23 de junho de 2020

A BATALHA ESPIRITUAL E AS ARMAS DO CRENTE



Texto Áureo

Revesti-vos de toda a armadura de Deus, para que possais estar firmes contra as astutas ciladas do diabo; Efésios 6.11

John Stott observa que (em Efésios 6.10-20) Paulo mostra aos Efésios (e também a nós) uma realidade mais dura que os sonhos. O apóstolo recorda-nos da oposição que enfrentamos. Por baixo das aparências (muito além do que os olhos físicos podem ver), está sendo travada furiosamente uma batalha espiritual invisível. Ele apresenta-nos o diabo, (já mencionado em Efésios 2:2 e 4:27) e certos principados e potestades sob seu comando. Paulo não nos fornece nenhuma biografia do diabo, e nenhuma explicação da origem das forças das trevas. Admite a existência delas como um terreno comum entre ele e seus leitores. De qualquer maneira, seu propósito não é satisfazer a nossa curiosidade, mas sim, advertir-nos quanto à hostilidade dessas forças e ensinar-nos a vencê-las. 

1- O Preparo Espiritual do Crente Para a Batalha

1. Fortalecidos no poder do Senhor.  No demais, irmãos meus (esta expressão “No demais irmãos meus” teria sido melhor traduzida como, “A partir de agora”, no sentido de “durante o tempo que nos resta”, pois este é o sentido transmitido pelos melhores manuscritos), fortalecei-vos no Senhor e na força do seu poder.

Efésios 6.10 Fortalecei-vos no grego é “endunamoo” que significa: fortalecer ou tornar-se forte. Temos aqui uma convocação para os crentes buscarem o poder espiritual tão plenamente ilustrado em Efésios 1.19-23. É somente através do poder de Deus que ressuscitou e exaltou a Cristo, assim conquistando todos os seus adversários ( Colossenses 2.15 ) que podemos esperar obter uma vitória similar.

Este poder nos é conferido (outorgado, concedido) através do Espírito Santo de Deus. Quando buscamos ao Senhor com orações, jejuns, meditações na Palavra, obediência a Deus e sua Palavra, recebemos através do Espírito Santo o poder necessário para vencer as forças do mal, isto é, somos fortalecidos/nos tornamos fortes no Senhor e na força do seu poder.

2. Vigilantes em toda a oração e súplica. orando em todo tempo com toda oração e súplica no Espírito e vigiando nisso com toda perseverança e súplica por todos os santos Efésios 6.18

Paulo enfatiza a necessidade de uma vida cristã permeada pela prática da oração. Não é possível entrar em combate sem a cobertura de tão preciosa arma espiritual (Lucas 21.36).  

A oração deve ser constante, dirigida pelo Espírito Santo e feita por todos os “santos”, isto é, todos os cristãos.

A oração deve ser perseverante e conter súplicas (implorações, clamores, rogos urgentes). O evangelista Leonard Ravenhill, homem aprofundado na oração disse que:
“Um cristão que não ora, está desviando” A frase de Ravenhill é verdadeira. Realmente, um cristão que não ora está desviando ou já desviou. Alguém que passa um dia sem orar não deve se considerar um cristão.

A expressão “orando em todo tempo com toda oração e súplica no Espírito” (Efésios 6.18) significa clamar pelo favor divino em qualquer circunstância e oportunidades. A oração também deve ser acompanhada de vigilância, isto é, não adiante eu orar pedindo a Deus livramentos se eu não vigiar e me colocar em lugares e situações onde sei que é um ambiente propício “para eu pecar” (Isaías 59.1,2). 

2- Conhecendo o Campo da Batalha

 1. As astutas ciladas do diabo. Revesti-vos de toda a armadura de Deus (O cristão deve se revestir de toda a armadura de Deus), (por quê?) para que possais estar firmes contra as astutas ciladas do diabo; Efésios 6.11

“Revesti-vos de toda a armadura de Deus” - Revesti-vos transmite a ideia de “permanência” indicando que a armadura deve ser o traje sustentador ao longo da vida do cristão. Um bom soldado jamais tira a sua armadura quando está na guerra, perceba que, enquanto o cristão estiver vivo neste mundo, estará em guerra, por isso jamais deve despir-se de sua armadura (em outras palavras, jamais deve andar fora da direção de Deus).

 “para que possais estar firmes” – O cristão deve ser firme

1- Na esperança (Salmo 40.1).
2- Na doutrina (Atos 2.42).
3- Na oração (Romanos 12.12).
4- No trabalho (1 Coríntios 15.58)
5- Na fé (1 Pedro 5.9). 

 “as astutas ciladas do diabo” – As astutas ciladas (planos que tem o objetivo de enganar, machucar, destruir), perceba que, satanás é um grande estrategista, ele jamais se apresenta como satanás, ele se apresenta aparentemente com a “proposta dos sonhos”, ele se apresenta disposto a oferecer aquilo que as pessoas desejam, com o único objetivo de enganar, machucar e destruir, foi assim desde o jardim do Éden. 

O cristão está engajado num conflito espiritual contra o mal, este conflito é descrito como “o combate da fé” (ou milícia, peleja da fé) 2 Coríntios 10.4; 1 Timóteo 1.18,19; 6.12.

2. O conflito contra o reino das trevas. porque não temos que lutar contra carne e sangue, mas, sim, contra os principados, contra as potestades, contra os príncipes das trevas deste século, contra as hostes espirituais da maldade, nos lugares celestiais. Efésios 6.12

Paulo enfatiza que esse conflito não é “contra carne e sangue” (Efésios 6.12). Não se trata de lutar contra o ser humano, mas contra o reino das trevas nas “regiões celestes”. Essas declarações indicam que a batalha não é física, mas travada no mundo espiritual. 

O termo “lutar” (Efésios 6.12) retrata a ideia de um combate corpo a corpo, isto é, “um contra um” no campo de batalha, significando que, cada pessoa   trava uma luta particular para estar “firme na fé”, por assim dizer. O comentarista da revista, Douglas Baptista observa que esta luta é tanto na área individual, quanto na área coletiva da “igreja” (1 Pedro 5.8,9). 

O termo “carne” tem significados distintos nas Escrituras, mas a combinação “carne e sangue” é um hebraísmo que diz respeito ao ser humano e, (colocadas) dessa maneira, as palavras “carne e sangue” só aparecem mais duas vezes em todo o Novo Tratamento (Mateus 16.17; 1 Coríntios 15.50).

William Hendriksen (historiador do Novo Testamento) arrazoa que o texto indica a desigualdade dessa batalha, uma vez que a luta não é natural, não é contra homens frágeis, mas contra uma hoste extraterrena inumerável de espíritos malignos, e o Diabo é quem controla pessoalmente todas essas legiões e procura atacar os cristãos.

O historiador bíblico Francis Foulkes observa que, “O homem moderno sente-se capaz de lutar contra poderes que, mesmo sendo descritos em termos materiais, estão além de seu controle, pois o homem moderno tem habilidade em penetrar nos mistérios do universo material e trazê-lo a sujeição”.  Mas, em se tratando de lutar contra poderes espirituais, o homem não tem chance alguma de vencer, a não ser pelo poder de Deus. John Stott enfatiza que as forças organizadas contra nós não são de pessoas, mas de inteligências cósmicas; nossos inimigos não são humanos, mas demoníacos, o que mostra que, só com a ajude de Deus é possível triunfar em tal batalha. 

3. As agências das potestades do ar. Os termos “principados, potestades, príncipes das trevas deste século, hostes espirituais da maldade” servem para descrever a hierarquia no mundo espiritual, referem-se a forças demoníacas, batalhões de anjos caídos, espíritos maus que têm imenso poder.

Embora não possamos vê-los, estamos cercados constantemente por seres espirituais malignos. 

Mesmo sendo verdade que não podem habitar num crente verdadeiro, eles podem oprimi-lo e molestá-lo. ( É muito provável que, o termo “principados, potestades, príncipes, hostes espirituais” também sirvam para descrever a hierarquia no mundo espiritual de ambos os lados, o bom e o mau).
O termo “nos lugares celestiais” abrange todo e qualquer lugar onde o reino de Deus esteja. Onde estiver um crente fiel, ali se tornará um campo de batalha. Como a batalha é espiritual, resta ao crente lutar com as armas espirituais contra poderes espirituais. 

3- As armas Espirituais Indispensáveis ao Crente
 1. A armadura completa de Deus.

11. Revesti-vos de toda a armadura de Deus, para que possais estar firmes contra as astutas ciladas do diabo;

12. porque não temos que lutar contra carne e sangue, mas, sim, contra os principados, contra as potestades, contra os príncipes das trevas deste século, contra as hostes espirituais da maldade, nos 
lugares celestiais.

13. Portanto, tomai toda a armadura de Deus, para que possais resistir no dia mau e, havendo feito tudo, ficar firmes. Efésios 6.11-13

Assim como o poder é de Deus, a armadura também é (Efésios 6.11), a armadura é composta de armas de defesa e ataque. Em Efésios 6.10-20 Paulo parece ter em mente a armadura militar romana (Mas também pode estar em pauta armadura grega, ou até mesmo ambas). Russel Norman Champlin observa que, segundo os escritos de Políbio e Platão *, percebe-se que havia poucas diferenças entre a “armadura grega e armadura romana”. 

Paulo era homem intensamente viajado pelo império romano ( e também pelo mundo grego), tendo sido encarcerado e solto por diversas vezes, e estaria bem familiarizado com as armaduras do seu tempo (familiarizado não só com as armaduras romanas, mas certamente também com as armaduras gregas).

*Políbio: Geógrafo e historiador da Grécia antiga (220 a.C. a 146 a.C).

*Platão: Filósofo e matemático da Grécia antiga (427 a.C a 447 a.C).

As armaduras antigas eram compostas de: Escudo, espada (nem sempre, as vezes o soldado levava apenas a lança), lança, capacete e armadura das pernas (que cobria as coxas até os joelhos).

Paulo acrescenta em sua analogia o cinturão e a espada, embora estes 2 itens realmente nem sempre fizessem parte da armadura antiga, eram muito necessárias para o soldado antigo.

Objetos muito apropriados para ilustrar o equipamento espiritual necessário para derrotar o mal. Perceba que em Efésios 6.13 encontramos o termo “tomai”, em outras palavras, “estendei a mão”, ou seja, “a armadura está a disposição de vocês, revesti-vos dela”. Ou seja, a ordem de Paulo é que nos apropriemos do poder espiritual a nós oferecido.

E como se faz isso? Com vida de oração (tudo começa com oração), procurar conhecer as Escrituras de maneira aprofundada, por em prática tudo o que se aprende com Palavra de Deus, fé, obediência e perseverança. Pondo esta “receita” em prática, seremos soldados revestidos de toda a “armadura de Deus”. Nenhuma parte da armadura deve ser deixada de lado, pois se uma parte da armadura for menosprezada e deixada de lado, satanás irá concentrar seus ataques exatamente “naquele ponto de sua vida, onde faltar uma parte da armadura”.

Segundo Russel Norman Champlin, em épocas de guerras na antiguidade, os soldados mais debilitados tinham permissão para tirar partes de suas armaduras em combate, o resultado disso era que, muitos inimigos se aproveitavam e atacavam exatamente estes soldados “com a armadura incompleta” e muitos morriam. Paulo deviam ter conhecimento sobre isto, e alertou,  tomai toda a armadura de Deus (Efésios 6.13). O revestimento completo da “armadura de Deus” se faz através da constante comunhão com Ele. 

 2. As armas indispensáveis de defesa. Vejamos aqui uma lista de armas espirituais disponíveis aos soldados do Senhor: Tendo cingidos os vossos lombos com a verdade.. (Efésios 6.14).
 
Faz referência a doutrina de Cristo. Este simbolismo parece se alicerçar no trecho de Isaías 11.5 onde a verdade também é “pintada” como um cinturão que deve ser colocado. O que devemos entender aqui é a “verdade cristã”, 

que se encontra na pessoa de Cristo, tudo o que está envolvido desde a conversão, incluindo a conduta do crente, de acordo com padrões verdadeiramente bíblicos. Isto é, o verdadeiro cristão está envolvido com a/e na verdade, quando olhamos para um verdadeiro cristão, enxergamos Cristo (Cristo é a verdade, João 14.6).

Vestida a couraça da justiça (Efésios 6.14). Veja Isaías 59.17 que também se refere ao simbolismo do “peitoral” de uma armadura. O peitoral protegia os órgãos vitais do tórax e da parte superior do abdômem do soldado na batalha, isto, para o soldado era uma proteção extremamente importante, assim é para o cristão a justiça (ou retidão) uma proteção imprescindível.

Calçados os pés na preparação do evangelho da paz (Efésios 6.15). Este trecho lembra Isaías 52.7 “Quão formosos.. são os pés do que anuncia as boas novas (No NT as boas novas são o Evangelho)”. Assim o cristão, onde quer que vá, deve ser um porta voz do Evangelho, com suas palavras, modo de se vestir e se comportar. O cristão verdadeiro deve estar pronto para isso, através da sua comunhão com Deus.

Tomando sobretudo o escudo da fé (Efésios 6.16). Símbolo de proteção. Salmo 3.3; Gênesis 15.1; Deuteronômio 33.29; 2 Samuel 22.3; Salmo 28.7; 33.20; 59.11; 84.9-11; 115.9-10; Efésios 6.16.  A fé aqui (neste trecho) não representa a “doutrina cristã em si”, mas sim confiança em Deus e a certeza de que Ele fará, não o que queremos, mas sim o que Ele quer, segundo a sua boa vontade sobre nós. A fé é um infalível escudo de proteção para o cristão.

O capacete da salvação (Efésios 6.17). A parte mais vulnerável e vital do corpo é a cabeça, tanto no sentido físico quanto intelectual. O termo “capacete da salvação” refere-se a uma mente guiada e protegida pelo Espírito de Deus. Uma mente guiada e protegida pelo Espírito de Deus está fortalecida contra as tentativas de satanás de fazer desviar o cristão. Satanás deseja atacar nossa mente, foi assim que ele derrotou Eva (veja Gênesis 3). 

 3. A imprescindível arma ofensiva. Todos percebem rapidamente que a espada é uma arma de ataque. Mas, na verdade, um soldado habilidoso pode usar a espada tanto para atacar quanto para se defender. O cristão habilidoso nas Escrituras pode se valer da Palavra de Deus tanto para atacar quanto para se defender, por assim dizer. Uma espada física perfura o corpo, mas a Palavra de Deus perfura o coração.

Quanto mais você usa uma espada física, mais cega ela fica; mas usar a Palavra de Deus apenas a torna mais afiada em nossa vida. Uma espada física exige a mão de um soldado, mas a espada do Espírito tem poder próprio, pois é viva, e eficaz (Hebreus 4.12, 2 Timóteo 3.16)

O Espírito escreveu a Palavra, e o Espírito empunha a Palavra quando a tomamos pela fé e a colocamos em uso. Uma espada física fere para causar dano e matar, mas a espada do Espírito fere para curar e dar vida.

 Conclusão

A vitória da Igreja de Cristo contra as forças do mal é garantida pela sobre excelente grandeza do poder de Deus (Efésios 1.19). Os ardis de Satanás não podem ser subestimados, porém, o reino das trevas não deve amedrontar o cristão. A Escritura convoca o salvo a combater e a vencer as potestades do ar, revestido com a armadura de Deus (Efésios 6.11). 

Matthew Henry observa que (juntamente com a armadura completa) Outro remédio contra o pecado é o cuidado ou a cautela, (sem o cuidado, cautela, hábito de vigiar) é impossível manter a pureza de coração e de vida. 

Referências

Bíblia de Estudo Pentecostal,
Enciclopédia Bíblica R. N.
Champlin, Bíblia de Estudo MacArthur, 
Efésios – Introdução e comentário Francis Foulkes, 
Ebook Sobsídios EBD 20 – A Igreja Eleita,
Livro de apoio do 2° trimestre de 2020, 
A mensagem de Efésios – John Stott,
Comentário Matthew Henry,
Bíblia para pregadores e líderes Geziel Gomes,
Apontamentos teológicos Professor José Junior