4 de outubro de 2023

Missões Transculturais – A sua Origem na Natureza de Deus

 

Missões Transculturais – A sua Origem na Natureza de Deus

TEXTO ÁUREO

“Quanto a mim, eis o meu concerto contigo é, e serás o pai de uma multidão de nações.” (Gn 17.4)

Esmiuçando o versículo-chave:

- Esse texto apresenta outra afirmação da aliança unilateral de Deus com Abrão, o que não significava que os beneficiados estivessem isentos de responsabilidades. A promessa de que reis procederiam dele realça a realidade de mais de um grupo de pessoas ou nações com direitos próprios, advindos de Abraão. O relacionamento foi estabelecido por iniciativa de Deus e designado também como "aliança perpétua", aplicando-se assim à posteridade de Abraão com igual força e gerando a declaração "serei o seu Deus" (v. 8). Essa garantia tornou-se o lema do relacionamento de aliança entre YHWH, e Israel.

- A tríplice afirmação da divina promessa de muitos descendentes, talvez incluindo os descendentes de Isaque e Ismael, inclui a mudança de nome (vs. 4-6), dando-lhe ênfase especial. O nome Abraão significa "pai de muitas nações", refletindo o novo relacionamento de Abraão com Deus bem como a sua nova identidade baseada na promessa de Deus de proporcionar descendentes. (Rm 4.17).

LEITURA BÍBLICA = Gênesis 12.1-3; 17.1-8

INTRODUÇÃO

- Ao falarmos de Missões Transculturais, estaremos falando do esforço da igreja em transpor fronteiras, ir além do seu campo de atuação, cruzar barreiras geográficas, línguas, costumes, religiões, etnias etc.

- Tornar a igreja acessível para cada um dos povos não alcançados e permitir que eles entendam a mensagem é nossa missão enquanto igreja. 

- A tarefa mais importante da Igreja neste tempo é a evangelização transcultural, visto que, pode-se dizer que ainda hoje, 25% da população mundial, nunca ouviu falar do evangelho sequer uma vez.

- Na lição de hoje, partiremos da chamada de Abraão para ser “pai de uma multidão de nações”: “Disse o Senhor a Abrão: Sai da tua terra, da tua parentela e da casa de teu pai e vai para a terra que te mostrarei; de ti farei uma grande nação, e te abençoarei, e te engrandecerei o nome. Sê tu uma benção! Abençoarei os que te abençoarem e amaldiçoarei os que te amaldiçoarem; em ti serão benditas todas as famílias da terra” (Gn 12.1-3). O enfoque missionário das Escrituras já começa no início do Antigo Testamento. O propósito de Deus para a humanidade foi revelado na forma de uma promessa, que tem caráter pessoal e global, abençoar todas as famílias da terra. É muito importante dizer que, no grande propósito de Deus para a humanidade foi enfatizado muito mais aquilo que o próprio Deus iria fazer do que aquilo que Abraão faria.

 

I- A NATUREZA MISSIONÁRIA DE DEUS

 

1. A natureza missionária de Deus no chamado de Abrão (Gn 12.1-3).

- Quando que Missões passou a existir?

“E ouviram a voz do Senhor Deus, que passeava no jardim pela viração do dia; e esconderam-se Adão e sua mulher da presença do Senhor Deus, entre as árvores do jardim.  E chamou o Senhor Deus a Adão, e disse-lhe: Onde estás?” (Gn 3.8,9)

Logo, temos que, Missões surgiu porque o homem parou de adorar a Deus, e precisou ser resgatado!

Quando falamos de Missões, quer sejam locais, Nacionais ou Transculturais, certamente elas têm sua origem em Deus. O conceito de Missão vem das palavras latinas missus e mittere que significam enviado e enviar. Missão portanto, é uma tarefa, uma incumbência, uma obrigação, uma ordem de anunciar o evangelho e gerar novos filhos para Deus – onde podemos enxergar qualquer delas no chamado? A Aliança de Deus com Abraão envolvia uma ordem para se separar da casa de seu pai tanto quanto para partir em direção à terra de Canaã, uma descendência (inclusive Cristo – Gl 3.8,16), nação, e ainda bênção e proteção divinas. A chamada de Abraão é importante para os crentes, como expõe Paulo em Gl 3.4. Paulo identifica as palavras “em ti serão benditas todas as famílias da terra” como o evangelho preanunciado a Abraão (Gl 3.8). O propósito é a aliança de Deus com o descendente de Abraão, e quem é esse descendente? É Cristo (Gl 3.16-18). As "boas-novas" para Abraão foram as novas da salvação para todas as nações (Gn 12.3; 18.18; 22.18; Jo 8.56; At 26.22-23). Em todos os tempos, a salvação foi por meio da fé. Assim, temos prenunciado no Antigo Testamento que os gentios receberiam as bênçãos da justificação pela fé, assim como Abraão. Essas bênçãos são derramadas sobre todos por causa de Cristo (Jo 1.16; Rm 8.32; Ef 1.3; 2.6-7; Cl 2.10; 1Pe 3.9; 2Pe 1.3-4).

2. A missão como atividade de Deus no mundo. Gênesis 17.5: “será o teu nome... Abraão” - O nome significa "pai de muitas nações", refletindo o novo relacionamento de Abraão com Deus bem como a sua nova identidade baseada na promessa de Deus de proporcionar descendentes.

Deus por sua própria vontade e propósito usou seu Filho, o único sacrifício aceitável e perfeito, como meio de reconciliar os pecadores consigo (At 2.23; Cl 1.19-20; Jo 14.6; At 4.12; 1Tm 2.5-6). Deus dá início à mudança na situação do pecador no fato de que ele o leva de uma posição de alienação a um estado de perdão e relacionamento correto para com ele próprio. Essa é a essência do evangelho.

A missão de Deus no mundo é estabelecer o seu Reino. Participar da construção do Reino de Deus em nosso mundo, pelo Espírito Santo, constitui-se na tarefa designada à Igreja.

Deus é um Deus missionário e qualquer envolvimento com o Deus da Bíblia, significa envolver-se num grande projeto missionário. O Deus missionário que aparece de Gênesis a Apocalipse em nossas Bíblias, é sempre aquele que vem até nós, nos transforma pelo seu poder restaurador e por fim nos envia.

Envolver-se com o Deus da Bíblia significa estar sujeito e disposto ao envio missionário. “Vem, agora, e eu te enviarei a Faraó, para que tires o meu povo, os filhos de Israel, do Egito” (Êx 3.10). Biblicamente e teologicamente, não dá pra envolver-se com aquele que é o Grande Missionário e não ser influenciado ou impactado pelo amor à missão.

3. O nosso modelo missionário. O modelo missionário básico de que dispomos para a Igreja na atualidade não se fundamenta em figuras ilustres da história da Igreja, nem em projetos contemporâneos de pessoas com feitos notáveis. Certamente que os modelos de hoje e os do passado merecem nossa atenção a fim de ampliar nossa visão missionária, principalmente, na aplicação das missões transculturais. Contudo, nosso principal modelo de Missões revela-se no próprio Deus, cuja natureza missionária nos é demonstrada no Antigo Testamento (Gn 3-9; Is 55.4).

- Entender o significado Bíblico, Teológico e Prático da missão é de vital importância para nós, para entendermos o que de fato significa Evangelizar - a Evangelização, como parte da Missão, é encarnar o amor Divino nas formas mais diversas da realidade humana, para que Jesus Cristo seja confessado como Senhor, Salvador, Libertador e Reconciliador. A Evangelização sinaliza e comunica o amor de Deus na vida humana e na sociedade através de adoração, proclamação, testemunho e serviço.

A missão vai ter sempre o seu início naquele que é o missionário por excelência, o próprio Deus. Assim, precisamos entender com clareza que “a missão é anterior ao povo de Israel e a Igreja; ela começou com Deus em sua interação de Criador e com o seu amor”. A missão nasce então, do envolvimento de Deus com sua criação, trata-se de um envolvimento profundo, um envolvimento de amor cuja finalidade é a promoção do ser humano. Quando analisamos a Palavra de Deus, nela nós percebemos que o primeiro gesto missionário de Deus aconteceu na criação. Depois de ter criado todas as coisas através da Palavra. Deus decide criar o ser humano. Mas esta criação se dá de forma especial.

O texto bíblico nos diz: “façamos o homem...” (Gn 1. 27). Este ser humano foi feito. Não de qualquer forma, mas muito bem trabalhado... À imagem de Deus... Ao criar o ser humano, de forma única e especial, do barro, Deus estava envolvendo-se com ele no sentido de promovê-lo. Na criação, Deus tem suas mãos envolvidas pela humanidade e a humanidade é envolvida pelas mãos de Deus. Paulo também utiliza uma expressão que é interessante no grego: “Pois somos feitura dele...” poiema (feitura) trata-se de uma palavra bem sugestiva, que nos remete a um tipo de criação realizada num momento de profundo amor ou inspiração, quase um poema.

Participar da missão significa participar ao lado de Deus de sua intenção de promover e amar o ser humano. Neste sentido, a missão da Igreja e ao seu lado a evangelização, vão ser sempre um movimento voltado para a promoção da vida e da dignidade do ser humano no seu mais alto nível.

II – AMOR DE DEUS: O PRINCÍPIO FUNDAMENTAL DA HISTÓRIA DA REDENÇÃO

 

1. O amor de Deus. Deus é plenamente justo, puro e santo. Sua santidade não tolera o pecado e sua justiça exige a punição da transgressão de sua Lei. Essa verdade é um alerta para que sirvamos a Deus de modo com reverência e santo temor.

É necessário entendermos as características de Deus para não enfatizarmos uma em detrimento da outra.

Sobre o amor de Deus, é preciso dizer que, esse amor, acima de tudo, é o seu amor por si mesmo, sua glória, e sua santidade. 1João 4.16 indica isso quando nos diz que Deus é amor. Em si mesmo como Pai, Filho e Espírito Santo, n’Ele resume-se e n’Ele está o modelo de todo amor. Para ser um Deus de amor, ele não precisa de nós, nem é a sua glória como o Deus de amor incompleta sem nós. De eternidade a eternidade ele é amor, em e de si mesmo, na Trindade.

A Escritura define este amor como “o vínculo da perfeição” (Cl 3.14). Ele é mais do que mero sentimento, emoção ou sensação. É o vínculo que existe entre as três pessoas perfeitas da Santíssima Trindade.

Porque Deus ama sua própria glória (Is 42.8; Ez 39.25), e porque o amor é o vínculo da perfeição, Deus não pode amar os homens exceto em e através de Jesus Cristo. Somente nele somos perfeitos. Deus não pode estabelecer um vínculo de perfeição com aqueles que estão fora de Cristo. O Salmos 5.4 é prova adicional que Deus não pode nos amar à parte de Cristo: “Porque tu não és um Deus que tenha prazer na iniquidade, nem contigo habitará o mal”. Não existe nenhum vínculo de perfeição possível entre Deus e o mal. Aqueles que ele ama devem ser escolhidos e redimidos em Cristo, para serem objetos do amor de Deus.

É muito importante lembrar que, existe um outro lado disso, Deus odeia o mal e todos os que praticam a maldade (Sl 5.5,6).

Essa é uma palavra dura, mas a alternativa é blasfêmia. Dizer que Deus ama os homens sem salvá-los da sua impiedade e pecado, é dizer que o santo e justo Deus ama o mal. Não esqueçamos, também, que esse entendimento do amor de Deus é onde o deleite e alegria dos crentes residem. Significa que Deus salvará o seu povo de todos os seus pecados, e os aperfeiçoará. Seu amor é o vínculo da perfeição. Significa que ele os tomará em comunhão e fá-los-á participantes da natureza divina. Seu amor fá-los-á perfeitos! “Deus é amor; e quem está em amor está em Deus, e Deus nele” (1Jo 4.16).

 2. A Redenção no Antigo Testamento.

- Há um Triplo significado da redenção:

a. Pagar o preço do resgate por alguma coisa ou por alguém (Hb 9.12);

b. Remover de um mercado de escravos (Gl 3.13);

c. Efetivar um completo livramento de um escravo ou prisioneiro, dando liberdade perfeita e definitiva (Rm 8.22-23).

A ideia de redenção no Antigo Testamento tem início a partir do conceito de propriedade (Lv 25.26; Rt 4.4). Um preço era pago em dinheiro, em conformidade com a Lei, para comprar novamente uma propriedade que necessitasse ser liberta ou resgatada (Nm 3.51; Ne 5.8). E a partir deste uso, o termo no Antigo Testamento foi usado normalmente com um senso de libertação, embora a ideia de pagamento sempre estivesse presente.

Deus é visto como o Redentor de Israel, pois é aquele que provê Libertação para seu povo. Em Dt 9.26 temos uma bela demonstração desse fato: “Ó Soberano Senhor, não destruas o teu povo, tua própria herança! Tu o redimiste com tua grandeza e tiraste da terra do Egito com mão poderosa”. Como podemos observar, Deus é visto por Moisés como “Aquele que Liberta“. Redenção aquilo é vista exatamente neste sentido, e a história da saída do povo do Egito é a prova definitiva desse fato.

- Vale salientar que, Redenção como pagamento de preço de resgate não é pago a Satanás, mas sim a Deus (Tt 2.14; Hb 9.12; 1 Pe 1.18,19), pois:

- Satanás não tem nenhum direito contra o pecador, portanto não precisa ser pago.

- O débito que precisa ser pago é o infinito débito contra o atributo de justiça, de Deus. "A misericórdia de Deus resgata o homem da justiça de Deus" (Russel Shedd).

3. A Redenção no Novo Testamento. O Novo Testamento, ao contrário do Antigo, traz conceitos mais claros para os cristãos mas, não perde de vista seu significado original. Nada melhor do que quando a própria Bíblia se encarrega de apresentar-nos uma definição clara e objetiva de um determinado conceito. Este é o caso com relação ao termo “redenção”. Conforme Efésios 1.7, redenção é: “[…] a remissão das ofensas, segundo as riquezas da sua graça”. Não existe nada que possamos fazer com relação a nosso estado eterno de pecaminosidade. Sozinhos, estamos fadados a condenação que nos conduzirá a perdição eterna (2Ts 1.8,9), porém, sabendo de nossa condição existencialmente falida, Jesus Cristo alcançou remissão para todos nós (Cl 1.14). Como a redenção foi possível? Através do sacrifício vicário de Jesus, ou seja, apenas o Mestre foi capaz de oferecer-se em nosso favor, e desta forma, garantir-nos a salvação (Rm 3.24; 1Co 1.30).

De todo o Novo Testamento resulta claro que Jesus libertou a humanidade da escravidão do pecado pela sua morte e ressurreição. A redenção poderia, pois, aparecer como uma obra onerosa para Jesus e para o próprio Pai que não poupou o seu único filho, mas o entregou por todos nós (Rm 8.32).

A salvação é gratuita para nós os crentes (jamais poderíamos pagar 1 átomo dela), mas não é barata, antes custou o mais alto preço de todos possíveis ou imagináveis, preço infinito (1Pe 1.18-19). O Novo Testamento centra a redenção em Jesus Cristo.

Ele comprou a Igreja com seu próprio sangue (At 20.28), deu-se pela vida do mundo (Jo 6.51), como Bom Pastor deu sua Vida por suas ovelhas (Jo 10.11) e demonstrou seu grande amor dando sua vida por seus amigos (Jo 15.13). O propósito de Jesus na terra foi realizar um sacrifício de Si mesmo para libertação do homem do pecado.

J.D. Douglas acrescenta muito ao nosso estudo ao nos demonstrar uma outra perspectiva sobre a Redenção, ao dizer que “a redenção não somente lança os olhos de volta para o calvário, mas também comtempla a liberdade na qual se encontram os redimidos” DOUGLAS, J.D. O Novo Dicionário da Bíblia. Vol.3, pp.1373. A ideia de liberdade após pagamento não deve ser deixada aqui. Aliás, tal conceito é necessário ser compreendido de maneira correta para que a Salvação oferecida por Jesus Cristo não seja mal interpretada.

 

Lembre-se: quando Jesus disse, “conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará” (Jo 8.32), os que o ouviram ficaram indignados por não conhecerem sua real situação diante de Deus, por isso Jesus acrescentou: “em verdade, em verdade vos digo: todo o que comete pecado é escravo do pecado” (Jo 8.34).

Apenas a verdade pode libertar o homem das amarras do pecado, e Jesus Cristo é a Verdade (Jo 14.6).

III – VISÃO BÍBLICA DO CARÁTER TRANSCULTURAL DA MISSÃO

 

1. Um Deus Missionário. Assim, o Deus missionário estabeleceu uma estratégia” Soa estranho a afirmativa, como se Deus providenciasse um “plano B”. “A sorte se lança no regaço, mas do Senhor procede toda decisão” (Pv 16.33). Deus não tem Plano B; Deus tem o Plano Perfeito! Gênesis 12.3 não foi “uma estratégia” de Deus, definitivamente não. Desde o princípio, Deus tinha em vista que Jesus Cristo seria o descendente de Abraão, e que todo aquele que confia em Cristo se tornaria um herdeiro da promessa de Abraão. Assim, é dito em Gálatas 3.29: “E, se sois de Cristo, também sois descendentes de Abraão e herdeiros segundo a promessa”. Assim, quando Deus disse a Abraão há 4.000 anos: “Quanto a mim, será contigo a minha aliança; serás pai de numerosas nações”, ele abriu o caminho para que qualquer um de nós, não importa a que nação pertençamos, se torne filho de Abraão e herdeiro das promessas de Deus. Tudo o que precisamos fazer é compartilhar a fé de Abraão, ou seja, depositar nossa esperança nas promessas de Deus, de modo que, se a obediência exigir, possamos abrir mão do nosso bem mais precioso, como Abraão abriu mão de Isaque.

- Em Gênesis 12.1-4 encontra-se o propósito salvador de Deus: abençoar o mundo inteiro através de Cristo, a semente de Abraão. Contudo, Israel esquecia frequentemente do escopo universal da promessa de Deus, passando a preocupar-se consigo mesmo e com sua própria história. Por isso, os profetas tinham que lembrar o povo constantemente que o propósito de Deus através dos descendentes de Abraão era abençoar as nações (Is 49.6).

2. A escolha de Israel e sua missão. Ao se abordar o tema missionário no Antigo Testamento, observa-se que a aliança firmada entre Deus e Israel em Êxodo 19.5-6 possui tanto bênçãos e privilégios quanto responsabilidades, sobretudo, de ser o sacerdócio real perante as nações da terra, cabendo-lhe também anunciar e ensinar a Lei de Deus. Esta nação seria o instrumento de Deus para atingir seu alvo, que continuaria a ser o mundo todo.

- “Falando da nação de Israel, Deuteronômio 7:7-9 nos diz: “Não vos teve o SENHOR afeição, nem vos escolheu porque fôsseis mais numerosos do que qualquer povo, pois éreis o menor de todos os povos, mas porque o SENHOR vos amava e, para guardar o juramento que fizera a vossos pais, o SENHOR vos tirou com mão poderosa e vos resgatou da casa da servidão, do poder de Faraó, rei do Egito. Saberás, pois, que o SENHOR, teu Deus, é Deus, o Deus fiel, que guarda a aliança e a misericórdia até mil gerações aos que o amam e cumprem os seus mandamentos.” Deus escolheu a nação de Israel para ser o povo através do qual Jesus Cristo iria nascer – o Salvador do pecado e da morte (João 3:16). Deus prometeu o Messias pela primeira vez após a queda de Adão e Eva no pecado (Gênesis capítulo 3). Deus mais tarde confirmou que o Messias viria da linhagem de Abraão, Isaque e Jacó (Gênesis 12:1-3).

Jesus Cristo é a razão final pela qual Deus escolheu Israel para ser o Seu povo escolhido. Deus não precisava ter um “povo escolhido”, mas decidiu fazer as coisas dessa forma. Jesus tinha que vir de alguma nação, e Deus escolheu Israel. No entanto, a razão pela qual Deus escolheu a nação de Israel não foi unicamente para o propósito da vinda do Messias. O desejo de Deus para com Israel era o de que eles ensinassem aos outros sobre Ele. Israel deveria ser uma nação de sacerdotes, profetas e missionários para o mundo. O intento de Deus era que Israel fosse um povo distinto, uma nação de pessoas que guiassem os outros em direção a Deus e a Sua providência prometida do Redentor, Messias e Salvador. Em sua maior parte, Israel falhou nessa tarefa. No entanto, o propósito final de Deus para Israel, o de trazer o Messias e Salvador, foi cumprido perfeitamente – na Pessoa de Jesus Cristo.”

3. A escolha da Igreja.

- Como e por que acontece essa troca de papéis entre Israel e a Igreja?

É preciso retroceder na história, mas faremos até Jacó. Deus prometeu a Jacó que faria de seus doze filhos uma “comunidade de povos” adoradores (Gn 28.3) que seria conhecida pelo seu novo nome, “Israel”. De modo significativo, a palavra hebraica usada aqui para “comunidade” é qãhãl, que a tradução grega do Antigo Testamento geralmente traduz por ekklesia, “igreja”. Esse objetivo de uma comunidade de adoração foi alcançado após o êxodo do Egito, quando o povo chegou ao Monte Sinai. Ali Deus declarou que os israelitas eram sua propriedade peculiar, um reino de sacerdotes e uma nação santa (Êx 19.5-6). O Senhor prometeu habitar entre eles como seu Deus (Êx 29.45). Mas, tão rápido como o povo se comprometeu nesse relacionamento pactual com o Senhor, eles o abandonaram. Enquanto Moisés estava no topo do monte recebendo instrução do Senhor, o povo estava ao pé do monte fabricando falsos deuses. Estava claro desde o princípio que a “nação santa” não tinha poder para viver de modo digno do seu chamado. Os profetas descortinam para nós o resto da história de Israel: apesar da fidelidade de Deus, eles foram filhos malignos e corruptores (Is 1.2) e uma esposa adúltera (Os 1-3). Essa herança de infidelidade pertencia igualmente aos reinos do norte e do sul: Israel e Judá eram duas irmãs pervertidas da mesma família (Ez 16 e 23) as quais sofreriam, cada uma, a punição da destruição e do exílio (Ez 4.4-6). O Senhor não poderia habitar em meio a um povo tão profano. Ele abandonou o seu escolhido lugar de habitação em Jerusalém, deixando o seu povo à mercê de seus inimigos babilônios (Ez 8-11).

- Contudo a destruição de Israel no exílio não poderia ser o fim da história. Porque o Senhor havia atrelado o seu nome a Israel, a nação haveria de ser restaurada a fim de que o seu nome santo não fosse profanado entre as nações (Ez 20.14). As promessas feitas no Monte Sinai tinham de ser cumpridas (Jr 33.20-21), de modo que as duas nações de Israel e Judá seriam restauradas pelo Senhor em um corpo único, reunido, composto de todas as famílias de Israel (Jr 31.1) sob um único rei (Ez 37.16-22). A promessa mais importante era a transformação espiritual de Israel em um novo povo, cujos corações endurecidos seriam transformados em novos corações, sob uma nova aliança (Jr 31.31-33), por meio de um derramar do Espírito de Deus (Ez 36.22-28). O novo Israel se tornaria o servo do Senhor, uma luz para os gentios, trazendo cura para todas as nações (Is 42.6, 10). Contudo, o novo Israel descrito em Isaías 40-48 continuava a ser um povo em dificuldade e fraqueza, que precisava de constante exortação à busca da obediência e de encorajamento para confiar no constante amor de Deus por eles.

Para cumprir os propósitos de Deus, outro Israel, superior, era necessário, um servo que tomasse o lugar de Israel, fazendo o que Israel fora incapaz de fazer, cumprindo seu chamado de trazer luz às nações (Is 49.6).

Esse servo “Israel” fez-se carne na pessoa de Jesus Cristo. Desde o momento do seu nascimento, ele reencenou a história de Israel, descendo ao Egito para que pudesse ser o verdadeiro filho a quem Deus chamou do Egito (Mt 2.15, citando Os 11.1). Assim como Israel passou pelo Mar Vermelho, Jesus passou pelas águas do batismo (Mt 3) antes de ser levado para o deserto, onde enfrentou e venceu as mesmas tentações que Israel falhou em suportar (Mt 4). No início de seu ministério, Jesus leu em alta voz Isaías 61.1-2, declarando que a Escritura havia se cumprido na presença de seus ouvintes (Lc 4.18-19): ele era o próprio Servo sobre quem repousava o Espírito de Deus. Como o novo Israel, Jesus cumpriu perfeitamente as exigências da lei. A nova aliança que Jeremias antecipara foi estabelecida no seu sangue (Lc 22.20). Jesus cumpriu o plano original de Deus para a santidade humana, assim encarnando pessoalmente o novo Israel que os profetas vislumbraram.

Uma vez que Jesus Cristo é ele mesmo o novo Israel, todos aqueles que são unidos a ele pela fé são também incorporados ao Israel de Deus (Gl 6.16). Ele é a videira verdadeira, a clássica imagem do Antigo Testamento para Israel, e nós somos seus ramos (Jo 15). Porque Cristo é a viva pedra angular da casa de Deus, aqueles que são unidos a ele se tornam pedras vivas naquela casa (1Pe 2.4-5) e podem ser descritos pela mesma terminologia que descrevia Israel no Antigo Testamento: em Cristo, nós somos “raça eleita, sacerdócio real, nação santa” (1Pe 2.9-10).

Ser parte desse Israel da nova aliança, portanto, não é uma questão de descender fisicamente de Abraão, mas, em vez disso, partilhar do arrependimento e da fé de Abraão (Lc 3.8). O novo povo de Deus inclui tanto judeus como gentios (Gl 3.28), uma vez que ambos são enxertados na nova oliveira, Cristo/Israel (Rm 11.17-24). Isso não significa que Deus se esqueceu das suas promessas àqueles que descendem fisicamente de Abraão (Rm 11.1). Certamente não. Mas nem todos os que descendem fisicamente de Israel são parte do novo Israel (Rm 9.6). A restauração de Israel prometida nos profetas é realizada à medida que o evangelho é pregado em Jerusalém e na Judéia (o reino do sul), em Samaria (o reino do norte) e até os confins da terra, assim finalmente trazendo a luz de Deus aos gentios (At 1.8).

- No livro do Apocalipse, João ouve o povo de Deus ser descrito como um grupo de 144.000 composto das doze tribos de Israel (Ap 7.4-8). Contudo, ao olhar novamente, ele descobre que o mesmo grupo era uma multidão incontável de toda tribo e nação (Ap 7.9-12). A noiva do Senhor, a imagem usada no Antigo Testamento para Israel, é a Igreja, a qual um dia não mais estará maculada por seu pecado, mas estará lindamente adornada para o seu esposo (Ap 21.2). Naquele dia, o propósito e o plano original de Deus para Israel – ter um povo unido e santo para pertencer a si mesmo – finalmente se cumprirão no casamento de Cristo com a sua Igreja

CONCLUSÃO

Quando se fala em missões, quando se prega sobre missões, quando se mobiliza a igreja sobre missões, provavelmente o primeiro texto que vem à mente da maioria das pessoas é o texto da grande comissão (Mt 28:18-20).

De fato esse é um texto muito precioso, mas está longe de ser o único ou um dos únicos das Escrituras que tratam sobre o tema. O nosso Deus é um Deus missionário, que planejou uma missão pra si desde toda a eternidade: formar um povo para si, para o louvor da Sua glória. Só o fato das Escrituras existirem já nos mostra Deus agindo em missão, pois a Sua Palavra é um modo seguro, e incorruptível dEle se revelar à humanidade caída. O texto sagrado é missionário!

BOA AULA

FONTE : https://auxilioebd.blogspot.com