PERDOAMOS PORQUE
FOMOS PERDOADOS
Texto Base:
Mateus 18:21-35
"Assim
vos fará também meu Pai celestial, se do coração não perdoardes, cada um a seu
irmão, as suas ofensas" (Mt.18:35).
INTRODUÇÃO
Dando
continuidade ao estudo das Parábolas de Jesus, estudaremos nesta Aula a
respeito da Parábola do Credor Incompassivo, ou seja, o credor que não tem
compaixão, o credor que não tem misericórdia; alguns também a denominam de
“parábola do servo cruel”, “parábola do devedor implacável”. Ela é uma ilustração
que Jesus faz a respeito do perdão ilimitado que revelara a Pedro como uma nota
do caráter que deveria ter o filho do Reino. O dever de perdoar é um dever
indispensável de cada filho de Deus (Mt.5:45). Se Deus nos perdoa por
intermédio de sua infinita graça, por outro lado, temos a responsabilidade de
perdoar aqueles que nos ofendem. Quem não tem condição de perdoar, mostra, com
este gesto, que não nasceu de novo e que não pertence, pois, ao Reino de Deus.
I.
INTERPRETANDO A PARÁBOLA DO CREDOR INCOMPASSIVO
Vejamos os
elementos destacados na Parábola.
1. O Rei. Embora o
Credor Incompassivo seja a personagem principal da parábola, a ponto de dar-lhe
o nome, não é o primeiro elemento que surge. O primeiro elemento da parábola é
o Rei. Ele é o símbolo de Deus. Disto temos absoluta convicção, porque Jesus,
ao término da parábola, faz a aplicação, ao dizer que, assim como o rei tratou
o servo incompassivo, assim seu Pai haveria de tratar aquele que não perdoasse
os seus irmãos, indicando, deste modo, que o rei não é outro senão o Pai
celestial (Mt.18:35).
2. O Credor
Incompassivo. É o personagem de destaque na Parábola. As circunstâncias da
parábola permitem-nos afirmar que esse servo se tratava de uma alta autoridade
do reino, de um participante da corte real. É, portanto, alguém que está junto
ao reinado do Rei, de um assessor importante do rei. Esta é a condição dos
integrantes da Igreja, a agência do reino de Deus aqui na Terra. Os salvos são
servos de Deus, estão a seu serviço, mas gozam de um relacionamento íntimo com
o Senhor, têm livre acesso ao trono e desfrutam da confiança de Deus. Não é à
toa que, no reino milenial de Cristo, teremos participação ativa no governo
pessoal de Jesus na Terra.
Contudo,
esse servo tem também o seu simbolismo explicitamente mencionado por Jesus na
conclusão da parábola: é o discípulo de Jesus que não sabe perdoar de coração
as ofensas de seus “irmãos” (Mt.18:35). Agir dessa maneira corre o risco
tremendo de ficar fora do Reino (Mt.18:34).
3. Uma
dívida impagável. O Credor Incompassivo possuía uma dívida muito alta, quiçá a
maior de todos os devedores, daí porque ter sido chamado logo no início da
prestação de contas. A dívida desse servo era de 10(dez) mil talentos,
humanamente impagável. Na verdade, Jesus não contou apenas uma parábola, Ele
contou uma hipérbole, porque nenhum judeu podia dever 10 mil talentos no
primeiro século da Era Cristã.
O
que são 10 (dez) mil talentos? 1(um)
talento são 35 quilos de ouro ou prata. 10 (dez) mil talentos são 350 mil
quilos de ouro ou prata. Para você ter uma ideia, à época de Jesus, todos os
impostos da Galiléia, Judéia, Peréia e Samaria, durante um ano, eram 800
talentos. Portanto, 10 mil talentos eram os impostos de toda a região durante
treze anos.
Naquela
época o salário diário de um trabalhador era 1(um) denário. Para um homem
ajuntar 10 mil talentos ganhando 1(um) denário por dia ele teria que trabalhar,
ininterruptamente, durante 150 mil anos. Portanto, quando aquele homem promete
pagar a sua dívida ele estava fazendo uma promessa que não podia cumprir. Jesus
quer nos informar que esta é o tamanho da dívida que Deus perdoou a você e a
mim, uma dívida impagável. Nós jamais podíamos pagar essa dívida com Deus, mas
Jesus Cristo, seu amado Filho, pagou toda essa dívida (Cl.2:14).
“Havendo
riscado a cédula que era contra nós nas suas ordenanças, a qual de alguma
maneira nos era contrária, e a tirou do meio de nós, cravando-a na cruz”.
Nesta
parábola, Jesus não indica como se realizou o pagamento da dívida, pois não era
este o Seu objetivo. O propósito da parábola é mostrar o valor e o significado
do perdão na Igreja, para o salvo, daí porque não ter adentrado nesta questão,
mas é importante sabermos que o perdão realizado por Deus não se deu
gratuitamente. Para nós, foi de graça, nada custou, mas, para a satisfação da
justiça divina, representou o preço do sangue de Cristo (1Pd.1:18,19).
4. A recusa
em perdoar. O servo saiu da presença do rei, estava livre e deveria esperar
tão somente a formalização do perdão, mediante a quitação da dívida, o que
ocorreria, certamente, ao término da sessão real de prestação de contas. Eis
que, diz-nos Jesus na parábola, o servo encontrou com um conservo seu, ou seja,
com alguém que também estava sob o governo do rei, com alguém que pertencia ao
mesmo grupo que participava da corte real.
O
conservo devia ao servo uma quantia irrisória. Jesus diz que a dívida era de
cem denários, quantia correspondente a cem dias de trabalho de um assalariado,
ou seja, três meses e um terço dias de serviço, valor perfeitamente passível de
pagamento. A quantia era, realmente, insignificante em si mesma; alguns
intérpretes entendem que a quantia representava menos de 30g de ouro.
Ao
encontrar o conservo, o servo não se conteve e logo lhe foi cobrar a dívida. O
conservo usou das mesmas palavras que o servo havia usado perante o rei: “sê
generoso para comigo e tudo te pagarei” (Mt.18:29). Ele não discute a dívida,
pede apenas um prazo para pagar. Entretanto, o servo, sem usar de misericórdia,
lançou mão do seu colega e executou a dívida, sufocando-o e exigindo o
pagamento (Mt.18:28). O gesto de sufocar significa, provavelmente, que o servo
fazia questão de maltratar o seu devedor, provavelmente torcendo o seu pescoço,
que era um costume, inclusive entre os judeus, de levar o devedor ao tribunal
com o pescoço torcido.
O
servo, assim, demonstrou que usava dos seus direitos nos mínimos detalhes, não
deixava passar uma só vírgula daquilo que lhe era permitido por lei. O servo
mostrou, assim, que, apesar de ter sido alvo da benevolência, do favor do rei,
preferiu seguir o caminho da lei; lei, aliás, que nunca lhe favoreceria
enquanto devedor.
O
servo poderia ter atendido o clamor do conservo devedor, mas o texto sagrado
diz que ele não quis (Mt.18:30). O servo não quis fazer o bem ao seu
semelhante, não quis usar de misericórdia. Ele que foi perdoado de uma dívida
de 150 mil anos, mas não se dispôs a perdoar uma dívida de três meses e 10
dias, facilmente pagável. Deus quer a nossa misericórdia, Deus quer que nos
guiemos pelo amor que Ele derramou nos nossos corações.
Deus
exige de Seus servos perdoados o mesmo critério de graça, o mesmo critério de
misericórdia. A lei vigente na Igreja é a misericórdia, é a compaixão. O servo,
por causa do perdão recebido, não estava obrigado apenas a dar a moratória
pedida pelo conservo, mas estava obrigado a perdoar a dívida, assim como havia
sido perdoado.
O
perdão das ofensas cometidas contra nós não é, no reino de Deus, uma faculdade,
uma permissão dada ao ofendido, como é na lei civil, como é na lei dos homens,
mas um dever do filho do reino. O perdão é a nota distintiva da ética do reino
de Deus e não se pode, portanto, querer pertencer a ele sem que se tenha esta
qualidade de perdoar.
Sem
o perdão, não agiremos como filhos do reino. Sem o perdão, não seremos Igreja.
Sem o perdão, não teremos como dizer que temos parte com Deus.
O
rei, ao verificar a falta de perdão por parte do servo, viu nele a ausência da
natureza divina, viu nele a falta de comunhão com o rei. O perdão já não mais
lhe servia, pois havia cometido nova iniquidade. Não havia entrado no reino de
Deus, porque não havia querido seguir a lei do amor, optara por outros
caminhos, que não o caminho traçado pelo rei. Não perseverara até o fim; antes
de receber a quitação, demonstrara maldade.
Por isso, o rei não formalizou o perdão, que revogou.
O
servo incompassivo perdeu a salvação e não teve mais chance de arrependimento,
não porque Deus seja mau, não porque Deus seja contraditório, mas simplesmente
porque o servo não quis ser salvo, não quis obedecer à lei do amor. Para
alcançarmos a salvação, precisamos perseverar até o fim (M.24:13), ou seja,
precisamos querer ser salvos desde o momento do perdão dos nossos pecados até o
instante de sua passagem para a eternidade, seja pela morte física, seja pelo
arrebatamento da Igreja. Você quer ser salvo? Querer não é uma questão de
falar, mas uma questão de agir.
5. O Perdão
é ilimitado. Qual o limite do perdão? Pedro um dia perguntou, talvez num
momento imediatamente anterior àquele em que o Senhor Jesus proferiu esta
parábola, mostrando que a capacidade de perdoar deve ser ilimitada, e que um
servo perdoado precisa, também, saber praticar o perdão: “…Senhor, até quantas
vezes pecará meu irmão contra mim, e eu lhe perdoarei? Até sete?(Mt.18:21,22).
Tendo
por base algumas passagens do livro de Amós (Am.1:11,13; 2:1,6), onde se
anunciava a expressão divina: “por três transgressões ou por quatro, não
retirarei o castigo”, entendia-se que uma pessoa poderia ser perdoada três ou
quatro vezes por alguém, que seria este o limite do perdão a alguém. Alguns,
mais “liberais”, chegaram mesmo a afirmar que o limite do perdão seria de sete
vezes, baseando-se em Pv.24:16, tendo sido, talvez, esta a discussão que levou
Pedro a indagar a Jesus qual o limite de perdões que se deveria dar, adotando,
inclusive, a corrente mais favorável existente.
Para
sua surpresa, porém, Jesus mostra-lhe que a dimensão do reino de Deus está bem
acima do mais liberal intérprete da lei. Simplesmente, não haveria limite para
o perdão. Não se teria sete perdões, mas, muito mais do que isto, setenta vezes
sete, expressão que não significa, literalmente, quatrocentas e noventa vezes,
mas que tem como sentido “sempre”, ou seja, não há limite para o perdão entre
os filhos do reino.
Portanto,
para ilustrar este ensino, Jesus proferiu a Parábola do credor incompassivo,
retratando a grande disposição de Deus em perdoar e a sua exigência de que o
homem perdoado tenha a capacidade de liberar o perdão aos seus devedores,
também de forma ilimitada.
Jesus
quer nos ensinar que nunca poderemos dizer: não perdoo fulano, não perdoo
sicrano, porque fui muito humilhado, muito machucado, muito ferido. A Bíblia
diz que devemos perdoar assim como Deus em Cristo nos perdoou.
A
Bíblia diz que Deus perdoa nossos pecados e deles não mais se lembra. Existem
pessoas angustiadas com este versículo e diz: não consigo esquecer, então não
consigo perdoar. Só que as pessoas pensam que quando a Bíblia diz que Deus
perdoa e esquece acham que Deus tem amnésia. Mas, Deus não tem amnésia. Deus é
Onisciente.
Então
o que quer dizer que Deus perdoa e esquece? Quer dizer que Deus nunca lança em
seu rosto aquele pecado que já Ele já perdoou você. Deus nunca mais vai cobrar
uma dívida que Ele já perdoou você. É assim que é perdão. Jamais você esquecerá
uma sena. Mas quando vier à memória você dirá: essa dívida já foi paga. Por
isso perdoar é lembrar sem sentir dor.
Portanto,
não guarde mágoas. Tome a decisão de perdoar. Porque o perdão cura, o perdão
liberta, o perdão restaura, o perdão renova a alma.
Vejamos
o exemplo do diácono Estevão, o primeiro mártir do Cristianismo. No momento que
estava sendo apedrejado e morto ele não pediu vingança e nem juízo de Deus aos
seus algozes. Está escrito assim a respeito dele:
“E, pondo-se de joelhos, clamou com grande
voz: Senhor, não lhes imputes este pecado” (Atos 7:30).
II. EM
CRISTO, DEUS PAGOU AS NOSSAS DÍVIDAS
1. A nossa
dívida era impagável. Na Parábola, o servo foi apresentado diante do Rei e sua dívida
era de dez mil talentos. Como já disse anteriormente, 10 mil talentos
correspondiam a 350 mil quilos de ouro ou prata. Para um homem ajuntar 10 mil
talentos ganhando 1(um) denário por dia ele teria que trabalhar,
ininterruptamente, durante 150 mil anos. Esta quantia registrada por Jesus tem
o propósito de nos mostrar que se tratava de uma quantia impagável. Esta dívida
impagável simboliza o pecado do homem e o que ele representa diante de Deus.
Assim como o servo não tinha como pagar uma dívida desta natureza, o homem, por
si só, não tem como saldar a sua dívida diante de Deus resultante do pecado que
cometeu.
Como
o homem é um ser dotado de livre-arbítrio, de liberdade, ele pôde escolher
entre obedecer a Deus, ou não (Gn.2:16,17). Com a Queda, tornou-se devedor de
Deus, ficou em débito, perdeu o crédito que tinha diante do Senhor. Surgiu,
assim, uma dívida para com Deus, dívida esta que é impagável, pois todos os
recursos existentes no universo são insuficientes para o resgate de uma só alma
(Sl.49:6,8).
“Aqueles
que confiam na sua fazenda e se gloriam na multidão das suas riquezas, nenhum
deles, de modo algum, pode remir a seu irmão ou dar a Deus o resgate dele (pois
a redenção da sua alma é caríssima, e seus recursos se esgotariam antes)”.
Na
parábola, Jesus diz, claramente, que o servo não tinha com que pagar a dívida.
Assim é a situação do homem: não há como se pagar a dívida gerada pelo pecado,
que é representado, aqui, por dez mil talentos. O profeta Zacarias simboliza o
pecado, ou impiedade, como um talento de chumbo, um peso de chumbo que fechava
a vasilha onde estava a impiedade.
Não
há como se livrar do pecado, a não ser por uma operação divina, miraculosa,
como a que é efetuada na visão de Zacarias (Zc.5:8,9).
O
pecado tem de ser removido, pois o homem não consegue, por si só, remover o
pecado. Foi este o trabalho efetivado por Cristo, o Cordeiro de Deus que tira o
pecado do mundo (João 1:29b). Ele pagou plenamente as nossas dívidas. Deus
enviou seu Filho na plenitude dos tempos (Gl.4:4), para que todo aquele que
confessar o nome do unigênito Filho de Deus não pereça, não morra, ou seja, não
tenha de receber a justa retribuição pela imensa dívida do pecado (Gl.4:5). Ao
morrer em nosso lugar na cruz do calvário, Cristo verteu o sangue necessário
para a remissão de nossos pecados. Ali na cruz Ele eliminou a grande dívida que
era contra nós; Deus em Cristo pagou as nossas dívidas.
Na
Parábola, enquanto o servo pedia um prazo para fazer o pagamento, prazo que
seria mais uma tolerância, já que a dívida era impagável, o rei resolve, simplesmente,
dado a sua condição de soberano, perdoar a dívida. Jesus mostra-nos, portanto,
que, por vontade unilateral de Deus, pela Sua graça salvadora, alcançamos a
possibilidade, não de ter um prazo maior para pagamento, não de adiamento da
execução da dívida, mas, muito mais do que isto, temos a possibilidade de
termos a nossa dívida simplesmente perdoada, quitada, paga.
O
Rei eterno quis fazê-lo, movido de íntima compaixão e, para tanto, mandou Jesus
para morrer em nosso lugar na cruz do Calvário. Por isso, na cruz, Jesus
exclamou: “teletestai”, ou seja, “está consumado”; que significa: “está pago”,
quitado. Jesus pagou o preço da nossa salvação, pagou, com a Sua vida
imaculada, a dívida que tínhamos para com Deus.
“Havendo
riscado a cédula que era contra nós nas suas ordenanças, a qual de alguma
maneira nos era contrária, e a tirou do meio de nós, cravando-a na cruz”.
Portanto,
estamos livres da condenação do pecado. São as Escrituras Sagradas que nos
asseguram que "nenhuma condenação há para os que estão em Cristo Jesus,
que não andam segundo a carne, mas segundo o espírito" (Rm.8:1).
2. O perdão
foi decidido, mas não formalizado. O texto sagrado diz que o rei soltou o servo
e lhe perdoou a dívida (Mt.18:27). Entretanto, lembremos, o rei estava fazendo
ajuste de contas com os seus servos e este servo foi apresentado logo no começo
do ajuste. Assim, continuava ocorrendo o ajuste, havia outros servos a serem
cobrados. O rei determinou que fosse solto e decidiu perdoá-lo, mas o perdão
ainda não era definitivo. Para tanto, era necessário que se tivesse a quitação,
ou seja, um ato pelo qual atestasse inequivocamente que o devedor pagou a
dívida. É o que o povo comumente chama de “recibo”.
Segundo
a lei judaica, uma obrigação assumida por escrito, somente seria considerada
cancelada quando se destruísse o documento que a continha, o que, aliás, também
se dava na lei romana, o que explica a figura usada pelo apóstolo Paulo na
Carta aos colossenses, para dizer que a nossa cédula (isto é, o documento que
continha a nossa dívida) fora riscada e se encontrava cravada na cruz de Cristo
(Cl.2:14).
O
rei estava ainda em prestação de contas e não há notícia na Parábola de que a
cédula havia sido riscada, de que o perdão havia sido formalizado. Portanto,
não tinha ocorrido a quitação, apesar de já haver a decisão de perdão, tanto
que o servo foi solto e não mandado para a prisão.
Isto
nos fala de que o fato de termos adorado a Deus, aceitado nos submeter a Ele,
assim como o servo fez diante do rei, e, por isso, temos obtido, pela graça de
Deus, o perdão de nossa dívida, isto é, dos nossos pecados, não garante, de
pronto, que nos mantenhamos nesta situação até o final. Com efeito, somos
perdoados e, imediatamente, somos libertos, somos soltos, pois conhecemos a
verdade e a verdade nos libertou (Jo.8:36).
Entretanto,
isto não significa que não se possa perdê-lo, pois ainda não há o “recibo” da
quitação, a formalização deste perdão. “…Jesus, nesta parábola, ensina que o
perdão divino, embora seja concedido graciosamente ao pecador arrependido, é,
também, ao mesmo tempo condicional…”(Bíblia de Estudo Pentecostal, nota a
Mt.18.35).
O
perdão só seria tornado irreversível no instante em que, trazido novamente à
presença do rei, o servo obtivesse o “comprovante” de quitação, a destruição
dos documentos do débito. Até então, deveria continuar servindo, agora liberto
da dívida, agradando ao rei. No entanto, na sequência da Parábola, vemos que o
servo assim não procedeu, e a dívida voltou a status quo.
Espiritualmente
falando, isto pode ocorrer com qualquer um de nós. Fomos libertos pelo Senhor
Jesus dos nossos pecados; a partir de então, devemos correr com paciência a
carreira que nos está proposta, ou seja, passar a viver de acordo com a vontade
de Deus, mantendo-nos separados do pecado a cada instante, até o fim de nossa
carreira, quando, então, seremos novamente chamados à presença do Senhor, seja
por ocasião de nossa morte (Hb.9:27), seja por ocasião do arrebatamento da
Igreja (I Ts.4:17).
III. UMA VEZ
PERDOADOS, AGORA PERDOAMOS
Na Parábola,
o rei simplesmente resolveu perdoar a dívida. O perdão do rei estava
exclusivamente fundado em seu amor, em sua misericórdia. Jesus diz que o rei
foi movido de íntima compaixão. O servo não tinha direito algum, seja ao perdão
da dívida, seja a um novo prazo. O que lhe foi dado foi por causa da compaixão,
da misericórdia do rei.
Todavia,
no caminho para casa, o Credor Incompassivo encontra um conservo, que lhe devia
uma quantia irrisória, a saber, cem denários. Ele exigiu com rigor o pagamento,
e o conservo, usando das mesmas palavras que o servo dirigira ao rei, pede-lhe
um prazo para que se faça o pagamento: “...Sê generoso para comigo, e tudo te
pagarei” (Mt.10:29).
Entretanto,
o servo não usou de misericórdia e lançou o conservo na prisão. Sabendo disso,
o rei revogou o perdão da dívida e mandou lançá-lo na prisão, deixando-o à
disposição dos atormentadores. Jesus exortou dizendo que assim seu pai tratará
os que não perdoarem as ofensas dos seus irmãos. Portanto, uma vez que
recebemos o perdão de Deus, devemos agora perdoar aqueles que nos tem ofendido.
Todavia, perdoar não é fácil. Um certo escritor disse que o perdão “tem a
enloquecedora qualidade de ser não merecido, injusto e sem mérito“. Ele está
certo.
• O perdão é uma necessidade vital para
nossa alma, para nosso bem-estar. Mas o perdão não é fácil. É fácil pregar um
sermão sobre o perdão até se deparar com alguém para perdoar. Mas Jesus Cristo
nos informa e nos ensina que se eu não perdoar não posso orar; se eu não
perdoar não posso adorar; se eu não perdoar não posso ofertar; se eu não posso
perdoar eu não posso ser perdoado; se eu não perdoar, eu adoeço fisicamente,
emocionalmente, espiritualmente; se eu não perdoar a minha alma, a minha vida
será entregue aos verdugos da consciência e eu ficarei cativo e prisioneiro sem
paz.
• O perdão é uma terapia para a alma, um tônico
para o coração, uma condição indispensável para a saúde emocional e física. Muitas
enfermidades deixariam de existir se aprendêssemos a terapia do perdão. Quem
não perdoa adoece física, emocional e espiritualmente. O perdão é o remédio
necessário que tonifica o coração para caminharmos pela vida sem amargura. Sem
perdão a vida torna-se um fardo insuportável e a alma fica prisioneira do ódio
e da vingança. Sem perdão somos destruídos pelos nossos sentimentos.
• O perdão não é simplesmente uma
questão de ação, mas de reação. Jesus ilustra isso no sermão do monte
(Mt.5:39-41). Ele diz que quando uma pessoa nos ferir a face direita, devemos
voltar-lhe a outra face. Quando a pessoa nos forçar a andar uma milha, devemos
ir com ela duas milhas. Quando uma pessoa procurar nos tirar a capa, devemos
dar-lhe também a túnica. O que, na verdade, Jesus estava ensinando? Ele não
estava falando de ação, mas de reação. O que representa essas três figuras
alistadas por Jesus?
Primeiro, quando uma pessoa nos fere no
rosto, ela agride a nossa honra.
Segundo, quando uma pessoa nos força a fazer
o que não
desejamos, ela agride a nossa vontade.
Terceiro, quando uma pessoa nos toma as
vestes pessoais, ela agride o nosso bem mais íntimo e sagrado.
Jesus,
então, realça que mesmo que os pontos mais vitais da vida sejam atingidos -
como a honra, a vontade e os bens inalienáveis -, devemos reagir transcendentalmente,
ou seja, com perdão.
• O perdão é a transcendência do amor, é
vencer o mal com o bem. Perdoar é tratar o outro não como ele merece, mas segundo a
misericórdia exige. Perdoar é abrir mão dos seus direitos. Perdoar é colocar o
outro na frente do eu. Perdoar é não se ressentir do mal, mas vencer o mal com
o bem, abençoando o próprio malfeitor.
• O perdão é uma via de mão dupla. “...
Perdoai e sereis perdoados” (Lc.6:37). Aqui, Jesus mostra que o perdão é uma
via de mão dupla. Você já percebeu que na palavra perdoar tem a palavra doar?
Quem perdoa está doando alguma coisa. De certa forma misteriosa, o perdão de
Deus depende de nosso perdão. O que Jesus ensinou na oração do Pai Nosso? Duas
vezes ele fala sobre o perdão.
Em
Mateus 6:12 Ele diz assim: “perdoa as nossas dividas, assim como nós
perdoamos”. Depois no versículo 15 ele diz: “se, porém, não perdoardes aos
homens vosso pai celestial também não vos perdoará”. Portanto, se eu não
perdoar, eu também não recebo perdão de Deus, pois é uma via de não dupla.
Jesus
termina a parábola do Credor Incompassivo assim: “Assim também meu pai celeste
vos fará, se do íntimo não perdoardes cada um a seu irmão”.
CONCLUSÃO
Aprendemos
nesta Aula que o perdão deve ser, antes de tudo, uma decisão pessoal, uma
manifestação que venha do interior da pessoa. Muitos se contentam com o “perdão
de boca”, com o “perdão sem esquecimento”, com o “perdão aparente”, com o
“perdão cerimonial”.
Entretanto, Jesus não é aquele que se impressiona com as
aparências, mas que conhece o que há no coração do homem (João 2:24,25). De
nada adiantam as encenações, as lágrimas de crocodilo, os choros e as
representações teatrais. O perdão deve ser algo que venha do coração, sem o que
nenhum valor terá diante de Deus. Deus nos perdoou do seu íntimo, de sua
própria essência e quer que assim façamos. Somente este perdão verdadeiro, que
lança no mar do esquecimento as ofensas sofridas, que não tem rancor, receio ou
desconfiança, é o perdão que produz a manutenção de nossa comunhão com Deus.
Tudo o mais é hipocrisia que redundará, implacavelmente, em prejuízo espiritual
eterno. Aprendamos, pois, a perdoar!
Referências
Bibliográficas:
Bíblia
de Estudo Pentecostal.
Bíblia
de estudo – Aplicação Pessoal.
Comentário
Bíblico popular (Novo Testamento) - William Macdonald.
Revista
Ensinador Cristão – nº 76. CPAD.
Comentário
Bíblico Pentecostal. CPAD.
Comentário
do Novo Testamento – Aplicação Pessoal. CPAD.
Rev.
Hernandes Dias Lopes. Lucas, Jesus o Homem perfeito.
Dr.
Caramuru Afonso Francisco. “O grandioso perdão de Deus”_PortalEBD_2005.
Disponível
no Blog: http://luloure.blogspot.com
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