A
CONSAGRAÇÃO DOS SACERDOTES
Ev. JOSÉ
COSTA JUNIOR
CONSIDERAÇÕES
INICIAIS
A
cerimônia em que se consagravam os sacerdotes era celebrada na presença de todo
o povo. Moisés ministrava como sacerdote oficiante. Todos os pormenores da
cerimônia assinalam a transcendência de Deus. Ele está com seu povo, porém este
não deve tratá-lo com familiaridade. Somente podem aproximar-se dele pelos
meios que ele prescreve. O pecado impede aos homens o aproximar-se da presença
divina. Os sacerdotes e tudo o que eles empregavam tinham de ser consagrados ao
serviço divino. Portanto, Aarão e seus filhos tinham de estar devidamente
limpos e ataviados e deviam ter expiado seus pecados antes de assumirem os
deveres sacerdotais. O Deus vivente não é uma imagem impotente à qual os homens
prestam culto segundo suas ideias. Somente ele é quem determina os "requisitos
segundo os quais lhe é possível habitar com seu povo". Em uma cerimônia
impressionante e muito bem preparada, Aarão e seus filhos foram ordenados para
o sacerdócio.
O objetivo deste estudo é trazer
algumas informações, extraídos dos comentários de Charles H. Mackintosh (1820 -
1896) e do livro “El Pentateuco” de Paul Hoff, com a finalidade de ampliar a
visão sobre o assunto em tela. Não há nenhuma pretensão de esgotar o assunto ou
de dogmatizá-lo, mas apenas trazer ao professor da EBD alguns elementos, pontos
de vista e ferramentas que poderão enriquecer sua aula.
I. A CERIMÔNIA DE CONSAGRAÇÃO SACERDOTAL
Entendemos
que Arão e seus filhos representam Cristo e a Igreja, porém nos primeiros
versículos deste capítulo é dado o primeiro lugar a Arão. "Então, farás
chegar Arão e seus filhos à porta da tenda da congregação e os lavarás com
água" (versículo 4). A lavagem da água tornava Arão simbolicamente aquilo
que Cristo é intrinseca¬mente, isto é: santo.
A
Igreja é santa em virtude de estar ligada a Cristo na vida de ressurreição. Ele
é a definição perfeita daquilo que ela é perante Deus. O ato cerimonial da
lavagem da água representa a ação da palavra de Deus (veja-se Ef 5:26).
"E
por eles me santifico a mim mesmo, para que também eles sejam santificados na
verdade" (Jo 17:19), disse o Senhor Jesus. Separou-Se para Deus no poder
de uma perfeita obediência, orientando-Se em todas as coisas, como homem, pela
Palavra, mediante o Espírito eterno, a fim de que todos aqueles que são d'Ele
pudessem ser inteiramente separados pelo poder moral da verdade.
E
tomarás o azeite da unção e o derramarás sobre a sua cabeça " (versículo
7). Nestas palavras temos o Espírito, mas é preciso notar que Arão foi ungido
antes de o sangue ser derramado, porque nos é apresentado como figura de
Cristo, que, em virtude daquilo que era em Sua Própria Pessoa, foi ungido com o
Espírito Santo muito antes que fosse cumprida a obra da cruz.
Em
contrapartida, os filhos de Arão não foram ungidos senão depois de ser
espargido o sangue, "degolarás o carneiro, e tomarás do seu sangue, e o
porás sobre a ponta da orelha direita de Arão,e sobre a ponta da orelha direita
de seus filhos, como também sobre o dedo polegar da sua mão direita, e sobre o
dedo polegar do seu pé direito: e o resto do sangue espalharás sobre o altar ao
redor" (¹). "Então, tomarás do sangue que estará sobre os altar e do
azeite da unção e o espargirás sobre Arão e sobre as suas vestes e sobre seus
filhos, e sobre os as vestes de seus filhos com ele" (versículos 20 e 21).
No que diz respeito à Igreja, o sangue da cruz é o fundamento de tudo. Ela não
podia ser ungida com o Espírito Santo até que a sua Cabeça ressuscitada tivesse
subido ao céu e depositado sobre o trono da Majestade divina o relato do
sacrifício que havia oferecido. "Deus ressuscitou a este Jesus, do que
todos nós somos testemunhas. De sorte que, exaltado pela destra de Deus, e
tendo recebido do Pai e promessa do Espírito Santo, derramou isto que vós agora
vedes e ouvis" (At 2:32-33); comparem-se também (Jo 7:39; At 19:1 - 6).
Desde os dias de Abel que haviam sido regeneradas almas pelo Espírito Santo e
experimenta¬do a Sua influência, sobre as quais operou e a quem qualificou para
o serviço; porém a Igreja não podia ser ungida com o Espírito Santo até que o Seu
Senhor tivesse entrado vitorioso no céu e recebesse para ela a promessa do Pai.
A
verdade desta doutrina é ensinada, da forma mais direta e completa, em todo o
Novo Testamento; e a sua integridade estreita é mantida, em figura, no símbolo
que temos perante nós, pelo fato claro que, embora Arão fosse ungido antes de o
sangue haver sido derramado (versículo 7), contudo os seus filhos não o foram,
e não podiam ser ungidos senão depois (versículo 21).
Para
os sacrifícios de consagração, as ofertas foram de quase todas as classes
nomeadas por Deus.
A
oferta pelo pecado, o novilho da expiação, deu aos sacerdotes "uma
expressão oportuna de seu sentido de indignidade, uma confissão pública e
solene de seus pecados pessoais e a transferência de sua culpa à vítima típica".
O carneiro do holocausto servia para mostrar que os sacerdotes se consagravam
inteiramente ao serviço do Senhor. A oferta de paz, o carneiro das
consagrações, dava a entender a gratidão que os sacerdotes sentiam ao entrar no
serviço de Deus.
Aarão
e seus filhos punham as mãos sobre os animais oferecidos em sacrifício,
mostrando assim que eles se ofereciam a Deus.
II. O
SACERDÓCIO DE CRISTO
Porém,
aprendemos alguma coisa mais com a ordem da unção nesta lição, além da verdade
importante acerca da obra do Espírito, e a posição que a Igreja ocupa. A
preeminência do Filho é-nos também apresentada. "Amaste a justiça e
aborreceste a inquidade; por isso Deus, o teu Deus, te ungiu com óleo de
alegria, mais do que a teus companheiros" (SI 45:7; Hb 1:9). É preciso que
o povo de Deus mantenha sempre esta verdade nas suas convicções e experiências.
Por certo, a graça infinita de Deus é manifestada no fato maravilhoso que
pecadores culpados e dignos do inferno sejam chamados companheiros do Filho de
Deus; mas nunca devemos esquecer, nem por um momento, o vocábulo
"mais". Por mais íntima que seja a união—e é tão íntima quanto os
desígnios eternos do amor divino a podiam fazer—, é, contudo, necessário que
Cristo tenha em tudo a preeminência" (Cl 1:18). Não podia ser de outra
maneira. Ele é Cabeça sobre todas as coisas — Cabeça da Igreja, Cabeça sobre a
criação, Cabeça sobre os anjos, o Senhor do universo. Não existe um só astro de
todos os que se movem no espaço que não Lhe pertença e não se mova sob a Sua
orientação.
Não
existe um verme sequer que se arrasta sobre a terra, que não esteja sob os Seus
olhos incansáveis. Ele está acima de todas as coisas; é toda a criatura "o
primogénito de entre os mortos" "o princípio da criação de Deus"
(Cl l:15-18;Ap 1:5). "Toda a família nos céus e na terra" (Ef 3:15)
deve alinhar, na classe divina, sob Cristo. Tudo isto será reconhecido com
gratidão por todo o crente espiritual; sim, a sua própria articulação produz um
estremecimento no coração do crente. Todos os que são guiados pelo Espírito
regozijar-se-ão com cada nova manifestação das glórias pessoais do Filho; da
mesma maneira que não poderão tolerar qualquer coisa que se levante contra
elas. Que a Igreja se eleve às mais altas regiões e glória, será seu gozo
ajoelhar aos pés d'Aquele que se baixou para a elevar, em virtude do Seu
sacrifício, à união Consigo; o qual havendo plenamente correspondido a todas as
exigências da justiça divina, pode satisfazer todos os afetos divinos,
unindo-a em um Consigo Mesmo, em toda a aceitação infinita com o Pai, na Sua
glória eterna: "Não se envergonha de lhes chamar irmãos" (Hb 2:11).
Como
membros do Corpo de Cristo, nós temos um relacionamento com Ele, o grande Sumo
Sacerdote, que é análogo àquele entre Arão e seus filhos, que participavam de
seu trabalho sacerdotal. Na carta aos hebreus, a qual trata deste assunto, nós
temos uma espécie de Levítico neotestamentário. Nesta epístola, os crentes são
denominados tanto de filhos como de “santos irmãos”, como se Cristo nos
considerasse Seus filhos – “Eis aqui estou eu e os filhos que Deus me deu” (Hb
2:13). Por meio de nós, portanto, como membros de Cristo, o grande trabalho
sumo sacerdotal no céu deve encontrar expressão aqui na terra. Se nós
perguntarmos qual é o significado do contínuo trabalho do Senhor como Sumo
Sacerdote, a resposta é: trazer vida sobre a morte, anular a operação e reinado
da morte espiritual. O maior conflito da Igreja é com a morte espiritual.
Quanto mais espiritual um homem se torna, mais consciente ele está da horrível
realidade desta batalha contra o maligno poder da morte.
Nenhum
sacerdote ou levita do Antigo Testamento jamais tentou se tornar lírico sobre
este assunto ou falar em linguagem poética como se a morte fosse algum tipo de
amigo. Ah não, eles sabiam ser a morte a grande inimiga de Deus e de todos os
Seus interesses.
Quando
as Escrituras falam da morte como o último inimigo, isto não somente significa
que é a última na lista, mas que é o inimigo derradeiro, a expressão completa
de toda inimizade.
O
efeito do sacerdócio é ilustrado repetidas vezes na Palavra de Deus. Nós
observamos a morte adentrando por causa do pecado e, então, Deus intervindo com
Sua resposta de vida por meio do sacrifício de sangue. O sangue fala de uma
justiça aceita e, por meio disto, o sacerdote estava habilitado a enfrentar a
morte, vencê-la e ministrar vida. Finalmente ouvimos falar do Senhor Jesus, que
encontrou a morte na concentração de toda sua inimizade, derrotou-a por meio do
perfeito sacrifício de sangue da Sua própria vida e, então, deu início à Sua
obra sacerdotal de ministrar vida aos crentes.
O
sacerdote é um homem que tem autoridade, embora esta seja espiritual e não
eclesiástica. Ele tem poder com Deus. O apóstolo João fala do caso de alguém
que cometeu um pecado que não leva à morte, e ele diz: “pedirá, e Deus lhe dará
vida...” (1Jo 5:16). Esta referência revela que um crente que permanece na base
da justiça pela fé por meio do sangue de Jesus pode exercer o poder do
sacerdócio em benefício de um irmão que errou e, assim, ministrar vida a ele.
Certamente não há ministério mais necessário na terra hoje do que este
ministério tão vitalizante. Se nós ministrarmos verdades que não emanam vida,
estamos desperdiçando nosso tempo. Deus não nos comissionou para sermos meros
transmissores de informação sobre coisas divinas ou professores de moralidade.
Ele nos libertou de nossos pecados para que pudéssemos ministrar vida a outros
em virtude da autoridade sacerdotal. Vivemos em um mundo onde a morte reina.
Diariamente multidões são arrastadas por uma maré de morte espiritual. Por quê?
Por causa da injustiça. Precisa-se da atividade daqueles que aceitarão suas
responsabilidades sacerdotais, tanto pedindo vida para outros quanto oferecendo
vida a eles por meio do evangelho. Nós devemos ministrar Cristo. Não meras
doutrinas sobre Ele; não meras palavras ou mandamentos, mas o impacto vital de
Cristo em termos de vida. Assim, todo crente é chamado para se posicionar entre
os mortos e os vivos dando a resposta de Cristo para as atividades de Satanás.
Não
é de se admirar que o reino de Satanás esteve em guerra com Israel, pois a
presença desta nação em um relacionamento correto com Deus proclamava
efetivamente que o pecado e a morte não reinam universalmente no mundo de Deus,
mas foram enfrentados e superados pelo poder de uma vida justa e incorruptível.
No fim, Israel perdeu este testemunho e, por consequência, o ministério
sacerdotal. A Igreja surgiu, então, para dar continuidade a este ministério,
sendo não mais um povo localizado em uma terra, mas uma comunidade espiritual
espalhada por toda a terra, um povo cuja vocação suprema é manter a vitória de
Deus sobre a morte, conforme o testemunho de Jesus. E qual é o testemunho de
Jesus? É o testemunho do triunfo da vida sobre a morte. Ele mesmo assim o
descreveu a João: “[Eu sou] aquele que vive; estive morto, mas eis que estou
vivo pelos séculos dos séculos e tenho as chaves da morte e do inferno” (Ap
1:18).
CONCLUSÃO
Na
confecção deste pequeno estudo, buscamos consultar literatura que mais se aproxima
com o pensamento de nossa denominação, tentando não perder a coerência
teológica. Evitamos expressar conceitos e opiniões pessoais sem o devido
embasamento na Palavra, pois a finalidade é agregar conhecimentos, enriquecer a
aula da escola dominical e proporcionar ao professor domínio sobre a matéria em
tela. Caso alcance tais finalidades, agradeço ao meu DEUS por esta grandiosa
oportunidade.
Ev. JOSÉ COSTA JUNIOR