do capítulo 3, mas em uma nova forma.

Elifaz enxergava o sofrimento como uma punição divina, que deveria ser bem recebida a fim de trazer a pessoa de volta aos caminhos de Deus. Em alguns casos (é claro) isto pode ser verdade (Gálatas 6.7,8; Romanos 2.6), mas não era este o caso de Jó.

Muitas pessoas mesmo diante das lutas que se levantam pelos próprios pecados das mesmas, tem dificuldade em assumir sua culpa e falta de compromisso com Deus, mas Jó estava certo de que seu sofrimento não era por falta de compromisso com Deus.

 

Na visão de Jó, ele por ser justo, não merecia sofrer, é claro que a visão teológica de Jó era muito limitada se comparada com a visão teológica que temos através do “Novo Testamento”.

Mas, podemos refletir sobre o fato de:

Será que nós, assim como Jó, podemos argumentar que as lutas que enfrentamos não são for falta de compromisso com Deus (por assim dizer)?

Será que assim como Jó, nós podemos argumentar que nossos sofrimentos não são por falta de compromisso com Deus (por assim dizer)?

2 – Os Pecadores No Contexto Da Tradição Religiosa

 

1.                  Ortodoxia engessada.

2.                  Uma ameaça a tradição religiosa.

 

Ortodoxia significado: Interpretação da doutrina religiosa, ou dos textos tidos como sagrados (por assim dizer).

 

Em seu segundo discurso (Jó 15.1-35) Elifaz argumenta que as palavras de Jó são uma ameaça (ou até mesmo uma afronta) ao dogma religioso amplamente aceito na época.

Analisando os discursos de Elifaz podemos perceber que ele era muito mais um “filósofo” do que um “teólogo”, se Elifaz vivesse nos dias de hoje é

bem provável que ele fosse considerado um “coach cristão” (os chamados “coachs cristãos” querem se valer do Evangelho para obter “sucesso no

âmbito pessoal e profissional” e nesta “jornada” acabam na grande maioria das vezes deixando a Palavra de Deus de lado, por isso, cuidado com os

“pregadores coachs”).

Na “visão teológica” dos tempos de Jó acreditava-se que Deus enriquecia e dava vários filhos aos seus servos, ou seja, na visão teológica da época, alguém rico e de família numerosa era visto como abençoado por Deus. Na visão de Elifaz, o fato de Jó ter ficado na miséria, doente e perdido seus filhos era um sinal claro de que Jó havia pecado feio contra Deus (por assim dizer).

Na visão dos três amigos de Jó a pobreza e o sofrimento transmitiam a ideia de que a pessoa pobre e sofrida estava em pecado, ao passo de que, os justos sempre gozariam de prosperidade em todos os sentidos (perceba que a visão teológica de Elifaz era praticamente idêntica a visão teológica do chamado “evangelho da prosperidade e do triunfalismo” existente em nossos dias, mas observe que ele e seus amigos foram duramente repreendidos por Deus por conta desta “visão teológica”, 42.7).

 

Elifaz colocava a “forma tradicional” de pensar da época há frente de tudo e de todos, atualmente muitos dos chamados cristãos ainda agem dessA forma, colocando a tradição na frente da Palavra de Deus, Jesus advertiu os escribas e fariseus cerca de 1450 anos após a história de Jó, por causa da tradição religiosa (colocada acima da Palavra de Deus) que ainda se faz presente no meio cristão (Mateus 15.6).

Na verdade, essa ortodoxia engessada (ou visão teológica equivocada) sempre esteve presente em todas as gerações ao longo da história humana.

A partir de Jó 15.7 Elifaz apela ainda mais para a tradição religiosa como forma de validar seus argumentos. Elifaz se achava muito sábio e entendido, se considerava um teólogo aprofundado (por assim dizer), mas ele estava longe disso, e assim como Elifaz, há muitos que se dizem cristãos que tem um conhecimento muito raso das Sagradas Escrituras, da vontade de Deus.

Como anda a sua visão teológica? O que você sabe sobre Deus?

Se todas as pessoas em sua “igreja” tivessem o mesmo “grau de

conhecimento bíblico” que você tem, como estaria sua “igreja”, ela seria melhor ou pior?

Embora Elifaz (na sua própria visão) estivesse ensinando sobre Deus e defendendo Deus, ele ouviu duras palavras da parte do próprio Deus (Jó 42.7).

Jó mesmo sendo mais justo e sábio do que Elifaz era visto por Elifaz como um simples pecador que deveria se arrepender e buscar a face de Deus para obter perdão, Elifaz na sua própria visão era mais justo e sábio do que Jó, e não precisava buscar perdão por si mesmo, Elifaz não enxergava que seus argumentos estavam despertando a ira de Deus (Jó 42.7).

Elifaz estava enganado, e nós, qual tem sido a nossa visão sobre nós mesmos e sobre nossos irmãos?

Será que nossa visão está biblicamente correta ou equivocada? Vale refletirmos sobre isto, não é mesmo?

 

3.                  Um defensor celeste.

 

Nos capítulos 16 e 17 do livro de Jó vemos Jó lamentando sobre seu estado e sobre a forma como seus amigos se dirigem a ele. Jó lamenta que seus amigos não o estão consolando como ele gostaria, mas as palavras de seus amigos estão na verdade o deixando ainda mais enfadado (por assim dizer).

O “consolo” dos amigos de Jó havia se tornado um tormento ainda maior para ele, analisando isto, devemos ter em mente que, ao visitar irmãos doentes e necessitados é preciso tomar muito cuidado com as palavras que saem de nossas bocas, para não sermos um peso ainda maior para aqueles que estão doentes e necessitados.

Embora a dor e as lutas de Jó não o deixassem perceber, ele tinha um defensor celeste, tratava-se do próprio Deus todo poderoso.

Você professor de EBD e aluno aplicado, leia todo o livro de Jó, em especial os capítulos abordados nesta lição, para poder compreender melhor a história para ensinar melhor. Se você é aquele tipo de professor de EBD que só estuda a revista no sábado a tarde ou no domingo de manhã e nem faz questão de ir nas aulas quando é outro professor que ministra as aulas, faça um favor a seus alunos, entregue o seu cargo e pare de dar aulas imediatamente (Romanos 12.7b; Mateus 5.19; Lucas 12.48b).

 

3 – Os Pecadores Diante De Um Deus Infinito

 

1.                  Deus não se importa com quimeras humanas.

 

Em seu terceiro discurso (Jó 22) Elifaz ainda tenta provar para Jó que ele (Jó) havia pecado. A esta altura do capítulo 22 de Jó podemos dizer que Jó e seus amigos haviam chegado a um beco sem saída em suas discussões (por assim dizer), porque os argumentos haviam sido levados ao extremo e ninguém se dispôs a ceder. Elifaz (e seus amigos) se esforçavam para mostrar a Jó que ele era o único culpado de seus sofrimentos e Jó, por outro lado, se esforçava para provar sua inocência (por assim dizer). Elifaz e seus amigos não tinham ideia de o quanto Deus se importa com a humanidade (João 3.16).

 

 

Perceba que o conhecimento teológico que está disponível a nós hoje é muito (mas muito) maior do que o conhecimento teológico disponível a Jó e seus amigos, e isto é algo excelentíssimo, mas indubitavelmente nos trás responsabilidades maiores:

 

A quem mais é dado, muito mais será cobrado (Lucas 12.48b)

 

2.                  Deus caminha com os homens.

No seu discurso em Jó 22 Elifaz dá a entender que Jó negava a transcendência (superioridade, elevação, inteligência, aptidão para julgar retamente) de Deus, mas Jó jamais negou a transcendência de Deus.

Jó (e também seus amigos) aprenderiam que, Deus se importa intimamente com os seus servos, embora Jó (e seus amigos tivessem certa consciência deste fato), precisavam aprender sobre o amor, cuidado e transcendência de Deus de maneira mais detalhada, e eles aprenderiam (Jó 42), mas isto já é assunto para as lições 12 e 13.

 

Conclusão: Nesta lição estudamos o pensamento teológico de Elifaz que embora fosse sincero, era equivocado, que venhamos a analisar nosso conhecimento teológico, pois embora possamos até ser sinceros em nossa visão teológica, é preciso analisar com toda a humildade e reverência a Deus e sua Palavra, se estamos realmente corretos (se nossa visão teológica está realmente de acordo com a Palavra de Deus ou não).

 

Fontes:

 

Comentário Bíblico Beacon,

Enciclopédia Bíblico Russel Norman Champlin,

Bíblia de Estudo John MacArthur,

Comentário Bíblico Africano,

Revista Cristão Alerta 4° Trimestre de 2020,

Jó e Seus Amigos – C. H. Mackintosh,

Bíblia de Estudo Pentecostal,

Série Heróis da Fé – Jó Charles Rozell Swindoll,

Apontamentos teológicos professor José Junior.