A MORDOMIA DO TRABALHO
Texto Base: 2Tessalonicenses 3:6-13
''Porque, quando ainda estávamos convosco,
vos mandamos isto: que, se alguém não quiser trabalhar, não coma também"
(2Ts.3:10).
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Tessalonicenses 3: 6-13
INTRODUÇÃO
Trataremos nesta
Aula da Mordomia do Trabalho. A pessoa se revela através do seu trabalho. O
Salmo 19 diz que Deus Se revela ao mundo através da Sua obra. Por meio da
revelação natural, a existência de Deus é conhecida por todas as pessoas na
Terra. Assim, o trabalho revela algo sobre aquele que o realiza; ele expõe o caráter
subjacente, motivações, habilidades e traços da personalidade. Jesus repetiu
este princípio em Mateus 7:15-20 quando declarou que as árvores ruins produzem
apenas frutos ruins e boas árvores somente bons frutos. Isaías 43:7 indica que
Deus criou o homem para a Sua própria glória. Em 1Coríntios 10:31, lemos que
tudo o que fazemos deve ser para a Sua glória. O
termo glória significa "dar uma representação precisa". Por
isso, o trabalho feito por cristãos deve dar ao mundo uma imagem fiel de Deus
em sua justiça, fidelidade e excelência. Podemos, então, e devemos, glorificar
a Deus com o nosso trabalho.
I. O TRABALHO DE DEUS NA BÍBLIA
É fundamental que
se compreenda que a origem do trabalho não começa conosco, começa com Deus. A
Bíblia Sagrada é o compêndio apropriado para quem quer saber sobre a origem do
Trabalho. O livro de Gênesis inicia a história da salvação revelando o trabalho
de Deus na criação do Universo - “No princípio, Deus criou os céus e a
terra” (Gn.1:1). Deus é o mais dedicado trabalhador.
Geralmente, nós
consideramos que a história do trabalho tem começo a partir da Queda e termina
quando Jesus voltar. De fato, essa história começou no Jardim do Éden, muito
antes da Queda, e continuará no Novo Céu e na Nova Terra.
1. O Trabalho de Deus na criação do Universo
Na passagem de
abertura das Escrituras Sagradas, Deus é o trabalhador primário, ocupado com a
criação do Universo (Gn.1:1-15) - “No princípio, Deus criou os céus e a terra”
(Gn.1:1). A Bíblia diz que Deus trabalhou por seis dias e descansou no sétimo
(Êx.20:11; Ne.9:6). Nos primeiros dois capítulos de Gênesis, somos informados
sete vezes que Deus criou algo e doze vezes que ele fez alguma coisa. Os atos
de criar e de fazer são resumidos como seu trabalho - “No sétimo dia, Deus
havia terminado sua obra de criação e descansou de todo o seu trabalho” (Gn.2.2).
Deus foi o
primeiro a trabalhar sobre a terra; portanto, o legítimo trabalho reflete a
atividade de Deus. Porque Deus é inerentemente bom, o trabalho também é
inerentemente bom (Salmos 25:8, Ef.4:28). Além disso, Gênesis 1:31 declara que
quando Deus viu o fruto do Seu trabalho, Ele disse que era tudo "muito
bom", alegrando-se com o resultado. Por este exemplo é evidente que o
trabalho deve ser produtivo e deve ser conduzido de uma maneira que produza um
resultado da mais alta qualidade. A sua recompensa é a honra e a satisfação que
vêm de um trabalho bem feito.
2. O Trabalho de Deus na criação do homem
O momento supremo
do trabalho criativo de Deus não foi a criação de galáxias distantes, da fauna
e da flora, mas a criação do homem e da mulher (Gn.1:27). Assim como o resto da
criação, somos o produto do trabalho de Deus. No entanto, de forma singular e
distinta de todos os outros seres criados, somos feitos à imagem de Deus. De
todas as implicações desse fato, isso significa, principalmente, que fomos
criados para ser um reflexo de Deus para o mundo, uma reapresentação dele na
Terra. Vemos isso, primeiro, em Gênesis 1:28, que diz:
“Sejam férteis e multipliquem-se. Encham e governem
a terra. Dominem sobre os peixes do mar, sobre as aves do céu e sobre
todos os animais que rastejam pelo chão”.
Até esse ponto da
narrativa, tudo o que Deus disse aos pássaros, aos peixes e aos outros animais
foi dito também a Adão. Como todas as outras criaturas, estamos destinados a
reproduzir. Mas Deus afirma que nós não fomos criados apenas para encher a
terra, como os demais animais; nós devemos “governá-la” e “dominá-la” sobre
tudo e sobre todos.
Temos trabalho a
fazer, e não é qualquer trabalho. Trata-se de refletirmos, através do trabalho,
a própria natureza de Deus. Deus é claramente Rei sobre a criação. Ele diz aos
seres humanos: governem o mundo como meus representantes, os portadores da
minha imagem. E foi só nesse ponto da narrativa que Deus declarou ser sua obra
muito boa e depois descansou (confira Gênesis 1:27 – 2:3).
3. O Trabalho continua
Após criar o
Universo, todas as criaturas viventes, a natureza, o ser humano, Deus continuou
a trabalhar; Ele não se aposentou; não se isolou, fechando-se num céu muito
distante e entregando a Terra e o ser humano à sua sorte, como afirmaram, e
ainda afirmam alguns adeptos de heresias inspiradas por Satanás. Não! Deus
nunca ficou alheio a tudo que acontece na Terra, conforme afirmou o Profeta
Hanani: “Porque, quanto ao Senhor, os
seus olhos passam por toda a terra, para mostrar-se forte para com aqueles cujo
coração é perfeito para com ele...” (2Cr.16:9).
“Os olhos do SENHOR estão em todo lugar,
contemplando os maus e os bons” (Pv.15:3).
Deus, nas Pessoas
do Pai, do Filho e do Espírito Santo, da mesma forma que havia trabalhado na
criação de todas as coisas e na reconstrução da Terra, continuou trabalhando,
agora, num novo projeto.
O capítulo 2 de
Gênesis inicia com Deus trabalhando novamente; só que, agora, não é o trabalho
de criar, mas o trabalho de governar e de ordenar tudo o que Ele fez. Deus
plantou um Jardim; literalmente, um Paraíso. Você pode imaginar como se fosse
uma propriedade rural bem organizada, e lá Ele colocou o primeiro homem. Surge,
então, uma pergunta: como Deus criou um Paraíso dentro de um mundo já perfeito?
Resposta: Deus criou um lugar perfeitamente adaptado para o florescimento
humano. Lá, ele colocou Adão. Está escrito:
“O SENHOR Deus colocou o homem no jardim do Éden
para cultivá-lo e tomar conta dele”(Gn.2:15).
Deus não é inerte,
parado; Deus é vida, é ação. Ele trabalhou e continua trabalhando no Seu plano
elaborado “desde a fundação do mundo” (Ap.13:8). Sobre o trabalhar contínuo de
Deus, declarou o Senhor Jesus, em resposta a alguns acusadores: "Meu Pai
trabalha até agora, e eu trabalho também" (João 5:17). O Deus revelado nas
Escrituras, o Criador dos céus e da terra, continua trabalhando em prol de sua
criação.
“Tu visitas a terra e a refrescas; tu a enriqueces
grandemente com o rio de Deus, que está cheio de água; tu lhe dás o trigo,
quando assim a tens preparada; tu enches de água os seus sulcos, regulando a
sua altura; tu a amoleces com a muita chuva; tu abençoas as suas novidades”
(Sl.65:9,10).
“Porque desde a antiguidade não se ouviu, nem com
ouvidos se percebeu, nem com os olhos se viu um Deus além de ti, que trabalhe
para aquele que nele espera” (Is.64:4).
Deus continua
trabalhando e o homem deve trabalhar também. O papel dos seres humanos é
trabalhar a Terra, tornando-a aquilo que pode sustentar a vida; e o papel de
Deus é provê-la de tudo o que é necessária (Gn.8:22).
“Enquanto a terra durar, sementeira e sega, e frio e
calor, e verão e inverno, e dia e noite não Cessarão”.
Esses dois papéis
da humanidade e de Deus são os fatores mais fundamentais da existência, cuja
ausência significaria o estado do mundo antes da criação: sem forma e vazio.
É claro que, nesta
Dispensação, o trabalho prioritário de Deus é, sem dúvidas, a preparação da
Igreja. Porém, mesmo depois do Arrebatamento da Igreja, Deus não cessará de
trabalhar, e nem nós, conforme nos advertem as Escrituras Sagradas.
“E ali nunca mais haverá maldição contra alguém; e
nela estará o trono de Deus e do Cordeiro, e os seus servos o servirão”
(Ap.22:3).
II. A BÍBLIA E A MORDOMIA DO TRABALHO
1. O homem foi criado para o Trabalho
O trabalho é dom
de Deus, não um castigo pelo pecado. Mesmo anterior à Queda, o homem tinha
deveres a cumprir. Deus estabeleceu atividades laborais que fizessem parte de
sua vida (Gn.2:5,7,8,15).
5.Toda planta do campo ainda não estava na terra, e
toda erva do campo ainda não brotava; porque ainda o SENHOR Deus não tinha
feito chover sobre a terra, e não havia homem para lavrar a terra.
7.E formou o SENHOR Deus o homem do pó da terra e
soprou em seus narizes o fôlego da vida; e o homem foi feito alma vivente.
8.E plantou o SENHOR Deus um jardim no Éden, da
banda do Oriente, e pôs ali o homem que tinha formado.
15.E tomou o SENHOR Deus o homem e o pôs no jardim
do Éden para o lavrar e o guardar.
“Deus organizou
deliberadamente a vida de tal maneira que ele precisa da cooperação dos seres
humanos para o cumprimento dos seus propósitos. Ele não criou o planeta Terra
para ser produtivo por si mesmo; os seres humanos têm que subjugá-lo e
desenvolvê-lo. Ele não fez um jardim cujas flores se abririam e os frutos
amadureceriam por conta própria; Ele designou um jardineiro para cultivar a
terra. Chamamos isso de “mandato cultural”, que Deus deu à raça humana.
“Natureza” é o que Deus nos dá; “cultura” é o que nós fazemos com ela. Sem um
agricultor humano, todo jardim ou campo se degeneraria rapidamente,
transformando-se num deserto.
Na verdade, Deus
fornece o solo, a semente, o sol e a chuva, mas nós temos que arar, plantar e
colher. Deus fornece as árvores frutíferas, mas nós temos que podá-las e
apanhar os frutos. Como Lutero disse certa vez num sermão sobre Gênesis, ‘Pois
por seu intermédio Deus trabalhará todas as coisas; ele vai ordenhar as vacas e
desempenhar as tarefas mais humildes por meio de você, e todas as tarefas, da
maior até a menor, serão agradáveis a ele’. De que valeria a provisão que Deus
faz para nós de uma vaca cheia de leite se nós não estivéssemos lá para
ordenhá-la?
Assim, há
cooperação, na qual nós realmente dependemos de Deus, mas na qual ele também
depende de nós. Deus é o Criador; o homem é o agricultor. Cada um necessita do
outro. No bom propósito de Deus, criação e cultivo, natureza e criação,
matéria-prima e perícia profissional humana são indissociáveis. Esse conceito
de colaboração divino-humana é aplicável a todas as tarefas honrosas” (John Stott. Os cristãos e os desafios
contemporâneos).
Devemos
administrar com eficiência os bens do nosso Criador e Senhor. Ele se humilhou e
nos honrou ao fazer-se dependente da nossa cooperação. Qualquer que seja nosso
trabalho – no ensino, na medicina, nas leis, nos serviços sociais, na
arquitetura ou construção, nas políticas nacional ou local, ou no serviço
civil, na indústria, no comércio, no cultivo do solo ou na mídia, em pesquisa,
na administração, no serviço público, nas artes, em casa, na área de
tecnologia, na Igreja – devemos fazê-lo como sendo cooperação com Deus.
2. O Trabalho antes da Queda
Antes da Queda,
Deus criou um lindo Jardim para que Adão trabalhasse, cuidasse dele e fosse sua
morada. As duas primeiras atividades laborais de Adão, o primeiro homem, foram
"lavrar" e "guardar" a terra. A mulher, Eva, é criada como
sua ajudante e companheira (Gn.2:18). Assim, Adão e Eva deveriam,
literalmente, cultivar o Jardim, fazê-lo crescer e florescer; eles
também foram colocados lá para guardá-lo e para protegê-lo de qualquer coisa
que pudesse danificá-lo ou prejudicá-lo.
Tudo isso é muito
importante porque o trabalho que Deus deu a Adão e Eva é o paradigma para todo
trabalho humano. Para entendermos melhor, pense por um momento sobre o Jardim
do Éden. Aquele era o lugar que Deus projetou para o florescimento humano. Não
há mais nada na Terra para eles fora daquele lugar.
- O Éden era a casa, onde eles viviam o casamento e criavam a sua família.
- O Éden era o templo, onde eles se encontravam com Deus.
- O Éden era o local de trabalho, onde se empregavam produtivamente naquilo que Deus lhes deu para fazer.
Você e eu nunca
experimentamos o que eles experimentaram: um mundo no qual as divisões e os
conflitos de interesse entre igreja, local de trabalho e família não existiam.
Naquele mundo incrível, o trabalho deles era tomar aquele
Jardim-Casa-Templo-Local-de-trabalho e protegê-lo, cultivá-lo, fazê-lo
florescer e crescer, até que o mundo inteiro, e não apenas aquele pequeno
cantinho, tornasse um paraíso. Por que eles deveriam fazer tudo isso? Porque
eles foram criados à imagem de Deus.
- Assim como Deus criou, eles deveriam criar.
- Assim como Deus governou e tomou conta, eles deveriam governar e cuidar.
- Assim como Deus criou um mundo frutífero e florescente, eles deveriam proteger e promover esse florescimento e fecundidade.
O trabalho desse
primeiro casal, como representante de Deus, era pegar o que Deus tinha começado
e levar adiante – para revelar a glória do Criador. O propósito do trabalho não
era revelar quem eles eram ou poderiam se tornar através do que faziam; o
objetivo era revelar, através do trabalho deles, quem Deus realmente é:
Criador, Governador, Protetor e Provedor de todas as coisas. Tendo sido criados
à imagem do Criador, o trabalho de Adão e Eva testificaria dEle.
O propósito
original do trabalho humano era o avanço do florescimento humano para a glória
de Deus. Nosso trabalho, em qualquer esfera que operemos – em casa, na
igreja, no local de trabalho – é mostrar a bondade e a magnificência do caráter
divino como portadores que somos da imagem de Deus. Fazemos isso enquanto
cultivamos o “jardim” que nos foi confiado, para o florescimento dos seres
humanos ao nosso redor, para o louvor da glória de Deus.
3. O Trabalho depois da Queda
Antes da Queda, a
verdadeira felicidade preenchia todo o Jardim do Éden. Mas, depois da Queda,
veio o caos. Não sabemos quanto tempo decorreu entre o dia em que Adão
conseguiu seu primeiro emprego e o dia em que tudo deu errado. O que está
claro, porém, é que uma maneira de entender o que os teólogos chamam de Queda é
entender que Adão e Eva caíram no trabalho. Lembre-se: eles foram colocados no
Jardim para cuidar dele; eles eram os mordomos de confiança do Criador e dono
da Terra; eles deveriam cuidar dele e guardá-lo. Contudo, em ambos os casos –
cuidar e guardar o Jardim -, eles falharam.
Satanás, o inimigo
de Deus e dos homens, apareceu no Éden. O primeiro casal, em vez de proteger o
Jardim, expulsando de lá o adversário, estenderam-se com ele numa trágica
conversa (Gn.3:1-5). Depois, no final da conversa, em vez de administrarem o
Jardim, eles tentaram usá-lo para si mesmos (Gn.3:6), abusando de sua própria
autoridade e arruinando-a para toda a posteridade. Logo após, Adão e Eva
perceberam que puseram tudo a perder (Gn.3:7).
O Senhor do
Jardim, Deus, apareceu para inspecionar o trabalho, mas Adão e Eva estavam
escondidos em um local qualquer - “entre as árvores do Jardim” (Gn.3:8-9).
Todos sabemos como é obter uma avaliação negativa de desempenho no trabalho.
Alguns de nós sabem inclusive o que é ser demitido, mas o que Adão e Eva
experimentaram foi pior do que qualquer uma das situações que citei. Eles foram
expulsos do Jardim, mas eles não foram aliviados de suas responsabilidades;
eles ainda eram responsáveis por representar a Deus; eles ainda deviam
trabalhar. Mas, as condições de seu trabalho mudaram radicalmente: o mundo onde
agora trabalhariam estava amaldiçoado por causa de seus pecados. Em Gênesis 3:17-19
está assim escrito:
“E a Adão disse: Porquanto destes ouvidos à voz de
tua mulher e comeste da árvore de que te ordenei, dizendo: Não comerás dela,
maldita é a terra por causa de ti; com dor comerás dela todos os dias da tua
vida. Espinhos e cardos também te produzirá; e comerás a erva do campo. No suor
do teu rosto, comerás o teu pão, até que te tornes à terra; porque dela foste
tomado, porquanto és pó e em pó te tornarás”.
Observe que, por
causa da Queda, tudo foi distorcido na vida do ser humano. Três coisas
aconteceram com o trabalho de Adão e Eva, e também aconteceriam com a sua
posteridade, chegando até nós.
3.1. O trabalho tornou-se
infrutuoso e com fadiga.
Mesmo que Adão trabalhasse penosamente no solo, durante toda a sua vida, o solo
estava amaldiçoado sob seus pés.
“Maldita é a terra por causa de ti; com dor comerás
dela todos os dias da tua vida. Espinhos e cardos também te produzirá; e
comerás a erva do campo” (Gn.3:17,18).
Há quem pense que
o trabalho é parte da maldição, porém a Bíblia não ensina tal coisa; ensina,
sim, que a maldição transformou o trabalho bom em algo infrutuoso e com fadiga
(Gn.3:17). A maldição está mais ligada à tristeza, à frustração, ao cansaço que
acompanham o trabalho.
Por causa da
Queda, aspirações vão constantemente ser vencidas pela realidade, e por mais
duro que se tente, a realidade nunca vai mudar, pois a Terra foi amaldiçoada.
Por mais que se trabalhe duro, por vezes, o que se experimenta é futilidade,
penúria, inutilidade, insignificância.
Toda a raça humana
e a própria natureza ainda continuam sofrendo como consequência do juízo
pronunciado sobre o primeiro pecado. O apóstolo Paulo fala poeticamente de uma
criação que "geme e está juntamente com dores de parto até agora"
(Rm.8:22). O que era leve, suave e agradável, por causa do pecado, tornou-se
pesado, brutal e desagradável.
Mas, Deus faz uma
promessa de um juízo redentivo (Gn.3:15). Ao invés de lançar apenas juízos
inclementes e condenatórios sobre o casal, Deus, o Justo Juiz, abriu um
espaço para a redenção - “E porei inimizade entre ti e a mulher e entre a tua
semente e a sua semente; esta te ferirá a cabeça, e tu lhe ferirás o
calcanhar”. É a mais gloriosa promessa de redenção, de soerguimento do homem da
condenação e da maldição da Terra.
3.2. O trabalho tornou-se
penoso, desgastante
- “No suor do teu rosto, comerás o
teu pão, até que te tornes à terra; porque dela foste tomado, porquanto és pó e
em pó te tornarás” (Gn.3:19). Isso é tão básico para a nossa
experiência com o trabalho que é difícil imaginar como o trabalho deve ter sido
antes da Queda. Afinal, até mesmo um trabalho que amamos tem pelo menos algum
aspecto que é cansativo, tedioso e mesmo doloroso.
No mundo caído, o
trabalho é penoso, desgastante. Inúmeras são as pessoas que se encontram mentalmente
esgotadas e cansadas por causa de suas atividades profissionais. Os
consultórios médicos estão lotados de pessoas com estafa e estresse. Muitos
suicídios acontecem por causa do trabalho estafante, penoso. Há textos na
Bíblia que nos lembram dessa realidade: "Tenho visto o trabalho que Deus
deu aos filhos dos homens, para com ele os afligir" (Ec.3:10). Jó também
declarou: "...o homem nasce para o trabalho, como as faíscas das brasas se
levantam para voar" (Jó 5:6,7).
3.3. O trabalho tornou-se
um ato compulsório de sobrevivência. O que era um ato livre de adoração agora é
um ato compulsório de sobrevivência. Disse Deus: “No suor do teu rosto, comerás o teu pão, até que te tornes à terra;
porque dela foste tomado, porquanto és pó e em pó te tornarás” (Gn.3:19).
No Jardim, Adão não tinha de trabalhar para comer. Deus tinha plantado um
pomar, e tudo o que Adão precisava estava lá para pegar e comer. Mas, agora há
uma urgência, uma compulsão, uma ordem para trabalhar. Como Paulo
disse: “Quem não quiser trabalhar não deve comer” (2Ts.3:10). Não é
que o trabalho tenha, agora, se tornado ruim; não é que o trabalho seja punição
pelo pecado; é que, num mundo caído, o trabalho penoso e infrutuoso é também
implacável. Gostemos ou não, devemos trabalhar. Nós não podemos escapar dele,
exceto na morte.
III. PRINCÍPIOS CRISTÃOS PARA O TRABALHO
1. O homem deve trabalhar "com o suor
de seu rosto"
Após a Queda, o
trabalho tornou-se difícil. Por causa do pecado as pessoas têm de trabalhar
muito para conseguir alcançar os resultados que antes da Queda eram bem mais
tranquilos. Lendo o texto de Gênesis 3:19 podemos entender isso: “Terá de
trabalhar no pesado e suar para fazer com que a terra produza algum alimento”.
Por causa do
pecado do primeiro homem, Adão, temos que trabalhar pesado para conseguirmos os
resultados desejados. Apesar disso, Deus é bom o suficiente para fazer com que
o nosso trabalho tenha significado e ajude outras pessoas, principalmente
quando nós estivermos fazendo a coisa certa, que é aquilo que está ligado à sua
missão aqui na terra.
Portanto, todas as
pessoas precisam trabalhar, a não ser aquelas que tenham algum impedimento
físico ou mental.
O apóstolo Paulo
foi enfático com os cristãos da igreja em Tessalônica: “Quando estávamos aí,
demos esta regra: Quem não quer trabalhar, que não coma” (2Ts.3:10). Por
que ele disse isso? Será que tinha raiva do pessoal de lá? Claro que não. Ele
sabia que, segundo o plano de Deus, devemos ganhar o nosso pão de cada dia por
meio do trabalho.
2. Trabalhar sem ansiedade
Ansiedade é desejo
veemente e impaciente, é aflição, agonia, é falta de tranquilidade, é receio. É
possível trabalhar sem ansiedades quando se tem Fé e quando se tem Paz. A Fé
funciona como antídoto, ou agente neutralizador da ansiedade. Quem tem Fé não
se desespera. Davi tinha Fé, por isto afirmou: “Esperei com paciência no
Senhor, e ele se inclinou para mim, e ouviu o meu clamor” (Salmos 40:1). Quem
tem Fé para esperar com paciência não pode padecer de ansiedades. Você é uma
pessoa de Fé? Se sua resposta for afirmativa, então, a ansiedade não poderá
nunca encontrar guarida em seu coração, pois, pela fé, você tem “a prova das
coisas que se não veem”. Consola-nos o apóstolo Pedro: “lançando sobre ele toda a vossa ansiedade, porque ele tem cuidado de vós”
(1Pd.5:7).
Ansiedade contrasta, também, com a Paz; são duas
virtudes antagônicas. Onde existe uma, não pode existir a outra. No coração do
homem que tem paz, não pode haver ansiedade. A paz é uma herança que o Senhor
Jesus deixou aos seus discípulos (João 14:27). Você é um discípulo de Jesus? Se
sua resposta for afirmativa, então, descanse na sua Paz!
2.1. É possível trabalhar
sem ansiedade quando se sabe estar realizando a vontade de Deus. Para o homem sem Deus, ou até para aquele que
se diz “crente”, mas não conhece a Palavra de Deus, trabalhar se torna uma
obrigação, um agente gerador de ansiedade. Trabalham, mas, trabalham de mal com
o trabalho, vendo na pessoa do patrão, um agente escravizador. Isto não pode
acontecer com aquele que conhece a Palavra de Deus.
O trabalho foi
instituído por Deus, mesmo antes da Queda do homem; trabalhar, portanto,
significa cumprir a vontade de Deus. Para um filho de Deus ter um trabalho e
poder tirar dele sua subsistência, deve ser considerado como uma bênção, não como
um sacrifício. Você já agradeceu a Deus, hoje, pelo seu emprego, ou pela sua
profissão?
2.2. É possível trabalhar
sem ansiedade quando aprendemos a contentar com o que temos. A ganância, o
desejo incontido de ter aquilo que não se pode ter em consequência do pouco que
ganha, é motivo que leva a pessoa a trabalhar com ansiedade. Paulo não tinha
este problema, pois, podia dizer: “já aprendi a contentar-me com o que tenho”
(Fp.4:11). Esta é uma receita capaz de neutralizar o desejo incontido, a
cobiça, a ambição, que são agentes geradores de ansiedades.
- É por não saber contentar com o que tem, que alguns, crentes e não crentes, afundam no crediário, contraindo dívidas sem planejamentos.
- É por não saber contentar com o que tem que muitos abusam dos cartões de crédito e dos cheques pré-datados.
- É por não saber contentar com o que tem que muitos insistem em viver de aparência, tentando manter um “status” artificial, não concordando em ser o que realmente são. Um homem de Deus não pode viver de aparência, precisa ser o que realmente é.
Uma má
administração financeira, pessoal, ou familiar, leva ao desequilíbrio entre
receita e despesa, ou entre o que se ganha e o que se gasta. Isto acontece,
muitas vezes, por não saber contentar-se com o que tem.
Trabalhar sabendo
que não terá o suficiente para cobrir os compromissos assumidos, pode ser
motivo para trabalhar com ansiedades.
3. Trabalhar para não ser pesado a ninguém
Este é um
princípio ensinado pelo apóstolo Paulo aos cristãos de Tessalônica, e que se
aplica a todos nós. Ele mesmo se dispôs a trabalhar, “noite e dia”, para não
dar despesas aos cristãos daquela igreja, para não se aproveitar da bondade
deles (cf. 2Ts.3:8).
O apóstolo Paulo é
enfático na sua advertência quanto ao dever de trabalhar (2Ts.3:10), e que o
trabalho é a forma corriqueira de aquisição de bens materiais de acordo com a
Palavra de Deus. Mas, também, nos mostra que deve ser privado de ajuda aquele
que não quer trabalhar, ou seja, aquele que, deliberadamente, prefere o ócio ao
trabalho, sendo, assim, rebelde à ordenança do Senhor.
Há muitas pessoas,
nos nossos dias, que passam por sérias necessidades econômico-financeiras,
estão na miséria, mas não em razão da desigualdade social ou do desemprego, mas
por não quererem trabalhar, por recusarem seguir a ordem divina do trabalho.
Muitos dizem: para que trabalhar, se a vida é tão efêmera, passageira, e que
Jesus já está às portas? A consciência da transitoriedade da “figura deste
mundo” (cf. 1Co.7:31) não isenta ninguém de trabalhar (cf. 2Ts.3:7-15), pois o
trabalho é parte integrante do ser humano, mesmo não sendo a única razão desta
vida.
Nenhum cristão
deve sentir-se no direito de não trabalhar e de viver às custas dos outros (cf.
2Ts.3:6-12); todos são exortados pelo apóstolo Paulo a tomar como um ponto de
“honra” o trabalhar com as próprias mãos de modo a não ter “necessidade de
ninguém” (1Ts.4:11,12), e a praticar uma solidariedade também material,
compartilhando os frutos do trabalho com “os necessitados” (Ef.4:28).
“e procureis viver quietos, e tratar dos vossos
próprios negócios, e trabalhar com vossas próprias mãos, como já vo-lo temos
mandado; para que andeis honestamente para com os que estão de fora e não
necessiteis de coisa alguma” (1Ts.4:11,12).
“Aquele que furtava não furte mais; antes, trabalhe,
fazendo com as mãos o que é bom, para que tenha o que repartir com o que tiver
necessidade” (Ef.4:28).
4. A Bíblia condena expressamente a preguiça
(Pv.6:6,9; 13:4; 19:24)
Conhecida é a
passagem em que Salomão manda o preguiçoso observar a formiga, e manda que
observe os caminhos dela e seja sábio, passando a trabalhar (Pv.6:6); como
também o provérbio em que considera o preguiçoso como o filho que envergonha
(Pv.10:5), o falta de juízo (Pv.12:11) e um candidato à pobreza (Pv.20:13). Uma
das características da mulher virtuosa é o fato de não ser preguiçosa, mas
trabalhadora (Pv.31:13). Assim, como podemos ter alguém que se diz servo de
Deus e é preguiçoso?
As palavras do
apóstolo Paulo foram muito claras e incisivas: “se alguém não quiser trabalhar,
que não coma também” (2Ts.3:10b). Lamentavelmente, muitas igrejas locais têm
deixado de lado este ensino bíblico, o que tem gerado um sem-número de
distorções, em prejuízo dos mais necessitados.
Porém, se o
problema não for preguiça, mas uma involuntária causa que impeça a pessoa de
trabalhar, como é o caso dos inválidos, dos idosos e demais incapacitados para
o trabalho, aí, sim, deve atuar um serviço de ação social, de assistência
social, a fim de suprir as necessidades básicas dessa pessoa, que não pode
trabalhar, embora o queira. Aliás, é este o limite que deve discernir quem deve
e quem não deve ser ajudado pela assistência social de uma Igreja Local.
Mesmo no caso de
estarmos desempregados, não temos desculpa para ficar ociosos. Enquanto
estivermos sem trabalho remunerado devemos: gastar tempo à procura do trabalho
digno; trabalhar no que vier à mão para fazer, pois todo trabalho dignifica a
pessoa. A prática da parábola dos talentos (Mt.25:14-30), como ensino sobre
nosso empenho no reino de Deus, também pode ser aplicado no cotidiano: fiéis no
pouco, sobre muito serão colocados. Não comamos o pão da preguiça, jamais!
5. A relação de empregados e empregadores
Nas relações de
trabalho, os empregadores e os empregados cristãos devem manifestar os valores
da Palavra de Deus. A visão bíblica com relação a este aspecto é que deve haver
responsabilidades entre o empregador e o empregado.
O empregador deve
glorificar a Deus honrando os seus empregados, e o empregado deve honrar o seu
patrão sendo honesto com ele e dedicado nas tarefas e atividades. Quando uma
das partes quebra esse compromisso cristão está instalado a desonra a Deus
(Ef.6:5-9).
Os empregados cristãos não devem fugir
ao seu compromisso de trabalho; antes, devem executá-lo como se fosse ao Senhor.
“Vós, servos, obedecei a vosso senhor segundo a
carne, com temor e tremor, na sinceridade de vosso coração, como a Cristo, não
servindo à vista, como para agradar aos homens, mas como servos de Cristo,
fazendo de coração a vontade de Deus; servindo de boa vontade como ao Senhor e
não como aos homens, sabendo que cada um receberá do Senhor todo o bem que
fizer, seja servo, seja livre”(Ef.6:5-8).
Os patrões cristãos têm o dever de
zelar pelos direitos trabalhistas de seus empregados, sob pena de serem condenados
por Deus (Tg.5:4).
“Eis que o salário dos trabalhadores que ceifaram as
vossas terras e que por vós foi diminuído clama; e os clamores dos que ceifaram
entraram nos ouvidos do Senhor dos Exércitos” (Tg.6:5-8).
“E vós, senhores, fazei o mesmo para com eles,
deixando as ameaças, sabendo também que o Senhor deles e vosso está no céu e
que para com ele não há acepção de pessoas” (Ef.6:9).
CONCLUSÃO
O Trabalho não é
fruto do pecado, mas da Criação e é dádiva de Deus; é uma vocação de Deus para
o ser humano, que, em sua natureza, não pode viver sem o trabalho. Quando isso
ocorre, ele viola a sua própria natureza e a diretriz que o Criador lhe deu. É
vergonhoso que, em nome de qualquer coisa, o ser humano venha a recusar-se de
trabalhar. Deus espera que seus filhos trabalhem, glorificando a Deus e
abençoando o próximo. É dessa perspectiva que devemos exercer a nossa Mordomia
no Trabalho.
Luciano de Paula Lourenço
Disponível
no Blog: http://luloure.blogspot.com
Referências Bibliográficas:
Bíblia
de Estudo Pentecostal.
Bíblia
de estudo – Aplicação Pessoal.
Comentário
Bíblico popular (Antigo e Novo Testamento) - William Macdonald.
Revista
Ensinador Cristão – nº 79. CPAD.
Comentário
Bíblico Pentecostal. CPAD.
Comentário
do Novo Testamento – Aplicação Pessoal. CPAD.
Dr.
Caramuru Afonso Francisco. Trabalhando sem ansiedade. Portal-EBD_2005.
Pr.
Elinaldo Renovato. Tempo, Bens e Talentos – Sendo mordomo fiel e prudente com
as coisas que Deus nos tem dado. CPAD.
John
Stott. Os cristãos e os desafios contemporâneos.