Ética Cristã e Redes Sociais
Devido ao avanço tecnológico, várias mudanças
foram inseridas na sociedade. A rede mundial de computadores, conhecida como
Internet, conecta o mundo todo. Com o surgimento das redes sociais, tudo o que
acontece é comentado e divulgado de modo instantâneo. Informações são
transmitidas com rapidez surpreendente. Em contrapartida, vivemos um estágio em
que as pessoas se relacionam mais virtualmente do que presencialmente.
O desenvolvimento das tecnologias digitais
favoreceu o estabelecimento de novas formas de interação social e, a partir
destas, novos paradigmas de relacionamentos. Nesse novo paradigma, as relações
sociais tornaram-se virtuais, o contato e o diálogo foram se distanciando de
seu conceito original e as relações sociais tornaram-se efêmeras. As
publicações nas redes sociais apresentam distorções da felicidade, criam
ilusões e padrões utópicos de vida perfeita. A falsa ideia de privacidade e
anonimato permite extravasar sentimentos e paixões culminando em relações sociais
descartáveis e desastrosas. Estatísticas indicam que mais de um terço da
população mundial está conectada à web e interage por meio de redes sociais.
Dados indicam que as redes sociais transformaram-se em um importante meio para
a divulgação de informações e a propagação de ideologias e todo o tipo de
ativismo.
Diante desses fatos, a igreja precisa
instruir seus membros no uso das novas tecnologias e buscar métodos da
evangelização por meio das redes sociais. O cristão precisa estar consciente de
suas responsabilidades e deveres no mundo virtual. A igreja não pode viver
alienada diante dessa realidade cada vez mais presente na vida dos fiéis. Neste
capítulo, veremos a gênese da comunicação virtual, o conceito, o perigo e o mau
uso das redes sociais, bem como o desafio da igreja hodierna em evangelizar por
meio dessas novas tecnologias. Para tanto, dizem as Escrituras, “rejeitamos as
coisas que, por vergonha, se ocultam, não andando com astúcia nem falsificando
a palavra de Deus; e assim nos recomendamos à consciência de todo homem, na
presença de Deus, pela manifestação da verdade” (2 Co 4.2).
1.O CONCEITO DE REDE SOCIAL
As redes sociais podem ser consideradas de
modo genérico como sues de relacionamentos Como fator positivo, possibilitam às
pessoas se relacionarem virtualmente; todavia, também oferecem riscos aos seus
usuários.
O termo é utilizado para indicar uma
aplicação da rede mundial de computadores (web) cuja finalidade é relacionar as
pessoas.
Os que aderem a um site de relacionamentos
podem conectar-se entre si, criar um perfil, adicionar amigos e conhecidos,
enviar mensagens, fazer depoimentos, trocar informações, fotos e vídeos, além
de estabelecer vínculos. A rede social moderna surgiu no início do século XXI e
viabilizou aos usuários encontrar amigos do passado, reencontrar pessoas e
ampliar o círculo social.
As redes sociais não são satisfatoriamente
seguras. Os dados e informações pessoais podem ser invadidos por terceiros.
Entre os principais riscos associados às redes sociais está a invasão de
privacidade, danos à imagem e à reputação, vazamento de informações e contato
com pessoas mal-intencionadas. Além disso, existem muitos perfis falsos
(fakes), comunidades polêmicas, discriminatórias, conteúdos com imoralidade e
preconceitos em geral. Como tudo na Internet e nas tecnologias da informação,
as redes sociais apresentam danos para seus usuários.
II. O PERIGO DA RELAÇAO DESCARTAVEL E AS NOVAS TECNOLOGAS
A velocidade da informação e a efemeridade
nos relacionamentos virtuais têm provocado sérios danos nas relações sociais.
Quando as novas tecnologias são utilizadas como fuga de problemas ou como
substitutas das relações humanas, o chamado avanço tecnológico se torna um
verdadeiro retrocesso.
1. A
Distorção da Felicidade
Nas redes sociais em geral, as pessoas
publicam uma vida perfeita e um mundo repleto de felicidade. As redes estimulam
a prática do narcisismo, ou seja, o indivíduo que admira exageradamente a sua
própria imagem e nutre uma paixão excessiva por si mesmo. Essas pessoas tendem
a buscar uma felicidade fútil, em meio a fotos montadas e a sorrisos falsos. Os
usuários editam a própria vida apresentando a si mesmos como vencedores e
vendem a ilusão de que vivem cm plena paz e harmonia. As Escrituras condenam os
que se ufanam e vivem em hipocrisia (Is 5.20,21).
A verdadeira
felicidade
A Organização Mundial de Saúde (OMS) define
felicidade como “completo bem-estar físico, mental e social”. O “Relatório
Mundial sobre a Felicidade” publicado pela Universidade de Columbia, em 2012,
apontou multiplicidade no conceito:
A felicidade inclui avaliações sobre a vida
de maneira geral e aspectos positivos e negativos de emoções que afetam o dia a
dia de cada um. Alguns fatores são externos como emprego, renda e saúde. Outros
são pessoais, como gênero, educação, saúde mental e idade. Outros são
inter-relacionados: com maior renda é possível ter melhor educação e sendo mais
feliz, a saúde também melhora. (KAHN,Jan. 2013)
O problema desses conceitos é que eles estão
condicionados a algo, a alguém ou a alguma coisa. Quando esses quesitos não são
preenchidos, a felicidade acaba ou não acontece, e se instala a frustração e,
em consequência, a tristeza e o sofrimento. A Bíblia Sagrada apresenta a
felicidade como sendo a alegria que não depende de nenhuma circunstância (Lc
12.15).
Ela é fruto do Espírito, caracterizado por um
deleite e regozijo permanente na vida do cristão (Gl 5.22, Fp 4.4). A tentação
de buscar a felicidade nos bens efêmeros é insensatez e resulta em desgosto (1
Tm 6.8,9). A verdadeira alegria só pode ser encontrada no temor e na obediência
ao Criador: “Bem-aventurado aquele que teme ao Senhor e anda nos seus caminhos!
Pois comerás do trabalho das tuas mãos, feliz serás, e te irá bem”(Sl 128.1,2).
2. O
Isolamento e a Solidão
Na década de 1990, pesquisadores chamaram
atenção para o mal social chamado de “paradoxo da Internet”. Trata-se da
contradição de alguém ter vários relacionamentos virtuais e, ao mesmo tempo,
ausência real de contato humano. Estudos recentes demonstram que o aumento no
uso da Internet coincide com o aumento da solidão, problema acentuado pelas
redes sociais. O ser humano está sendo integrado à tecnologia e tratado como se
fosse também uma máquina. Essa falta de equilíbrio tem desencadeado crises
emocionais, ansiedade e isolamento (Jr 6.14).
Dependência
virtual
Reconhecemos a importância, a contribuição e
os beneficios proporcionados pela Internet e as redes sociais. No entanto, não
podemos fechar os olhos diante de seus efeitos colaterais, como, por exemplo, a
dependência virtual.
Estudos psicológicos detectaram oito sinais
de uso patológico da rede: (i) incapacidade de controlar o uso da internet;
(ii) necessidade de se conectar mais vezes; (iii) acessar a rede para fugir dos
problemas ou para melhorar o estado de ânimo; (iv) pensar na internet quando se
está off-line; (v) sentir agitação ou irritação ao tentar restringir o uso;
(vi) descuidar do trabalho, dos estudos ou até mesmo dos relacionamentos
pessoais por causa da rede; (vii) sofrer pela abstinência; (viii) mentir sobre
a quantidade de horas que passa conectado e/ou permanecer muito mais tempo do
que o previsto (SAYEG, 2000, p. 153). O usuário enquadrado em alguns dos itens
acima pode estar usando a Internet como fuga para problemas psicológicos. O não
tratamento desses sintomas resulta em dependência e isolamento cada vez maior.
3. Relações
Sociais Efêmeras
Segundo o sociólogo polonês Zygmunt Bauman
(1925-2017), a sociedade vive um momento de frouxidão nas relações sociais.
Bauman chama esse fenômeno social de “modernidade líquida”. Os tempos são
“líquidos” porque tudo muda tão rapidamente. Nada é feito para durar, para ser
“sólido”. Nas redes sociais, com apenas um dique é possível bloquear, deletar e
excluir pessoas. E com outro dique pode aceitar, comentar e curtir outras
pessoas. Essa situação representa um declínio das sólidas relações humanas, uma
vez que, por meio das tecnologias, a amizade, o amor e o respeito entre as
pessoas são facilmente descartáveis (Ec 1.2).
O efeito
paradoxal
A maior parte das pessoas busca nas redes
sociais aproximação com outras pessoas. Mas, em total paradoxo, os
relacionamentos virtuais tendem a ter maior importância que os relacionamentos
reais. E comum, por exemplo, pessoas caminharem “conectadas” absortas e
cabisbaixas pelas ruas, alienadas do mundo real. Quase ninguém mais conversa
sem o uso da Internet. Nos restaurantes, famílias inteiras ou grupo de amigos,
acessam a Internet e não dialogam entre si, exceto por monólogos ou sobre o que
estão vendo nas redes sociais.
Esse fenômeno também é observado nas escolas,
no âmbito do trabalho e até de maneira insana e irresponsável no trânsito
urbano. Tal comportamento é um retrocesso, pois torna as relações humanas
superficiais, transitórias e irrelevantes. Faz-se necessário e imprescindível
corrigir essas distorções, especialmente em nossa vida privada, junto de nossa
família e de nossos amigos. A sensatez é primordial, uma vez que todo excesso é
extremamente danoso ao ser humano.
4. Falsa
Sensação de Privacidade
Diversos usuários das redes sociais iludem-se
com a sensação de privacidade e ficam expostos a toda espécie de
constrangimentos. Comentários pessoais, sentimentos de foro íntimo, fotos e
vídeos comprometedores saem da área do privado e se tornam públicos. Essa
sensação de privacidade também favorece a prática do pecado viral (algo que se
espalha rápido como um vírus). Pode ser desde a reprodução e retransmissão de
pornografia até a divulgação de notícias falsas e difamatórias (2 Tm 2.22; Pv 16.28).
A indecorosa
prática do “nudes”
A possibilidade de manter a identidade real
oculta é um dos fatores que impulsionam o uso equivocado da Internet. Algumas
pessoas sentem-se à vontade para extravasar seus impulsos sexuais ilícitos sem
medo de repercussão.
A fantasia do anonimato e a falta de inibição
estimulam a prática da imoralidade. Uma conduta deplorável tem sido a postagem
de “nudes” (imagens da pessoa nua).
Segundo pesquisas divulgadas por sites
especializados, mais de 50% das mulheres com acesso a redes sociais já
enviaram, ao menos, uma foto de nudes e mais de 42% dos homens já realizaram
tal prática (TRIBUNA DO CEARA, out. 2016).
A postagem da imagem de “nudes” acontece no
âmbito privado, mas, em vários casos, quem recebe as imagens salva as fotos e
as compartilha nas redes sociais, tornando-as de domínio público. Tal atitude
pode ser responsabilizada criminalmente; no entanto, nenhuma condenação poderá
reparar o dano moral causado. Os que tiveram suas fotos divulgadas passaram e
passam por diversos infortúnios, tais como o bullying, automartírio, abalos
psicológicos e alguns chegam inclusive ao extremo de cometer o suicídio, O
ideal mesmo é não compartilhar nenhuma imagem íntima nem sua e nem de
terceiros, primeiro por ser uma prática imoral (Gl 5.19) e segundo por ser uma
conduta antiética.
III. A REDE SOCIIIL A SERVIÇO DO REINO DE DEUS
A igreja de Cristo precisa ser consciente
quanto ao potencial das redes sociais e deve usá-la na propagação do Reino de
Deus. Mas para evangelizar nas mídias não basta postar mensagens de cunho
cristão; é indispensável o bom testemunho do usuário na rede de computadores.
1. O Bom
Testemunho nas Redes Sociais
Cristo ensinou que o cristão é a luz do mundo
(Mt 5.14) e que essa luz deve resplandecer por meio das boas obras a fim de
glorificar o nosso Pai que está nos céus (Mt 5.16). Desse modo, para o bom
testemunho nas redes sociais, o cristão não deve postar comentários negativos
ou fazer pré-julgamento das pessoas. Deve tomar todo cuidado e precaução com fotos
e vídeos que publicar, sejam pessoais, sejam de terceiros. Avaliar o conteúdo,
a coerência, o vocabulário e a ética cristã das mensagens antes de postar,
comentar ou curtir. Paulo nos ensina a fazer de tudo para ganhar as pessoas
para Cristo (1 Co 9.22).
Importância
da boa reputação
O requisito de boa reputação é fator
preponderante na evangelização, tanto a pessoal (corpo a corpo) quanto a
virtual (Internet). O bom caráter e a idoneidade daquele que evangeliza deve
ser testemunhado pelos não crentes. Espera-se dos cristãos que desfrutem de um
viver reto e íntegro, por meio da oração e santificação no Espírito Santo.
Se isso não for observado, a evangelização
será inócua, quem evangeliza será difamado e envergonhado, a igreja colocada em
descrédito e o evangelho de Jesus vilipendiado:
Um viver incoerente, contraditório com os
valores morais e éticos do evangelho, certamente inviabilizaria toda e qualquer
possibilidade de ser reconhecido como um líder cristão, como um instrumento de
bênção nas mãos de Deus. Um viver incompatível com o evangelho apenas revela o
profundo abismo existente entre o homem e Deus. (EMAD, 2005, p. 241)
Somos servos de Deus e estamos sendo
observados. Se quisermos testemunhar de Cristo e seu evangelho, precisamos
vigiar nossa conduta. Portanto, é inadmissível que aqueles que usam as redes
sociais para provocar constrangimentos, estimular o preconceito e a
discriminação, enviar ou receber “nudes”, curtir e compartilhar imagens, vídeos
e mensagens com conteúdo lascivo ou duvidoso possam ter autoridade moral ou espiritual
para evangelizar alguém. Quanto à necessidade de evangelizar corretamente,
Paulo nos alertou: “se o faço de boa mente, terei prêmio; mas, se de má
vontade, apenas uma dispensação me é confiada” (1 Co 9.17)
2. O Uso
Correto da Evangelização Digital
A Internet é uma grande aliada na divulgação
do evangelho, porém alguns cuidados são necessários para não tornar a mensagem
inócua. As postagens não podem ser grandes e os vídeos não podem ser demorados.
A mensagem precisa ser clara, concisa e objetiva. Antes de compartilhar as
imagens, deve-se verificar a veracidade bíblica daquela mensagem e o seu teor
teológico. Em lugar de postagens com frases de efeito ou de auto ajuda,
devem-se priorizar os versículos bíblicos. Ao reproduzir áudios e vídeos,
deve-se verificar se não existe algo que possa causar escândalos ou
intolerância religiosa. Também não se deve atacar a ninguém, apenas anunciar e
confessar a Cristo (1 Co 1.23,24).
Evangelizar
é comunicar
No decorrer da história da humanidade, Deus
tem se revelado e se comunicado com o ser humano. O escritor aos Hebreus
assevera que Deus falou antigamente aos pais, pelos profetas, e a nós falou-nos
nestes últimos dias pelo seu Filho (Hb 1.1). Desse modo, o ápice da comunicação
divina acontece na Encarnação do Verbo Divino: “o Verbo se fez carne e habitou
entre nós, e vimos a sua glória” (Jo 1.14). Jesus Cristo é o encontro mais
pleno alcançado entre Deus e o homem. Ao revelar sua mensagem aos escolhidos,
Deus desejou que ela fosse compartilhada com todos: “Ide, portanto, fazei
discípulos de todas as nações, batizando-os em nome do Pai, e do Filho, e do
Espírito Santo; ensinando-os a guardar todas as coisas que vos tenho ordenado”
(Mt 28.19, ARA).
Portanto, evangelizar não é simplesmente
anunciar uma doutrina, mas é comunicar-se com o outro, isto é, “entrar em
diálogo, relacionar-se, viver em comunhão com Deus para poder testemunhar com
autenticidade Aquele em quem se crê e entrar em comunhão com outras pessoas”
(SILVA, 2015, p. 12). Sob essa perspectiva, as redes sociais tornam-se um campo
fértil para a comunicação do evangelho.
Resultados
promissores
Em 2011, a Global Media Outreach (Alcance
Global pela Mídia) divulgou que mais da metade das pessoas que se decidem por
Cristo na Internet posteriormente compartilham sua fé com outros internautas.
Desses convertidos on-line, 34% afirmam ler a Bíblia Sagrada diariamente. O
estudo denominado de “Indice do Crescimento Cristão” ouviu mais de 100 mil
pessoas ao redor do mundo. Segundo Walt Wilson, presidente da instituição,
desde a sua fundação, em 2004, mais de 15 milhões de pessoas já se decidiram
por Cristo.
A eficácia da evangelização pode ser resumida
em três processos bem simples: (i) levá-los ao Salvador — páginas web que
ajudem a encontrar Jesus; (ii) alimentá-los na fé — websites de discipulado e
guias para recém-conversos; e, (iii) conectá-los à Igreja — conduzir o
convertido a frequentar uma igreja local. Para isso, explica Wilson, não basta
ter uma página na internet, transmitir cultos e comunicar-se pelas web rádios.
O resultado se obtém por meio do discipulado e a comunicação com o novo
convertido; essas ações são tão imprescindíveis quanto o evangelismo (ARAGAO,
Dez. 2011).
Evangelista Isaias
Silva de Jesus
Igreja Evangélica
Assembléia de Deus Ministério Belém Setor I - Em Dourados – MS
Livro Valores Cristãos
– lª. Edição CPAD – Douglas Baptista