A
HUMILDADE O E AMOR DESINTERESSADO
(A PARÁBOLA DOS PRIMEIROS
ASSENTOS E DOS CONVIDADOS OU DAS BODAS– Lc.14:7- 14)
O amor de Deus é
humilde e desinteressado.
INTRODUÇÃO
-
- Completando o estudo das parábolas de Jesus, analisaremos a parábola dos primeiros
assentos e dos convidados, também chamada de parábola das bodas, registrada
em Lc.14:7-14.
- O amor de Deus é humilde e desinteressado
I
– AS CIRCUNSTÂNCIAS DA PARÁBOLA E A PARÁBOLA
PROPRIAMENTE DITA
- Estamos chegando ao término de mais um ano
letivo da Escola Bíblica Dominical e agradecemos a Deus por mais esta
oportunidade que nos concedeu de, com liberdade de culto e crença, podermos
crescer espiritualmente e nos santificar, rumando aos céus, mediante o estudo e
meditação das Escrituras Sagradas.
- Completando o estudo das parábolas de Jesus,
analisaremos, nesta lição, a parábola dos primeiros assentos e dos convidados,
também chamada de parábola das bodas, mais uma das parábolas registradas apenas
por Lucas, em Lc.14:7-14.
- Já temos dito ao longo deste estudo das
parábolas, que Lucas é o evangelista que mais parábolas registra precisamente
porque, tendo como público alvo os gregos, cuja cultura privilegia a sabedoria
(I Co.1:22), mostrava Jesus como o homem perfeito e, como tal, alguém que teria
de ter excelente sabedoria e tal sabedoria se demonstra pelo uso do mecanismo
das parábolas.
- A parábola dos primeiros assentos e dos convidados, segundo os
cronologistas bíblicos Edward Reese e Frank Klassen, foi proferida entre
novembro e dezembro de 28 d.C., quando Jesus estava exercendo o seu ministério na Pereia, quando participava de uma festa (daí o nome “parábola
das bodas”), para
o qual foi convidado.
- Esta
festa acontecia num dia de sábado, um jantar, na casa de um dos principais dos fariseus, onde todos
iriam a comer pão (Lc.14:1). Estava-se, pois, no início da celebração do
sábado, que se iniciava no pôr-do- sol, e, por se tratar de uma casa de um dos
principais dos fariseus, ter-se-ia todo um formalismo e toda uma solenidade no
início daquela celebração, até porque a tradição judaica exigia e tinha como
obrigatórias a participação em três refeições no sábado.
-
OBS: “…Mesmo a preparação e o sentar-se para comer
três refeições (cada uma das quais era obrigatória) no Sabath eram dotados de
significados espirituais. O povo estava convencido de que havia algo de
especial que aumentava o prazer de comer naquele dia.
Que algo especial era este? Os rabinos de antigamente,
com espírito didático, chamavam-no ‘observância do Sabath’. O místico talmúdico
Simão ensinava: ‘Os que comem as três refeições do Sabath num espírito de
santidade entram num estado de bem-aventurança’. Tornou-se costume fixo,
durante os últimos dias da época do Segundo Templo, o homem da casa também
tomar parte, na preparação das três refeições do Sabath. Ele fazia as compras
ou cozinha um ou mais pratos. Cumpria essas rarefas ao hóspede ‘real’ – a
‘Rainha Sabath’ – que estava para entrar em sua casa.…” (AUSUBEL, Nathan.
Sabath. In: A JUDAICA, v.6, p.739).
- Nesta festa, ao qual Jesus foi convidado,
estava um homem hidrópico e Jesus, após perguntar aos convidados, se era lícito
curar no sábado, pergunta que não foi respondida pelos fariseus ali presentes,
curou aquele homem e se dirigindo aos convidados, disse-lhes quem deles, caindo
um jumento ou boi num poço num dia de sábado, não o tiraria dali, tendo, então,
todos se calado, pois não tinham como argumentar em sentido contrário (Lc.14:1-6).
-
O Senhor,
então, observando os convidados daquela cerimônia social, percebeu o
comportamento dos convidados, que buscavam tomar os primeiros assentos, a fim
de poderem ter proeminência no evento. Ante tal observação, o Senhor passou a
dizer que, quando alguém for convidado, deve evitar ocupar os primeiros
lugares, pois, em o fazendo, não correrá o risco de ter de dar o lugar
proeminente que eventualmente escolha a alguém que tenha maior dignidade, mas,
pelo contrário, ocupando um lugar derradeiro, seja honrado ao ser convidado
para ir a um lugar mais proeminente, pois os que se humilham serão exaltados,
mas os que se exaltam, humilhado. Na sequência, o Senhor se dirige ao próprio
anfitrião, dizendo-lhe que deveria ele dar um jantar ou uma ceia não para os
amigos, irmãos, parentes ou vizinhos ricos, visando ser também convidados por
eles em outra oportunidade, mas que convidasse as pessoas que não tivessem como
recompensá-lo, pois, assim fazendo, recompensado seria na ressurreição dos justos.
- Vemos, portanto,
que nesta parábola, há dois momentos bem definidos: um,
que servia de lição para os convidados, a lição da humildade; outra, que servia
de lição para o anfitrião, a lição do desinteresse.
- Num
momento social, Jesus delineia qual deve ser o comportamento dos Seus
discípulos, a conduta agradável a Deus em meio à sociedade onde vivemos.
I
– A INTERPRETAÇÃO DA PARÁBOLA (I) : OS CONVIDADOS
- Notemos que a parábola é registrada por Lucas
logo após o episódio da cura de um hidrópico em dia de sábado pelo Senhor
Jesus, que ocorreu na casa de um dos principais dos fariseus, onde o Senhor
estava para comer o pão.
- Trata-se, portanto, de uma parábola que é dirigida aos fariseus, aos religiosos mais
extremados daquela época, e num momento extremamente importante para a religião
judaica, que era a celebração do sábado, que a lei de Moisés apresentava como a
primeira solenidade a ser observada pelo povo de Israel (Lv.23:2,3).
-
- Com efeito, como afirma Nathan Ausubel, “…do
ponto de vista do historiador da religião, esse dia [o sábado, observação
nossa] tem representado um dos principais elos de unidade para os judeus
através de sua história milenar.(…) No estágio mais avançado de desenvolvimento,
o Sabath representa, em seu simbolismo, uma das expressões mais elevadas da
ética social entre os judeus.…” (ibid., p.735).
OBS: Ainda hoje, o início do sábado é celebrado com
uma refeição festiva, como nos dá conta Benjamin Belch: “…o Shabat começa na tarde da sexta-feira
antes do crepúsculo, quando as velas são acesas. Após o serviço religioso na
sinagoga, a família se reúne para uma refeição festiva.…” (O mais completo guia sobre judaísmo, p.152).
- Primeira observação que devemos fazer é que o Senhor Jesus foi convidado para a
celebração do sábado. Verdade é que, pelo que se nota do texto, todos
estavam curiosos com relação a Jesus, já então famoso em todo Israel, não sendo
desarrazoado pensar que muitos dos que ali estavam queriam até, de algum modo,
angariar informações para terem de que O acusar, já que é dito que todos O
estavam observando (Lc.14:1), sendo também curioso que um homem doente ali
estivesse, como se se tratasse de um teste para Jesus.
- Ainda que não fosse de boa intenção o convite
ao Senhor Jesus, o fato é que tendo um dos principais dos fariseus convidado o
Mestre para a celebração do sábado, isto nos traz importantes lições que têm
relação com a parábola que Cristo haveria de ali contar para aquelas pessoas.
- A primeira é que o Senhor Jesus Se mostrava como uma pessoa escrupulosa com os deveres
religiosos. Se não fosse tida como uma pessoa que levava em conta as coisas
concernentes a Deus, um fiel observador da adoração e do culto ao Senhor,
jamais seria convidado para uma celebração de sábado na casa de um dos
principais dos fariseus, numa localidade que não era grande e que, portanto,
era um lugar onde todos se conheciam e sabemos todos como os fariseus eram
extremamente cuidadosos com a sua reputação na comunidade.
- Assim como o Senhor Jesus, temos, também, de
ter uma imagem de servos de Deus diante dos homens com quem convivemos. É
evidente que não podemos querer viver de aparência, ter uma ostentação de
santidade, que nada mais é que santarronice, como soía ocorrer com os fariseus,
mas é impensável que um servo de Deus não seja visto perante a sociedade como
uma pessoa piedosa. Precisamos ser como o profeta Eliseu, que foi chamado pela
sunamita, pelo comportamento que tinha quando passava por Suném, como “um santo
homem de Deus” (II Rs.4:8,9).
- A segunda lição é que Jesus foi convidado para uma celebração religiosa, ou seja, tinha um
perfil que animava as pessoas a lhe chamarem para uma festividade sadia,
dedicada ao Senhor. Jesus não foi convidado para uma celebração pecaminosa,
para uma reunião frequentada por pessoas mundanas ou de reputação duvidosa. Sua
conduta representava um freio para que pessoas desta estirpe lhe viessem
convidar, algo que, aliás, foi preservado por Seus discípulos, que, pela sua
conduta, geravam um distanciamento daqueles que não querem ter qualquer
compromisso com Deus (At.5:13).
- Vejamos que não era Jesus que Se distanciava
dos pecadores contumazes e inveterados, pois Ele veio para buscar e salvar os
que se haviam perdido (Lc.19:10), mas Seu porte, naturalmente, afastava d’Ele
todos aqueles que nada queriam saber da parte de Deus.
- Como têm sido as nossas companhias? Estamos,
assim como Jesus e a igreja primitiva, tendo um porte que afasta naturalmente
de nós os escarnecedores, os que não têm respeito algum pelas coisas divinas,
ou temos tido uma conduta que nos faz ficar no meio deste tipo de gente? A que
festas temos sido convidados e que tipo de festas frequentamos?
- A terceira lição é que, convidado, o Senhor Jesus, mesmo sabendo haver alguma má intenção da
parte de alguém, aceitou o convite, como era seu costume. Jesus era
sociável, sempre estava a participar de festas e isto era até alvo de censura
por parte de alguns (Mt.11:19; Lc.7:34; 15:2).
- Devemos
ser sociáveis, pois Deus fez
o homem um ser social, que não pode viver sozinho, mas, sim, conviver, pois
desta convivência até depende a sua sobrevivência. O Senhor foi claríssimo ao
dizer, ao ver Adão solitário, que não era bom que o homem vivesse só (Gn.2:18),
algo que não se refere apenas ao casamento, mas a toda vida social, que,
logicamente, se inicia com a família, mas não se resume a ela.
- É,
aliás, emblemático que o Senhor Jesus vá contar de uma parábola que nos traz
lições sobre o relacionamento social precisamente quando está a participar de
uma cerimônia social, quando
é convidado de uma celebração festiva de natureza religiosa, onde é alvo da
observação de todos e onde trará ensinamentos tanto aos convidados quanto ao anfitrião.
- Depois
de ter curado o hidrópico naquela casa, o Senhor Jesus passou a observar os
convidados. Certamente,
estava ali a nata da sociedade daquela cidade ou aldeia da Pereia, região
situada a leste do rio Jordão, onde atualmente é a Jordânia, é que era povoada
principalmente por judeus, estando sob o governo de Herodes, o tetrarca da
Galileia. A cada era de um dos principais dos fariseus e, portanto, todos aqueles
convidados eram escrupulosos religiosos, tidos e havidos, na sociedade, como
pessoas de vida exemplar, paradigmas de santidade e piedade.
- O
simples fato de a pessoa ter sido convidada para celebrar o sábado na casa
daquele principal dos fariseus já era um motivo de honra e de reconhecimento. Sua simples presença naquele ambiente já
seria suficiente para que as pessoas pudessem se apresentar como dignas diante
de seus concidadãos.
- Entretanto, tais pessoas não levaram em consideração este fato, estavam
interessadas em escolher os primeiros assentos, a fim de se apresentarem
como mais santas, mais honrosas. Os primeiros assentos eram os mais próximos às
cabeceiras das mesas. Queriam se sobressair em relação aos demais e isto numa
cerimônia onde estavam a celebrar o sábado, onde o alvo deveria ser outro, qual
seja, o de adorar a Deus, pois o sábado fora instituído para que o israelita se
dedicasse ao Senhor.
- Nos dias hodiernos, os judeus, antes de comer
a refeição festiva do sábado, a primeira das três refeições obrigatórias desse
dia, recitam uma oração denominada “Kidush” (santificação), onde se exalta que
Deus é o Criador e o Shabat, um dia santo. O sábado é a primeira das
solenidades do Senhor mencionada em Lv.23, de modo que tudo deve ser comemorado
tendo em vista a Deus, voltando-se para o Senhor.
- Entretanto, aqueles convidados estavam
voltados para si mesmo, queriam “aparecer” diante dos demais, queriam ser o
centro das atenções, desvirtuando, por completo, o próprio sentido daquela reunião.
-
Jesus a tudo observava e, como afirma o comentarista bíblico Matthew
Henry (1662-1714): “…Note bem que, mesmo nas ações comuns da vida, o olhar de
Cristo está sobre nós. E Ele observa o que fazemos, não só em nossas reuniões religiosas, mas em
nossas mesas. E faz observações sobre isso.…” (Comentário bíblico Novo Testamento: Mateus a João edição completa.
Trad. Degmar Ribas Júnior, p.642).
-
Tal comportamento não agradou o Senhor Jesus.
Havia ali uma demonstração de individualismo, de egocentrismo que não se
coaduna com o espírito de adoração a Deus, com o próprio serviço ao Senhor. Se queremos, realmente, servir ao Senhor, adorá-l’O,
devemos nos despir de nós mesmos, renunciar a nós mesmos, pois não podemos ser
discípulos de Cristo se não renunciarmos a nós mesmos (Mt.16:24; Lc.14:33), se
não se negar a si mesmo (Mc.8:34; Lc.9:23).
- Negar-se é a palavra grega “aparneomai”
(απαρνέομαι), cujo significado é de “negar peremptoriamente, i.e., repudiar,
abster-se…” (Bíblia de Estudo Palavras-Chave, verbete 533 do Dicionário do Novo
Testamento, p.2077). Trata-se, portanto, de uma atitude de total e completa
negação de si próprio, uma recusa a que o ego possa significar algo, possa ter
alguma participação na tomada de decisões e de
atitudes.
- Jesus,
então, voltou-se para os convidados, repreendendo aquela atitude, dizendo que, quando fossem convidados às
bodas, não se assentassem no primeiro lugar, para que não passassem a vergonha
de ter de ceder o seu lugar para outra pessoa considerada mais importante e
honrada do que eles, mas que procurasse se assentar nos lugares últimos, para
que ocorresse a honra de ser chamado para um lugar mais proeminente, pois quem
se humilha será exaltado e quem se exalta será
humilhado.
- Jesus,
por primeiro, mostra-nos que é inevitável que haja diferenciação de honra e de
proeminência entre os seres humanos. Haverá, sempre, os lugares primeiros e os lugares derradeiros e, o
que é mais importante, pessoas que devam ocupar uns e outros.
-
O Senhor Jesus ensina-nos, assim, que é
mentirosa e fantasiosa a doutrina do igualitarismo, que diz que todos os seres humanos são idênticos,
que não qualquer diferença entre os indivíduos, pensamento e mentalidade que
têm se disseminado nos últimos anos e que, inclusive, já encontrou guarida em
muitas mentes daqueles que cristãos se dizem
ser.
-
Deus não faz acepção de pessoas (Dt.10:17; At.10:38) e, portanto, a todos
trata igualmente. Este tratamento igual, no entanto, não é igualitário, pois
não há dois seres humanos idênticos sobre a face da Terra, como estão a provas
os métodos de identificação, que demonstram claramente que dois seres
humanos
não são iguais, tendo diferentes digitais, diferentes íris, diferentes códigos
genéticos. Como disse o pastor norte-americano Rick Warren, Deus, quando cria
alguém, lança para trás de si a fôrma utilizada.
- Por isso até, as pessoas são chamadas de
“indivíduos”, palavra cujo significado, segundo o Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa é qualquer ser concreto, conhecido por meio da experiência, que
possui uma unidade de ccaracteres e forma u m todo reconhecível”, palavra que
vem do latim “individuus”, que significa “indivisível, uno, que não foi
separado”.
- Como se não bastasse isso, tem-se que o ser humano não pode viver solitariamente,
precisa conviver com os demais e, nesta convivência, efetivamente vão
exercer funções, tarefas e atividades diferentes, que faz com que haja diversos
níveis de importância e de ação, a trazer, assim, maior reconhecimento, honra e
posição a uns em detrimento de outros, posições que devem ser tratadas de modo
diferenciado, inclusive para que haja justiça, pois, como diz o próprio Senhor
Jesus, “…a qualquer que tiver lhe será dado, e a qualquer que não tiver até o
que parece ter lhe será tirado” (Lc.8:18).
-
Este
tratamento divino para com os seres humanos, mantendo a igualdade sem
confundi-la com o igualitarismo, vemos na distribuição do maná ao povo. Cada um
recolhia a sua porção, que era suficiente para o sustento de cada indivíduo,
embora não se tivesse a mesma ração para cada um (Ex.16:16-18).
- Assim, todos nós devemos saber que temos uma posição
na sociedade e que devemos corresponder a esta posição, não querendo ser
tratados acima desta posição nem admitindo ser tratado abaixo dela, porquanto
isto é conforme a vontade do Senhor, até porque, lembremos, nos céus também há
posições e de forma até mais rígida, porquanto os anjos são organizados como
exércitos (Sl.103:21), expressão que nos indica que há, portanto, uma
hierarquia e uma disciplina militares entre as multidões dos seres celestiais.
- Ora,
esta postura deve nos levar a considerar os outros como superiores a nós mesmos
(Fp.2:3), pois não devemos nos esquecer que, por amor, o Senhor Jesus,
sendo Deus, aniquilou-Se a Si mesmo, tomou a forma de servo, fazendo-Se
semelhante aos homens e, achado na forma de homem, humilhou-Se a Si mesmo,
sendo obediente até a morte, e morte de cruz
(Fp.2:7,8).
-
Cada um tem sua posição na sociedade e deve
considerar os outros como superiores a si, porquanto devemos sempre nos comportar com humildade,
pois, além de termos o amor de Deus, aprendemos com Cristo, que é manso e
humilde de coração (Mt.11:29).
- Aqueles convidados estavam em uma cerimônia
social vinculada à guarda do sábado, iniciando um momento de separação para
Deus e, como tal, deveriam se posicionar diante do Senhor, reconhecendo serem
menos do que nada, pois é assim a nossa posição diante do Todo-Poderoso
(Is.40:17; 41:24). No entanto, queriam os primeiros assentos, achando-se mais
importantes do que os outros.
- Devemos
ser humildes e a humildade nada mais é que uma virtude onde se tem consciência
das próprias limitações, onde
se sabe precisamente o que se é, ou seja, “menos do que nada”. A palavra
“humildade” vem de “húmus”, que significa terra, lembrando-nos que somos pó
(Gn.2:19; Sl.103:14) e que, destarte, não podemos nos achar coisa alguma.
- Considerando
os outros como superiores a nós mesmos, jamais correremos o risco de sermos
envergonhados pela presunção.
Jesus foi bem claro ao dizer que, se ocuparmos os lugares últimos, poderemos
ser honrados sendo conduzidos aos lugares primeiros, mas que o inverso ocorrerá
se formos presunçosos, se não levarmos em consideração o outro.
- Este
sentimento de humildade é o sentimento do próprio Jesus, como nos mostra o apóstolo Paulo na passagem
já mencionada da epístola aos filipenses e como o próprio Cristo fez questão de
ressaltar ao dizer que devemos aprender com Ele o que é humildade.
- Seu despojamento completo, que O fez deixar a
Sua glória para Se humanizar e, na própria sociedade, assumir posição
extremamente humilde, pois não veio à Terra como príncipe, mas, mesmo sendo o
herdeiro da coroa real da dinastia de Davi, nascendo numa manjedoura em Belém,
“adotando” como pais pessoas simples e pobres, como se pode verificar pela
oferta apresentada no templo para a purificação de Maria (Lc.2:22-24), é a
prova grandiloquente de que Jesus é a própria humildade em pessoa e que,
portanto, nós, se somos Seus irmãos (Rm.8:29), outro comportamento não podemos
ter senão o de sermos igualmente humildes.
- Naquela festa, Jesus poderia, humanamente
falando, querer tomar os primeiros assentos. Afinal de contas, havia sido
convidado para a cerimônia e não era daquela cidade ou aldeia, de modo que,
naturalmente, seria a pessoa especial daquela reunião, o convidado diferente, o
convidado principal daquela noite.
-
Além
disto, era o centro das atenções, todos O estavam observando e, muito
provavelmente, aquele homem hidrópico ali havia sido posto de propósito, para
testá-l’O. Deste modo, natural que procurasse os primeiros assentos.
- Mas não é só! Jesus havia acabado de curar o
homem hidrópico, demonstrando o Seu poder, o que, com muito mais razão, faria
com que buscasse ocupar os primeiros assentos, máxime depois de ter mostrado,
nas Escrituras, que não havia quebrantado o sábado com aquela cura, já que
todos haveriam de tirar do poço um jumento ou boi que ali caísse. Tinha, dentro
da lei, mostrado a correção de sua conduta e, como tal, também poderia pleitear
sentar nos primeiros assentos naquela festa, ainda mais que se encontrava na
casa de um dos principais dos fariseus, que zelavam pelo estudo e observância
rigorosos da Palavra de Deus.
- Jesus, porém, não fez isto, mas apenas
observou como os convidados ansiavam por ocupar os primeiros assentos,
demonstrando soberba, arrogância e presunção. O Senhor foi bem prático no
ensinamento dado, sem sair da própria mentalidade de ostentação de santidade
reinante naquele meio: a pessoa presunçosa, em vez de honra, passaria vergonha
se fosse mandada sair dos primeiros assentos para dar lugar a pessoas mais
importantes, enquanto que poderia ser alvo de duplicada honra se aguardasse nos
lugares derradeiros ser chamado para os primeiros assentos, o que lhe traria
muito maior prestígio perante a coletividade.
- Jesus ensina-nos que a melhor maneira de nos
comportarmos na convivência social, nos relacionamentos interpessoais é
seguindo o Seu exemplo, o Seu modelo. Ele conviveu entre nós e, portanto,
mister se faz que Lhe sigamos as pisadas também neste aspecto da vida.
- Neste mundo, tudo fazemos para a glória de
Deus (I Co.10:31), estamos aqui neste mundo não só para glorificar ao Senhor,
mas para que, por nossas atitudes, os homens também glorifiquem a Deus
(Mt.5:16). Assim, em todo lugar que estivermos, lembremos que estamos a levar o
nome de Cristo conosco e não podemos tomar o nome de Deus em vão (Ex.20:7;
Dt.5:11), jamais podemos dar margem a escândalos (I Co.10:32; Mt.18:6,7), ou
seja, a decepções e censuras ao Senhor e à fé por causa de nossa conduta.
- Sendo esta a realidade, torna-se absolutamente
necessário que, na nossa convivência com as pessoas, não sejamos presunçosos,
mas ajamos com humildade, não querendo posições que não são as nossas e sempre
nos posicionando considerando os outros superiores a nós, pois, se for o caso,
seremos honrados, e o nome do Senhor, glorificado, jamais sendo envergonhados
e, com isto, dando margem a que o nome do Senhor seja tomado em vão.
-
- Em
nossos relacionamentos, devemos nos comportar com humildade, pois, humilhando-nos,
seremos exaltados pelo Senhor,
ao passo que todos os que se exaltam, serão inevitavelmente humilhados, pois a
autoexaltação é, antes de tudo, uma desconsideração da soberania divina e de
que devemos nos negar a nós mesmos.
II
– A INTERPRETAÇÃO DA PARÁBOLA (II) : O ANFITRIÃO
- Mas Jesus não faz observação apenas aos
convidados. Ele também se dirige ao anfitrião, que era um dos principais dos
fariseus naquela cidade ou aldeia da Pereia.
- O texto permite-nos inferir que Jesus foi
chamado, como era esperado, a se assentar nos primeiros assentos, estando,
assim, próximo ao anfitrião, de modo que pôde lhe dirigir palavras, conversar
com ele, já que dele próximo estava.
- Aquele principal dos fariseus havia convidado
Jesus para aquela festividade porque o Senhor era famoso, havia se tornado uma
“celebridade” naquele tempo. Passando pela Pereia, com destino a Jerusalém
(Lc.9:51), o Senhor é, então, convidado por esta pessoa importante daquela
localidade, para que, com ele, celebrasse a chegada do sábado.
- Aquele homem, como já visto, não estava apenas
convidando Jesus, diante da Sua fama, mas também queria testar o Senhor, tanto
que a presença daquele hidrópico o confirma, pois queria saber se Jesus era,
mesmo, aquela pessoa de se que se falava.
- Jesus curou aquele homem hidrópico, fazendo,
pois, um milagre na casa daquele homem, que, assim, tinha até que satisfeita a
sua curiosidade, tendo, também, o Mestre mostrado o Seu conhecimento da lei,
dando uma aula a respeito da guarda do sábado. Parecia, pois, que o anfitrião
havia sido muito feliz na escolha do convidado daquela noite e que, portanto, a
cerimônia tinha sido um “sucesso”.
-
Porém, o Senhor Jesus queria aprofundar o
pensamento e as convicções daquele homem. Dirigiu-se a ele e lhe disse que ele,
quando desse um jantar, não deveria chamar os amigos, os irmãos nem tampouco os
parentes e vizinhos ricos, visando, com isso, também ser convidado por eles
em outras oportunidades, querendo, com tais convites, conseguir alguma
recompensa, alguma compensação, mas que que chamasse os pobres, os aleijados,
os mancos e os cegos, pessoas que não tinham como recompensá-lo, pois, fazendo
isto, ele seria recompensado na ressurreição dos justos.
- Aquele principal dos fariseus era, sem dúvida,
um religioso escrupuloso e o convite a várias pessoas para participar com ele
da celebração do sábado era uma prova deste seu zelo religioso. Tinha também
tomado o cuidado de convidar Jesus para as bodas, o que não deixa de ser um
gesto nobre e sábio.
- Todavia,
o que o motivava para a realização de tais cerimônias era o interesse próprio,
que é irmão da presunção e soberba denunciados por Cristo aos convidados. O
interesse próprio é nascido também do egoísmo, do individualismo e era também
uma conduta que não se poderia esperar de quem estava disposto a adorar a Deus,
a agradar o Senhor.
- Em vez de se voltar para Deus, a quem se devia
dedicar o tempo do sábado, o anfitrião dedicava-se a defender e a proteger os
seus próprios interesses, convidando pessoas que, de alguma maneira, poderiam
lhe beneficiar e lhe favorecer. O próprio convite a Jesus tinha sido feito com
base neste interesse, pois, além de um certo prestígio diante de todos, o
anfitrião poderia receber alguma benesse, fosse em conhecimentos e ensinamentos
do Senhor, fosse na realização de algum sinal, como aliás, acabou ocorrendo.
- No entanto, o Senhor Jesus quis ensinar aquele
anfitrião que não podemos nos guiar pelos nossos interesses, não devemos buscar
a satisfação daquilo que nos beneficia, daquilo que nos favorece, porque
devemos agir desinteressadamente.
-
O servo de Deus recebe o amor de
Deus em seu coração pelo Espírito Santo (Rm.5:5) e, por conta disso, age
desinteressadamente, pois o amor divino não busca os seus próprios interesses
(I Co.13:5).
- Que interesse próprio Jesus defendeu ao Se
despojar da Sua glória e vir a este mundo para nos salvar? Que interesse
próprio, enquanto homem, defendeu ou buscou durante a Sua peregrinação terrena?
Absolutamente nenhum!
- Esta verdade espiritual trazida pelo Senhor
àquele anfitrião precisa ser claramente entendida por nós. Aquele homem havia
levado Jesus para a sua adoração a Deus, propusera ter, como vantagem, a
realização de algum sinal e a ministração de algum ensinamento, tendo obtido
ambas as coisas, mas Cristo fez questão de lhe dizer que ele não poderia mais
agir daquela forma, mas, sim, agir desinteressadamente.
- O anfitrião somente havia convidado pessoas
ricas, que era seus amigos, irmãos, parentes e vizinhos, além de Jesus, mas
visava, com isso, ser também convidado por eles para outras festividades, de
modo a que se mantivesse nas “colunas sociais” da sua localidade. Agia por
interesse próprio e isto, disse Jesus, não era correto nem bom.
- Em
nossos relacionamentos sociais, não podemos agir interessadamente, não podemos
ser interesseiros. Não
devemos criar, manter e sustentar relacionamentos em que tudo o que se objetiva
é a vantagem própria, o crescimento individual.
- Agir
interessadamente é demonstrar um amor egoísta, em que se ama somente a si mesmo e onde se
menospreza ou despreza o próximo, que é tratado como mero objeto ou simples
instrumento do crescimento individual. Rebaixa-se o próximo, que é um ser
humano e, como tal, imagem e semelhança de Deus, como se fosse uma coisa que
está a nossa disposição para o nosso bem, como algo que pode ser usado e,
posteriormente, descartado.
- Este
comportamento interesseiro não é, lamentavelmente, ausente das igrejas locais e
dos ambientes frequentados pelos que cristãos se dizem ser. O apóstolo Paulo já denunciara aos
filipenses a existência de pessoas quetais no meio dos salvos, ressaltando que
seu filho na fé, Timóteo, não era deste naipe (Fp.2:19- 21).
-
Interesse,
diz o Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa, significa “aquilo que é
importante, útil ou vantajoso, moral, social ou materialmente”. Assim, o
interesse é aquilo que achamos relevante, a que damos valor. Ao procurar
convidar pessoas que lhe pudessem retribuir o convite, o anfitrião estava se
considerando mais importante do que o próprio Deus que, em última análise,
estava sendo adorado naquela cerimônia e, desta maneira, estava na mesma vala
dos convidados que, também, se acham mais importantes ao buscar ocupar os
primeiros assentos.
- Se o anfitrião queria demonstrar seu zelo e
piedade para com Deus, deveria convidar pessoas que não lhe poderiam retribuir,
que não lhe dessem vantagem alguma, pois, aí, sim, estaria achando importante
que todos adorassem ao Senhor, que a lei fosse observada, que o nome do Senhor
fosse glorificado e, em virtude disto, seria, sim, recompensado por Deus quando
viesse a ressurreição dos justos.
- A menção que Jesus faz da recompensa na
ressurreição dos justos não é à toa nem aleatória. O Senhor estava na casa de
um fariseu e uma das doutrinas características do farisaísmo era a crença na
ressurreição dos justos, o que os diferenciava dos saduceus (At.23:8).
- Os fariseus criam na ressurreição dos justos,
que chamavam de “ressurreição do último dia” (Jo.11:24) e procuravam observar a
lei com todo zelo e rigor para poderem alcançá-la e ter a vida eterna (Dn.12:2).
-
Jesus mostra, então, àquele anfitrião que
muito mais importante do que ter os favores de amigos, vizinhos, parentes e
irmãos ricos, de ter uma notória posição social na localidade onde vivia, era
alcançar esta ressurreição dos justos e, nela, ser devidamente recompensado
pelo Senhor. Tal recompensa somente viria se ele não buscasse os seus interesses, mas, sim, satisfazer
os interesses divinos, entre os quais, estava o
bem-estar dos desvalidos, daqueles que nada tinham e que não podiam a ninguém
convidar para, com eles, adorarem ao Senhor.
- Isto porque estas pessoas completamente
desamparadas mencionadas por Jesus eram o alvo do Senhor, eram cuidadas pelo
próprio Deus (Dt.10:18; Sl.68:5), que, inclusive, havia criado institutos na
lei de Moisés para suprir-lhes o necessário para sua sobrevivência, como a lei
da respiga da colheita (Dt.24:19-21) e a lei dos dízimos do terceiro ano
(Dt.26:12,13), entre outros.
- Em
nossos relacionamentos sociais, não devemos buscar os nossos interesses, mas, sim, os de Cristo Jesus. Devemos tudo
fazer para a glória de Deus e agir de tal maneira que façamos o bem sem buscar,
com este bem, tirar qualquer vantagem, seja de que ordem for, moral, social ou material.
- Se
somos realmente salvos, se somos movidos pelo amor de Deus, o amor “agape”, não
podemos agir para ter vantagem, mas única e exclusivamente porque queremos o
bem do outro e a supressão de suas necessidades, sabendo que, ao atuar desta maneira, Deus, que é o
justo juiz de toda a Terra (Gn.18:25), saberá recompensar todos quantos
realizaram boas obras neste mundo (Hb.6:10), pois o próprio Cristo disse estar
com o Seu galardão para dar a cada um conforme a Sua obra (Ap.22:12).
III
– OS ENSINAMENTOS DA PARÁBOLA
- Esta parábola é até um tanto quanto diferenciada
da maioria das parábolas de Jesus, pois, em seu registro, Lucas prioriza mais
os ensinamentos do que a própria narrativa, de forma que, ao longo da exposição
da parábola, já apresentamos os ensinamentos dela, de forma que seremos bem
sucintos neste ponto.
- Jesus ensina-nos que devemos agir, nos relacionamentos sociais, que são
necessários e inevitáveis, como Ele agiu em Sua peregrinação terrena: com
humildade e com desinteresse.
- Quem tem o amor de Deus em seu coração, por
ter crido em Cristo Jesus, somente pode atuar humildemente, pois aprende com o
Senhor, que é manso e humilde de coração, considerando, assim, todos os outros
como superiores a si e, deste modo, jamais será instrumento de escândalo e
contribuirá para que o nome do Senhor seja glorificado.
-
Quem tem
o amor de Deus em seu coração, por ter crido em Cristo Jesus, somente pode
atuar desinteressadamente, pois sabe que o que realmente é importante nesta
vida é agradar a Deus e, desta maneira, não busca tirar proveito em suas ações,
mas, sim, fazer bem precisamente a quem nada lhe pode favorecer, sabendo que,
ao agir assim, receberá o devido galardão do
Senhor.
FELIZ 2019
Colaboração para o Portal Escola Dominical – Ev. Caramuru Afonso
Francisco