Rute, Uma Mulher Digna de Confiança
Texto
Áureo - “[...] porque, aonde quer que tu fares, irei eu e,
onde quer que pousares à noite, ali pousarei eu; o teu povo é o meu povo, o teu
Deus é o meu Deus." (Rt 1.16)
Verdade
Prática = Deus usou Rute, quebrando todos os paradigmas
raciais, para torná-la parte da linhagem do Messias.
INTRODUÇÃO
O livro de Rute é
considerado umas das mais belas peças literárias do Antigo Testamento. Nele,
está registrada a genealogia do rei Davi, que se tornou, por desígnio de Deus,
o ancestral mais importante da genealogia de Jesus Cristo, o Messias e Salvador
do Mundo.
A história de Rute
desenrola-se “nos dias em que os juízes julgavam” (Rt 1.1). Por permissão de
Deus, houve uma grande fome em Israel, provavelmente por castigo pela
desobediência do povo. Uma família de Belém de Judá, cujo líder era Elimeleque,
teve de deixar sua terra para ir em busca de sobrevivência na região de Moabe.
Acompanhado de Noemi,
sua esposa, e de seus dois filhos, Malom e Quiliom, Elimeleque estabeleceu-se
“nos campos de Moabe” (Rt 1.1). Ali, morreu o pai daquela família e, mais
tarde, os seus dois filhos casaram-se com mulheres daquela terra — Malom
casou-se com Rute, e Quiliom casou-se com Orfa’. Ambos também morreram,
completando o ciclo da morte na família. E Noemi e suas duas noras ficaram
viúvas e desamparadas. No tempo estabelecido por Deus, Noemi volta para Belém —
após a bênção de Deus ter vindo sobre aquela terra — acompanhada apenas de sua
nora Rute, visto que a outra moça preferiu retornar à casa de seus pais.
I- RUTE: UM RESUMO DE SUA ORIGEM
1.
Uma Estrangeira
Neste estudo,
refletiremos sobre o caráter de uma mulher que se destacou de forma marcante e
muito significativa na história de Israel. Não foi por acaso que sua história
mereceu ser organizada num livro, que foi aceito como parte integrante do cânon
do Antigo Testamento. Sua identidade mostra-nos que ela era moabita, oriunda da
terra de Moabe. Essa condição, por motivos históricos e raciais, não lhe
favorecia em termos de relacionamento com o povo de Israel.
O nome Moabe aparece em
Gn 19.30-38, como o filho de Ló, numa relação incestuosa com sua filha mais
velha, que se tornou “pai dos moabitas”. Assim como Israel, Moabe era um povo
semita, e Rute pertencia a esse povo.
Certamente, sua
genealogia era vista de forma negativa pelos israelitas, mas um episódio que
tornou os moabitas adversários de Israel ocorreu quando o povo hebreu
deslocava-se em direção a Canaã. Por razões geográficas, o povo de Israel
precisava passar pelo território do deserto de Moabe sob a liderança de Moisés.
Os moabitas, porém, não permitiram, mas o Senhor Deus disse a Moisés para não
molestar a Moabe nem contender com eles em peleja (Dt 2.9).
Por esse motivo
bastante negativo, foi escrito um preceito legal, pelo qual, nem moabitas nem
amonitas poderiam fazer parte da “congregação do SENHOR” ou do povo de Israel,
“nem ainda a sua décima geração”.
A animosidade entre os
dois povos foi agravada por outro episódio bíblico. Os moabitas alugaram o
profeta Balaão para amaldiçoar Israel, mas eles não conseguiram esse intento
maligno porque Deus transformou a maldição em bênção (Dt 23.4-6; Ne 13.2). Essa
é a origem étnica de Rute.
2.
Como Rute Vinculou-se a uma Família Israelita
Como já foi dito, Deus
não escreve certo por linhas tortas, como diz um ditado popular. Ele escreve
perfeita e divinamente certo por suas próprias linhas. Em sua soberania, Ele
cria ou muda circunstâncias. De modo singular, fora da lógica histórica,
geográfica ou cultural, Rute entrou na história do povo de Israel, não por
coincidência, como se poderia supor, mas, sim, por providência de Deus, e Ele
usou fatos estranhos para que isso fosse possível. O Senhor age como quer. As
vezes, Ele age aparentemente contrariando seus próprios critérios, mas só de
modo aparente. Diz o salmista: “Mas o nosso Deus está nos céus e faz tudo o que
lhe apraz” (Sl 115.3).
Uma família judaica
teve que sair de Belém para escapar da seca que assolava a região. Eram eles:
Elimeleque, o líder; Noemi2’, sua esposa; e Malom e Quiliom, os dois filhos do
casal. Eles emigraram para a terra de Moabe, pois lá a estiagem não tinha
chegado e havia alimento. Ali, viveram durante quase dez anos (1.4). Não
padeceram fome, mas sofreram as agruras de uma vida atribulada. Maus dias
alcançaram aquela família. Lá, o patriarca Elimeleque faleceu. Os dois filhos
adaptaram-se àquele lugar e sua gente. Uma seca e três óbitos mudaram as
histórias dessas pessoas.
3.
Em Direção à Terra de Judá
A mão de Deus move-se
de um lado para outro conforme a sua santa e soberana vontade. O Senhor
permitiu uma grande seca em Belém e levou a família de Noemi para os “campos de
Moabe”, onde havia alimento (Rt 1.1). Dez anos depois, Ele concedeu a bênção da
fartura de pão em Israel (Rt 1.6). E a viúva de Elimeleque convidou suas duas
noras, também viúvas, para irem a Belém’, onde havia alimento. A princípio, as
duas noras começaram a jornada em direção a Belém de Judá.
Mas Noemi, sem dúvida,
pensando no futuro e no bem-estar delas, deteve-se e sugeriu às duas que
retornassem à casa de suas respectivas mães, desejando de coração que o Senhor
usasse de benevolência com elas, assim como usaram com Noemi e com os falecidos
esposos (Rt 1.8). E ela deu essa sugestão com muita sinceridade e
desprendimento, acrescentando: “O Senhor vos dê que acheis descanso cada uma em
casa de seu marido. E, beijando-as ela, levantaram a sua voz, e choraram” (Rt
1.9). Nessa atitude, vemos um traço valioso do caráter de Noemi: ela preferiria
viver a solidão em sua terra do que ver suas noras sofrerem ao seu lado. Ela
imaginava que, em Israel, elas talvez não seriam bem aceitas, tornando-se quase
impossível conseguir outro casamento.
Era a visão humana,
lógica, amorosa e sincera. Mas os planos de Deus eram outros em relação a Rute.
Os planos de Deus estão muito acima e além do que podemos imaginar (cf. Is
55.8). A Bíblia diz que nós, cristãos, não devemos buscar só o nosso proveito,
mas também o de outros (1Co 10.24,33). E nosso dever cultivar o altruísmo em
lugar do egoísmo. Noemi semeou amor, plantou altruísmo. E, mais tarde, colheu
os resultados (GI 6.7).
II - O CUIDADO DE NOEMI E O CARÁTER
DE RUTE
1.
O Caráter Amoroso de Rute
1)
Um caráter amoroso e confiante. Em sua decisão de
prosseguir na companhia de sua sogra no seu retorno a Belém, Rute demonstrou
que tinha verdadeiro amor por Noemi, além de plena confiança em sua pessoa. No
tempo em que viveu com Malom, o falecido esposo, Rute viu em Noemi um exemplo
de vida, não apenas como sogra, mãe e esposa, mas também como serva de Deus.
Enquanto sua cunhada beijou a sogra e retornou à sua família, Rute beijou-a,
chorou, mas em seu coração confiante e grato, tomou a resolução de ficar ao
lado da sogra: “Disse, porém, Rute: Não me instes para que te deixe e me afaste
de ti; porque, aonde quer que tu fores, irei eu e, onde quer que pousares à
noite, ali pousarei eu [...]“ (Rt 1.16a).
Essa foi uma declaração
notável de amizade que se fundava no amor, na confiança e no respeito. De um
lado, vemos uma sogra, mulher de Deus que, em meio à amargura e o sofrimento,
tinha zelo e cuidado por sua nora, viúva como ela. De outro lado, vemos o
cuidado, o zelo e o amor de Rute por Noemi, pensando em sua situação de mulher
viúva, desamparada, que voltava para sua terra sozinha. Como uma verdadeira
serva de Deus, Rute demonstrou ter um caráter agradecido e generoso. Ela tomou
a decisão consciente dos possíveis dissabores que poderia enfrentar ao lado de
Noemi. Ela estaria a seu lado, em qualquer lugar e em qualquer circunstância.
2)
Um caráter fortalecido na fé em Deus. Por sua origem, Rute
era de uma família que adorava outros deuses quando se casou com Malom. Porém,
ao conviver com Noemi, recebeu dela a mensagem do Deus de Israel. Com toda a
certeza, ela foi convertida à Lei do Senhor. Em sua declaração de amor a Noemi,
ela disse com toda a convicção: “[...] o teu povo é o meu povo, o teu Deus é o
meu Deus” (Rt 1.16b). Essa decisão mostra a sua fé em Deus. Rute não tinha a
menor ideia do que poderia acontecer com ela em sua caminhada em direção a
Belém, nem o que ocorreria quando ela ali estivesse vivendo com a sogra. Se
pensasse com base na lógica e nas circunstâncias, ela teria motivos para voltar
atrás e seguir o exemplo da cunhada, mas Rute deu exemplo do que é ter fé, como
diz a Bíblia: “Ora, a fé é o firme fundamento das coisas que se esperam e a
prova das coisas que se não vêem” (Hb 11.1). Rute ficou ao lado de Noemi, como
vendo o invisível, sob a mão de Deus.
3)
Um caráter decidido e firme. Suas atitudes
demonstravam não ser apenas uma expressão de um impulso emocional muito comum
em meio a situações críticas. Além de demonstrar que tinha fé em Deus e também
confiança em Noemi, Rute expressou sua inabalável convicção de que valeria a
pena enfrentar as circunstâncias quaisquer que fossem elas, mesmo tudo
parecendo incerto e nebuloso. Por isso, ela completou diante da sua sogra,
amiga e irmã de fé sua decisão consciente:
“Onde quer que
morreres, morrerei eu e ali serei sepultada; me faça assim o SENHOR e outro
tanto, se outra coisa que não seja a morte me separar de ti. Vendo ela, pois,
que de todo estava resolvida para ir com ela, deixou de lhe falar nisso” (Rt 1.17,18).
Rute não era apenas
nora e amiga, mas também companheira de Noemi, na jornada da vida que Deus
reservara às duas. Uma lição de grande valor para os dias atuais, quando muitos
que se dizem cristãos desistem de seguir a Cristo por causa dos desafios, das
lutas e das provações, desprezando amizades, companheirismo e amor por causa da
visão humana, imediatista e desprovida da verdadeira fé em Deus. Vivemos numa
época tão perigosa em que até casamentos são desfeitos em pouco tempo por
motivos muitas vezes banais e incoerentes. O exemplo de Rute e Noemi deveriam
ser considerados por todos os cristãos.
III - COMO RUTE ENTROU NA GENEALOGA
DE JESUS
1.
Rute Chega a Belém
Saindo das terras de
Moabe, Rute chegou a Belém em companhia de Noemi. Ali, ela pôde ver como as
pessoas receberam a sogra com admiração e espanto, por ver que ela voltara em
condição bem diferente da que safra: viúva, sem filhos e em companhia de uma
estrangeira. Diz o texto: “Assim, pois, foram-se ambas, até que chegaram a
Belém; e sucedeu que, entrando elas em Belém, toda a cidade se comoveu por
causa delas, e diziam: Não é esta Noemi?” (Rt 1.19). Foi tão duro para Noemi
ouvir as indagações de seus patrícios que ela respondeu de forma triste e
amargurada:
“Não me chameis Noemi;
chamai-me Mara, porque grande amargura me tem dado o Todo-poderoso. Cheia
parti, porém vazia O SENHOR me fez tornar; por que, pois, me chamareis Noemi?
Pois O SENHOR testifica contra mim, e o Todo-poderoso me tem afligido tanto”
(vv 20,21). O nome Noemi significa “agradável”, enquanto Mara significa
“amargurada”. Tal era o sentimento que enchia o coração de Noemi.
Elas chegaram em Belém
“no princípio da sega das cevadas” (v. 22). Deus permitiu uma estiagem para
motivar Elimeleque e Noemi a deixarem sua terra e migrarem para os campos de
Moabe. O Senhor também usou a tristeza da morte de Elimeleque e seus dois
filhos como motivação negativa para Noemi voltar a sua terra; e também a benção
da fartura em Belém como motivação positiva para que ela fosse para a terra de
Israel em busca de dias melhores.
2.
Rute Chama a Atenção de Boaz
Rute era uma mulher
trabalhadora. Ela não comia “o pão da preguiça” (Pv 3 1.27). Ao chegar a Belém,
após se acomodarem, Rute não esperou Noemi sugerir algum trabalho para a sua
manutenção. Ela mesma tomou a iniciativa: “E Rute, a moabita disse a Noemi:
Deixa-me ir ao campo, e apanharei espiga atrás daquele em cujos olhos eu achar
graça. E ela lhe disse: Vai minha filha” (Rt 2.2). Em Israel, era comum as
mulheres, especialmente as mais jovens, trabalharem na colheita, como indica o
texto (v. 8). Era um tempo de festa; tempo em que as plantações produziam
conforme o esperado, um sinal da benção de Deus (Is 9.3).
1)
A providência de Deus. Em vários campos, nas propriedades
agrícolas, havia muitas pessoas trabalhando na colheita da cevada. Mas, por
providência de Deus, Rute dirigiu-se ao campo “certo”. Diz o relato do livro de
Rute: “Foi, pois, e chegou, e apanhava espiga no campo após os segadores; e
caiu-lhe em sorte uma parte do campo de Boaz, que era da geração de Elimeleque”
(Rt 2.3). Isso mostra que, quando uma pessoa procura andar na vontade de Deus,
Ele dirige seus passos até em detalhes mínimos. Pouco tempo depois, Boaz, o
proprietário daquele campo, chegou, saudou a todos os trabalhadores e teve a
atenção chamada para Rute, que estava colhendo espigas. Havia outras moças, mas
sua atenção voltou-se para a moabita: “Depois, disse Boaz a seu moço que estava
posto sobre os segadores: De quem é esta moça?” (Rt 2.5).
Se Rute chegou no campo
“certo”, Boaz chegou na hora “certa” e perguntou quem era aquela moça, uma
jovem senhora que, apesar do sofrimento da viuvez, era bela e agradável aos
olhos. Certamente, a “beleza interior” sobressaía ante a aparência física, mas
o que chamou a atenção de Boaz foi a beleza de Rute. Ao perguntar quem era ela,
o supervisor do campo de Boaz respondeu: “Esta é a moça moabita que voltou com
Noemi dos campos de Moabe. Disse-me ela: deixa-me colher espigas, e ajuntá-las
entre as gavelas após os segadores. Assim, ela veio e, desde pela manhã, está
aqui até agora, a não ser um pouco que esteve sentada em casa” (1.7).
2)
Fatos significativos no encontro de Boaz com Rute.
Até o desfecho desta história de amor que estava sob a benção e a providência
de Deus, diversos acontecimentos foram desenrolados numa sucessão de cenas
dignas de uma produção literária, teatral ou até cinematográfica do melhor
nível, como, de fato, já existe no mercado das artes baseadas na Bíblia. Boaz
dirige-se a Rute, para a surpresa dela, e diz a ela que não vá a outro campo,
mas que fique ali juntamente com as suas moças.
Rute, cheia de
admiração, inclinou-se a terra e perguntou: “Por que achei graça em teus olhos,
para que faças caso de mim, sendo eu uma estrangeira?” (Rt 2.10). Então, Boaz
respondeu que ele soubera o quanto Rute fora generosa com Noemi, sua sogra,
depois da morte do seu esposo; e de como ela deixara a casa de seu pai e a
terra onde nascera e viera abrigar-se com um povo que não conhecia. E fez uma
declaração profética: “O SENHOR galardoe o teu feito, e seja cumprido o teu
galardão do SENHOR, Deus de Israel, sob cujas asas te vieste abrigar”.
Diante de tão grande
declaração, Rute respondeu: “Ache eu graça em teus olhos, senhor meu, pois me
consolaste e falaste ao coração da tua serva, não sendo eu nem ainda como uma
das tuas criadas” (v. 13). Se Boaz já estava admirado pela beleza de Rute
diante de tal demonstração de humildade e gratidão, agora, sem dúvida, o homem
passou a sentir mais simpatia e amor por ela.
3)
Noemi orienta Rute acerca de Boaz. Aquela altura, Boaz já
sentia por Rute a atração de um homem por uma mulher digna de ser amada por
ele, sendo grandemente generoso a respeito dela. Ao voltar para casa, Rute
contou a Noemi o que havia acontecido e disse o nome do homem que a tratou com
total desvelo e atenção. Ao saber que era Boaz, Noemi bendisse a Deus e fez
saber a Rute que Boaz era um “parente chegado” e um dos “remidores” da sua
família. Era Deus mostrando que, apesar de todas as circunstâncias, Ele está no
controle das situações e que seus propósitos insondáveis hão de ser estabelecidos.
Noemi aconselhou Rute a não procurar outros campos: “Assim, ajuntou-se com as
moças de Boaz, para colher, até que a sega das cevadas e dos trigos se acabou;
e ficou com a sua sogra” (Rt 2.19-23).
Sendo uma mulher
experiente, Noemi percebeu que os sentimentos de Boaz por Rute não eram apenas
de alguém que admirava sua amizade e consideração pela sogra, mas, sim, de um
homem que tinha intenções mais profundas. Então, ela agiu como uma sogra hábil,
esperta e bem informada, e disse para Rute que Boaz estaria naquela mesma noite
na eira, a fim de padejar a cevada. E ela deu instruções a Rute para se
preparar para ir ao encontro do “remidor” de forma agradável e atraente, bem
vestida e perfumada (cuidados que certas mulheres cristãs esquecem ao fado dos
esposos).
E, ao perceber Boaz
dormindo, Rute deveria deitar-sé aos seus pés e aguardar os acontecimentos. E
assim ela fez. Ela percebeu as intenções da sogra. Quando Boaz já estava
dominado pelo sono e dormindo, Rute chegou de mansinho e deitou-se aos seus pés.
Certamente, ela correu
um grande risco de ser possuída pelo homem que tanto a admirava, mas Deus age
em meio às atitudes sinceras de quem nEle confia, dando o livramento
necessário. Ao despertar à meia-noite, Boaz percebeu a presença da moça aos
seus pés e estremeceu, perguntando quem era ela, pois não havia luz no
ambiente.
Rute declarou-se,
pedindo que ele estendesse a aba de sua túnica sobre ela, pois ele era o
remidor. Boaz, profundamente admirado pela atitude de Rute, disse que ele era
“o remidor”, mas que havia outro que tinha prioridade na remissão da família;
Boaz, então, promete procurá-lo. Se ele redimisse a família, assim seria feito.
Se não redimisse, ela deveria aguardar, pois ele — Boaz — faria a remissão. Com
profundo respeito, ele permaneceu ao lado dela, mas não tiveram relações
sexuais. Ao retornar para Noemi, Rute contou como foi a experiência daquela
noite, e Noemi entendeu que tudo estava ocorrendo como ela orientara, como se
fosse uma hábil escritora de um romance. E disse: “Sossega, minha filha, até
que saibas como irá o caso, porque aquele homem não descansará até que conclua
hoje este negócio” (Rt 3.18).
Além de o amor de Deus
estar presente na história de Rute, havia também o amor humano ardendo no
coração de Boaz, que sonhava em casar-se com a linda jovem moabita. Deus
permite que coisas humanas — às vezes, fora do padrão normal — aconteçam para
mostrar que Ele faz como quer, quando quer e com quem quer.
3.
Rute Casa com Boaz
Boaz procedeu de acordo
com a lei, convidando o remidor mais credenciado para remir as terras da
família de Noemi e, ao mesmo tempo, casar com Rute “para suscitar o nome do
falecido sobre a sua herdade” (Rt 4.5). O homem aceitava redimir as terras, mas
não teve interesse em redimir Rute e casar-se com ela. Tudo estava dentro do
plano de Deus. Boaz, então, perante os anciãos da cidade, declarou que eles
eram testemunhas de que tomara tudo quanto pertencera a Elimeleque e a seus
filhos, da mão de Noemi. E, mais que isso, disse ele: “[...] também tomo por mulher
a Rute, a moabita, que foi mulher de Malom, para suscitar o nome do falecido
sobre a sua herdade, para que o nome do falecido não seja desarraigado dentre
seus irmãos e da porta do seu lugar: disto sois hoje testemunhas” (Rt 4.11).
1)
Um casamento singular. Foi um casamento interessante e
completamente fora dos padrões dos israelitas. Ao que tudo indica, o primeiro
remidor não quis casar-se com Rute porque ela era moabita, estrangeira, viúva,
pobre e excluída da comunhão do seu povo. O amor, porém, supera tudo, quando as
pessoas envolvidas estão no centro da vontade de Deus. Boaz amava Rute de todo
o coração e propôs-se a suscitar o nome do falecido mesmo sem ser seu irmão
carnal, como era preceito legal em Israel (Dt 25.5).
Como todo casamento que
se preza e é valorizado pelas famílias e pela sociedade, o matrimônio de Boaz e
Rute teve dez testemunhas especialmente convidadas para confirmar o ato legal
perante o seu povo (Rt 4.2).
Além dos dez anciãos
tomados como testemunhas, parte do povo fez-se presente à cerimônia, tendo sido
atraídos pelo inusitado acontecimento, que foi divulgado “pelas redes sociais”
da época, em que um hebreu estava casando-se com uma moabita.
Quando Deus aprova um
casamento, os noivos ficam felizes, as famílias aprovam, e os amigos também se
alegram com a união dos noivos. No matrimônio de Rute e Boaz, houve uma
manifestação de júbilo pelos que se reuniram à porta da cidade. Diz o texto: “E
todo o povo que estava na porta e os anciãos disseram: Somos testemunhas; o
SENHOR faça a esta mulher, que entra na tua casa, como a Raquel e como a Léia,
que ambas edificaram a casa de Israel; e há-te já valorosamente em Efrata e
faze-te nome afamado em Belém. E seja a tua casa como a casa de Perez (que
Tamar teve de Judá), da semente que o SENHOR te der desta moça” (vv. 11,12).
2)
Rute e Boaz — Como Cristo veio para nossa salvação.
A história de Rute e seu casamento com Boaz é prova inequívoca de que Deus trabalha
com seus parâmetros divinos, que transcendem toda lógica e compreensão humana.
A inclusão de uma estrangeira, moabita, na genealogia de Jesus Cristo demonstra
que Deus não é Deus apenas de Israel, mas também é “Senhor do céu e da terra”
(Mt 11.25; At 17.24). E Jesus Cristo é salvador “do seu povo” e também do
mundo, da humanidade, como indica o seu nome, dado pelo anjo que anunciou isso
a José, quando este pensava em fugir ante o tremendo impacto da gravidez de sua
noiva: “E, projetando ele isso, eis que, em sonho, lhe apareceu um anjo do
Senhor, dizendo.
José, filho de Davi,
não temas receber a Maria, tua mulher, porque o que nela está gerado é do
Espírito Santo. E ela dará à luz um filho, e lhe porás o nome de JESUS, porque
ele salvará o seu povo dos seus pecados” (Mt 1.20,21); isso é afirmado na
mensagem do próprio Cristo em seu sermão a Nicodemos: “Porque Deus amou o mundo
de tal maneira que deu o seu Filho unigênito, para que todo aquele que nele crê
não pereça, mas tenha a vida eterna. Porque Deus enviou o seu Filho ao mundo
não para que condenasse o mundo, mas para que o mundo fosse salvo por ele (Jo
3.16,17).
Em seus planos divinos,
Deus projetou a salvação para todos os homens, sem barreiras de quaisquer
naturezas. Na bênção a Abraão, Ele disse que nele seriam “benditas todas as
famílias da terra” (Gn 12.3b). Jesus mandou seus seguidores pregarem o
evangelho “por todo o mundo” a “toda criatura” (Mc 16.15). Ele jamais
predestinou alguns para a salvação eterna e outros para a condenação inexorável
ao abismo eterno. Ele é justo, misericordioso, compassivo e não faz acepção de
pessoas (Dt 10.17; At 10.34; Tg 2.9).
Boaz, na condição de
“remidor” e “parente mais chegado”, é figura de Cristo, que “se fez carne e
habitou entre nós” (Jo 1.14). Ele tornou-se remidor não apenas de um povo, mas
também veio para redimir toda a raça humana. Boaz pagou o preço das terras de
Elimeleque e dos filhos falecidos para poder resgatar a família de Noemi.
Cristo pagou o preço exigido pela santidade de Deus para resgate do homem.
O livro de Rute é muito
mais que uma história de amor entre um homem e uma mulher estranha à sua
família. O livro mostra também a linda história de amor entre Deus e o homem,
que tudo fez para salvar o pecador.
CONCLUSÃO
A história de Rute, a
jovem moabita, que se casou com um judeu e passou a fazer parte da ascendência
de Jesus Cristo, o Salvador do mundo, demonstra, de forma clara, que Deus criou
o homem, mesmo sabendo que ele iria cair na perspectiva de um plano de salvação
para todas as pessoas, em todos os lugares, independentemente de sua
nacionalidade, de sua cor ou condição social. Pela lógica humana, jamais uma
mulher moabita faria parte da linhagem santa, da qual nasceu o Messias de
Israel, o Salvador do mundo. O amor de Deus está além de toda a compreensão
limitada do homem.
Evangelista Isaias
Silva de Jesus
Igreja Evangélica
Assembléia de Deus Ministério Belém Setor I - Em Dourados – MS
Livro O Caráter do
Cristão –ElinaldoRenovato de Lima –CPAD 1º. Edição 2017
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