31 de julho de 2013

AS VIRTUDES DOS SALVOS EM CRISTO



DESENVOLVENDO A SALVAÇÃO RECEBIDA

Filipenses 2.12-18

Á salvação é obra de Deus e a sua manutenção é nossa e do Espírito Santo.

De sorte que, meus amados, assim como sempre obedecestes, não só na minha presença, mas muito mais agora na minha ausência, assim também operai a vossa salvação com temor e tremor; porque Deus é o que opera em vós tanto o querer como o efetuar, segundo a sua boa vontade. Fazei todas as coisas sem murmurações nem contendas; para que sejais irrepreensíveis e sinceros, filhos de Deus inculpáveis no meio duma geração corrompida e perversa, entre a qual resplandeceis como astros no mundo; retendo a palavra da vida, para que, no Dia de Cristo, possa gloriar-me de não ter corrido nem trabalhado em vão. E, ainda que seja oferecido por libação sobre o sacrifício e serviço da vossa fé, folgo e me regozijo com todos vós. E vós também regozijai-vos e alegrai-vos comigo por isto mesmo. (Fp 2.12-18)

A salvação é perfeita juridicamente em relação ao que CiZ fez no Calvário ao pagar a pena do nosso pecado. Porém, ela é dinâmica e progressiva no que se refere a mantê-la através da santidade de vida. A consumação de nossa salvação está na dependência c,. Deus. Por isso, a salvação, quanto ao ato penal, é perfeita e completa, mas quanto a sua preservação é condicional. Pode-se perde a salvação, caso não seja preservada através de uma vida santa e dedicada ao Senhor. A obediência ao evangelho de Cristo é um modo] de garantir a salvação.
A partir da escritura do versículo 12, o apóstolo Paulo expressa o sentimento do seu coração no sentido de que a obediência dos filipenses não dependesse da sua presença fisica em Filipos. O apóstolo deseja que os filipenses entendam que a salvação é dinâmica, ativa e contínua, no sentido de que cada cristão deve procurar desenvolver sua vida cristã em santidade e obediência. Quando ele exorta, dizendo: “operai a vossa salvação”, não está ensinando, em absoluto, uma salvação pelas obras. O versículo 13 esclarece bem essa questão: “Porque Deus é o que opera em vós tanto o querer como o efetuar.

A doutrina da Salvação ganha espaço nos pensamentos do apóstolo Paulo no texto em destaque. Paulo refuta a ideia de uma salvação estática ou elitista, baseada apenas no direito divino de eleger a quem Ele quer, dos calvinistas. Esta última ideia entende que o eleito não corre o risco de perder sua salvação. Porém, o texto apresenta a obra da salvação de modo dinâmico. O que dá importância a este pensamento é a forma plural do verbo operar ou do verbo desenvolver. Na ARC temos o imperativo “operai”, e na ARA temos o mesmo imperativo “desenvolvei”. Isso não sugere que a obra justificadora de uma pessoa diante de Deus precise de alguma obra complementar, como se estivesse incompleta a obra que Jesus fez por todos os pecadores. O verbo dá um sentido dinâmico à salvação.

Como podemos entender a obra de salvação como doutrina? Paulo entendeu e ensinou a doutrina dimensionando-a em três tempos distintos: a obra no passado com a justificação do pecador mediante sua fé em Cristo; a obra presente da salvação mediante a santificação como um processo contínuo e crescente do crente na presença de Deus; e em terceiro lugar, a obra futura da salvação mediante a glorificação, ou seja, o estado de glória conquistado na vida além-túmulo. Ora, o sentido dinâmico da salvação é demonstrado pela forma verbal do verbo “operar”, porque o crente pode crescer em Cristo Jesus (Ef 4.15,16).

Neste ensinamento, o apóstolo Paulo retoma a exortação apostólica e enfatiza a obediência dos filipenses, que também caracterizou Cristo em sua vida terrena. Ele destaca essa virtude da obediência de Cristo demonstrada nos versículos 5 a 11 para que os crentes em Cristo o tivessem como exemplo. Paulo não duvida da obediência dos filipenses, mas fortalece a ideia de que a obediência é o caminho do aperfeiçoamento da salvação recebida. A forma imperativa do verbo “operar” pode ser entendida, por “desenvolver”. Desenvolver o quê? A salvação! A salvação que é uma obra dinâmica na vida do crente. Paulo sentia liberdade para falar e exortar aos filipenses, reafirmando sua autoridade apostólica para com eles e estimulando-os a desenvolver a salvação.

O Apelo para Desenvolver a Salvação (2.12)

1. A salvação tem um caráter dinâmico

O texto do versículo 12 diz: “operai a vossa salvação”. O verbo operar sugere a ação de fazer, de movimentar, a salvação recebida.

Envolve uma dinâmica de desenvolvimento da nova vida recebida. O princípio que rege o desenvolvimento da salvação é a obediência. Paulo lembra o exemplo maior de obediência de Cristo como um estímulo a que façamos o mesmo. Teologicamente, a salvação tem três tempos distintos na sua operação. O primeiro tempo refere-se à obra da salvação realizada, completa e perfeita no Calvário. E a salvação da pena do pecado que Jesus pagou por todos nós. O segundo tempo da salvação refere-se à dinâmica da salvação que se efetua no dia a dia de forma progressiva. E a salvação do poder do pecado que age em nosso redor e em nossa natureza pecaminosa para que percamos a salvação. O terceiro tempo da salvação é futuro, e se refere à salvação do corpo do pecado, na morte fisica ou no Arrebatamento da Igreja.

2. A exortação para operar a salvação recebida (2.12)

A doutrina de “uma vez salvo, salvo para sempre” não dá espaço para desenvolver a salvação. Na realidade, ela tem um caráter de estagnação. Porém, o verbo, no imperativo — “operai” da ARC ou “desenvolvei” da ARA — coloca em movimento a vida cristã. A ideia de “uma vez salvo, salvo para sempre” anula a importância da igreja, que existe para “desenvolver” a salvação recebida em Cristo.

O imperativo verbal “desenvolvei” tem o sentido de levar a bom termo, ou de completar algo que está por terminar. A obra salvadora realizada é perfeita e completa quanto ao seu aspecto jurídico e penal, porque Cristo cumpriu toda a lei exigida. Porém, essa obra perfeita e completa de Cristo requer, também, ação exterior em termos de atividade espiritual e social na vida comunitária da igreja. A salvação, da parte de Deus, foi operada interiormente pelo mérito da obra do Calvário. Porém, o sentido de “operar a própria salvação” refere-se à demonstração dessa salvação fazendo a obra de Deus e cuidando-se de modo a torná-la firme até o dia final, quando estaremos para sempre com o Senhor.

3.0 poder da obediência (v. 12)

O apóstolo Paulo coloca o verbo obedecer no pretérito passado (“obedecestes”) para reforçar o fato de que a obediência é o elemento essencial para manter a salvação recebida. De certo modo, Paulo dá testemunho da obediência dos filipenses quando diz: “sempre obedecestes”. Tratava-se de uma obediência espontânea, não vigiada, quando Paulo estava presente e agora quando ele está ausente. Nesta escritura do versículo 12, o cristão é estimulado a movimentar a sua salvação, no sentido de continuar no caminho da obediência. A obediência dos filipenses aos princípios do evangelho era percebida por Paulo. Mas o apóstolo pede aos filipenses que operem a salvação com temor e tremor, no sentido de preservar a riqueza maior de suas vidas. Aprendemos que a soberania divina não anula a responsabilidade humana em manter e preservar a salvação recebida.

O Poder que Dinamiza e Preserva a Salvação Recebida (2.13)

1. O caráter soberano e seletivo de Deus não anula o direito cio crente em desenvolver a sua salvação

A ideia de que a salvação tem caráter seletivo em detrimento do direito universal de todas as pessoas em receber a salvação oferecida em Cristo Jesus é inaceitável. Entende-se com clareza que Deus não divide a obra salvadora com o homem, porque o querer e o efetuar são exclusividade dEle. A honra e a glória da nossa salvação pertencem exclusivamente a Deus. A nós compete aceitar a oferta de salvação por Cristo Jesus e reconhecê-lo como único Salvador e Senhor. Pelo contrário, o poder da salvação operado pelo Espírito Santo habilita o crente a desenvolver a sua salvação para ser útil na vida cotidiana da igreja. O Espírito Santo opera a salvação realizando aquilo que a lei mosaica não consegue realizar. O Espírito supre o crente com poder para realizar a obra de Deus (Rm 8.3,4; 2 Co 3.4-6). Nesse sentido, somos cooperadores de Deus porque o Espírito trabalha nos crentes para operarem a salvação.

2. O poder de Deus é a fonte de energia do crente (2.13)

Por si só o crente não tem como desenvolver sua salvação. Ele precisa da energia divina mediante a obra do Espírito Santo, que o torna capaz de agir.
Se Satanás opera na vida dos ímpios as obras más (2 Ts 2.9), Deus opera nos crentes em Cristo por meio do Espírito Santo as boas obras (Rm 8.9,14). Na realidade, o crente torna-se instrumento de justiça no mundo corrompido que vivemos e o faz uru vencedor. O limite para a manifestação do poder divino na vida do crente é “a sua boa vontade”. A vontade soberana de Deus é a expressão de seus atributos divinos de onipotência e presciência. Se Deus é quem opera e efetua a obra espiritual na vida das pessoas, sabemos, também, que Satanás opera nos filhos das trevas (2 Ts 2.9). No crente, Deus opera por meio do Espírito Santo que habita nele (1 Ts 2.13). O ato de Deus operar em nós significa que Ele nos torna instrumentos em suas mãos para realizar a sua obra na terra.

3. Qual o efeito do poder de Deus no querer e no realizar? (2.13)

- A expressão “opera em vós” identifica a obra exclusiva de Deus. E Ele quem opera, quem realiza, quem efetua “tanto o querer como o efetuar”. Essa declaração descreve um propósito de Deus para com os cristãos. Ele efetua nos crentes o querer, a vontade de obedecer e desenvolver a salvação. O “efetuar” ou “o realizar” implica a capacidade que Ele dá para fazer sua obra. E Ele quem nos capacita a realizar mais do que pedimos ou pensamos, como está declarado na Epístola aos Efésios: “Ora, àquele que é poderoso para fazer tudo muito mais abundantemente além daquilo que pedimos ou pensamos, segundo o poder que em nós opera” (Ef 3.20).

4. “... segundo a sua boa vontade” (2.13)

Vários aspectos das manifestações da vontade Deus nos mostram que Ele está em um plano elevado e, para compreendê-lo, precisamos da sua revelação, e não de algum tipo de especulação. Ele revela sua vontade pelas coisas que estão criadas e pela sua Palavra (Rm 1.18,19). Entre os vários tipos da vontade Deus, a Bíblia os denomina como: vontade perfeita (Rm 12.2); boa vontade; agradável vontade de Deus; vontade permissiva de Deus; vontade moral; vontade soberana; etc. Nesta escritura aos filipenses, Paulo falou da “boa vontade de Deus” (Fp 2.13). A “boa vontade de Deus” diz respeito à “concretização de seus propósitos soberanos e graciosos para com os homens, na redenção humana, oferecida na pessoa de Cristo. Essa é a vontade de Deus, e esse é o seu beneplácito”, escreveu Russeli Norman Champlin em seu comentário no Novo Testamento Interpretado (vol. 5, p. 35).

A Demonstração da Salvação (2.14-18)

1. A praticabilidade da obediência

A demonstração da salvação recebida está na essência da obediência ao evangelho. Os versículos 12 e 13 indicam que a salvação é desenvolvida por ação efetiva, no sentido de que o cristão ocupa-se em tornar sua salvação um testemunho de fé e obra. Uma vez que os filipenses já tinham recebido a salvação, a obediência a Cristo era demonstrada em ação na comunidade da igreja.

2. A salvação prejudicada por atitudes impróprias (2 .14,15)

Essa conduta apontada por Paulo deve ser o fruto do querer e do efetuar do crente de modo positivo. Quaisquer atitudes negativas como “murmurações e contendas” (vv. 14,15) afetam e prejudicam o desenvolvimento da salvação. São dois pecados que agem como ácido que corrói a alma.

“murmurações” (v. 14). Na língua grega aparecem os termos gon— gysmos ou gongystes, que dão a ideia daquele que rosna, ou seja, significa o ato de rosnar, como o cachorro que rosna. Na verdade, “murmurar” sempre esteve presente com pessoas invejosas e rebeldes (Jo 7.12; At 6.1; 1 Pe 4.9). A murmuração feita pelos israelitas que atravessaram o deserto, sob a liderança de Moisés, e passaram a reclamar e murmurar contra ele, dizendo que jamais deveriam ter saído do Egito (Nm 11.1- 6; 14.1-4; 20.2; 21.4,5) deixando Moisés muito constrangido. Moisés os chamou de “geração perversa e rebelde” (Dt 32.5,20). Os filipenses não eram rebeldes nem murmuradores, por isso, Paulo exorta-os a que fizessem “todas as coisas sem murmurações e contendas”.

“contendas” (v. 14). São aquelas briguinhas e disputas que criam desarmonia. Na língua grega do Novo Testamento, a palavra contendas é dialogismoi, que descreve as disputas e debates inúteis que têm como objetivo criar dúvidas e separações. E o mesmo que dissensões e litígios que muitos cristãos hoje em dia promovem, levando seus irmãos aos tribunais para resolver essas situações (1 Co 6.1-11).

A Salvação Demonstrada por uma Conduta Irrepreensível (2.15-18)

‘.. irrepreensíveis e sinceros” (v. 15). A palavra “irrepreensível” deriva da palavra grega memplos, que significa “culpado, faltoso”. Porém, quando acrescentado o prefixo “a” ao termo memptos, temos a palavra “amemplos”, que significa “sem culpa, impecável, inculpável, sem precisar repreensão”. Ser irrepreensível significa ser alguém que não precisa passar pela repreensão. Sua conduta é correta e de pureza moral. Significa alguém que sabe controlar a força da carne, porque anda no Espírito (Gl 5.16,17). A sinceridade é outra qualidade que corresponde a viver sem a mistura do mal e que é livre do dolo, do engano e da má fé.

“... sinceros” (‘v. 15). A sinceridade é outra qualidade que corresponde a viver sem a mistura do mal e que é livre do dolo, do engano e da má fé. Existe uma lenda romana para a palavra “sincero”. Os escultores, nos tempos do Império Romano, trabalhavam muito com esculturas de pedra. Porém, quando alguma obra de escultura sofria alguma falha na sua estética exterior, os escultores colocavam “cera” nas falhas. Lixavam a escultura e as falhas não apareciam. Geralmente, as obras expostas nas praças a céu aberto recebiam a força do sol e a cera era derretida, expondo as falhas da escultura.

Então, diz a lenda, surgiu a palavra “sincero” que significava “sem cera”, ou seja, a obra tinha que ser perfeita, sem cera. No original grego, akeraios, significa “sem mistura, inocente, inofensivo, simples”. A ideia que Paulo quis passar é a de que o cristão verdadeiro deve ter um caráter puro, sem mistura. Jesus usou a palavra “símplice” quando disse aos seus discípulos: “Eis que vos envio como ovelhas ao meio de lobos; portanto, sede prudentes como as serpentes e símplices como as pombas” (Mt 10.16). O apóstolo Paulo escreveu aos romanos: “Quanto à vossa obediência, é ela conhecida de todos. Comprazo-me, pois, em vós; e quero que sejais sábios no bem, mas símplices no mal” (Rm 16.19).

“. . filhos de Deus inculpáveis” (v. 15). Por meio de Jesus Cristo, nos tornamos “filhos de Deus” por adoção com todos os direitos de filhos legítimos (Gl 4.5). Fazemos parte da família de Deus e, por isso, nossa postura deve ser de filhos sem defeitos ou sem mácula. A ideia de filhos inculpáveis refere-se à origem do termo inculpável nos sacrifícios de animais sem defeito para a expiação dos pecados (Lv 22.21,22). O estado espiritual de “inculpável” tem a ver com o privilégio de ser filho de Deus, dando-lhe a garantia de sua salvação. Antes éramos culpados, mas fomos feitos “filhos de Deus” em Cristo. Ele, Jesus, foi o sacrifício perfeito pelos nossos pecados porque era totalmente sem pecado e sem culpa (1 Pe 1.18,19). Por isso, estamos guardados por Ele no meio de uma geração pervertida, vivendo uma vida sem mácula.

“... retendo a palavra da vida” (‘v. 16). O sentido de reter é o de preservar a palavra da vida. Qual é a Palavra da vida? Indiscutivelmente, é a Palavra de Deus. O autor da Carta aos Hebreus declarou isso de forma incisiva, dizendo: “Porque a palavra de Deus é viva, e eficaz, e mais penetrante do que qualquer espada de dois gumes, e penetra até à divisão da alma, e do espírito, e das juntas e medulas, e é apta para discernir os pensamentos e intenções do coração” (Hb 4.12). A palavra “preservar” no grego é epechein, usada para oferecer vinho a um convidado ou hóspede em casa. Os filipenses são estimulados pelo apóstolo a oferecer o evangelho de vida abundante, vida eterna. A igreja não deve se esconder nem se isolar do mundo, mas deve mostrar a vida e a luz que existe em um mundo de trevas.

“... ainda que seja oferecido por libação sobre o sacrifício” (v. 17). Paulo deu exemplo de abnegação (2.17,18), e essa escritura indica que ele buscou no Antigo Testamento a figura dos sacrifícios, ao usar palavras como “libação”. Ele quis fortalecer a ideia de que valia a pena oferecer sua vida como libação pelos filipenses mediante o “sacrifício e serviço da fé” deles. “Libação” era uma oferta de óleo (azeite puro), ou perfume ou vinho, que era derramado em redor do altar de sacrificio do animal morto para aquele rito. Nesse sentido, ele tinha o gozo do sacrifício em sua alma, porque entendia que valia a pena sofrer pelos cristãos filipenses.


Elaboração pelo:- Evangelista Isaias Silva de Jesus

Igreja Evangélica Assembléia de Deus Ministério Belém Em Dourados – MS

Filipenses – A humildade de  Cristo como exemplo para a Igreja = Elienai Cabral

24 de julho de 2013

JESUS, O MODELO IDEAL DE HUMILDADE



O EXEMPLO DE HUMILDADE DE CRISTO

Filipenses 2.5-11

A humildade precede a exaltação, e Cristo foi o modelo ideal para todas as pessoas.

De sorte que haja em vós o mesmo sentimento que houve também em Cristo Jesus, que, sendo em forma de Deus, não teve por usurpação ser igual a Deus. Mas aniquilou-se a si mesmo, tomando a forma de servo, fazendo-se semelhante aos homens; e, achado na forma de homem, humilhou-se a si mesmo, sendo obediente até à morte e morte de cruz. Pelo que também Deus o exaltou soberanamente e lhe deu um nome que é sobre todo o nome, para que ao nome de Jesus se dobre todo joelho dos que estão nos céus, e na terra, e debaixo da terra, e toda língua confesse que Jesus Cristo é o Senhor, para glória de Deus Pai. (Fp 2.5-11)

O tema deste capítulo é a humildade. Paulo apela aos sentimentos dos cristãos de Filipos para que tenham essa qualidade como um modo de vida exemplificada em Cristo. Neste texto temos o destaque de duas atitudes de Cristo — humildade e obediência — como manifestações de sua humanidade. No texto de 1.27, Paulo coloca a pessoa de Jesus Cristo como o grande modelo de homem como exemplo para sua vida pessoal no modo de agir e pensar. O texto de Filipenses 2.5-11 vislumbra a perfeita divindade de Jesus Cristo reivindicada ainda como homem na sua oração feita uma semana antes de realizar seu sacrifício no Calvário.

O texto nos faz entender que Ele existiu como o Filho eterno de Deus, participando de sua glória junto do Pai antes de sua humanidade. Sem intenção didática da parte do apóstolo, ele destacou na sua carta as duas naturezas de Cristo e apresentou-as nessa escritura reafirmando essa doutrina como genuína na Bíblia. Como Filho de Deus, Jesus não discutiu sua filiação ao Pai, mas espontaneamente abriu mão de sua glória de divindade para assumir a natureza humana e por ela salvar o mundo dos seus pecados.

Ao assumir a natureza humana, nascendo de mulher, Ele fez-se homem verdadeiro. Ele nunca deixou de ser Deus, mas, ao assumir sua humanidade, nascendo de mulher e gerado pelo Espírito Santo, Ele assumiu, de fato, o papel de servo, humilhando-se e tornando-se obediente até a morte na cruz. Ele fez tudo isso para salvar o homem dos seus pecados. Por sua obediência e humildade, o Pai Eterno o exaltou à glória celestial depois de sua vitória sobre a morte e o túmulo, ressuscitando gloriosamente. Esse texto apresenta não só a sua humilhação, mas também a sua exaltação perante o Pai depois de sua vitória no Calvário.


Sua Divindade: O Estado Eterno Pré-Encarnação (2.5,6)

1. Ele deu o exemplo maior de humildade (2.5)

O versículo 5 expõe de modo especial e apropriado a encarnação de Cristo, que é a manifestação do amor divino pela humanidade. As admoestações de caráter pastoral destacam o amor misericordioso de Cristo manifestado em sua encarnação. No versículo 2, por exemplo, lê-se a exortação paulina : “tendo o mesmo amor”, referindo-se ao amor manifestado em e por Cristo.

Entretanto, no versículo 5, o texto grego destaca a palavra phroneo, referindo-se a “sentimento, pensamento”. A exortação paulina é para que a igreja tenha “o mesmo sentimento” ou que tenha a mesma “atitude” de Cristo Jesus. Na verdade, essa exortação é para que a igreja desenvolva uma relação de comunhão entre os irmãos. Esse sentimento equivale a mais que uma atitude individual que possamos ter. E mais que uma imposição. E um estado de vida, ou seja, uma maneira nova de viver em Cristo participando do seu corpo, a Igreja. Assim como a vida do sangue que percorre todo o corpo deve ser a vida de comunhão dos membros do corpo de Jesus.

Qual é o sentimento demonstrado por Jesus? Ele o demonstrou mediante a sua encarnação (Jo 1.14). Ora, sua encarnação representou seu esvaziamento de divindade para assumir 100% a humanidade. Foi por essa demonstração que constatamos a sua humildade. Ele é o modelo perfeito de humildade. Ele mesmo disse certa feita:
“Aprendei de mim, que sou manso humilde de coração” (Mt 11.29). Ele havia se humilhado, revestindo-se de nossa natureza humana e, também, humilhando-se ao papel de servo nesta natureza. O apóstolo Paulo apela a que os filipenses tenham o mesmo sentimento demonstrado por Jesus. Ora, que sentimento era esse? O sentimento de tudo fazer por amor a Deus e ao mundo das criaturas na terra. Ele subsistia cm forma de Deus (v. 6).

2. “que, sendo em forma de Deus” (2.6)

O texto destaca a palavra “forma”, sugerindo ser aquilo que tem uma configuração, uma semelhança. Porém, em relação a Deus, o seu significado, de fato, refere-se à forma essencial da divindade. A forma de Deus em Jesus é inalterável, porque a sua essência pertence à divindade e é imutável. A forma verbal da palavra “sendo” aparece em outras versões como subsistir, ou existii ser por natureza ou pela própria constituição: “subsistia em forma de Deus”. Paulo estava se• referindo ao estado de Cristo antes de vir a este mundo e assumir sua humanidade. Vários textos bíblicos comprovam a pré-existência de Cristo (Jo 1.1-3; 3.13; 17.5; 2 Co 8.9; Cl 1.15-17; Hb 1.1-3).

Esta “forma de Deus” pressupõe sua deidade, existindo ou subsistindo, original e eternamente como Deus. Ele subsiste eternamente em forma de Deus e, temporariamente, assumiu a “forma de servo” (Fp 2.7).

3. Ele era igual a Deus (2.6)

“Que, sendo em forma de Deus, não teve por usurpação ser igual a Deus.” Jesus não precisava provar que era Deus e, assumindo a forma de homem, sabia que seu estado dc humilhação não ofendia a divindade. Isso revela que sua divindade é pré-existente. Ele não renunciou de modo nenhum sua divindade na encarnação. Em todo o transcurso de sua vida terrena, conservou total e completamente a natureza divina e todos os atributos essenciais de sua Pessoa na Trindade. Em sua encarnação, Jesus conservou todos os seus atributos. O ato de “esvaziar-se” (do grego kenosis) não significa que Ele tenha abandonado seu direito de divindade, mas que não usou seus atributos de divindade enquanto “filho do homem”. O pastor e teólogo Esequias Soares escreveu em seu livro Cristologia —A Doutrina de Jesus Crista: “Quando Jesus estava na terra, não se apegou às prerrogativas da divindade para vencer o Diabo, mas aniquilou-se a si mesmo, fazendo-se semelhante aos homens. Como homem, tinha certa limitação em tempo e espaço e, portanto, submisso ao Pai. Eis a razão de Ele ter dito em João 14.28: ‘O Pai é maior do que eu” (p. 49).

Cristo era, e ainda é, igual a Deus, o Pai, não no sentido de ser a mesma pessoa, mas o de ter a mesma natureza e a mesma glória (Jo 17.5). O texto diz que “ele não julgou como usurpação ser igual a Deus”. Significa que Ele não considerou a sua igualdade divina com o Pai como algo que quisesse reter para si. Ele não agiu egoisticamente, pensando apenas em si mesmo. Ele preferiu esvaziar-se de sua glória divina para assumir a natureza humana a fim de salvar a todos. Os religiosos radicais de Jerusalém procuravam matar Jesus porque Ele se identificou como “sendo igual a Deus”. Ao seu discípulo Filipe, Jesus afirmou a sua igualdade ao Pai (Jo 14.9-11). Jesus é chamado Deus em vários textos, como: João 1.1; 20.28; Hebreus 1.8; Tito 2.13; Apocalipse 21.7.

4. Ele não teve por usurpação ser igual a Deus (2.6)

A escritura do versículo 6 da ARC diz literalmente: “que sendo em forma de Deus”. Em outra versão, a escritura fica ainda mais clara, quando diz: “o qual, embora sendo Deus, não considerou que o s.., igual a Deus era algo a que devia apegar-se”. Uma melhor tradução do original sugere o texto do seguinte modo: “o qual, existindo e subsistindo em forma de Deus”. Todas essas traduções não modificam c., sentido original e a essência doutrinária do texto. Antes, contribuem 1 para entendermos que Cristo, sendo Deus, fez-se homem. Portanto possuidor de duas naturezas: a divina e a humana.

Ainda antes encarnação, em seu estado de glória divina, a humildade de Jesus, como Filho do Deus Altíssimo, revelou a força do propósito mai da Divindade, que era o de salvar a humanidade, necessitando seu esvaziamento de glória divina para encher-se da glória humana. Ele não precisava buscar ser igual a Deus porque Ele era Deus. O que se destaca nessa atitude de Cristo é o seu desejo de resgatar o homem dos seus pecados e, para tanto, Ele não exigiu nem se apegou a seus direitos de divindade, mas colocou de lado seu poder e glória, ocultando-se sob a forma de homem. Ele voluntariamente se humilhou e assumiu a forma humana para resgatar o homem.

Sua Encarnação: O Estado Temporal de Cristo (2.7,8)

1. Ele esvaziou-se a si mesmo (2.7)

Na sua encarnação aconteceu a maior demonstração de humildade de Cristo. Ele “aniquilou-se” a si mesmo. No lugar da palavra “aniquilar”, aparece na língua grega do Novo Testamento a palavra original kenoo, que significa “esvaziar, ficar vazio”. A tradução esvaziar aclara melhor que aniquilar, que significa “reduzir a nada” ou “anular”. Os significados vários aclaram a expressão “esvaziou- se”. Ele a si mesmo esvaziou-se, despojou-se, privou-se da glória de divindade para tomar a forma de homem. Ele não se esvaziou da essência da sua divindade, mas esvaziou-se dos atributos de sua divindade para poder manifestar-se como “homem”. Esse esvaziamento não significou abdicação ou rejeição àquilo que sempre lhe pertenceu.

Ele tão somente fez sua kenosis sem perder o direito de reassumir sua divindade depois de sua conquista maior: a salvação do homem pecador. A cruz foi o marco maior de sua humilhação como homem, porque Ele entendeu que o mistério do amor divino seria revelado plenamente quando Ele, sendo Deus, se tornasse igual ao homem, entrasse na sua estrutura pessoal e moral, para sentir o seu sofrimento e poder salvá-lo mediante sua obra expiatória. Precisamos entender que, em seu estado de humilhação, jamais Ele se despojou de sua divindade. Ao esvaziar-se, Ele despojou-se das glórias e das prerrogativas da divindade.

Ele não trocou a sua natureza divina pela natureza humana, mas renunciou às prerrogativas inerentes de sua divindade para assumir 100% as prerrogativas humanas. Ele não fez de conta que era homem. Ele foi 100% homem, como era 100% Deus. Ele, que era bendito eternamente, se fez maldição por nós (Gl 3.13). Ele levou sobre o seu corpo, no Calvário, todos os nossos pecados (1 Pe 2.24).

2. Ele se fez semelhante aos homens (2.7)

Quando lemos a frase do texto que Ele fez-se “semelhante aos homens” precisamos, à luz do contexto da Cristologia, entender que a palavra semelhança em relação a Cristo não significa “um faz de conta”, ou que tenha sido apenas uma semelhança de humanidade, e não humanidade real.

No final do primeiro século da Era Cristã, surgiu uma doutrina herética denominada docetismo, da palavra dokesis, que significa “semelhança”. Essa doutrina herética visava destruir os alicerces da doutrina de Paulo sobre Cristo, para negar que “Jesus veio em carne”. Paulo combateu com todas as suas forças essa heresia ensinando que Jesus era verdadeiramente homem, “nascido de mulher” (Gl 4.4), e que foi crucificado, experimentando uma morte terrível. A expressão “fazendo-se” indica o fato de ter sido 100% homem, como todos os demais homens. O apóstolo Paulo escreveu aos Gálatas 4.4 que
“Deus enviou seu Filho, nascido de mulher”, indicando que Jesus, em sua humanidade, é consubstancial com o homem e pertence à ordem das coisas assim como Adão foi criado. A diferença de Jesus como homem e os demais homens está no fato de que Ele foi gerado pelo 
 Espírito Santo. Por isso, Ele é “verdadeiramente homem e verdadeiramente Deus”.

3. Ele humilhou-se a si mesmo (2.8)
 
A expressão de que Ele “humilhou-se a si mesmo” tem o testemunho da história de que a sua vida inteira, da manjedoura ao túmulo, foi marcada por genuína humanidade. Depois da humilhação da encarnação, Ele ainda sujeitou-se a ser perseguido e sofrer nas mãos dos incrédulos (Is 53.7; Mt 26.62-64; Mc 14.60,61). Foi, de fato, uma auto-humilhação! Uma decisão espontânea da sua parte. Ele submeteu-se a tudo isso porque não perdeu o foco de sua missão expiatória. O que importava para Ele era cumprir toda justiça de Deus em relação ao pecado.

4. Ele foi obediente até a morte e morte de cruz (2.8)

O autor da Carta aos Hebreus escreveu que Cristo se sujeitou à morte “para que, pela morte, aniquilasse o que tinha o império da morte, isto é, o diabo, e livrasse todos os que, com medo da morte, estavam por toda a vida sujeitos à servidão” (Hb 2.14,15). A morte de cruz foi o clímax da humilhação que Jesus suportou, constituindo-se na vergonha maior que um condenado podia passar. Entretanto, a Bíblia é clara quando diz que essa morte foi necessária para que Ele pudesse vencê-la no túmulo ao ressuscitar ao terceiro dia, abolindo sua força condenatória, e pela ressurreição trazer a luz e a incorrupção. Paulo escreveu a Timóteo que Cristo “aboliu a morte e trouxe à luz a vida e a incorrupção, pelo evangelho” (2 Tm 1.10).
Sua obediência era exclusiva à vontade de Deus, mesmo que essa vontade apontasse para a morte de cruz. Na sua angústia, antes de enfrentar o Calvário, no Getsêmane, Ele submeteu-se totalmente a Deus e acatou a vontade soberana do Pai ao dizer:
“Não se faça a minha vontade, mas a tua” (Lc 22.42). Ele desceu ao ponto mais baixo de sua humilhação ao enfrentar o Calvário e a morte de cruz. Ele sofreu tudo que a palavra “morte” significa para nós.

Passando pela dor e participando do Hades, o estado dos mortos (At 2.31) que não é a sepultura. A morte de cruz era símbolo da própria maldição (Dt 2 1.22,23), mas Cristo nos resgatou da maldição “fazendo-se ele próprio maldição em nosso lugar” (Gl 3.13, ARA).

Sua Exaltação: Sua Conquista Final (2.9-11)

É interessante notar que nos versículos 6 a 8 temos a descrição do caminho da humilhação do Filho de Deus, quando Ele mesmo desce ao ponto mais baixo de humilhação que um homem poderia descer. Entretanto, nos versículos 9 a 11, Paulo descreve o caminho para cima, quando Jesus é exaltado gloriosamente e ascende ao Pai e é feito Senhor sobre todas as coisas. Nesses versículos (9 a 11), temos a demonstração vitoriosa da humildade de Cristo. A recompensa da sua humilhação foi a exaltação perante toda a criação.

1. Deus o exaltou soberanamente (2.9)

Sua abnegação anterior o fez apto para conquistar o “status” de vencedor e Senhor, porque cumpriu o eterno propósito do Pai de formar um novo povo que serviria a Deus, que é a sua Igreja. A Bíblia diz que Ele foi nomeado “príncipe e Salvador” (At 5.31) e o colocou acima de tudo (Ef 1.20-22). Aquele que havia se esvaziado de todas as prerrogativas de divindade, depois de sua vitória final sobre o pecado, a morte e o túmulo é finalmente glorificado, isto é, exaltado pelo próprio Pai. O caminho para a exaltação passou pela humilhação e Ele alcançou a meta final com a coroação de glória, tornando-se herdeiro de tudo (Hb 1.3; 2.9; 12.2). No caminho da exaltação estavam a sua ressurreição e ascensão.

Na semana que antecedia seu padecimento no Calvário, Jesus reuniu seus discípulos para dar-lhes as últimas instruções relativas ao futuro deles representando o seu nome perante o mundo, e fez uma das orações mais belas e emocionantes. Ele orou pelos seus discípulos para ci.. fossem guardados do mal. Orou pelo futuro deles como igreja orou por si mesmo ao Pai. Nessa oração de caráter pessoal, Jesus reivindicou do Pai a glória que tinha antes de vir a este mundo (Jo 17.5). Ele não tinha dúvida alguma quanto à sua vitória sobre e1 Diabo, sobre a morte e o túmulo, bem como sabia que ao final seria, exaltado gloriosamente.

Além de João, em seu Evangelho, outros escritores do Novo Testamento escreveram da realidade da exaltação de Jesus afirmando que Ele foi exaltado à destra do Pai (At 2.33; Hb 1.3). Paulo usou a mesma expressão “assentado à destra do Pai” (Rm 8.34; Cl 3.1). Essa expressão é derivada de Salmos 110.1 numa alusão ao rei Davi, que metaforicamente é convidado para partilhar o trono de Deus. Jesus foi chamado “filho de Davi” para relacionar o trono de Davi com o seu trono de glória.

2. Deus, o Pai, lhe deu um nome que é sobre todo home (2.9)

Que nome era esse concedido a Jesus Cristo? No primeiro século da Era Cristã, a ideia de se proclamar um senhor restringia-se ao imperador, que se identificava como Senhor e Deus! Quando os apóstolos começaram a pregar a Cristo, não o apresentaram apenas como Salvador, mas, especialmente, como Senhor. Ora, esse título confrontava a presunção e vaidade do imperador de Roma, porque os cristãos identificavam e reconheciam que a única autoridade para salvar e comandar um novo reino era Jesus.

Tanto é verdade que o Novo Testamento se refere a Jesus como Salvador 16 vezes apenas e como Senhor mais de 650 vezes. O kerigma da igreja anunciava o senhorio de Cristo. Perante Ele o mundo precisava ajoelhar-se, mas nos tempos atuais percebemos uma inversão na postura da igreja. Tristemente, as pessoas querem um Salvador, mas não querem um Senhor. Querem a coroa, mas rejeitam a cruz. Porém, a proclamação deve ser a de Senhor, porque Deus Pai o fez Senhor.
O teólogo Ralph Herring escreveu sobre a exaltação de Cristo e declarou que “os dois elementos desta exaltação são a outorga de um nome, conquistado agora que o homem Cristo Jesus juntou o curso de vida da raça humana ao de Deus (v. 9), e o reconhecimento desse nome por parte de todas as inteligências criadas, tanto das que no céu, como das que estão na terra e debaixo da terra (vv. 10,11)”.

A principal designação dada por Deus ao seu Filho foi a de “Senhor” em seu sentido mais nobre e sublime. No grego do Novo Testamento aparece o termo kurios, que é usado de modo especial, porque Jesus representaria o nome pessoal do Deus Todo-Poderoso. O nome “Jesus” ganhou o status de “Senhor” e, por decreto divino, foi elevado acima de todo nome. O próprio Jesus declarou certa feita aos seus discípulos que o Pai faz do Filho juiz universal “para que todos honrem o Filho, como honram o Pai. Quem não honra o Filho não honra o Pai, que o enviou” (Jo 5.23).

3. Deus, o Pai, propiciou para que ao nome de Jesus se dobre todo joelho... (v. 10)

É interessante notar, no contexto das atribuições divinas, que em Isaías 45.23 o Deus de Israel havia declarado que não partilharia seu nome nem sua glória com outrem, mas diz de modo explícito: “diante de mim se dobrará todo joelho, e por mim jurará toda língua”. No texto de Filipenses, a mesma declaração é repetida em relação a Jesus, quando diz: “para que ao nome de Jesus se dobre todo joelho”. O nome de Jesus não é apenas honrado e glorificado perante toda a criação, mas lhe é designado que todo joelho se dobre diante dEle. No ato de dobrar os joelhos diante de alguém está o reconhecimento de superioridade e senhorio. 

Escatologicamente, essa mesma expressão aparece na visão que o apóstolo João tem no céu.
Ele viu os seres celestiais ao redor do Trono de Deus prostrando-se perante o Cordeiro divino e vitorioso, e cânticos de celebração são entoados pela dignidade do Cordeiro (Ap 5.6-14). O nome de Jesus é a autoridade máxima da vida da igreja. Por isso, quando oramos, cantamos, louvamos e adoramos a Ele, estamos, de fato, reconhecendo sua soberania. Todas as coisas, animadas e inanimadas, estão debaixo da sua autoridade e não podem se esquivar do seu senhorio ou negá-lo.

O texto diz que o dobrar dos joelhos aconteceria “nos céus, na terra, e debaixo da terra” (2.10). Mas o que se entende por “debaixo da terra”? A expressão refere-se ao mundo dos mortos, o Sheol-Hades onde as almas e espíritos dos mortos estão conscientes. Essa expressão tem um sentido metafórico; por isso, não se refere às sepulturas fisicas, mas ao mundo espiritual, onde as almas e espíritos dos mortos aguardam a ressurreição de seus corpos. Alguns teólogos afirmam que esse lugar “debaixo da terra” é figurado, mas pode se referir à habitação dos maus espíritos, ou seja, dos anjos que se tornaram demônios e que por sua desobediência “não guardaram o seu principado”, razão por que estão reservados na escuridão para o Juízo Final (Jd 6). A maioria dos teólogos concorda e prefere a ideia de que se trata das almas e espíritos dos mortos que estão no Sheol-Hades (Ap 5.13).

4. “E toda boca confesse que Jesus Cristo é o Senhor” (2.11)
 
O cristianismo só tem valor por aquilo que crê. A confissão de que Jesus Cristo é o Senhor se constitui no ponto convergente da igreja (Rm 10.9; At 10.36; 1 Co 8.6). O credo da Igreja implica na sua confissão publica sobre o Senhor da Igreja. Essa escritura mostra  que a exaltação de Cristo é uma exaltação que deve ser proclamada universalmente. “Toda língua confesse” (v. 11) implica que o evangelho seja pregado em todo o mundo e cada crente proclame o nome de Jesus como o nome que é sobre todo nome.


Elaboração pelo:- Evangelista Isaias Silva de Jesus

Igreja Evangélica Assembléia de Deus Ministério Belém Em Dourados – MS

Filipenses – A humildade de  Cristo como exemplo para a Igreja = Elienai Cabral


16 de julho de 2013

O COMPORTAMENTO DOS SALVOS EM CRISTO



CONDUTA DIGNA DO EVANGELHO

Filipenses 1.27—2.1-4

Somente deveis portar-vos dignamente conforme o evangelho de Cristo, para que, quer vá e vos veja, quer esteja ausente, ouça acerca de vós que estais num mesmo espírito, combatendo juntamente com o mesmo ânimo pela fé do evangelho. E em nada vos espanteis dos que resistem, o que para eles, na verdade, é indício de perdição, mas, para vós, de salvação, e isto de Deus. Porque a vós vos foi concedido, em relação a Cristo, não somente crer nele, como também padecer por ele, tendo o mesmo combate que já em mim tendes visto e, agora, ouvis estar em mim.

Portanto, se há algum conforto em Cristo, se alguma consolação de amor, se alguma comunhão no Espírito, se alguns entranháveis afetos e compaixões, completai o meu gozo, para que sintais o mesmo, tendo o mesmo amor, o mesmo ânimo, sentindo uma mesma coisa. Nada façais por contenda ou por vanglória, mas por humildade; cada um considere os outros superiores a si mesmo. Não atente cada um para o que é propriamente seu, mas cada qual também para o que é dos outros. (Fp 1.27—2.1-4)

A quebra da sequência dos versículos tem por objetivo destacar a importância do assunto inserido no texto. O texto indicado para este capítulo trata, como se vê, da conduta digna que o cristão deve viver em meio aos sofrimentos infligidos no contexto da vida cristã. Esses mesmos versículos destacam a perseverança como qualidade indispensável para suportar o sofrimento. Em todo o Novo Testamento, especialmente nas cartas de Paulo, o sofrimento esteve presente na vida dos cristãos. Ele mesmo lidava com o sofrimento com uma postura firme na esperança de que um dia não haveria mais sofrimento para os que estão em Cristo.

Neste final do capítulo 1 (Fp 1.27-30), Paulo faz de Cristo o exemplo supremo da vida dedicada. Esse exemplo se torna um consolo quando sofremos por amor a Cristo. Paulo chama a atenção dos filipenses para as aflições e perseguições que ele havia passado e que eles também experimentariam. Em outra carta, o apóstolo resume seu pensamento nesse sentido quando diz: “E também todos os que piamente querem viver em Cristo Jesus padecerão perseguições” (2 Tm 3.12).

O apóstolo admoesta aos cristãos de Fiipos a que norteassem suas vidas pelo evangelho de Cristo, independentemente das adversidades que tivessem de enfrentar por causa do nome de Jesus. Por que aceitar sofrer pelo evangelho? A resposta simples e objetiva estava na convicção de que um dia esse sofrimento iria parar, e a presença do Espírito Santo na vida íntima de cada crente fortaleceria a esperança da glória. Na realidade, Paulo faz um convite aos cristãos para que sejam capazes de padecer pelo Senhor Jesus, porque o galardão da fidelidade estava garantido.

A Conduta de Cidadãos dos Céus

1. O significado de “portar-se dignamente” (1.27)

Ao exortar aos cristãos filipenses que se portassem dignamente, Paulo tinha em mente o estilo de vida da cidade e da sociedade de Filipos, como uma representação autêntica da vida romana. Ele entendia que a cidade que oferecia honras aos seus cidadãos e que levava uma vida politeísta poderia afetar a fé em Cristo. Ele, então, apela à consciência cristã dos membros da igreja a que tivessem cuidado em não corromper a fé recebida em Cristo. Paulo lembra nessa exortação o fato de que eles deveriam saber como viver numa sociedade comprometida com a cidadania imperial romana, sem se esquecer de que eles tinham uma cidadania celestial, cujo Rei era o Senhor Jesus Cristo. Esse fato é lembrado no texto de 3.20: “Mas a nossa cidade está nos céus”. O apóstolo apela para a conduta cristã que os filipenses deveriam ter em relação à vida da cidade política e social de Filipos.

A maior dificuldade do mundano está na palavra “conduta”, que é interpretada como um modo de cercear a liberdade de ser e de fazer o que quiser fazer. Entretanto, do ponto de vista da Bíblia, essa palavra cabe perfeitamente no estilo de vida cristã. A conduta requerida não é um cerceamento à liberdade; pelo contrário, é um modo de exercer liberdade com domínio sobre todos os ímpetos da natureza humana.

Note o que o texto diz: “somente deveis portar-vos dignamente conforme o evangelho de Cristo”. A palavra chave nesta frase é “portar-se” que melhor traduzida e de acordo com o contexto se refere ao comportamento de um cidadão. Portanto, como “cidadãos dos céus” os cristãos devem conduzir-se de um modo digno do evangelho. Esse modo digno de conduzir-se implica agir com firmeza e equilíbrio na vida cristã cotidiana.

A palavra “digno” está no texto grego do Novo Testamento como aksios (ou axios) e é usada por Paulo em outras cartas aos efésios (Ef 4.1), aos colossenses (Cl 1.10) e aos tessalonicenses (1 Ts 2.12). A palavra axios sugere, na sua etimologia, a figura de uma balança de dois pratos em que o fiel da balança determina a medida exata daquilo que está no prato. O valor ou dignidade é achado quando o fiel da balança fica na posição vertical central. Os pratos da balança que ficam em posição horizontal precisam ter o mesmo peso para equilibrar o fiel da balança. O cristão precisa ter uma vida equilibrada com o fiel da balança que é a vontade soberana de Deus para a sua vida. Em síntese, os privilégios de que gozamos na vida cristã devem condizer com nossa conduta de cidadãos dos céus.

2. O comportamento de cidadãos dos céus (1.27)

O texto diz literalmente “vivei” como “cidadãos dos céus” do mesmo modo como cada cidadão romano tinha que viver conforme as leis do Império Romano.

Muito mais, como cidadãos romanos, os cristãos deveriam viver de modo digno do evangelho, sem ofender a lei terrena, mas nunca negando a salvação recebida de Cristo Jesus. Por isso, um cidadão consciente sabia que deveria sempre respeitar as leis do império para ter privilégios de cidadãos (Rm 13.1-7). Do mesmo modo, o cristão devia comportar-se como cidadão dos céus, porque sua nova pátria é o Reino de Deus. Mais à frente, Paulo identifica bem esse novo estado de vida do cristão quando diz: “Mas a nossa cidade está nos céus, donde também esperamos o Salvador, o Senhor Jesus Cristo” (Fp 3.20). O cristão deve, portanto, comportar-se de forma digna dessa cidadania. Todo aquele que for nascido de novo, é nova criatura e tem seu nome escrito no Livro da Vida do Cordeiro, por isso faz parte da família celestial (2 Co 5.17; Fp 4.3).

Paulo tinha uma visão ética da vida cristã muito definida. Por isso, é frequente nas suas cartas o apelo ao padrão de conduta ética para as igrejas sob a sua orientação pastoral. Várias vezes nos deparamos com esse apelo paulino nas suas cartas. Aos Tessalonicenses, ele escreveu: “Assim como bem sabeis de que modo vos exortávamos e consolávamos, a cada um de vós, como o pai a seus filhos, para que vos conduzísseis dignamente para com Deus, que vos chama para o seu reino e glória” (1 Ts 2.12). Ao recomendar uma cristã chamada Febe, membro da igreja em Cencreia, Paulo escreveu aos romanos:
“Recomendo-vos, pois, Febe, nossa irmã, a qual serve na igreja que está em Cencreia, para que a recebais no Senhor, como convém aos santos” (Rm 16.1,2). Percebe-se que é o evangelho que estabelece a norma ética do comportamento cristão.

Uma Conduta Capaz de Fazer Frente à Oposição no Seio da Igreja (1.28)

A igreja enfrentava uma oposição de intimidação (1.28)

A versão bíblica Almeida Revista e Corrigida (ARC) apresenta o texto assim: “Em nada vos espanteis dos que resistem” (v. 28). A versão da Bíblia Viva esclarece ainda mais o texto com estas palavras:
“sem temor algum, não importa o que os seus inimigos possam fazer”.

A palavra “resistir” tem o mesmo sentido que “oposição”, e isso estava ganhando espaço no seio da Igreja como uma forma de intimidação aos fiéis.

A expressão “em nada vos espanteis” contém um verbo expressivo que sugere o tropel de cavalos assustados. Paulo mostra a distinção na reação de coragem e firmeza que os filipenses deveriam ter em relação às perseguições. Ele garante que o sofrer por Cristo é garantia de salvação e vitória sobre os inimigos. A invasão de falsos mestres e apóstolos no seio da igreja produzia medo da parte dos cristãos que 
Paulo havia doutrinado.

A resistência ao ensino do evangelho vinha de fora por intermédio de pregadores que negavam a divindade de Cristo e os valores ensinados pelos apóstolos. Essa resistência de alguns tinha por objetivo ameaçar e intimidar os cristãos sinceros. Paulo estava preso. Então eles se aproveitaram da ausência do apóstolo e dos outros obreiros auxiliares de Paulo para exercerem influência nos pensamentos e no afastamento da fé cristã. 

Mas Paulo apela ao sentimento daqueles cristãos estimulando-os a permanecer firmes sem se deixarem enganar e desanimar. Na verdade, Paulo os estimula a que mantenham a fé genuína e enfrentem de cabeça erguida aos que resistem à mensagem do evangelho. A oposição identificada no seio da igreja vinha de fora da comunidade que abriu caminho para dentro da igreja e passou a influenciar alguns cristãos. Esses opositores eram formados por alguns eruditos perniciosos e itinerantes que, para ganhar espaço no seio da igreja, criticavam o apóstolo Paulo. Porém, o apóstolo eleva a importância do evangelho de Cristo como capaz de produzir em seus corações a vitória da parte do Senhor.

2. O paradoxo de padecer por Cristo Jesus (1.29)

“Porque a vós vos foi concedido, em relação a Cristo, não somente crer nele, como também padecer por Ele” (Fp 1.29). Temos aqui uma magnífica declaração. A voz passiva da frase “vos foi com concedida” atribui todas as coisas que estavam acontecendo à soberana vontade de Deus. Foi Deus quem concedeu a experiência de padecer por Cristo. Os filipenses deveriam confiar no propósito divino e não se deixarem abater pelas experiências amargas das perseguições e privações infligidas contra eles. Na verdade, Paulo transparece em seu pensamento que aquelas provações vêm a eles pela graça de Deus e o resultado final será a vitória em Cristo. A expressão “padecer por Cristo” indicava que esse padecimento implicava comparticipar das aflições de Cristo, numa identificação pessoal com Ele, que antes padeceu por nós. O apóstolo Pedro em sua epístola escreveu: “Alegrai-vos no fato de serdes participantes das aflições de Cristo, para que também na revelação da sua glória vos regozijeis e alegreis” (1 Pe 4.13).

Indiscutivelmente, o versículo 29 une o privilégio de crer, como um ato de coragem, e a graça de padecer por Cristo. Isto é, de fato, um paradoxo, cujo sentido pode significar “aquilo que parece contraditório ou que parece contrário ao comum”. Pode ser “aquilo que tem aparente falta de nexo ou de lógica”. Nos tempos atuais, o pensamento neopentecostal não admite a ideia de sofrer, padecer, ficar doente. A falsa teoria da chamada teologia da prosperidade não admite a ideia de sofrimento. Porém, a Bíblia contradiz essa teoria e ainda desafia o crente a aceitar o sofrimento como uma oportunidade de glorificar a Cristo. E privilégio do cristão sofrer por Cristo por causa da esperança da glória. Essa capacidade de aceitar o sofrimento nesta vida terrena e permanecer fiel ao Senhor Jesus se choca frontalmente com sistema de pensamento mundano.

Nenhum ser humano aceita o sofrimento como coisa normal, muito menos transformá-lo numa esperança. Paulo via seus sofrimentos como um serviço que ele fazia para Cristo. Ele tinha consciência desse sentimento porque ouviu a palavra de Ananias de Damasco, que foi à casa onde ele aguardava uma orientação do Senhor. A palavra de Deus para Ananias acerca de Paulo foi esta: “Eu lhe mostrarei quanto deve padecer pelo meu nome” (At 9.16). Essa predição cumpriu-se literalmente na experiência apostólica de Paulo. Todavia, ele aceitou seus sofrimentos como participação nos sofrimentos de Cristo (Fp 3.10).

Quando temos uma visão genuína do nosso futuro, não teremos problemas com os sofrimentos presentes na vida terrena. Lucas contou no livro de Atos que os apóstolos foram açoitados e lançados na prisão (At 5.18). Esses apóstolos sentiam-se privilegiados em sofrer por Jesus Cristo. Diz Lucas: “E, chamando os apóstolos e tendo-os açoitado, mandaram que não falassem no nome de Jesus e os deixaram ir. Retiraram-se, pois, da presença do conselho, regozijando-se de terem sido julgados dignos de padecer afronta pelo nome de Jesus” (At 5.40,41). Tudo o que Paulo desejava com os fihipenses é que eles enfrentassem seus sofrimentos e afrontas com a alegria de sofrerem pelo nome de Jesus.

3. O combate do evangelho é travado contra inimigos espirituais (1.30)

Como entender essa escritura? O texto diz: “tendo o mesmo combate que já em mim tendes visto e, agora, ouvis estar em mim”. A palavra combate ganha um sentido especial nessa escritura porque se tratava de algo no campo espiritual. Os filipenses sabiam perfeitamente o tipo de combate que Paulo teve quando do início da igreja em Filipos (At 16.2; 1 Ts 2.2). Os filipenses também souberam do combate que Paulo teve quando partiu da Macedônia (Fp 4.15). Embora seu combate seja feroz e Paulo enfrente constantes ameaças de morte, o apóstolo não temia entrar nesse combate porque entendia que seu ministério apostólico dependia totalmente de Deus. Nesse sentido, ele apela ao coração dos filipenses no sentido de encorajá-los a que fiquem firmes na fé e tenham a mesma confiança que ele mesmo tinha acerca do cuidado de Deus. Ora, os filipenses estavam engajados no mesmo combate espiritual e, por isso, não deveriam desanimar. No exercício do ministério cristão, estamos num campo de batalha com um combate feroz contra as potestades de Satanás (Ef 6.10-12).

O encorajamento dado pelo apóstolo aos irmãos de Filipos tinha sua base na própria experiência de alguém que pessoalmente havia sofrido e ainda estava sofrendo por amor de Cristo. Que combate era esse? Era um combate promovido por inimigos espirituais para abatê-lo, destruí-lo e neutralizá-lo. Esse combate atingia sua vida física, moral e espiritual.

Em outra carta aos Coríntios, Paulo menciona que três vezes havia sido “açoitado com varas” (2 Co 11.25) e uma vez havia acontecido em Filipos, quando havia chegado à cidade para pregar o evangelho (At 16.22,23) — e dessa última experiência os irmãos filipenses eram sabedores. Ele sabia que os irmãos de Filipos estavam sofrendo algum tipo de constrangimento e, por isso, podia dizer que o mesmo sofrimento ele estava vivendo. Certamente, era um consolo para os filipenses saber que Paulo estava sofrendo, mas não havia desanimado nem desistido da sua missão. Estava viva na mente do apóstolo a mensakem divina, quando se encontrou com Cristo: “E eu lhe mostrarei o quanto lhe importa sofrer pelo meu nome” (At 9.16). Essa é a força do evangelho capaz de reagir ao sofrimento para fazer valer o nome do Senhor e a vitória final.

Uma Conduta que Promova a Unidade da Igreja (2.1-4)

A ausência fisica de Paulo na vida da igreja acabou por provocar várias situações quase que incontroláveis de desunião. Para que a igreja sobrevivesse, a unidade precisava ser preservada, O apóstolo tivera notícias que o preocuparam e, por isso, ele se interessa em fortificar a igreja nos seus fundamentos. Os inimigos externos (1.28), porque vieram de fora, ameaçavam a unidade doutrinária da igreja com influências judaizantes e filosóficas de cristãos que não conseguiram se desvencilhar do passado. Essas pessoas trouxeram discursos que minavam a fé cristã ensinada por Paulo. O apóstolo, então, se volta para a igreja e a trata como uma família que precisava manter os elos familiares. Ele convida os cristãos filipenses a que examinem todas as coisas comparando-as com aquilo que ele havia ensinado do autêntico evangelho de Cristo. Nos tempos atuais, a igreja de Cristo tem sido invadida por falsos pregadores e ensinadores. São obreiros falsos que trazem para o seio da igreja doutrinas falsas que contrariam a sã doutrina cristã.

O apóstolo Paulo, em meio aos seus pensamentos colocados na Carta, deixa de lado o assunto sobre os sofrimentos exteriores — que envolviam perseguições, privações materiais — e focaliza outro tipo de sofrimento que estava afetando a vida da igreja. Alguns acontecimentos internos na vida eclesiástica que estavam prejudicando a unidade da igreja eram do conhecimento do apóstolo, e ele não podia estar presente para dirimir dúvidas e desfazer equívocos.

1. O ardente desejo de Paulo pela unidade da igreja (2.1-3)

O último versículo do capítulo 1 fala de um combate, e Paulo procura fortalecer a igreja contra inimigos externos que, de algum modo, estavam afetando a unidade da igreja. Como uma igreja poderá conseguir unidade quando se depara com pessoas com atitudes contenciosas, egoístas e cheias de vã-glória, divergindo e contestando as doutrinas ensinadas por Paulo?

Eram pessoas pretensiosas, que divergiam do pensamento central do cristianismo, que é o Senhor Jesus Cristo, insuflando mistura de doutrina cristã com filosofias? Paulo refuta esses falsos conceitos que visavam promover a discórdia entre os irmãos e dispersá-los da convivência e da comunhão fraternal. O apóstolo apela ao bom senso dos cristãos de Filipos e pede que tenham um mesmo sentimento e um mesmo parecer (2.2). A unidade será preservada se todos tiverem o mesmo amor que produz harmonia, unidade e um mesmo sentimento.

2. Mantendo a presença interior do Espírito (2.1-4)

O apelo à manutenção da comunhão do Espírito reforçava o fato de que eles haviam recebido o Espírito, que vivia dentro deles, e, por isso, deveriam tomar uma atitude de manter a unidade e cultivar a união de pensamento em relação ao que aprenderam do evangelho. A despeito de os seres humanos serem de culturas e temperamentos diferentes, podiam partilhar o mesmo sentimento que também houve em Cristo Jesus. Paulo escreveu: “Que haja em vós o mesmo sentimento que houve também em Cristo Jesus” (Fp 2.5). A presença interior do Espírito implica a lembrança de que Jesus é o Senhor sobre todas as coisas. 

Sua presença dentro do crente é a garantia de que a obra de Cristo foi perfeita e completa. Sua presença em nós promove a paz e a união no seio da igreja. A lealdade a Cristo torna-se o fruto dessa presença que nos faz obedecer à sua Palavra, o novo mandamento deixado por Ele (Jo 13.34,35).

“.. se há algum conforto em Cristo” (2.1). O termo grego paraklesis no Novo Testamento é traduzido por alguns vocábulos como “conforto”, “consolo” ou “exortação”. A palavra “conforto”, como está na ARC, aparece também na ARA como “exortação”, e ambas dão a ideia de encorajamento ou apoio nas lutas da vida (At 9.31). Várias ideias estão associadas à palavra grega no Novo Testamento. Esse termo grego aparece no Novo Testamento como um dom espiritual (Rm 12.8) e, também, como um modo de instruir e estimular a fé (1 Tm 4.13; Hb 12.5). Em outros textos, aparece como consolo ou conforto (Lc 2.25; At 15.31; Rm 15.4,5; 2 Co 1.3,5-7). Paulo usa a palavra paraklesis com o sentido de lembrar algo recebido. Paulo pede e admoesta os filipenses a que vivam em união e trabalharem juntos em toda a obra do evangelho e em perfeita harmonia. O conforto em Cristo é produzido pelo Espírito Santo na vida da igreja. Por isso, não poderia haver rancores e mágoas nos corações.

“...se alguma consolação de amor” (2.1). A base do consolo em Cristo é o amor. Sem amor é impossível absorver o consolo espiritual, porque o amor de Cristo constrange e move a nossa vida, como o próprio apóstolo estava convencido disso ao declarar aos coríntios: “Porque o amor de Cristo nos constrange” (2 Co 5.14). Para a mente de Paulo, o amor que Jesus Cristo nutre pela sua Igreja deve impelir a que todos vivam dignamente. O amor de Cristo nos constrange, no sentido de que as divisões e facções são desfeitas para que haja união de sentimentos.

“...se alguma comunhão no Espírito” (2.1). O princípio que unifica a igreja é a comunhão do Espírito no corpo de Cristo, a sua Igreja. Por outro lado, estava indicando que a presença do Espírito na vida interior de cada crente é um fato consumado na experiência cristã. Por isso, com a ajuda do Espírito, podemos superar todas aquelas atitudes que roubam a humildade e o relacionamento sadio com todos os irmãos. A comunhão no Espírito anula o individualismo e cria uma nova vida em comum no seio da igreja. A mutualidade e a cooperação entre todos são elementos vitais que a comunhão no Espírito produz.

“...se alguns entranháveis afetos e compaixões” (2.1). No texto da ARA está assim: “se há entranhados afetos e misericórdias”, indicando que se tratava de um forte e caloroso amor, especialmente aquele amor demonstrado pelos filipenses ao apóstolo. Havia uma relação de afeto da parte da igreja de Filipos por Paulo e pela sua situação como preso em Roma, por isso, preocupavam-se com ele em sua prisão. E Paulo, reciprocamente, demonstra o mesmo amor e afeto pelos filienses e todas as igrejas da Macedônia.

A palavra “afetos” aparece no grego como splanchnon, que no sentido figurado significa “piedade ou simpatia, solidariedade”. Esses termos definem as palavras: afeto, entranhas, graça, misericórdia. “Entranhas” sugere a sede da vida emocional. No capítulo 1.8, Paulo fala de seu amor pelos filipenses: “Porque Deus me é testemunha das saudades que de todos vós tenho, em entranhável afeição de Jesus Cristo”. Ao referir-se ao amor de Cristo, Paulo fazia uma conexão desse amor para com Ele e para com os filipenses. Esse amor é algo palpável e sentido. Não é nada platônico, intocável, teórico. E entranhável pelo Espírito Santo.

A palavra “compaixões” aparece em outras versões como “misericórdias”, cujo sentido se trata daquele sentimento que descreve a emoção e a sensibilidade para com os necessitados.
A compaixão deveria guardar aos cristãos da desunião. William Barclay, em seu Comentario ai Nuevo Testamento, declarou: “A desunião rompe a estrutura essencial da vida”. Ele também disse que “os homens não foram criados para ser como lobos rosnando uns com os outros, sim para viver em harmonia”.

“.. completai o meu gozo” (2.2) não tinha um caráter egoísta da parte do apóstolo, mas era um estímulo a que experimentassem o mesmo gozo que produzia um sentimento de segurança e esperança de que esse gozo resultaria no gozo da vida eterna. Paulo se dirige aos filipenses dizendo-lhes da sua alegria por eles, mas estimula e pede a eles que completem seu gozo (alegria, regozijo) demonstrando, em contrapartida, “o mesmo sentimento” ou “o mesmo amor”. Que amor é este? Não se trata do mero sentimento que sentimos pelas pessoas, mas era algo especial da parte de Deus. A bíblia declara que Deus derramou seu amor em nossos corações através do Espírito Santo (Rm 5.5).

Ora, por esse modo, poderos amar as pessoas independentemente de elas nos amarem ou não. Quando amamos com o amor de Cristo aprendemos a ver os valores das pessoas e não apenas seus defeitos.

“Nada façais por contenda ou por vanglória” (2.3). A exortação paulina conscientizava ao cristão filipense, e a tantos quantos são membros do corpo de Cristo, que o membro nada fará no seio da igreja de forma isolada, “por contenda ou por vanglória”, isto é, por ambição egoísta ou por presunção. Essas duas posturas, egoísmo e presunção, são antagônicas diretamente à comunhão com Cristo. Certa feita Jesus, falando aos discípulos e exemplificando fatos a eles, disse-lhes: “Mas entre vós não será assim” (Mc 10.43). 

Tudo o que possa ser prejudicial ao convívio fraternal deve ser extirpado na vida cristã cotidiana dos crentes em Cristo.
Naturalmente, as pessoas perniciosas que estavam no seio da igreja influenciando os irmãos fiéis a se debaterem por causa de cargos ou funções tinham que ser alijados da comunhão. O espírito de Diótrefes, que lutava pela primazia no seio da igreja, sem respeitar os princípios de autoridade que devem nortear a vida de uma igreja, tem que ser reprimido (3 Jo 9). O conselho de Paulo era para que os irmãos evitassem os que contendiam por primazia, por questões de orgulho, que é algo que surge da mesma raiz de vanglória. O que caracteriza o cristão é a humildade, que é uma qualidade que se opõe ao orgulho. A Bíblia diz que Deus dá graça aos humildes (Pv 3.34; Tg 4.6; 1 Pe 5.5).

“Não atente cada um para o que é propriamente seu” (2.4). Nessa exortação, o apóstolo Paulo procura inculcar na mente dos cristãos que o espírito egoísta contradiz o espírito cristão, cujo padrão de vida baseia-se no amor ao próximo. Antes de querer pensar apenas nas minhas coisas, nos meus interesses, devo pensar em ser útil às pessoas nos seus interesses. A convivência com os irmãos da mesma fé requer de cada cristão uma boa dose de humildade e desprendimento. O meu crescimento não pode prejudicar o crescimento dos demais. Os meus dons não são para o usufruto meu, mas devem ser úteis à comunidade. Os que buscam primazia no seio da igreja com atitudes egoístas se esquecem do princípio deixado por Jesus:

“E qualquer que, dentre vós, quiser ser o primeiro será servo de todos” (Mc 10.44).

Na ética cristã, aprendemos um princípio básico em relação às pessoas que é o de, primeiro, pensar nos outros no sentido de ajudar. A expressão “levai as cargas uns dos outros” faz parte da filosofia de relações humanas ensinada por Jesus. O exemplo de Cristo é sempre o argumento forte do apóstolo nas relações éticas (Rm 14.1-3). O Espírito ajuda o crente a evitar todo partidarismo, egoísmo e vanglória, produzindo no seu coração um sentimento de respeito e amor pelos demais irmãos da mesma fé (v. 4).


Elaboração pelo:- Evangelista Isaias Silva de Jesus


Igreja Evangélica Assembléia de Deus Ministério Belém Em Dourados – MS


Filipenses – A humildade de  Cristo como exemplo para a Igreja = Elienai Cabral