O MINISTÉRIO DE MESTRE OU DOUTOR – Ev. José Costa Junior
CONSIDERAÇÕES INICIAIS
O assunto desta lição diz respeito ao ministério de mestre ou doutor, dentro do contexto dos dons Espirituais e Ministeriais. Em Ef 4.11, a palavra que se traduz por pastores e mestres, no original, da entender como sendo dois aspectos de um mesmo dom: "pastores e mestres são dois aspectos dum só ministério".
É evidente que,
originalmente, os pastores não eram mestres. A princípio, não havia necessidade
de mestres, separadamente, uma vez que havia apóstolos, profetas e
evangelistas. Gradativamente, porém, a didaskalia (o ensino, a docência)
ligou-se mais e mais estreitamente ao ofício pastoral; mas, mesmo então, os
mestres não constituíram uma classe separada de oficiais.
A declaração de
Paulo em Ef 4.11, de que o Cristo assunto também dera à igreja “pastores e
mestres”, mencionados como uma única classe, mostra claramente que estes dois
não constituem duas diferentes classes oficiais, mas uma só classe com duas
funções inter-relacionadas. I Tm 5.17 fala de presbíteros que trabalhavam na
palavra e no ensino, e, conforme Hb 13.7, os hegumenoi eram igualmente
mestres. Além disso, em II Tm 2.2 Paulo insta com Timóteo sobre a necessidade
de nomear para ofício homens fiéis e também capazes de instruir a outros.
Com o
transcorrer do tempo, duas circunstâncias levaram a uma distinção entre os
pastores encarregados somente do governo da igreja, e os que também eram
chamados para ensinar: (1) quando os apóstolos faleceram e as heresias surgiam
e aumentavam, a tarefa dos que eram chamados para ensinar tornou-se mais
exigente, requerendo preparação especial, II Tm 2.2; Tt 1.9; e (2) em vista do
fato de que o trabalhador é digno do seu salário, os que estão engajados no
ministério da Palavra, tarefa amplamente abrangente que requer todo o seu
tempo, foram liberados doutros trabalhos para poderem devotar-se mais
exclusivamente ao trabalho de ensinar. Com toda a probabilidade, os aggeloi
(anjos) aos quais foram dirigidas as cartas enviadas às sete igrejas da Ásia
Menor, eram os mestres ou ministros daquelas igrejas, Ap 2.1, 8, 12, 18; 3.1,
7, 14.
O objetivo deste
estudo é trazer algumas informações e textos, colhidos dentro da literatura
evangélica, com a finalidade de ampliar
a visão sobre o ministério
de mestre ou doutor, dentro do
contexto dos dons Espirituais e Ministeriais. Não há
nenhuma pretensão de esgotar o assunto ou de dogmatizá-lo, mas apenas trazer ao
professor da EBD alguns elementos e ferramentas que poderão enriquecer sua
aula.
I - JESUS, O MESTRE POR EXCELÊNCIA
Jesus é o Grande Mestre, à encarnação viva da verdade. Ele disse: "Eu sou... a
verdade" (João 14:6).
Ele foi cem por cento
aquilo que ensinou. Fosse qual fosse o assunto, ele o encarnava e ensinava com
transbordamento de toda a sua vida. S. D. Gordon disse: "Jesus tinha já
feito antes de fazer, viveu aquilo que depois ensinou viveu tudo antes de
ensinar, e viveu tudo bem mais do que pôde ensinar." C. S. Beardslee assim
se expressou sobre Jesus: "Sua grande alma deu lugar bem grande para que o
Espírito Santo o ungisse inteira e completamente... Olhando para os olhos dele,
você vê a luz em sua inteireza... Ele tinha ilimitadas reservas de verdade, de
majestade, de beneficência, de entusiasmo, de paciência, de persistência, de
longanimidade... Ele mostrou aos que dependiam de outros como deviam confiar;
aos servos, como servir; aos governadores, como dirigir; aos vizinhos, como
serem amigos; ao necessitado, como orar; ao sofredor, como suportar; e a todos
os homens, como morrer... Ele é o ensino modelar para todas as épocas”.
Esta encarnação da
verdade proveio de duas coisas. Do fato de ele ser Deus e possuir as perfeitas
qualidades de Deus. Foi ele o único ser perfeito. Ele difere de nós em
qualidade e também em grau. Por isso jamais poderemos nos aproximar de sua
perfeição. Também a sua encarnação da verdade proveio do fato de ele ter
estudado e experimentado a verdade, e feito dela parte de si mesmo. "Jesus
crescia em sabedoria" (Luc. 2: 52). Jesus aprendeu como filho e como irmão
dentro de seu lar, pelo estudo e freqüência à sinagoga, e também com as
experiências naturais da vida humana. Experimentou tentações que diziam
respeito à conservação de sua própria vida, à consideração social e à ambição
do poder. O escritor da Carta aos Hebreus diz: "Convinha que ele (Deus)...
fizesse dele, pelo sofrimento, o pioneiro da perfeita salvação deles" (Hb.
2:10).
A encarnação da verdade pelo mestre afetava o seu ensino
pelo menos de duas maneiras. Em primeiro lugar, dava-lhe um tom de autoridade
que se não via nos escribas e rabinos do seu tempo — os professores oficiais
dos dias de Jesus. A sabedoria destes era mais aquela vinda de fora, era
matéria de oitiva, ensinavam mais citando autoridades e a tradição. A sabedoria
de Jesus vinha de dentro e não precisava de escoras ou de confirmação.
"Este mestre era diferente. Não citava ninguém, e apresentava sua própria
palavra como suficiente." Portanto, ensinava com clareza
meridiana, com convicção e poder. O povo "se admirava do seu ensino,
porque ele os ensinava como quem tinha autoridade, e não como os escribas"
(Mar. 1:22). O fato de viver aquilo que ensinava também inspirava confiança
naquilo que dizia. O povo viu corporificado no que ele praticava aquilo que ele
queria que eles fizessem. Anotavam como ele se comportava diante da tristeza,
da crítica, do desapontamento, da perseguição. O seu modo de viver reforçava e
dava peso àquilo que dizia. "A maior coisa que seus discípulos aprenderam
de seus ensinos não foi à doutrina, e, sim, sua influência. Até a última hora
de suas vidas, a maior coisa foi o terem eles estado com Jesus." Por
isso, "designou doze para estarem com ele" (Mar. 3:14).
A ênfase que Jesus deu ao ensino ressalta do fato de em geral ser
ele reconhecido como Mestre. "À luz dos Evangelhos, vemos que seus
discípulos e contemporâneos o tornavam como mestre." Ele foi mesmo chamado
Mestre, Professor ou Rabi; e tudo isto, traz em seu bojo a mesma ideia geral
expressa por Nicodemos quando disse - "Rabi, sabemos que és mestre vindo
da parte de Deus" (João 3:2).
Nos Evangelhos, Jesus é chamado mestre nada menos de quarenta e
cinco vezes, e nunca se fala nele como pregador. L. J. Sherril diz que,
somando-se todos os termos equivalentes a mestre, temos o total de sessenta e
um. Norman Richardson anota que o vocábulo Mestre é usado sessenta e seis vezes na Versão King James; cinqüenta e quatro vezes
é derivado da palavra grega que significa professor ou mestre. Fala-se em
Jesus ensinando, quarenta e cinco vezes; e onze apenas pregando, e, assim
mesmo, pregando e ensinando, como vemos cm Mateus 4:23 — "ensinando em suas sinagogas e pregando o
evangelho do reino". Chamavam-no mestre não apenas os doze, mas também
outros mais discípulos seus.
Outrossim, Jesus a si mesmo se chamava Mestre, dizendo: "Vós me chamais Mestre e Senhor; e dizeis
bem, porque eu o sou" (João 13:13). Também dizia ser "a luz", vocábulo que traz a ideia
de instrução. Nesta linha de pensamento, interessante é notar que João Batista
sempre foi mais chamado pregador que mestre.
Outra indicação desta ênfase sobre o ensino é a
terminologia empregada para descrever os seguidores e a mensagem de Jesus. Não
são eles chamados súditos, servidores ou camaradas. A palavra “cristão” só é empregada três vezes em
o Novo Testamento para caracterizá-los e assim mesmo uma vez como zombaria. No
entanto, vemos a palavra discípulo, que
significa aluno ou aprendiz, empregada 243 vezes, para
referir-se aos seguidores de Jesus. A mensagem de Jesus diz-se ser ensino (39 vezes), e sabedoria (seis vezes), não dando
tanto a ideia de preleção ou sermão. A expressão Sermão do Monte não é usada pelos escritores do Novo Testamento.
Mateus apenas diz — "E ele se pôs a
ensiná-los, dizendo..." (Mat. 5:2). Tal peça deve ser intitulada — O Ensino do Monte, e não O Sermão do Monte.
Também se revela bem a ênfase do Mestre em ensinar no
modo entusiasta e até agressivo pelo qual externou sua atividade educadora. Ele
ensinava em qualquer lugar e a toda hora — no Templo, nas sinagogas, no monte,
nas praias, na estrada, junto ao poço, nas casas, em reuniões sociais, em público
e em particular. "Relutava mesmo em curar, preferindo aproveitar a
oportunidade para apresentar sua mensagem." Mateus diz — "Andava Jesus por toda a Galiléia, ensinando
nas sinagogas deles, e proclamando as boas-novas do reino, e curando todas as
doenças e enfermidades entre o povo" (Mat. 4:23, tradução de
Goodspeed). Toda a obra de Jesus estava envolta em atmosfera didática, e não
tanto num ar de preleções ardentes, pois observamos que os ouvintes se sentiam
à vontade para lhe fazer perguntas, e ele, por sua vez, lhes propunha questões
e problemas.
Ele preparou um grupo
de mestres para que levassem avante sua obra. "No decorrer dos últimos
dias de sua trabalhosa vida, ele se dedicou ao ensino e preparo do pequeno
grupo de discípulos que a ele se agregara." E ele os enviou aos
confins da terra para que fizessem discípulos (para que matriculassem na escola
de Cristo), a batizá-los (uma ordenança educadora) e a instruí-los na
observância de todas as coisas que lhes tinha mandado (Mat. 28:19,20). Jesus
cria muito e muito no ensino, requisito este indispensável a qualquer
professor.
Ele se dedicou ao
ensino e sempre dignificou tal vocação. "A maior glória da profissão do
mestre está no fato de haver Jesus Cristo escolhido ser mestre, quando se viu
face a face com aquilo que tinha a realizar na vida." George H. Palmer
percebeu bem este espírito, quando assim se expressou "Creio tanto no
ensino que, se necessário fosse, pagaria pelo privilégio de ser mestre em vez
de receber algo por ensinar”.
II - O ENSINO DAS
ESCRITURAS NA IGREJA DO PRIMEIRO SÉCULO
A igreja primitiva perseverava no ensino da Palavra, de tal modo
que em Atos 5:42 lemos: "E todos os
dias, no templo e nas casas, não cessavam de ensinar e de anunciar a Jesus
Cristo.
No lar em que Timóteo cresceu, havia o ensino da Palavra de Deus.
Tanto foi assim que o apóstolo Paulo, ao escrever ao jovem pastor a sua segunda
carta, lembra e recomenda isso a Timóteo: "Tu,
porém, permanece naquilo que aprendeste e de que foste inteirado, sabendo de
quem o tens aprendido, e que, desde a tua meninice, sabes as sagradas letras,
que podem fazer-te sábio para a salvação, pela fé que há em Cristo Jesus."
(v. 14 e 15).
A palavra grega usada por Paulo em Efésios 4:11
significa "instrutor". Esses instrutores (mestres) com o dom do Espírito,
dados por Cristo à Igreja, podem ressaltar verdades negligenciadas, e ajudar a
treinar e a inspirar outros para também se tornarem mestres. Depois da mensagem do evangelho ter resultado em
conversões, os novos cristãos têm de ser ensinados. Na Grande Comissão (Mat.
28:18-20) logo depois da ordem para discipular vem: "ensinando-os a guardar todas as coisas que vos tenho ordenado".
Como podemos avaliar a
importância relativa dos dons Ministeriais? A única resposta possível a esta
pergunta é: "De acordo com o grau em que edificam". Já que todos os charismata
são dados para a edificação de cristãos individuais e da igreja como um todo,
quanto mais eles edificam, mais valiosos eles são. Paulo é claro como cristal a
respeito disto. "Visto que desejais
dons espirituais", ele escreve, "procurai progredir, para a edificação da igreja" (I Cor.
14:12).
Por este critério, os dons de
ensino têm o valor mais elevado, porque nada edifica melhor os cristãos do que
a verdade de Deus. Por isso, não é surpreendente encontrar um ou mais dons de
ensino encabeçando as listas do Novo Testamento. A insistência dos apóstolos na
prioridade do ensino tem relevância considerável na Igreja do nosso tempo. Em
todo o mundo, as igrejas estão espiritualmente subnutridas, por causa da
carência de expositores da Bíblia. Em áreas onde há movimentos de massa todos
estão suplicando mestres que instruam os convertidos. Por causa da escassez de
instrutores, é triste ver tantas pessoas preocupadas e até distraídas por dons
de importância secundária.
Portanto, os charismata são dados para
a "utilidade de todos". Paulo aplica este princípio em Efésios
4:11,12 aos dons de ensino. Cristo dotou alguns para serem "apóstolos,
outros para profetas, outros para evangelistas, e outros para pastores e
mestres". Por quê? Com que propósito? Ele mesmo responde.
"Com vistas ao
aperfeiçoamento dos santos para o desempenho do seu serviço, para a edificação
do corpo de Cristo". O objetivo imediato do instrutor é levar pessoas
cristãs (os "santos") à maturidade cristã e ao serviço cristão, equipando-os
para o seu ministério na Igreja e no mundo. Os mestres são chamados para serem
instrutores, seus ministérios são produzir mais ministérios, incentivando
outros a exercerem os dons que Deus lhes deu. Somente então o outro objetivo
será alcançado, que é (novamente) "a
edificação do corpo de Cristo", até que atinja sua unidade e
maturidade completas, a "medida da
estatura da plenitude de Cristo" (vv. 12,13).
Ill - A IMPORTÂNCIA
DO DOM MINISTERIAL DE MESTRE
Uma das coisas que a Igreja mais precisa na
atualidade é mais mestres em Bíblia. Mas isto também está nas mãos soberanas de
Deus. Ensinar é simplesmente uma capacidade, dada pelo Espírito, de firmar na
vida de cristãos o conhecimento da Palavra de Deus e a sua aplicação em seu
pensar e agir. O objetivo do ensino é que os cristãos sejam conformes à imagem
de Jesus. Isto pode e deveria ser feita com simplicidade, amor e profundidade.
Há muitos anos atrás conheci a história de dois professores de doutrina. Ambos
tinham alcançado o grau de doutor, e eram professores universitários por
direito adquirido. Tinham urna coisa em comum: quando ensinavam suas classes,
faziam-no com tanta humildade e amor que às vezes lhes vinham lágrimas aos
olhos. Esqueceu-se há muito grande parte do que ensinaram, mas ainda aquelas
"lágrimas" são lembradas.
A maneira que Paulo pôs as palavras em Efésios
4:11 dá tanta proximidade aos dons de pastor e de mestre, que quase poderiam
ser traduzidos como se fossem um só dom, "pastor-mestre". Isto
reforça a idéia de que o ensinador espiritual deve ter uma sensibilidade
amorosa quanto às necessidades dos seus alunos.
Alguns dos melhores ensinadores da Palavra não
tiveram muita instrução formal. E, em contraste, alguns dos ensinadores mais fracos
tinham Ph.D., em diversas disciplinas bíblicas e correlatas, mas faltava-lhes o
dom do ensino, para comunicar seu conhecimento. Infelizmente alguns seminários
se enquadram no conceito secular de ensinar, e alguns dos melhores ensinadores
bíblicos não têm diplomas, e por isso são impedidos de ensinar em um seminário
moderno. Teme-se que, se esta prática for levada ao extremo, isto possa ser
perigoso para a Igreja. Não se está querendo dizer que Deus não usa nossa
capacidade intelectual quando nos entregamos a Ele, mas o dom espiritual do
ensino, como todos os outros dons, é uma capacitação sobrenatural do Espírito
Santo e não um diploma universitário.
O dom do ensino pode ser unido em qualquer
contexto – seminário teológico, instituto bíblico, classe de escola dominical,
estudo bíblico em casa. O que importa é que quem tem este Dom o use onde e
quando Deus orientar.
Um dos primeiros
versículos da Escritura que Dawson Trotman, o fundador dos Navegadores, fazia
seus alunos memorizassem era: "Tome as palavras que você me ouviu anunciar
na presença de muitas testemunhas, e entregue-as aos cuidados de homens de
confiança, que sejam capazes de ensinar os outros" (2 Tim. 2:2, BLH).
Isto se parece
com uma fórmula matemática para anunciar o evangelho e aumentar a Igreja. Paulo
ensinou a Timóteo; Timóteo transmitiu o que sabia a homens de confiança; estes
homens capazes também ensinariam a outros. E assim o processo nunca é
interrompida. Se cada crente seguisse este método, a Igreja poderia alcançar o
mundo todo com o evangelho em uma geração! Evangelização de massas, nas quais
eu tenho confiança e a que entreguei a minha vida, nunca cumprirão a Grande
Comissão; somente um ministério um-a-um fará isto.
CONCLUSÃO
Concluindo, espero em DEUS ter
contribuído para despertar o seu desejo de aprofundar-se em tão difícil tema e
ter lhe proporcionado oportunidade de agregar algum conhecimento sobre estes
assuntos. Conseguindo, que a honra e glória seja dada ao SENHOR JESUS.
Ev. José Costa Junior