29 de setembro de 2020

O LIVRO DE JÓ - LIÇÃO 01

O Livro de Jó

Texto Áureo

Eis que temos por bem-aventurados os que sofreram. Ouvistes qual foi a paciência de Jó e vistes o fim que o Senhor lhe deu; porque o Senhor é muito misericordioso e piedoso.

Tiago 5.11

Podemos dizer que há uma dupla necessidade de paciência: 1º Quando somos perseguidos pelos ímpios (Tiago 5.7,8).

2º Quando há diferença de opinião entre crentes (Tiago 5.9-11).

Jó é sem dúvida um grande exemplo para os crentes, pois depois de Jesus, talvez tenha sido o homem que mais experimentou sofrimentos sem ter feito coisas que justificassem seus sofrimentos (por assim dizer).

Diferente de Jó, hoje em dia, basta muito pouca coisa para que inúmeros crentes percam logo a paciência diante das “lutas da vida”, é provável que

cerca de 80% dos que se dizem crentes não suportariam a metade do que Jó suportou.

Mas há muitas coisas que devem nos animar a ter paciência, neste capítulo de Tiago podemos citar:

O processo da natureza (Tiago 5.7), a volta do Senhor (Tiago 5.8), o exemplo dos profetas (Tiago 5.10) e a paciência de Jó (Tiago 5.11).

 

1 – Autoria, Local e Data do Livro

 

1.     O autor de Jó.

O livro de Jó é anônimo, a tradição judaica atribui a autoria do livro a Moisés, mas nada no livro sugere que o livro tenha sido realmente escrito por Moisés. Alguns estudiosos sugerem que o livro de Jó é o trabalho de vários autores, mas isso é muito improvável.

É muito mais provável e aceitável que o livro de Jó tenha sido escrito por um único autor.

Quando analisamos a fundo a historicidade do livro de Jó, temos todos os motivos para crer que, o autor, embora não tenha sido Jó e nem algum de seus amigos, era um israelita. O livro reflete episódios do período patriarcal onde a Lei dada por intermédio de Moisés ainda não havia sido promulgada. A história propriamente dita é de origem muito antiga, provavelmente transmitida por tradição oral ou escrita. O autor, evidentemente, fez um esforço deliberado para preservar o “sabor arcaico” (ou seja, os tempos remotos, de antes da existência da nação israelita) da linguagem de Jó e seus amigos.

Dentro da tradição judaica existe a chamada “literatura de Sabedoria” que é um material muito antigo de épocas remotas transmitido de geração a geração de forma oral e escrita, o livro de Jó pertence a esta chamada

“Literatura de Sabedoria”.

Muitos interpretes acreditam que a época do rei Salomão seja a data mais provável para a redação do livro de Jó. Pois o período de Salomão foi um divisor de águas para os materiais de estudo, por assim dizer, a prosperidade e o interesse pela sabedoria internacional, época em que os intelectuais de Jerusalém devem ter entrado em contato com antigos textos de sabedoria, entre eles, materiais sobre o tema do sofrimento humano.

E, há muitos outros interpretes que acreditam que o livro de Jó tenha sido escrito no período pós exílico.

Eu (professor José Junior) acredito que é bem possível que o livro de Jó tenha sido escrito por Salomão que obteve conhecimento oral e/ou escritos do fato, mas, posso estar errado nisto, pois, não há ninguém que possa atestar com clareza quem realmente foi o autor do livro.

Podemos perceber que, o autor do livro de Jó era um homem instruído cujo conhecimento abrangia os céus e a terra (Jó 22.12; 38.32,33 Jó 26.7,8; 28.9-11; 37;11,16). O conhecimento do autor faz referência a nações estrangeiras (Jó 28.16,19), vários produtos (Jó 6.19), e profissões humanas (Jó 7.6; 9.26; 18.8-10; 28.1-11), o autor estava familiarizado com plantas (Jó 14.7-9) e animais (Jó 4.10,11; 38.39; 40.15-41), o autor era um homem sábio, íntimo da sabedoria tradicional, mas acima de tudo um homem de sensibilidade espiritual (Jó 1.1,5,8; 2.3;14.14,15; 16.11-21; 19.23-27; 34.26-28; 40.1-5; 42.1-6).

O autor de Jó era sem dúvida alguém muito instruído, de grande sabedoria, podemos perceber isto pelos detalhes, a beleza poética do livro, as detalhadas informações do contexto histórico do livro mostram que o escritor foi um profundo pesquisador de fatos.

(Por isso, na minha opinião é bem possível que tenha sido Salomão o autor do livro de Jó, mas como eu disse, posso estar errado quanto a isso).

 

2.     A pessoa histórica de Jó.

O livro de Jó não conta uma história de ficção, mas sim a história real de um homem de Deus que viveu muitos séculos atrás. Além da menção a Jó no livro de Tiago, encontramos menções sobre Jó também no livro de Ezequiel.

Ainda que estivessem no meio dela estes três homens, Noé, Daniel e Jó, eles, pela sua justiça, livrariam apenas a sua alma, diz o Senhor JEOVÁ.

Ezequiel 14.14

Ainda que Noé, Daniel e Jó estivessem no meio dela, vivo eu, diz o Senhor JEOVÁ, que nem filho nem filha eles livrariam, mas só livrariam a sua própria alma pela sua justiça.

Ezequiel 14.20

E, segundo Russel Norman Champlin, foram encontrados fragmentos do livro de Jó entre os manuscritos do mar morto*. Isto é mais uma prova de que a história de Jó foi preservada ao longo dos séculos, não como sendo ficção, mas realidade.

 

Manuscritos do mar morto: é uma coleção de livros e fragmentos de livros encontrados nas cavernas de Qunram, no mar morto por volta de 1947. Qunram era uma antiga comunidade religiosa judaica próxima do local onde os manuscritos foram encontrados.

3.     A terra de Jó.

Jó é apresentado como um homem que vivia na terra de Uz.

Havia um homem na terra de Uz, cujo nome era Jó..

Jó 1.1

 

Segundo Champlin, alguns supõem que a terra de Uz ficasse situada em algum ponto entre Damasco da Síria, ao norte, e Edom, ao sul, ou seja, mais ou menos ao leste da Palestina. Mas a localização exata de Uz é impossível de ser apontada. A história mostra que Uz era um território muito extenso. Muitos estudiosos acreditam que Uz era próxima de Canaã.

4.     A época de Jó.

Acredita-se que a história de Jó foi ambientada a cerca de dois mil anos a.C., embora o livro tenha sido escrito provavelmente vários séculos mais tarde.

Jó viveu cerca de 140 anos após os eventos do livro (Jó 42.16), o que sugere uma duração de vida de cerca de 200 anos. (Abraão viveu 175 anos, Gênesis 25.7), as riquezas de Jó eram calculadas em termos de gado (Jó 1.3; 42.12), a atividade de Jó como sacerdote da família é idêntica a de Abraão, Isaque e Jacó (Jó 1.5),e a ausência de referência a fatos da história israelita ou a Lei dada por intermédio de Moisés (dentre outras coisas) sugere uma época pré-mosaica (isto é, uma época de cerca de 2000 ano a.C).

2 – Estrutura Literária do Livro de Jó

1.     Prosa e poesia.

2.     Organização.

3.     Abundância de figuras de linguagem.

O livro de Jó dá inicio a sessão de livros poéticos da Bíblia (Jó, Salmos, Provérbios, Eclesiastes, Cantares de Salomão e Lamentações).

Em sua forma poética estes livros investigam a condição humana e relacionam os homens com Deus de maneiras múltiplas. São livros que retratam experiências humanas do povo de Deus, sob as várias circunstâncias da vida terrena. Os livros poéticos são épicos, líricos e dramáticos. São exemplos de expressões literárias que não há igual nas literaturas poéticas não inspiradas pelo Espírito Santo.

3 – Natureza e Mensagem do Livro de Jó

1.     Por que os justos sofrem.

Seria uma atitude presunçosa dizer que podemos entender o livro de Jó em sua totalidade, podemos sim compreender muitas coisas do livro, mas não a totalidade do livro, assim como Jó podemos somente por a mão na boca diante de alguns pontos (Jó 40.4).

 

O livro de Jó fala de realidades imutáveis (imutáveis por causa do pecado no mundo) tais como a guerra, a miséria, a doença, a humilhação, a perda de entes queridos, a depressão. Mas o livro de Jó fala também sobre a bondade imutável de Deus que transforma a nossa agonia humana em justiça, bondade e alegria.

Jó perdeu suas riquezas, sua família e sua saúde. Jó não sabia por que Deus permitiu que aquilo acontecesse com ele, pois ele era um homem sincero, reto, temente a Deus e desviava-se do mal (Jó 1.1), aos olhos de Jó, ele não merecia passar por aquilo, pois era um homem temente a Deus. Percebemos que, quando o mal atinge outras pessoas, é mais fácil para nós formular uma resposta sobre o porque o mal atingiu as outras pessoas, mas, quando o mal nos atinge é mais difícil chegar a uma resposta aceitável. Dentro do contexto do livro de Jó acreditava-se que apenas os maus sofriam, e, se alguém aparentemente justo sofria, era sinal de que a pessoa na verdade não era justa. Mas Jó aprenderia aquilo que Salomão aprendeu.

Tudo sucede igualmente a todos: o mesmo sucede ao justo e ao ímpio, ao bom e ao puro, como ao impuro; assim ao que sacrifica como ao que não sacrifica; assim ao bom como ao pecador; ao que jura como ao que teme o juramento.

Eclesiastes 9.2

Neste mundo, por causa da ação do pecado, tudo sucede a todos, ou seja, o sofrimento vem para todos, de uma forma ou de outra, sofrem ricos, pobres, pretos, brancos, homens, mulheres, crianças, brasileiros, americanos e etc.

2.     Existe bondade desinteressada?

Para muitas pessoas toda e qualquer prática religiosa não passa de barganha, esse pensamento é o mesmo que satanás apresentou a Deus a respeito de Jó (Jó 1.6-12).

Ao contrário do que pensam muitos o livro de Jó não é uma teodiceia *, mas trata da questão da “adoração verdadeira”.

*Teodiceia- A defesa da bondade de Deus diante do sofrimento humano.

Na verdade, esta é uma pergunta difícil de ser respondida, os maiores interpretes da Bíblia não dão uma resposta satisfatória para esta pergunta.

A sugestão sutil de satanás é de que a adoração a Deus é basicamente algo egoísta, fere no âmago a relação entre os servos de Deus e Deus.

Porventura alguém servirá ao Senhor se não obtiver algum lucro como bens materiais, saúde e por fim a vida eterna?

Como não encontrei nem entre os maiores interpretes bíblicos uma resposta satisfatória, responderei esta pergunta de acordo com o que vejo na Bíblia?

Na época de Jó não havia promessa de vida eterna (alguns dos primeiros textos bíblicos que vemos a respeito de vida eterna no Velho Testamento estão em Isaías 26.19 e Daniel 12.2), e mesmo após perder sua família, seus bens, sua riqueza, Jó permaneceu fiel aos preceitos de Deus, se Jó servisse a Deus por interesse, certamente ele teria abandonado sua integridade e meio ao sofrimento, se sua adoração fosse por interesse, diante do sofrimento, Jó simplesmente não teria mais visto razão para continuar vivendo de forma que agradasse a Deus e satanás estaria certo em sua tese.

Mas Jó mostrou que não servia a Deus por interesse. Portanto, existe sim “bondade desinteressada” é perfeitamente possível servir a Deus de forma desinteressada.

3.     Pode o homem compreender Deus?

A resposta para esta pergunta é um grande e sonoro NÃO.

8.   Porque os meus pensamentos não são os vossos pensamentos, nem os vossos caminhos, os meus caminhos, diz o SENHOR.

9.   Porque, assim como os céus são mais altos do que a terra, assim são os meus caminhos mais altos do que os vossos caminhos, e os meus pensamentos, mais altos do que os vossos pensamentos.

Isaías 55.8,9

Jó tinha uma fé verdadeira em Deus, com Jó aprendemos que é muito mais importante “ser” do que “ter”. Jó tinha muitos bens, mas antes de tudo isso, Jó era um verdadeiro homem de Deus, com uma fé verdadeira. A fé verdadeira crê que Deus fará aquilo que Ele quer e como Ele quer, e não o que queremos e não como queremos.

 

Conclusão

 

Nesta lição aprendemos algumas informações básicas sobre o livro de Jó, estas informações nos ajudam a compreender melhor o livro de Jó e também as sagradas escrituras como um todo.

Fontes

Enciclopédia Bíblica Russel Norman Champlin,

 Bíblia de Estudo Explicada,

Bíblia de Estudo Arqueológica,

Bíblia de Estudo Pentecostal,

Dicionário Bíblico Tyndale, Pequena Enciclopédia Bíblica Orlando Boyer,

Série Cultura Bíblica – Jó,

Apontamentos teológicos professor José Junior.

 

O Livro de Jó

Texto Áureo

"Eis que temos por bem-aventurados os que sofreram. Ouvistes qual foi a paciência de Jó e vistes o fim que o Senhor lhe deu; porque o Senhor é muito misericordioso e piedoso." (Tg 5.11)

 

Verdade Prática

O livro de Jó não é apenas uma preciosidade da literatura universal, mas, sobretudo, uma poderosa reposta de Deus para as grandes questões da vida.

LEITURA BÍBLICA EM CLASSE

2 Timóteo 3.16; Ezequiel 14.14,19,20; Tiago 5.11.

OBJETIVO GERAL

Mostrar que o Livro de Jó é uma poesia inspirada que retrata o dilema vivido por uma pessoa histórica.

OBJETIVOS ESPECÍFICOS

I. Mostrar que, a partir das evidências internas do livro, é possível conhecer o contexto no qual Jó viveu;

II. Especificar o gênero literário e de que forma esse conhecimento ajuda na compreensão do Livro de Jó;

III. Identificar o propósito e a mensagem do Livro de Jó.

Introdução

O livro de Jó ocupa um lugar muito particular na Palavra de Deus. Ele tem um caráter totalmente próprio, e ensina lições que não vamos achar em nenhuma outra parte do inspirado Volume. Não é o nosso propósito abordar a questão da autenticidade deste precioso livro nem aportar as provas da sua divina inspiração.

Estas coisas temos por certas; e não temos a menor dúvida em quanto à sua veracidade, por quanto deixamos tais provas em mãos mais capazes. Recebemos o livro de Jó como parte das Sagradas Escrituras e, por tanto, para proveito e bênção do povo de Deus. Não precisamos de provas para nós, nem pretendemos oferecer nenhuma delas aos nossos leitores.

 

E cabe agregar ainda que não temos intenções de entrar em investigações a respeito da autoria deste livro, tema que, por muito interessante que seja, cremos se trate de um assunto puramente secundário. Recebemos o livro como procedente de Deus, e isto nos basta. Cremo de todo coração que é um escrito inspirado, e sentimos que não nos incumbe discutir a questão referente a onde, quando e por quem foi escrito.

Resumindo, nos propomos, com a ajuda do Senhor, oferecer ao leitor alguns pensamentos simples e práticos sobre este livro, o qual cremos que requer de um estudo mais profundo para poder ser melhor compreendido. Queira o Espírito eterno —o Autor do livro— explicá-lo e aplicá-lo a nossas almas!

I – AUTORIA, LOCAL E DATA DO LIVRO DE JÓ

1.O Nome

Para alguns historiadores, o nome de Jó é apenas figura de um personagem, para servir de titulo ao livro. Parece não ter consistência esta opinião, Porque ele é mencionado em outros livros da Biblia como o nome de uma pessoa. Veja Ez. 14:14,18,20. Os árabes conservam tradições a respeito de Jó como personagem pertencente aos patriarcas, príncipes dos seus maiores. É lembrado como um homem rico e que, por sua fidelidade a Deus, foi provado na sua vida e prosperidade. O teor do livro mesmo nos leva à convicção de que o personagem era uma pessoa real, tal como a descreve o poema. Jeremias, o profeta (cap. 20:14- 18), representa-se a si mesmo, nas suas aflições, como Jó. Isaias (59:,I) representa não tanto o livro, mas a pessoa de Jó. Alguns salmos (8:4 e refs.) também nos representam a pessoa de Jó. Não temos qualquer dúvida de ser Jó ó homem que viveu o drama que o livro descreve.

2. A Terra de Jó

A terra de Jó era Uz; ficava (ou fica) ao sul de Edom e a oeste do deserto da Arábia, região meio deserta, e que se estende para leste, até Babilônia. Tem havido algumas objeções quanto a esta região ser a terra de Jó; todavia, não padece muita dúvida, pois é a que mais se coaduna com os termos descritos no livro. Terra de criadores, agricultores, como eram os edomitas e amonitas dos tempos bíblicos. Tanto a terra como o nome estão identificados.

3.A Data do Livro

 Não há possibilidade de se determinar a sua data, nem o seu autor. O fato de ser mencionado pelos profetas antigos e de aparecer em muitos passos das Escrituras nos leva a crer que deve ser um livro da alta antiguidade.

Alguns escritores o colocam no período da monarquia e dão a Salomão a sua autoria. Outros avançam mais um pouco e o levam ao período do cativeiro de Israel e Judá (596,a.C.). Não parece fácil sustentar tal posição. O panorama da obra e o seu conteúdo estão muito longe de satisfazer a uma data tão avançada. O ambiente é patriarcal e primitivo.

Mesmo que se deseje destacar a época dos acontecimentos narrados com a data do seu aparecimento, parece que qualquer data depois do Êxodo é de difícil sustentação. Reconhecemos que um escritor poderia, em época muito posterior aos acontecimentos relatados, descrever a situação tal como a encontramos na obra; entretanto, o todo do livro nos leva a ver que tanto os fatos como a pessoa que os relatou vêm de eras muito afastadas.

Pensam alguns que os acontecimentos relatados foram transmitidos de geração à geração, até que um escritor os reduziu à sua forma atual. Poderia ter sido assim, mas a nós se nos afigura que tanto um pensar como o outro vêm de eras distantes da história dos judeus. No livro não há referência a templos, nem a sacerdócio, a não ser aquelas idéias sacerdotais muito primitivas, como nos tempos de Melquisedeque ou Jetro. Parece que um regime de sacrifícios regulares, um sacerdócio regular, eram coisas inexistentes. Seria difícil a qualquer escritor, a não ser por deliberação antecipada, escrever uma obra como o livro de Jó, totalmente à margem da vida atual, no caso de ter sido escrito durante a monarquia ou mesmo depois. Há, é certo, referências a sacrifícios, e Jó mesmo os oferecia pelos filhos; no entanto, esta noção de sacrifícios é muito mais antiga do que qualquer livro da Bíblia.

O fato de o livro apresentar pontos de contato com outros da Bíblia tanto pode ser atribuído ao conhecimento que o autor tinha do meio ambiente, como pode tratar-se de referências dos escritores sagrados a uma obra previamente existente. Isso não prova coisa alguma. O que temos de ver é a situação do livro perante o ambiente em que foi produzido. Se foi escrito no tempo da monarquia, então deveria conter referências a reis e costumes; se depois do cativeiro, teria de denunciar os acontecimentos de entro. Nada disso ocorre. O livro é totalmente neutro, quer em relação aos dias da monarquia e seus sacerdotes, quer quanto aos sacrifícios referentes aos sofrimentos dos deportados. A impressão que se colhe é que o autor ignorava totalmente a história da sua nação.

 

Diga-se de passagem que, para a nossa crença na inspiração da história do livro, não carecemos nem de conhecer a data da sua composição, nem o seu autor, pois que temos tantos outros livros cujos autores e datas ignoramos, e, no entanto, podemos colocá-los em datas determinadas pelos ensinos contidos. Não sabemos, porém, quando foi produzida esta obra.

Não poucos autores atribuem o livro a Moisés, escrito durante o tempo que viveu na região de Edom. Se pudéssemos aceitar esta opinião então o dataríamos entre 1480-1440 a.C. Como veremos na seção seguinte, esta opinião parece ser a que mais se coaduna com o seu texto.

O livro apresenta diversos pontos de contato com outros livros da Bíblia. Compare- se Jó 3 com Jer. 20:14-18; Jó 15:35 com Is. 59:4; ainda Jó 16:10,30:9 com Is. 53, o Servo do Senhor; Jó 7:17 e Sal. 8:4; Jó 5:13 com I Cor. 8:19; Jó 5:13 e Tiago 5:11.

4. Autoria do Livro

Alguns o atribuem a Salomão. Não negamos as qualidades deste escritor para escrever um drama como o livro de Jó, mas parece que não seria possível obra tal, nesta época, visto que abstrai totalmente o meio ambiente de então, inclusive o trono, o reino, o templo e tudo mais que o tempo de Salomão nos oferece. Pensam outros que teria sido escrito por Neemias ou Esdras; certo escritor admite Mardoqueu o haver escrito.

Nada disso nos parece natural. Esdras e Neemias eram homens políticos, com grandes responsabilidades públicas no governo, que não lhes deixariam tempo e condições para escrever um livro do tipo de Jó, onde se descobre um arranjo poético, encadeado de diversos quadros e atos, como se tivesse sido escrito para um teatro. Mardoqueu não teve nem tempo para cuidar da defesa do seu povo, diante de tantas aflições e agonias, a não ser depois que Ester se tomou rainha; nem ainda assim nos parece ter tido condições ambientais para tal tarefa.

O livro parece denunciar certo contato com o ambiente da época de Moisés, pois o capitulo 28 menciona rubis, cristal, topázio, a pedra ônix, justamente as pedras que os mineiros do Sinai cavavam para os reis do Egito, e ninguém melhor do que Moisés conhecia as minas do Egito no Sinai. Lá viveu 40 anos e teria entrado em contato com os mineiros que extraíam essas preciosidades para a corte egípcia.

Enquanto pastoreava as ovelhas do sogro, trabalhava no seu alfabeto e cooperava com os sacerdotes no culto de Serabite, bem poderia organizar, em forma poética, a história de Jó, que seria coeva com aqueles dias.

Não podemos afirmar que Moisés tenha sido o autor do livro ora em estudo, mas esta é nossa modesta opinião.

Poucos escritores, que conhecemos, poderiam escrever um livro como este; nem mesmo Salomão teria tido vagares para uma tal obra, pois era cientista, ocupado com botânica, zoologia e negócios públicos. Se pudermos colocar a data do livro no período de Moisés, na região de Edom, então não teremos muitas dificuldades para contornar os problemas que o livro nos oferece. Era homem competente e tinha tempo para a concatenação desta obra. Em poeta (Sal. 90 e Deut. 32).

Vivia perto da região onde Jó tinha vivido ou morado. Notamos mais, que a teologia do livro se parece muito com a dos tempos primitivos, com o sacerdócio pré-mosaico, quando não estavam ainda definidos os contornos com os seus doutores e intérpretes, as suas doutrinas da teocracia, nas sobre a nacionalidade e suas responsabilidades perante Deus.

5. A Natureza do Livro

Drama, poema, écloga, qual será a melhor qualificação para o assunto de Jó? Parece-nos que o melhor é lhe darmos a categoria de drama esta não foi a idéia do autor, pelo menos foi o drama da vida de Jó, que nos deu o livro. Se comparássemos Jó aos grandes livros dos poetas gregos, como a "Eneida" e tantos outros, parece que o nosso levaria vantagem. É um livro universal em sua doutrina e sua moral. Não há nada na literatura humana que lhe seja comparável. É o livro que responde à pergunta: Por que sofre o justo, enquanto o ímpio prospera.? É o compêndio de todas as épocas e de todos os sistemas religiosos. Nenhum coração ferido bate-lhe à porta sem encontrar alivio e conforto, no reconhecimento de que a Justiça Divina pode tardar, mas vem. É o livro que nos mostra a piedade de um homem justo e nobre, e não obstante foi atirado às mais sombrias masmorras do sofrimento, embora ao mesmo tempo mantivesse a sua integridade e fé em Deus, contra as insinuações de sua mulher e dos seus amigos. É o único livro que nos mostra o poder e a liberdade que as trevas têm, no mundo moral de Deus.

É o livro que, vindo de remotas eras, nos mostra que há um juiz, que no ÚLTIMO DIA se levantará para fazer justiça aos seus escolhidos. Quando lemos os "Diálogos de Platão", admiramos a sua esperança em face das injustiças da sua gente e sua esperança de que, depois de tudo, ainda há esperança.

Em Jó há mais do que isto: temos a reivindicação da justiça divina para o tempo presente, e que chega antes do fim de tudo na vida de um homem. Neste livro temos a paciência que vence o sofrimento, contra todos os elementos do meio ambiente.

É um livro onde o homem silencioso, o homem que se cala, realiza mais do que o que discursa (conf. 2:13; 3:5). É livro que nos mostra que os nossos amigos são, como dizia o Padre Antônio Vieira: "certos amigos que não são amigos certos", e que só há um que é certo, embora pareça ausente tantas vezes. É o livro que nos ensina que nem sempre o sofrimento é resultado do pecado e que o justo sofre mais do que o ímpio. Muito confiadamente Jó nos mostra o Redentor, que no último dia nos fará justiça (19:25). É o livro de conforto para o abatido, o sofredor, o perseguido. É o livro que não nos ensina tudo, mas nos leva a confiar na justiça divina, que a seu tempo virá, e não tardará.

O livro de Jó como peça de literatura não tem igual. Nem mesmo o Salmo 119 ou o 23, considerados peças incomparáveis. Lutero o reputava magnífico e sublime como nenhum outro das Escrituras. Tennyson o chamava o maior poema da literatura humana em todos os tempos. "O Paraíso Perdido", de Milton, e "O Peregrino", de João Bunyan, não lhe podem ser comparados. Na sua esperança de uma justificação futura, Sócrates, no mundo da literatura clássica, mostra ter alguma semelhança; mas igual, nunca. É o maior poema de todos os tempos, no dizer de Tennyson.

6. Sua Mensagem para a Vida Humana

O livro é flagrantemente uma denúncia contra tudo quanto é suficiência humana para resolver os mais graves problemas da vida, especialmente no terreno do sofrimento. Todos os discursos dos amigos de Jó, assim como todos os escritos, tanto os inspirados como os profanos, de modo geral, ignoram as atividades de Satanás, no seu afã de destruir não apenas a crença, mas a vida mesma. Todos os crentes têm perfeita ciência da existência de Satanás, porém não têm a concepção do seu campo de atividades na vida como o livro de Jó nos mostra. Os dois primeiros capítulos dariam um substancioso tratado sobre demonologia, verdade, em que, parece, jamais alguém pensou.

Algumas lições práticas talvez nos sirvam. A primeira é que Satanás tem acesso a Deus como qualquer dos anjos fiéis. No seu papel destruidor, está enquadrado nos eternos planos de Deus, e deste círculo não pode sair. Isso se torna evidente pela leitura dos capítulos 1:12 e 2:6.

Podemos, pois, descansar, que Satanás não faz o que deseja. É bem verdade que as provações trazem muitas amarguras e sofrimentos, mas também é certo que o governo supremo do mundo está nas mãos do Deus Onipotente, Senhor e Criador. Em segundo lugar, não devemos pensar que Deus onisciente careça de informações, sejam de Satanás, sejam de qualquer outra força.

Tudo Ele sabe e conhece e nada escapa ao Seu domínio. Isso veremos nos estudos posteriores. Em terceiro lugar, precisamos sempre ter em vista que não conhecemos o pensamento divino, nem os seus planos para a vida de cada um de nós. Devemos descansar nas mãos do Todo-Poderoso, sabendo que Ele cuida dos passarinhos, e dos seus servos, também. Armados com estas idéias, podemos vencer Satanás e seus anjos, e ficar firmes, na segurança de que tudo está nas mãos de Quem tudo pode e que nada escapa ao Seu domínio e governo.

Vistas estas idéias preliminares, aduziremos que o livro de Jó nos convence de nossa insignificância e do dever de sermos humildes em nossas tribulações. Isto é evidente através de todos os ensinos do livro. Não nos cabe discutir os atos de Deus, nem o modo como Ele governa e domina o nosso mundo. Até mesmo aqueles que pretendem interpretar o nosso caso possivelmente devem ser recebidos com as devidas ressalvas; isso se vê nos conselhos dos amigos de Jó, os quais, querendo auxiliar, desajudavam o que estava sofrendo. Qualquer controvérsia a respeito da maneira como Deus governa as coisas deste mundo servirá apenas para amontoar palavras, e nada mais. Estamos envoltos em mistério, e, assim como as nuvens encobrem a luz do sol, a nossa insuficiência esconde o pensamento divino.

De uma coisa podemos estar sempre certos e seguros: O Diabo não ganha a última batalha. Esta pertence ao Senhor, e nós estamos com Ele. Se o livro de Jó não nos leva a um conhecimento mais profundo da natureza humana e dos perigos a que ela está sujeita, ao menos nos mostra que ela não está só no combate contra as forças do mal. Muitos lances da batalha ficam sempre obscuros, e nem o soldado conhece os planos do seu comandante para o encaminhamento do mesmo; apenas permanece firme no seu lugar, até vencer, ou cair. Nós ficamos firmes até vencer, porque o nosso comandante sempre vence (veja os comentários ao cap. 40).

Devemos ainda ter em mente que esta vida não é final, é apenas preparatória; e a vida e a vitória futuras devem ser sempre o nosso alvo. Jó, no auge da sua aflição, suspirava por um mediador, um advogado, que não sabia onde estaria, mas admitia, deveria existir. Nós já temos esse Mediador e Advogado, e para Ele devem ir os nossos pensamentos.

 

 

Se Jó tivesse o Cristo que nós temos, a sua história seria outra; porém não tinha, e dai o seu desespero e agonia. Tenhamos em mente ainda que nosso Senhor também foi tentado e passou por horas amargas na Sua carne. Finalmente venceu. Tinha de vencer. Será a mesma coisa conosco. Venceremos.

O LIVRO DE JÓ

Tema. Através do problema da teodicéia, o livro de Jó apresenta novamente a exigência central religiosa da Aliança. Exige dos homens consagração sem reservas para com o seu soberano Senhor. E este aspecto da Aliança, esta consagração ao Criador transcendente e incompreensível, identifica-se com o aspecto da sabedoria. Desse modo apresenta a Igreja como seu conseqüente testemunho da revelação redentora diante das escolas da sabedoria do mundo.

ESTRUTURA LITERÁRIA DO LIVRO DE JÓ

Seria interessante examinar a estrutura literária do livro de Jó, à medida que Jó e seus amigos começam a apresentar seus respectivos discursos. A seguir, temos um esboço que focaliza as partes mais importantes do livro:

Prólogo (Jó 1;2) – escrito em prosa;

Primeiro lamento de Jó (Jó 3) – daqui em diante, até o capítulo 42:7 – escrito em poesia;

Primeiro ciclo de diálogos: Elifaz (Jó 4; 5); Jó (6;7); Bildade (8); Jó (9;10); Zofar (11); Jó (12-14);

Segundo ciclo de diálogos: Elifaz (15); Jó (16,17); Bildade (18), Jó (19); Zofar (20); Jó (21);

Terceiro ciclo de diálogos: Elifaz (22); Jó (23,24); Bildade (25); Jó (26,27).

O monólogo de Jó (28-31);

O discurso de Eliú (32-37);

A resposta de Deus e o arrependimento de Jó (38-42:6);

Epílogo (42:7-17) – escrito em prosa

É interessante notar que, depois do primeiro lamento de Jó (Jó 3), os dois primeiros ciclos de diálogo são estruturados de forma quase idêntica, com a fala de um amigo e a resposta de Jó. O terceiro ciclo é mais curto e leva ao prolongado monólogo de Jó.

O discurso de Eliú serve como um intervalo antes de Deus finalmente. Se pronunciar. Tudo isso cria uma forte “movimentação “em direção à resposta de Yahweh, que serve como clímax literário para o livro de Jó. Depois da resposta divina, o epílogo (escrito, como o prólogo, em prosa e não em poesia) pões fim ao livro de Jó, que é definitivamente uma obra literária belamente delineada.

ORGANIZAÇÃO

No plano literário, o livro se divide em três partes. O prólogo (1,1–2,13) e o epílogo (42,7-17), redigidos em prosa, formando a moldura em torno da seção dos diálogos poéticos (3,1–42,6), esta parte formulada em versos, e ocupa o centro do livro. O quadro, a seguir, apresenta a estrutura geral do livro.

I Prólogo em prosa 1,1-2

II Diálogo poético 3,1-42,6

III Epílogo em Prosa 42,7-17

ESBOÇO

I. Desolação: A provação da sabedoria de Jó. 1:1 – 2:10.

A. Descrição da sabedoria de Jó. 1:1-5.

B. A sabedoria de Jó é negada e manifesta. 1:6 – 2:10.

l. A inimizade de Satanás. 1:6-12.

2. A integridade de Jó. 1:13-22.

3. A persistência de Satanás. 2:1-6.

4. A paciência de Jó 2:7-10.

II. Lamentação: O caminho da sabedoria perdido. 2:11 – 3:26.

A. A vinda dos homens sábios. 2:11-13.

B. A impaciência de Jó. 3:1-26.

III. Julgamento. O caminho da sabedoria obscurecido e iluminado. 4:1

A. O veredito dos homens. 4:1 – 37:24.

1. Primeiro ciclo de debates. 4:1 – 14:22.

a. Primeiro discurso de Elifaz. 4:1 – 5:27.

b. A réplica de Jó a Elifaz. 6:1 – 7:21.

c. Primeiro discurso de Bildade. 8:1-22.

d. A réplica de Jó a Bildade. 9:1 – 10:22.

e. Primeiro discurso de Zofar. 11:1-20.

f. A réplica de Jó a Zofar. 12:1 – 14:22.

2. Segundo ciclo de debates. 15:1 – 21:34.

a. Segundo discurso de Elifaz. 15:1-35 .

b. A segunda réplica de Jó a Elifaz. 16:1 – 17:16.

c. Segundo discurso de Bildade. 18:1-21.

d. A segunda réplica de Jó a Bildade. 19:1-29.

e. Segundo discurso de Zofar. 20:1-29.

f. A segunda réplica de Jó a Zofar. 21:1-34.

3. Terceiro ciclo de debates. 22:1 – 31:40.

a. Terceiro discurso de Elifaz. 22:1-30.

b. A terceira réplica de Jó a Elifaz. 23:1 – 24:25.

c. Terceiro discurso de Bildade. 25:1-6.

d. A terceira réplica de Jó a Bildade. 26:1-14.

e. Instruções de Jó aos amigos silenciados. 27:1 – 28:28.

f. Protesto final de Jó. 29:1 – 31:40.

4. O ministério de Eliú. 32:1 – 37:24.

B. A voz de Deus. 38:1 - 41:34.

1 . O desafio divino. 38:1 – 40:2.

2. Submissão de Jó. 40:3-5.

3. O desafio divino renovado. 40:6 – 41:34.

IV. Confissão: O caminho da sabedoria retomado. 42:1-6.

V. Restauração: O triunfo da sabedoria de Jó. 42:7-17.

A. A sabedoria de Jó é vindicada. 42:7-9.

B. A sabedoria de Jó é abençoada. 42:10-17.

III – NATUREZA E MENSAGEM DO LIVRO DE JÓ

Imagine um dia que começa como qualquer outro. Você se levanta para ir ao serviço e, chegando na firma, encontra as portas lacradas. A firma fechou, sem aviso. Você, inesperadamente, ficou desempregado. Tendo obrigações para cumprir, você decide ir ao banco para sacar dinheiro e pagar algumas contas que estão vencendo. Mas, chegando ao banco, eles dizem que sua conta foi fechada, sem explicação, e que você não tem nenhum centavo.

O dia já está piorando. Você resolve voltar para casa, ainda tentando entender o que está acontecendo. Chegando perto de sua rua, você percebe vários bombeiros e ambulâncias correndo por todos os lados. Suas vizinhas estão na rua, chorando inconsolavelmente. Antes de você chegar até sua casa, um dos vizinhos chama você e fala palavras que jamais esquecerá: "Aconteceu tão rápido", ele diz, "que não foi possível salvar ninguém. A casa, de repente, explodiu. Todos que estavam dentro morreram. Eu sinto muito. Todos os seus filhos estão mortos."

Alguns dias passam. Você acorda num lugar estranho. Olhando para seu redor, percebe que está num hospital. Você está sentindo dores terríveis, e uma coceira constante. Depois de algumas horas de sofrimento, a enfermeira avisa que está na hora de visita. No seu caso, várias pessoas serão permitidas entrar para visitá-lo. A primeira pessoa que entra no quarto é sua esposa. Precisando muito de uma palavra de consolo e de explicação, você olha para ela com tanta esperança, nunca imaginando o que ela vai falar. Ela chega perto da sua cama e começa a gritar: "Eu não entendo a sua atitude", ela diz. "Sua fé não vale nada. Você confia num Deus que fez tudo isso? Amaldiçoe o nome de Deus e morra!" Com essas palavras, ela sai do quarto.

Enquanto você procura entender tudo isso, chegam alguns amigos seus. São velhos amigos, sempre prontos para ajudar. Agora será consolado! Mas, eles entram no quarto, vêem seu estado crítico e seu corpo desfigurado pela doença, e não falam nada. Ficam com a boca aberta, olhando, mas não acreditam. Depois de um longo período de silêncio, um deles fala: "Você mereceu isso. Você deve ter feito alguma maldade muito grande, e Deus está te castigando. Ele tirou todos os seu bens e matou seus filhos. Ele causou esta sua doença. Ele fez tudo isso porque você é mau!" Você começa discutir quando um dos outros concorda com o primeiro, e depois outro também concorda com eles. Não adianta discutir. Para eles, você é um detestável pecador que deve sofrer mais ainda.

De repente, algumas crianças passam no corredor. Você se anima, porque crianças sempre trazem alegria e amor. Mas, estas crianças param na porta, vêem a feiura do seu rosto e corpo, e saem correndo. "Nunca vi nada tão feio", uma delas comenta.

Tudo ficção? Jamais aconteceria uma coisa tão terrível? Modifiquei os detalhes para ajudar você, o leitor moderno, sentir na pele o que aconteceu na vida de Jó. O livro de Jó é, possivelmente, o primeiro livro bíblico escrito. Um homem fiel e abençoado por Deus perdeu, num dia só, todas as suas posses e todos os seus filhos. Logo depois, foi atacado por uma terrível enfermidade.

A própria esposa foi contra este homem de Deus, e disse: "Amaldiçoa a Deus e morre" (Jó 2:9). Os amigos o condenaram e discutiram com ele para provar a sua culpa (a maior parte do livro relata essas discussões, começando no 2:11 e continuando até 37:24). Todos os conhecidos dele, até as crianças, o desprezaram (19:13-19).

O livro de Jó trata de um dos assuntos mais difíceis na experiência humana: como entender e lidar com o sofrimento. É um livro rico e cativante que todos os servos de Deus precisam estudar. Um dia, mais cedo ou mais tarde, ele será útil na sua vida. Neste artigo, vamos considerar algumas lições claras e importantes desse livro.

Pessoas boas sofrem

Talvez o ponto principal do livro é o simples fato que pessoas fiéis a Deus ainda sofrem nesta vida. O primeiro versículo do livro já define, do ponto de vista de Deus (veja, também, Jó 1:8) o caráter de Jó: "Havia um homem na terra de Uz, cujo nome era Jó; homem íntegro e reto, temente a Deus e que se desviava do mal." Enquanto entendemos que o sofrimento entrou no mundo por causa do pecado (Gênesis 3:16-19), aprendemos em vários trechos bíblicos que a dor e a tristeza atingem as pessoas boas e dedicadas. Jó, um homem íntegro, sofreu imensamente. Paulo, um servo dedicado ao Senhor, sofreu muito mais do que a grande maioria dos ímpios (2 Coríntios 11:23-27).

Mesmo quando ele pediu a Deus, querendo alívio de algum problema, Deus recusou seu pedido (2 Coríntios 12:7-9). Mas, não devemos estranhar com isso, pois o próprio Filho de Deus sofreu na carne (Hebreus 2:9-10,18). Os que servem a ele sofrem, também.

 

O diabo quer nos derrubar com o sofrimento

O propósito de Satanás fica bem claro nos primeiros dois capítulos de Jó. Ele vê o sofrimento como uma grande oportunidade para derrubar a fé dos servos de Deus. Ele aceitou o desafio de tentar destruir a fé de um dos homens mais idôneos do mundo. Depois, ele foi tão ousado que desafiou o próprio Jesus, usando todas as tentações imagináveis para o vencer (Mateus 4:1-11).

O diabo entende muito sobre a natureza humana. Ele sabe que pessoas que servem a Deus fielmente quando tudo vai bem na vida podem ser tentadas por meio de alguma calamidade pessoal. Problemas financeiros, a morte de um ente querido, alguma doença grave -- tais sofrimentos na vida são, freqüentemente, o motivo de abandonar a Cristo. Enquanto a mulher de Jó não prevaleceu na vida do próprio marido, o conselho dela (Jó 2:9) vem derrubando a fé de muitas outras pessoas que enfrentam dificuldades na vida. Jó não sabia a fonte de seu sofrimento (capítulos 1 e 2 contam a história para nós, mas ele não sabia de tudo que estava acontecendo entre Deus e Satanás). Às vezes, nós não temos noção da fonte das nossas dificuldades. Mas, podemos ter certeza que o diabo está torcendo para que tropecemos e afastemos de Deus.

Amigos nem sempre ajudam

Três amigos de Jó ficaram sabendo de seu sofrimento, "e combinaram ir juntamente condoer-se dele e consolá-lo" (Jó 2:11). Mas as palavras deles não ajudaram. Ofereceram explicações baseadas nas opiniões deles, e não na verdade que vem de Deus. Onde Deus não tinha falado, eles ousaram de falar. O resultado não foi consolo e ajuda, e sim perturbação e desânimo. A mesma coisa acontece hoje.

Quando alguém sofre de um problema de saúde, outras pessoas tendem falar sobre algum caso triste de alguém que teve a mesma doença e morreu. Quando uma pessoa amada morre, muitas pessoas procuram confortar a família com palavras insensatas e até mentirosas. É melhor falar umas poucas palavras com compaixão do que falar muito e entristecer a pessoa mais ainda. Quando sofremos perda, é melhor procurar conselho na palavra de Deus e da boca de pessoas que a conhecem e que vivem segundo a vontade do Senhor.

Deus não explica tudo

Quando sofremos, é natural perguntar: "Por quê?". Jó fez isso (Jó 3:24). Habacuque fez a mesma coisa (Habacuque 1:3).

Milhões de outras pessoas têm feito a mesma pergunta. É interessante e importante observar que Deus não responde a todas as nossas perguntas.

Pode ler o livro de Jó do começo ao fim, e não encontrará uma resposta completa de Deus à pergunta do sofredor. Durante a boa parte da história, Deus deixou Jó e seus amigos a ponderar o problema. Quando o Senhor falou no fim do livro, ele não explicou o porquê. A partir do capítulo 38, Deus afirma que o homem, como mera criatura, não é capaz de entender muitas das coisas de Deus, e não é digno de questionar a sabedoria divina.

Jó entendeu a correção de Deus, e respondeu humildemente. "Sou indigno; que te responderia eu? Ponho a mão na minha boca. Uma vez falei e não replicarei, aliás, duas vezes, porém não prosseguirei" (Jó 40:4-5). Jó pediu desculpas a Deus por ter duvidado da justiça e da bondade do Criador: "Na verdade, falei do que não entendia; coisas maravilhosas demais para mim, coisas que eu não conhecia....Por isso, me abomino e me arrependo no pó e na cinza" (Jó 42:3,6).

Depois do sofrimento, vêm as bênçãos

O sofrimento desta vida é temporário. O sofrimento de Jó foi intenso, mas não durou para sempre. É bem provável que ele lembrou, durante o resto da vida, daquelas experiências doloridas. Mas a crise passou, e a vida continuou. Deus restaurou as posses dele em porções dobradas.

A mesma coisa acontece conosco. Enfrentamos alguns dias muito difíceis, mas as tempestades passam e a vida continua. Vivendo na época da nova aliança de Cristo, nós temos uma grande vantagem. Temos uma esperança bem definida de uma recompensa eterna no céu (Hebreus 11:13-16,39-40; 12:1-3; 13:14). Qualquer sofrimento é pequeno quando o colocamos no contexto da eternidade.

Fiéis até mesmo no sofrimento

Nós vamos sofrer nesta vida. Pessoas que dizem que os filhos de Deus não sofrem são falsos mestres que ou não conhecem ou não aceitam a palavra do Senhor. Jó perdeu tudo. Jeremias foi preso. João Batista foi decapitado. Jesus foi crucificado. Estêvão foi apedrejado. Paulo sofreu naufrágio e prisões. Você, também, vai sofrer. Os problemas da vida não sugerem falta de fé, e não são provas de algum terrível pecado na sua vida. Às vezes, as provações vêm como disciplina de Deus (Hebreus 12:6-13); às vezes, não. Mas sempre são oportunidades para crescer (Tiago 1:2-4), e convites para adorar a Deus (Tiago 5:13; Jó 1:20).

CONCLUSÃO

Para concluir esta nota apreciativa do grande e inigualável livro de Jó, digamos que, com ele e com os seus ensinos, nós estamos capacitados para enfrentar Satanás e vencê-lo. Se faltasse este livro na Bíblia, faltar-nos-ia um arsenal de onde tirarmos todos os apetrechos de guerra para o combate contra as forças tenebrosas dos mundos inferiores. Com este livro, Satanás é muito mais real na vida humana e os poderes de Deus sobre ele e sobre toda a natureza são igualmente muito mais reais para nós.

BIBLIOGRAFIA

https://estudosdabiblia.net

www.maxwell.vrac.puc-rio.br

JÓ COMENTARIO BIBLICO ANTÔNIO NEVES DE MESQUITA

JÓ E SEUS AMIGOS C. H. Mackintosh, Tradução do espanhol para o português realizada por Daniela Raffo