21 de novembro de 2018

ENCONTRANDO NOSSO PRÓXIMO


ENCONTRANDO NOSSO PRÓXIMO

Texto Base: Lucas 10:25-37

"E que amá-lo de todo o coração, e de todo o entendimento, e de toda a alma, e de todas as forças e amar o próximo como a si mesmo é mais do que todos os holocaustos e sacrifícios" (Mc.12:33).

INTRODUÇÃO

Dando continuidade ao estudo das Parábolas de Jesus, trataremos nesta Aula da Parábola do Bom Samaritano. Esta é uma das Parábolas mais belas, mais profundas e mais intrigantes contadas por Jesus. Só aparece no Evangelho de Lucas. Na Aula passada aprendemos sobre o perdão ao próximo, e agora Jesus ensina quem é o próximo. Jesus quis dar uma lição especial aos judeus, principalmente ao intérprete da Lei que o inquiriu. Amar o próximo já era um mandamento compreendido há muito pelos rabinos, entretanto, a novidade é que o próximo, objeto desse amor, poderia ser alguém com crenças diferentes, costumes distintos e valores completamente opostos ao do judeu.

Na Parábola, a imagem de um samaritano (acompanhado de um adjetivo contraditório "bom", pois para o judeu o samaritano não era bom por natureza) acolhendo um judeu é muito ousada para qualquer israelita da época. O nosso Senhor é claro em dizer que o próximo do samaritano é aquele judeu necessitado; o próximo do judeu é o samaritano necessitado; enfim, o próximo é qualquer pessoa que esteja necessitando de nossa ajuda, independente da religião, da etnia, dos valores que elas portam. Jamais podemos perder de vista que somos os portadores da compaixão de Jesus para com todos os homens. Enfatizar essa verdade deve ser nosso maior objetivo nesta Aula.

I. INTERPRETAÇÃO DA PARÁBOLA DO BOM SAMARITANO

Jesus contou a Parábola do Bom Samaritano como resposta a uma pergunta feita por certo doutor da Lei. Antes de tratarmos a Parábola, vamos analisar alguns destaques com relação a esse intérprete da Lei de Moisés.

1. O Doutor da Lei (Lc.10:25-28). Esse homem, perito nos primeiros cinco livros do Antigo Testamento, desejou testar a sabedoria de Jesus. Ele não buscava informação, mas queria ganhar uma vantagem sobre Jesus ou esperava envergonhar Jesus. Na verdade, esse perito tentou enganar a Jesus, testando-o ao máximo.

25. E eis que se levantou um certo doutor da lei, tentando-o e dizendo: Mestre, que farei para herdar a vida eterna?

26. E ele lhe disse: Que está escrito na lei? Como lês?

27. E, respondendo ele, disse: Amarás ao Senhor, teu Deus, de todo o teu coração, e de toda a tua alma, e de todas as tuas forças, e de todo o teu entendimento e ao teu próximo como a ti mesmo.
28. E disse-lhe: Respondeste bem; faze isso e viverás.

O texto nos mostra que o doutor queria apanhar Jesus no contrapé e se tornou prisioneiro no cipoal de sua própria armadilha. Jesus virou a mesa, e o escriba que tentou pegar Jesus com as minúcias da Lei é capturado pela responsabilidade da graça. O doutor queria manter a discussão em nível complexo e filosófico, mas Jesus o leva para o campo pratico do amor e da ação.

Tratando de um especialista na Lei, a armadilha era para descobrir se Jesus era fiel às Escrituras e se observava os 613 mandamentos que o judaísmo prescrevia. Talvez ele tenha pensado que o Senhor repudiava a Lei de Moisés.

a) Sua teologia equivocada (Lc.10:25). Para esse doutor, Jesus era somente um ensinador, e a vida eterna era algo que ele poderia ganhar ou merecer. Ele fez uma pergunta interessante, a qual revela o seu equívoco teológico: “...Mestre, que farei para herdar a vida eterna?”. Na mente desse doutor, a vida eterna era uma conquista das obras, e não uma oferta da graça. A pergunta presume que ele tinha de fazer algo para receber a vida depois da morte. O pensamento dele expressa uma salvação pelas obras em vez de ser pela graça divina. Para ele, a salvação era uma questão de merecimento humano, e não uma dádiva divina.

b) Uma pergunta perscrutadora (Lc.10:26). Se o referido doutor tivesse sido humilde e penitente, o Senhor teria respondido mais diretamente. Nas circunstâncias, Jesus dirigiu sua atenção à Lei. Jesus poderia ter enfatizado ao doutor da lei que a vida eterna é um dom de Deus, mas ele não tenta corrigir o pensamento do doutor da lei. Ele sonda a compreensão que esse perito tinha da Lei, perguntando: “que está escrito na lei? Como interpretas?”. Jesus usou, aqui, o método socrático, que consistia em responder as perguntas que lhe eram feitas com outras perguntas.

Com esta pergunta, Jesus levou o doutor da Lei a dar exatamente a resposta que Ele queria ouvir. Jesus respondeu perguntando sobre a Lei de Moisés. Já que o homem era interprete da Lei e queria pôr Jesus à prova acerca da vida eterna, Jesus devolve-lhe a pergunta, remetendo-o à Lei, para deixar claro que, pelo padrão da Lei, é impossível ao homem ser salvo, uma vez que a Lei exige uma perfeita relação do homem com Deus e com o próximo. A Lei exige perfeição absoluta e nenhum homem é capaz de atender às demandas da Lei.

c) Uma resposta comprometedora (Lc.10:27). Esse doutor da Lei, que queria ouvir de Jesus uma resposta fora da Lei, porque o seu intuito era provar a Jesus, por fim respondeu a sua própria pergunta. 

Ele respondeu unindo os mandamentos de amar Deus de todo o coração (Dt.6:5) e amar o próximo como a si mesmo (Lv.19:18). Em suma, era isso que a Lei exigia, conforme explicou Jesus a outro doutor da Lei (cf.Mt.22:37-39).

“E, respondendo ele, disse: Amarás ao Senhor, teu Deus, de todo o teu coração, e de toda a tua alma, e de todas as tuas forças, e de todo o teu entendimento e ao teu próximo como a ti mesmo”.
O intérprete conhecia a letra da Lei, mas não sabia interpretá-la. Sua resposta revela que ele não conhecia o propósito da Lei, não conhecia a si mesmo nem conhecia os fundamentos da salvação.

Com um só verbo, com uma só ação, era possível obedecer aos dois mandamentos. Isso mostrava que Deus e o próximo são como as duas faces da mesma moeda do amor. O amor a Deus é o elemento interno que se vê na prática externa do amor ao próximo. O amor a Deus exige total devoção (coração, alma, força, entendimento); e o amor ao próximo, total identificação (como a si mesmo).
Jesus concordou com a resposta do seu inquiridor e confirmou que a vida eterna, depois da fé e do arrependimento, se encontra na experiência e na prática do amor (Lc.10:28) - “E disse-lhe: Respondeste bem; faze isso e viverá”.

Ao mesmo tempo em que Jesus afirmou que se houvesse obediência a esses dois mandamentos haveria vida, também mostrou que sem a nova vida isso não seria possível. Só conseguiremos amar a Deus e ao próximo quando deixarmos a vida divina, a vida do Espirito Santo, se manifestar em nós e através de nós.

d) O subterfugio do doutor da Lei (Lc.10:29). Percebendo que tinha sido apanhado pelas cordas de sua própria astúcia, o doutor da Lei tenta uma evasiva - “Ele, porém, querendo justificar-se a si mesmo, disse a Jesus: E quem é o meu próximo?”.

Ele tentou Jesus primeiramente com uma pergunta capciosa e agora tenta se esquivar com uma pergunta evasiva. Essa questão era muito discutida naquele tempo e ainda hoje está presente em nossas mentes. Afinal, quem é o meu próximo? Jesus não discutiu a teoria sobre o próximo; em vez disso, contou a Parábola do Bom Samaritano e novamente devolveu a pergunta ao interprete da Lei.

2. A Parábola do Bom Samaritano (Lc.10:29-35). Jesus contou a história do Bom Samaritano para colocar os valores do referido doutor da Lei de cabeça para baixo. Ele reprovou as atitudes dos religiosos (sacerdote e levita) e exaltou a atitude do rejeitado pelos judeus (samaritano), evidenciando que temos de considerar toda e qualquer pessoa como nosso próximo, independentemente de qualquer posição social, religiosa ou etnia.

A Parábola descreve tudo o que o samaritano fez para salientar que a prática do amor não tem fronteiras. É a necessidade do outro que diz o que precisa ser feito e até que ponto se deve amar. Além disso, o amor quebra todas as fronteiras. O samaritano não perguntou se o ferido era judeu ou não. O próximo é qualquer pessoa que encontramos.

29. Ele, porém, querendo justificar-se a si mesmo, disse a Jesus: E quem é o meu próximo?

30. E, respondendo Jesus, disse: Descia um homem de Jerusalém para Jericó, e caiu nas mãos dos salteadores, os quais o despojaram e, espancando-o, se retiraram, deixando-o meio morto.

31. E, ocasionalmente, descia pelo mesmo caminho certo sacerdote; e, vendo-o, passou de largo.

32. E, de igual modo, também um levita, chegando àquele lugar e vendo-o, passou de largo.

33. Mas um samaritano que ia de viagem chegou ao pé dele e, vendo-o, moveu-se de íntima compaixão.

34. E, aproximando-se, atou-lhe as feridas, aplicando-lhes azeite e vinho; e, pondo-o sobre a sua cavalgadura, levou-o para uma estalagem e cuidou dele;

35. E, partindo ao outro dia, tirou dois dinheiros, e deu-os ao hospedeiro, e disse-lhe: Cuida dele, e tudo o que de mais gastares eu to pagarei, quando voltar.

a) Interpretações diversas. A Parábola do Bom Samaritano, ao longo da história, tem sido alvo das mais diversas interpretações. Muitas destas interpretações servem-se do método alegórico para atribuir ao texto alguns objetivos que ele não tem. Entretanto, esta não é a maneira correta de interpretar esta Parábola. Eis um exemplo: “A vítima representa o pecador perdido. O sacerdote e o levita representam a lei e os sacrifícios, ambos incapazes de salvar o pecador. O samaritano é Jesus Cristo, que salva o homem, paga as suas contas e promete voltar. Os dois denários são as duas ordenanças: o batismo e Ceia do Senhor”. É claro que esta linha de interpretação está totalmente equivocada.

Outros entendem que esta Parábola é uma recomendação formal do caminho das obras. Porém, ela é um repudio às obras como meio de salvação. Não é aquilo que fazemos, considerado uma obra meritória, que importa, mas, sim, a atitude de confiarmos em Deus e no que Ele fez por nós. Só amam a Deus e ao próximo aqueles que foram transformados pelo amor de Deus. Esse tipo de amor é nossa resposta ao amor que Deus tem por nós, e não a causa de aceitação de nós.

b) Três modos de viver a vida. Em relação a esta Parábola, verificamos que existem três modos de viver a vida: o modo dos salteadores; o modo dos religiosos (sacerdote e do levita); o modo do samaritano. São três compreensões diferentes que condicionam o nosso ser e o nosso comportamento.

Primeiro: a exploração, o modo de viver dos salteadores (Lc.10:29). A estrada de 27 quilômetros que desce pelo deserto, de Jerusalém para Jericó, tem sido perigosa durante toda a sua história. Essa estrada era um despenhadeiro, no perigoso deserto rochoso da Judeia, um lugar de montes, vales e cavernas. Era conhecida como "caminho sangrento". Essa região era mal afamada por causa de sua insegurança. Segundo a história, os cruzados construíram um pequeno forte na metade do caminho, para inibir os salteadores e proteger os peregrinos. Ainda hoje essa estrada é perigosa.

Jerusalém está situada 800 metros acima do nível do mar, e Jericó, nas proximidades do mar Morto, é a cidade mais baixa do mundo, está 400 metros abaixo do nível do mar. Por ali, precisavam passar as caravanas que subiam e desciam de Jerusalém. Esse caminho passava pelos desfiladeiros do terrível deserto da Judeia. Viajar sozinho era um convite ao desastre. Foi o que aconteceu. Esse homem que desceu de Jerusalém para Jericó caiu nas mãos dos salteadores, que roubaram tudo o que ele tinha, e ainda o machucaram e o deixaram semimorto à beira do caminho. Tudo faz crer que o homem que foi assaltado e quase morto era judeu.
O modo de viver, portanto, dos saltadores é este: "O que é meu, é meu; mas, o que é teu deve ser meu também".

Segundo: a indiferença, o modo de viver dos religiosos (Lc.10:31,32). O sacerdote e o levita eram homens religiosos que cuidavam das coisas do templo e do culto ao Senhor. Eram exemplos de piedade. Mas o medo de se tornarem cerimonialmente impuros ou o temor de serem atacados pelos mesmos salteadores levou-os a passarem de largo e a revelarem total indiferença para com o homem ferido. Eles não somente deixaram de ajudar, mas foram para o outro lado da estrada, abandonando o homem no seu sofrimento e na sua necessidade.

Muitas vezes nos esquivamos daqueles que precisam de ajuda porque achamos que não vale a pena gastar nosso tempo, energia, disposição com eles. No fundo, não queremos nos envolver porque pensamos: “cada um por si, Deus por todos, e o diabo que carregue o último!”. Este tipo de vida, essencialmente egoísta, é marca registrada da nossa sociedade hodierna. Precisamos lembrar da pergunta de Jesus: “Mas se vocês amam apenas o que vos amam que recompensa terão?” (Mt.5:46).
O modo de viver, portanto, dos religiosos é este: "O que é meu, é meu; o que é teu, é teu".

Terceiro: a misericórdia, o modo de viver do Samaritano (Lc.10:33-35). Jesus mais uma vez combate a postura dos escribas e fariseus, mostrando que aqueles a quem se consideravam justos (sacerdote e levita) são culpados e aqueles a que se consideravam indignos (samaritano) despontam como os heróis.

Esse samaritano, mesmo sendo odiado pelos judeus, interrompe a sua viagem, aproxima-se da vítima, aplica óleo e vinho nas feridas do semimorto, tira-o do lugar de perigo, leva-o a uma hospedaria segura e ainda paga o seu tratamento. Isto é o que chamamos de misericórdia.

Misericórdia é lançar o coração na miséria do outro e estar pronto em qualquer tempo para aliviar a sua dor. A palavra hebraica para misericórdia é chesed: “é a capacidade de entrar em outra pessoa até que praticamente podemos ver com os seus olhos, pensar com sua mente e sentir com o seu coração.

Misericórdia é ver uma pessoa sem alimento e lhe dar comida; é ver uma pessoa solitária e lhe fazer companhia; é atender às necessidades e não apenas senti-las; é mais do que sentir piedade por alguém.

Para os religiosos (sacerdote e levita), era um incômodo a ser evitado, mas, para o Samaritano, era alguém que necessitava de amor e de ajuda, de modo que ele lhe ofereceu cuidado.
O modo de viver, portanto, do Samaritano é: "o que é teu, é teu; mas, o que é meu pode ser teu também".

As relações entre as pessoas são governadas por um desses três modos de ser e de viver. Resta-nos saber qual deles nos encaixamos, lembrando que o Evangelho está totalmente do lado do bom samaritano.

II. COMPAIXÃO E CARIDADE SÃO INTRÍNSECAS À FÉ SALVADORA

A compaixão e a caridade sempre foram virtudes que os cristãos herdaram de nosso Senhor, um ensinamento bem arraigado nos cinco primeiros livros do Antigo Testamento, o Pentateuco. Reconhecer isso é afirmar que tais virtudes estão diretamente ligadas ao testemunho de uma fé salvadora, como nos diz Tiago:

“Meus irmãos, que aproveita se alguém disser que tem fé e não tiver as obras? Porventura, a fé pode salvá-lo? E, se o irmão ou a irmã estiverem nus e tiverem falta de mantimento cotidiano, e algum de vós lhes disser: Ide em paz, aquentai-vos e fartai-vos; e lhes não derdes as coisas necessárias para o corpo, que proveito virá daí? Assim também a fé, se não tiver as obras, é morta em si mesma” (Tg.2:14-17).

Na Parábola em comento, o sacerdote e o levita viram o homem caído e se desviaram, “passando de largo”. Mas, o Samaritano, inimigo tradicional dos judeus, se aproximou, viu e se encheu de compaixão, ou seja, “sofreu junto” com o homem ferido. Ali mesmo providenciou os primeiros socorros, colocou o ferido no seu jumento e, a pé, seguiu até uma pensão, onde continuou a cuidar dele. No dia seguinte, deu duas moedas (salário de dois dias) ao dono da pensão e comprometeu-se a pagar o que fosse gasto com o homem ferido. Esse samaritano amava o próximo não apenas de palavra, ele demonstrou isso na prática. Compaixão, caridade, cuidado e amor, para os discípulos de Cristo, não podem ser apenas palavras bonitas, mas atitudes concretas.

E Jesus perguntou ao astuto intérprete da Lei: “Qual dos três te parece ter sido o próximo do homem que caiu nas mãos dos salteadores?”(Lc.10:36). Ou seja, quem foi que se tornou próximo dele?

O intérprete da Lei estava preocupado com a fronteira do amor, mas Jesus mostrou que o amor é um centro que irradia ações práticas e não conhece nenhuma fronteira. O intérprete da Lei reconheceu isso e, quando declarou que o próximo foi o que usou de misericórdia, isto é, o que teve compaixão, mostrou muito bem que tornar-se próximo é entrar em sintonia com o outro e sofrer junto com ele; é condoer-se com o sofrimento alheio.

E, no final, Jesus deu uma ordem solene: “Vai e procede tu de igual modo”(Lc.10:37). Em outras palavras, preocupe-se em praticar concretamente o amor sem se preocupar com as teorias sobre o próximo que merece o seu amor.

Você tem amado como amou o samaritano, sem exigir que somente alguns recebam o seu amor? Numa sociedade como a nossa, repleta de excluídos, essa é uma avaliação que necessitamos fazer constantemente diante de Deus.

A compaixão e a caridade são a prova material de que nascemos de novo. Devemos resgatar esse princípio sem qualquer medo de ser mal interpretado, pois compaixão e caridade é resultado do amor que Deus derramou em nossa vida.

III. O NOSSO PRÓXIMO É QUALQUER PESSOA NECESSITADA

Jesus encerra a história do Samaritano com uma pergunta:

“Qual, pois, destes três te parece que foi o próximo daquele que caiu nas mãos dos salteadores?” (Lc.10:36).

Perceba que Jesus reverte a pergunta inicial do doutor da lei. Este havia perguntado: "Quem é o meu próximo?". Jesus então conta a Parábola e pergunta: "Quem foi o próximo?". Assim, Jesus encurrala o intérprete da lei, levando-o forçosamente a admitir que o samaritano, aquele a quem ele considerava indigno, foi o próximo do homem semimorto. Por preconceito, o doutor não proferiu a palavra “samaritano”; apenas disse: “O que usou de misericórdia para com ele...” (Lc.10:37).

A resposta do preconceituoso doutor da Lei está correta, porque o samaritano é aquele que agiu como próximo. Mostrando compaixão, ele se alinhou com o amor de Deus e ao próximo. Ao contrario do sacerdote e do levita, ele se submeteu ao mandamento de amor que resume toda a Lei. Jesus, então, fecha a questão e diz a ele: “Vai e faze da mesma maneira” (Lc.10:37). A resposta de Jesus envolveu três coisas:

·        Devemos ajudar aos demais, ainda que eles tenham a culpa do que lhes sucedeu.
·        Qualquer pessoa, de qualquer nação, que está em necessidade é nosso próximo.
·        A ajuda ao próximo deve ser prática.

Enfim, quem é o nosso próximo? A história do Bom Samaritano ensina que o próximo é qualquer ser humano. Infelizmente, o individualismo e o egoísmo têm dificultado, e até impedido, gestos de amor ao próximo, até mesmo entre cristãos.

Observe que na Parábola há dois tipos de pecadores: os salteadores que ferem o homem mediante a violência e os religiosos (sacerdote e levita) que ferem o homem mediante a negligência. A Parábola dá a entender que todos eles são culpados. A oportunidade não aproveitada para se fazer o bem torna-se um mal. Está escrito: “Aquele, pois, que sabe fazer o bem e o não faz comete pecado” (Tg.4:17).
Amar o próximo é sentir compaixão por ele, ou seja, sentir a sua dor, como se fosse nossa e, assim, suprir as necessidades imediatas do nosso semelhante, lembrando que ele é tão imagem e semelhança de Deus quanto nós. Este amor supera todo e qualquer preconceito, toda e qualquer barreira, toda e qualquer tradição.

Contudo, amar o próximo não é apenas ajudar alguém do ponto-de-vista material, mas, sobretudo, levar esse alguém a uma vida de comunhão com Deus, a um equilíbrio em todos os aspectos da sua vida. Portanto, o que Jesus disse ao doutor da Lei, ele diz também a nós: “Vai tu e faze o mesmo”.
Se a Parábola do Bom Samaritano fosse compreendia e praticada, removeria o preconceito racial, o ódio e a inveja entre classes, e o mundo seria extraordinariamente maravilhoso para se viver. Pense nisso!

CONCLUSÃO

“Aprendemos com esta Parábola que o amor não aceita limites na definição de quem é o próximo. Enquanto todas as sociedades e seus segmentos sociais acabam levantando barreiras para separá-las das demais pessoas, os discípulos de Cristo devem olhar para os seres humanos com igualdade, pois o próprio Deus não faz acepção de pessoas (At.10:34)”.
Quando amamos o próximo da forma determinada na Palavra de Deus, melhoramos sensivelmente o ambiente em que vivemos.

Referências Bibliográficas:

Bíblia de Estudo Pentecostal.
Bíblia de estudo – Aplicação Pessoal.
Comentário Bíblico popular (Novo Testamento) - William Macdonald.
Revista Ensinador Cristão – nº 76. CPAD.
Comentário Bíblico Pentecostal. CPAD.
Comentário do Novo Testamento – Aplicação Pessoal. CPAD.
Rev. Hernandes Dias Lopes. Lucas, Jesus o Homem perfeito.
Disponível no Blog: http://luloure.blogspot.com

14 de novembro de 2018

PERDOAMOS PORQUE FOMOS PERDOADOS


PERDOAMOS PORQUE FOMOS PERDOADOS

Texto Base: Mateus 18:21-35

"Assim vos fará também meu Pai celestial, se do coração não perdoardes, cada um a seu irmão, as suas ofensas" (Mt.18:35).

INTRODUÇÃO

Dando continuidade ao estudo das Parábolas de Jesus, estudaremos nesta Aula a respeito da Parábola do Credor Incompassivo, ou seja, o credor que não tem compaixão, o credor que não tem misericórdia; alguns também a denominam de “parábola do servo cruel”, “parábola do devedor implacável”. Ela é uma ilustração que Jesus faz a respeito do perdão ilimitado que revelara a Pedro como uma nota do caráter que deveria ter o filho do Reino. O dever de perdoar é um dever indispensável de cada filho de Deus (Mt.5:45). Se Deus nos perdoa por intermédio de sua infinita graça, por outro lado, temos a responsabilidade de perdoar aqueles que nos ofendem. Quem não tem condição de perdoar, mostra, com este gesto, que não nasceu de novo e que não pertence, pois, ao Reino de Deus.

I. INTERPRETANDO A PARÁBOLA DO CREDOR INCOMPASSIVO

Vejamos os elementos destacados na Parábola.

1. O Rei. Embora o Credor Incompassivo seja a personagem principal da parábola, a ponto de dar-lhe o nome, não é o primeiro elemento que surge. O primeiro elemento da parábola é o Rei. Ele é o símbolo de Deus. Disto temos absoluta convicção, porque Jesus, ao término da parábola, faz a aplicação, ao dizer que, assim como o rei tratou o servo incompassivo, assim seu Pai haveria de tratar aquele que não perdoasse os seus irmãos, indicando, deste modo, que o rei não é outro senão o Pai celestial (Mt.18:35). 

2. O Credor Incompassivo. É o personagem de destaque na Parábola. As circunstâncias da parábola permitem-nos afirmar que esse servo se tratava de uma alta autoridade do reino, de um participante da corte real. É, portanto, alguém que está junto ao reinado do Rei, de um assessor importante do rei. Esta é a condição dos integrantes da Igreja, a agência do reino de Deus aqui na Terra. Os salvos são servos de Deus, estão a seu serviço, mas gozam de um relacionamento íntimo com o Senhor, têm livre acesso ao trono e desfrutam da confiança de Deus. Não é à toa que, no reino milenial de Cristo, teremos participação ativa no governo pessoal de Jesus na Terra. 

Contudo, esse servo tem também o seu simbolismo explicitamente mencionado por Jesus na conclusão da parábola: é o discípulo de Jesus que não sabe perdoar de coração as ofensas de seus “irmãos” (Mt.18:35). Agir dessa maneira corre o risco tremendo de ficar fora do Reino (Mt.18:34).

3. Uma dívida impagável. O Credor Incompassivo possuía uma dívida muito alta, quiçá a maior de todos os devedores, daí porque ter sido chamado logo no início da prestação de contas. A dívida desse servo era de 10(dez) mil talentos, humanamente impagável. Na verdade, Jesus não contou apenas uma parábola, Ele contou uma hipérbole, porque nenhum judeu podia dever 10 mil talentos no primeiro século da Era Cristã.

O que são 10 (dez) mil talentos?  1(um) talento são 35 quilos de ouro ou prata. 10 (dez) mil talentos são 350 mil quilos de ouro ou prata. Para você ter uma ideia, à época de Jesus, todos os impostos da Galiléia, Judéia, Peréia e Samaria, durante um ano, eram 800 talentos. Portanto, 10 mil talentos eram os impostos de toda a região durante treze anos.

Naquela época o salário diário de um trabalhador era 1(um) denário. Para um homem ajuntar 10 mil talentos ganhando 1(um) denário por dia ele teria que trabalhar, ininterruptamente, durante 150 mil anos. Portanto, quando aquele homem promete pagar a sua dívida ele estava fazendo uma promessa que não podia cumprir. Jesus quer nos informar que esta é o tamanho da dívida que Deus perdoou a você e a mim, uma dívida impagável. Nós jamais podíamos pagar essa dívida com Deus, mas Jesus Cristo, seu amado Filho, pagou toda essa dívida (Cl.2:14).
“Havendo riscado a cédula que era contra nós nas suas ordenanças, a qual de alguma maneira nos era contrária, e a tirou do meio de nós, cravando-a na cruz”.

Nesta parábola, Jesus não indica como se realizou o pagamento da dívida, pois não era este o Seu objetivo. O propósito da parábola é mostrar o valor e o significado do perdão na Igreja, para o salvo, daí porque não ter adentrado nesta questão, mas é importante sabermos que o perdão realizado por Deus não se deu gratuitamente. Para nós, foi de graça, nada custou, mas, para a satisfação da justiça divina, representou o preço do sangue de Cristo (1Pd.1:18,19).

4. A recusa em perdoar. O servo saiu da presença do rei, estava livre e deveria esperar tão somente a formalização do perdão, mediante a quitação da dívida, o que ocorreria, certamente, ao término da sessão real de prestação de contas. Eis que, diz-nos Jesus na parábola, o servo encontrou com um conservo seu, ou seja, com alguém que também estava sob o governo do rei, com alguém que pertencia ao mesmo grupo que participava da corte real. 

O conservo devia ao servo uma quantia irrisória. Jesus diz que a dívida era de cem denários, quantia correspondente a cem dias de trabalho de um assalariado, ou seja, três meses e um terço dias de serviço, valor perfeitamente passível de pagamento. A quantia era, realmente, insignificante em si mesma; alguns intérpretes entendem que a quantia representava menos de 30g de ouro.

Ao encontrar o conservo, o servo não se conteve e logo lhe foi cobrar a dívida. O conservo usou das mesmas palavras que o servo havia usado perante o rei: “sê generoso para comigo e tudo te pagarei” (Mt.18:29). Ele não discute a dívida, pede apenas um prazo para pagar. Entretanto, o servo, sem usar de misericórdia, lançou mão do seu colega e executou a dívida, sufocando-o e exigindo o pagamento (Mt.18:28). O gesto de sufocar significa, provavelmente, que o servo fazia questão de maltratar o seu devedor, provavelmente torcendo o seu pescoço, que era um costume, inclusive entre os judeus, de levar o devedor ao tribunal com o pescoço torcido.

O servo, assim, demonstrou que usava dos seus direitos nos mínimos detalhes, não deixava passar uma só vírgula daquilo que lhe era permitido por lei. O servo mostrou, assim, que, apesar de ter sido alvo da benevolência, do favor do rei, preferiu seguir o caminho da lei; lei, aliás, que nunca lhe favoreceria enquanto devedor. 

O servo poderia ter atendido o clamor do conservo devedor, mas o texto sagrado diz que ele não quis (Mt.18:30). O servo não quis fazer o bem ao seu semelhante, não quis usar de misericórdia. Ele que foi perdoado de uma dívida de 150 mil anos, mas não se dispôs a perdoar uma dívida de três meses e 10 dias, facilmente pagável. Deus quer a nossa misericórdia, Deus quer que nos guiemos pelo amor que Ele derramou nos nossos corações.

Deus exige de Seus servos perdoados o mesmo critério de graça, o mesmo critério de misericórdia. A lei vigente na Igreja é a misericórdia, é a compaixão. O servo, por causa do perdão recebido, não estava obrigado apenas a dar a moratória pedida pelo conservo, mas estava obrigado a perdoar a dívida, assim como havia sido perdoado.

O perdão das ofensas cometidas contra nós não é, no reino de Deus, uma faculdade, uma permissão dada ao ofendido, como é na lei civil, como é na lei dos homens, mas um dever do filho do reino. O perdão é a nota distintiva da ética do reino de Deus e não se pode, portanto, querer pertencer a ele sem que se tenha esta qualidade de perdoar.

Sem o perdão, não agiremos como filhos do reino. Sem o perdão, não seremos Igreja. Sem o perdão, não teremos como dizer que temos parte com Deus. 

O rei, ao verificar a falta de perdão por parte do servo, viu nele a ausência da natureza divina, viu nele a falta de comunhão com o rei. O perdão já não mais lhe servia, pois havia cometido nova iniquidade. Não havia entrado no reino de Deus, porque não havia querido seguir a lei do amor, optara por outros caminhos, que não o caminho traçado pelo rei. Não perseverara até o fim; antes de receber a quitação, demonstrara maldade.  Por isso, o rei não formalizou o perdão, que revogou.

O servo incompassivo perdeu a salvação e não teve mais chance de arrependimento, não porque Deus seja mau, não porque Deus seja contraditório, mas simplesmente porque o servo não quis ser salvo, não quis obedecer à lei do amor. Para alcançarmos a salvação, precisamos perseverar até o fim (M.24:13), ou seja, precisamos querer ser salvos desde o momento do perdão dos nossos pecados até o instante de sua passagem para a eternidade, seja pela morte física, seja pelo arrebatamento da Igreja. Você quer ser salvo? Querer não é uma questão de falar, mas uma questão de agir.

5. O Perdão é ilimitado. Qual o limite do perdão? Pedro um dia perguntou, talvez num momento imediatamente anterior àquele em que o Senhor Jesus proferiu esta parábola, mostrando que a capacidade de perdoar deve ser ilimitada, e que um servo perdoado precisa, também, saber praticar o perdão: “…Senhor, até quantas vezes pecará meu irmão contra mim, e eu lhe perdoarei? Até sete?(Mt.18:21,22). 

Tendo por base algumas passagens do livro de Amós (Am.1:11,13; 2:1,6), onde se anunciava a expressão divina: “por três transgressões ou por quatro, não retirarei o castigo”, entendia-se que uma pessoa poderia ser perdoada três ou quatro vezes por alguém, que seria este o limite do perdão a alguém. Alguns, mais “liberais”, chegaram mesmo a afirmar que o limite do perdão seria de sete vezes, baseando-se em Pv.24:16, tendo sido, talvez, esta a discussão que levou Pedro a indagar a Jesus qual o limite de perdões que se deveria dar, adotando, inclusive, a corrente mais favorável existente. 

Para sua surpresa, porém, Jesus mostra-lhe que a dimensão do reino de Deus está bem acima do mais liberal intérprete da lei. Simplesmente, não haveria limite para o perdão. Não se teria sete perdões, mas, muito mais do que isto, setenta vezes sete, expressão que não significa, literalmente, quatrocentas e noventa vezes, mas que tem como sentido “sempre”, ou seja, não há limite para o perdão entre os filhos do reino. 

Portanto, para ilustrar este ensino, Jesus proferiu a Parábola do credor incompassivo, retratando a grande disposição de Deus em perdoar e a sua exigência de que o homem perdoado tenha a capacidade de liberar o perdão aos seus devedores, também de forma ilimitada.

Jesus quer nos ensinar que nunca poderemos dizer: não perdoo fulano, não perdoo sicrano, porque fui muito humilhado, muito machucado, muito ferido. A Bíblia diz que devemos perdoar assim como Deus em Cristo nos perdoou.

A Bíblia diz que Deus perdoa nossos pecados e deles não mais se lembra. Existem pessoas angustiadas com este versículo e diz: não consigo esquecer, então não consigo perdoar. Só que as pessoas pensam que quando a Bíblia diz que Deus perdoa e esquece acham que Deus tem amnésia. Mas, Deus não tem amnésia. Deus é Onisciente.

Então o que quer dizer que Deus perdoa e esquece? Quer dizer que Deus nunca lança em seu rosto aquele pecado que já Ele já perdoou você. Deus nunca mais vai cobrar uma dívida que Ele já perdoou você. É assim que é perdão. Jamais você esquecerá uma sena. Mas quando vier à memória você dirá: essa dívida já foi paga. Por isso perdoar é lembrar sem sentir dor.
Portanto, não guarde mágoas. Tome a decisão de perdoar. Porque o perdão cura, o perdão liberta, o perdão restaura, o perdão renova a alma.

Vejamos o exemplo do diácono Estevão, o primeiro mártir do Cristianismo. No momento que estava sendo apedrejado e morto ele não pediu vingança e nem juízo de Deus aos seus algozes. Está escrito assim a respeito dele:

 “E, pondo-se de joelhos, clamou com grande voz: Senhor, não lhes imputes este pecado” (Atos 7:30).

II. EM CRISTO, DEUS PAGOU AS NOSSAS DÍVIDAS

1. A nossa dívida era impagável. Na Parábola, o servo foi apresentado diante do Rei e sua dívida era de dez mil talentos. Como já disse anteriormente, 10 mil talentos correspondiam a 350 mil quilos de ouro ou prata. Para um homem ajuntar 10 mil talentos ganhando 1(um) denário por dia ele teria que trabalhar, ininterruptamente, durante 150 mil anos. Esta quantia registrada por Jesus tem o propósito de nos mostrar que se tratava de uma quantia impagável. Esta dívida impagável simboliza o pecado do homem e o que ele representa diante de Deus. Assim como o servo não tinha como pagar uma dívida desta natureza, o homem, por si só, não tem como saldar a sua dívida diante de Deus resultante do pecado que cometeu.

Como o homem é um ser dotado de livre-arbítrio, de liberdade, ele pôde escolher entre obedecer a Deus, ou não (Gn.2:16,17). Com a Queda, tornou-se devedor de Deus, ficou em débito, perdeu o crédito que tinha diante do Senhor. Surgiu, assim, uma dívida para com Deus, dívida esta que é impagável, pois todos os recursos existentes no universo são insuficientes para o resgate de uma só alma (Sl.49:6,8).

“Aqueles que confiam na sua fazenda e se gloriam na multidão das suas riquezas, nenhum deles, de modo algum, pode remir a seu irmão ou dar a Deus o resgate dele (pois a redenção da sua alma é caríssima, e seus recursos se esgotariam antes)”.

Na parábola, Jesus diz, claramente, que o servo não tinha com que pagar a dívida. Assim é a situação do homem: não há como se pagar a dívida gerada pelo pecado, que é representado, aqui, por dez mil talentos. O profeta Zacarias simboliza o pecado, ou impiedade, como um talento de chumbo, um peso de chumbo que fechava a vasilha onde estava a impiedade.
Não há como se livrar do pecado, a não ser por uma operação divina, miraculosa, como a que é efetuada na visão de Zacarias (Zc.5:8,9). 

O pecado tem de ser removido, pois o homem não consegue, por si só, remover o pecado. Foi este o trabalho efetivado por Cristo, o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo (João 1:29b). Ele pagou plenamente as nossas dívidas. Deus enviou seu Filho na plenitude dos tempos (Gl.4:4), para que todo aquele que confessar o nome do unigênito Filho de Deus não pereça, não morra, ou seja, não tenha de receber a justa retribuição pela imensa dívida do pecado (Gl.4:5). Ao morrer em nosso lugar na cruz do calvário, Cristo verteu o sangue necessário para a remissão de nossos pecados. Ali na cruz Ele eliminou a grande dívida que era contra nós; Deus em Cristo pagou as nossas dívidas.

Na Parábola, enquanto o servo pedia um prazo para fazer o pagamento, prazo que seria mais uma tolerância, já que a dívida era impagável, o rei resolve, simplesmente, dado a sua condição de soberano, perdoar a dívida. Jesus mostra-nos, portanto, que, por vontade unilateral de Deus, pela Sua graça salvadora, alcançamos a possibilidade, não de ter um prazo maior para pagamento, não de adiamento da execução da dívida, mas, muito mais do que isto, temos a possibilidade de termos a nossa dívida simplesmente perdoada, quitada, paga.

O Rei eterno quis fazê-lo, movido de íntima compaixão e, para tanto, mandou Jesus para morrer em nosso lugar na cruz do Calvário. Por isso, na cruz, Jesus exclamou: “teletestai”, ou seja, “está consumado”; que significa: “está pago”, quitado. Jesus pagou o preço da nossa salvação, pagou, com a Sua vida imaculada, a dívida que tínhamos para com Deus.

“Havendo riscado a cédula que era contra nós nas suas ordenanças, a qual de alguma maneira nos era contrária, e a tirou do meio de nós, cravando-a na cruz”.

Portanto, estamos livres da condenação do pecado. São as Escrituras Sagradas que nos asseguram que "nenhuma condenação há para os que estão em Cristo Jesus, que não andam segundo a carne, mas segundo o espírito" (Rm.8:1). 

2. O perdão foi decidido, mas não formalizado. O texto sagrado diz que o rei soltou o servo e lhe perdoou a dívida (Mt.18:27). Entretanto, lembremos, o rei estava fazendo ajuste de contas com os seus servos e este servo foi apresentado logo no começo do ajuste. Assim, continuava ocorrendo o ajuste, havia outros servos a serem cobrados. O rei determinou que fosse solto e decidiu perdoá-lo, mas o perdão ainda não era definitivo. Para tanto, era necessário que se tivesse a quitação, ou seja, um ato pelo qual atestasse inequivocamente que o devedor pagou a dívida. É o que o povo comumente chama de “recibo”. 

Segundo a lei judaica, uma obrigação assumida por escrito, somente seria considerada cancelada quando se destruísse o documento que a continha, o que, aliás, também se dava na lei romana, o que explica a figura usada pelo apóstolo Paulo na Carta aos colossenses, para dizer que a nossa cédula (isto é, o documento que continha a nossa dívida) fora riscada e se encontrava cravada na cruz de Cristo (Cl.2:14).

O rei estava ainda em prestação de contas e não há notícia na Parábola de que a cédula havia sido riscada, de que o perdão havia sido formalizado. Portanto, não tinha ocorrido a quitação, apesar de já haver a decisão de perdão, tanto que o servo foi solto e não mandado para a prisão.
Isto nos fala de que o fato de termos adorado a Deus, aceitado nos submeter a Ele, assim como o servo fez diante do rei, e, por isso, temos obtido, pela graça de Deus, o perdão de nossa dívida, isto é, dos nossos pecados, não garante, de pronto, que nos mantenhamos nesta situação até o final. Com efeito, somos perdoados e, imediatamente, somos libertos, somos soltos, pois conhecemos a verdade e a verdade nos libertou (Jo.8:36). 

Entretanto, isto não significa que não se possa perdê-lo, pois ainda não há o “recibo” da quitação, a formalização deste perdão. “…Jesus, nesta parábola, ensina que o perdão divino, embora seja concedido graciosamente ao pecador arrependido, é, também, ao mesmo tempo condicional…”(Bíblia de Estudo Pentecostal, nota a Mt.18.35).

O perdão só seria tornado irreversível no instante em que, trazido novamente à presença do rei, o servo obtivesse o “comprovante” de quitação, a destruição dos documentos do débito. Até então, deveria continuar servindo, agora liberto da dívida, agradando ao rei. No entanto, na sequência da Parábola, vemos que o servo assim não procedeu, e a dívida voltou a status quo.
Espiritualmente falando, isto pode ocorrer com qualquer um de nós. Fomos libertos pelo Senhor Jesus dos nossos pecados; a partir de então, devemos correr com paciência a carreira que nos está proposta, ou seja, passar a viver de acordo com a vontade de Deus, mantendo-nos separados do pecado a cada instante, até o fim de nossa carreira, quando, então, seremos novamente chamados à presença do Senhor, seja por ocasião de nossa morte (Hb.9:27), seja por ocasião do arrebatamento da Igreja (I Ts.4:17). 

III. UMA VEZ PERDOADOS, AGORA PERDOAMOS

Na Parábola, o rei simplesmente resolveu perdoar a dívida. O perdão do rei estava exclusivamente fundado em seu amor, em sua misericórdia. Jesus diz que o rei foi movido de íntima compaixão. O servo não tinha direito algum, seja ao perdão da dívida, seja a um novo prazo. O que lhe foi dado foi por causa da compaixão, da misericórdia do rei.

Todavia, no caminho para casa, o Credor Incompassivo encontra um conservo, que lhe devia uma quantia irrisória, a saber, cem denários. Ele exigiu com rigor o pagamento, e o conservo, usando das mesmas palavras que o servo dirigira ao rei, pede-lhe um prazo para que se faça o pagamento: “...Sê generoso para comigo, e tudo te pagarei” (Mt.10:29). 

Entretanto, o servo não usou de misericórdia e lançou o conservo na prisão. Sabendo disso, o rei revogou o perdão da dívida e mandou lançá-lo na prisão, deixando-o à disposição dos atormentadores. Jesus exortou dizendo que assim seu pai tratará os que não perdoarem as ofensas dos seus irmãos. Portanto, uma vez que recebemos o perdão de Deus, devemos agora perdoar aqueles que nos tem ofendido. Todavia, perdoar não é fácil. Um certo escritor disse que o perdão “tem a enloquecedora qualidade de ser não merecido, injusto e sem mérito“. Ele está certo.

         O perdão é uma necessidade vital para nossa alma, para nosso bem-estar. Mas o perdão não é fácil. É fácil pregar um sermão sobre o perdão até se deparar com alguém para perdoar. Mas Jesus Cristo nos informa e nos ensina que se eu não perdoar não posso orar; se eu não perdoar não posso adorar; se eu não perdoar não posso ofertar; se eu não posso perdoar eu não posso ser perdoado; se eu não perdoar, eu adoeço fisicamente, emocionalmente, espiritualmente; se eu não perdoar a minha alma, a minha vida será entregue aos verdugos da consciência e eu ficarei cativo e prisioneiro sem paz.

         O perdão é uma terapia para a alma, um tônico para o coração, uma condição indispensável para a saúde emocional e física. Muitas enfermidades deixariam de existir se aprendêssemos a terapia do perdão. Quem não perdoa adoece física, emocional e espiritualmente. O perdão é o remédio necessário que tonifica o coração para caminharmos pela vida sem amargura. Sem perdão a vida torna-se um fardo insuportável e a alma fica prisioneira do ódio e da vingança. Sem perdão somos destruídos pelos nossos sentimentos. 

         O perdão não é simplesmente uma questão de ação, mas de reação. Jesus ilustra isso no sermão do monte (Mt.5:39-41). Ele diz que quando uma pessoa nos ferir a face direita, devemos voltar-lhe a outra face. Quando a pessoa nos forçar a andar uma milha, devemos ir com ela duas milhas. Quando uma pessoa procurar nos tirar a capa, devemos dar-lhe também a túnica. O que, na verdade, Jesus estava ensinando? Ele não estava falando de ação, mas de reação. O que representa essas três figuras alistadas por Jesus?  

Primeiro, quando uma pessoa nos fere no rosto, ela agride a nossa honra. 

Segundo, quando uma pessoa nos força a fazer o que não desejamos, ela agride a nossa vontade. 

Terceiro, quando uma pessoa nos toma as vestes pessoais, ela agride o nosso bem mais íntimo e sagrado. 

Jesus, então, realça que mesmo que os pontos mais vitais da vida sejam atingidos - como a honra, a vontade e os bens inalienáveis -, devemos reagir transcendentalmente, ou seja, com perdão. 

         O perdão é a transcendência do amor, é vencer o mal com o bem. Perdoar é tratar o outro não como ele merece, mas segundo a misericórdia exige. Perdoar é abrir mão dos seus direitos. Perdoar é colocar o outro na frente do eu. Perdoar é não se ressentir do mal, mas vencer o mal com o bem, abençoando o próprio malfeitor.

         O perdão é uma via de mão dupla. “... Perdoai e sereis perdoados” (Lc.6:37). Aqui, Jesus mostra que o perdão é uma via de mão dupla. Você já percebeu que na palavra perdoar tem a palavra doar? Quem perdoa está doando alguma coisa. De certa forma misteriosa, o perdão de Deus depende de nosso perdão. O que Jesus ensinou na oração do Pai Nosso? Duas vezes ele fala sobre o perdão. 

Em Mateus 6:12 Ele diz assim: “perdoa as nossas dividas, assim como nós perdoamos”. Depois no versículo 15 ele diz: “se, porém, não perdoardes aos homens vosso pai celestial também não vos perdoará”. Portanto, se eu não perdoar, eu também não recebo perdão de Deus, pois é uma via de não dupla. 

Jesus termina a parábola do Credor Incompassivo assim: “Assim também meu pai celeste vos fará, se do íntimo não perdoardes cada um a seu irmão”. 

CONCLUSÃO

Aprendemos nesta Aula que o perdão deve ser, antes de tudo, uma decisão pessoal, uma manifestação que venha do interior da pessoa. Muitos se contentam com o “perdão de boca”, com o “perdão sem esquecimento”, com o “perdão aparente”, com o “perdão cerimonial”. 

Entretanto, Jesus não é aquele que se impressiona com as aparências, mas que conhece o que há no coração do homem (João 2:24,25). De nada adiantam as encenações, as lágrimas de crocodilo, os choros e as representações teatrais. O perdão deve ser algo que venha do coração, sem o que nenhum valor terá diante de Deus. Deus nos perdoou do seu íntimo, de sua própria essência e quer que assim façamos. Somente este perdão verdadeiro, que lança no mar do esquecimento as ofensas sofridas, que não tem rancor, receio ou desconfiança, é o perdão que produz a manutenção de nossa comunhão com Deus. Tudo o mais é hipocrisia que redundará, implacavelmente, em prejuízo espiritual eterno. Aprendamos, pois, a perdoar!

Referências Bibliográficas:
Bíblia de Estudo Pentecostal.
Bíblia de estudo – Aplicação Pessoal.
Comentário Bíblico popular (Novo Testamento) - William Macdonald.
Revista Ensinador Cristão – nº 76. CPAD.
Comentário Bíblico Pentecostal. CPAD.
Comentário do Novo Testamento – Aplicação Pessoal. CPAD.
Rev. Hernandes Dias Lopes. Lucas, Jesus o Homem perfeito.
Dr. Caramuru Afonso Francisco. “O grandioso perdão de Deus”_PortalEBD_2005.
Disponível no Blog: http://luloure.blogspot.com