A Expansão da Igreja
“Mas os que andavam dispersos iam por toda parte anunciando a palavra. E, descendo Filipe à cidade de Samaria, lhes pregava a Cristo.” (At 8.4,5).
UMA EXEGÉSE DO TEXTO PRINCIPAL
• O contexto imediato mostra a igreja sofrendo perseguição em Jerusalém após a morte de Estêvão (At 7). Aparentemente, esse era um momento de derrota. Contudo, Lucas registra que “os que andavam dispersos iam por toda parte anunciando a palavra” (v.4). A palavra grega para “dispersos” (diaspeirō) transmite a ideia de sementes espalhadas pelo vento. Ou seja, o que parecia destruição, na soberania de Deus, era multiplicação missionária. Aqui já se revela a providência divina: a perseguição não calou a igreja; ao contrário, tornou-a missionária. O verbo traduzido por “anunciando” (euangelizō) não indica apenas uma conversa casual, mas o ato intencional de proclamar as boas novas. Mesmo sem estrutura, sem púlpito e sem templo, os discípulos levavam o Evangelho no coração e nos lábios.
Isso ecoa a natureza da igreja reformada: não presa a prédios, mas viva no testemunho do Espírito.
Já no verso 5, Filipe (um dos sete escolhidos em At 6.5) desce a Samaria. Teologicamente, esse movimento é revolucionário: judeus e samaritanos eram inimigos históricos. Mas o Cristo ressuscitado, que havia prometido em At 1.8 que os discípulos seriam testemunhas “em Jerusalém, Judéia, Samaria e até os confins da terra”, agora cumpre sua palavra. O Espírito está guiando a expansão do Reino para além das barreiras étnicas, culturais e religiosas. O texto destaca ainda que Filipe “lhes pregava a Cristo”.
O foco da missão não era ideias, filosofias ou milagres, mas a pessoa de Jesus. Pregação cristã autêntica sempre centra-se em Cristo crucificado e ressurreto, pois só Ele pode libertar do pecado e reconciliar inimigos. A soberania de Deus transforma perseguição em missão. Nada escapa ao seu plano redentor. Todo crente é chamado a evangelizar. Não apenas apóstolos ou pastores, mas todos os que foram dispersos.
O Evangelho rompe muros de separação. Em Cristo, barreiras históricas (como judeus e samaritanos) são desfeitas. A pregação centrada em Cristo é a essência da missão. O Espírito autentica o testemunho quando Cristo é proclamado. O cristão precisa entender que mesmo nas crises, perseguições ou limitações, Deus pode usá-lo como semente missionária.
Onde quer que esteja, escola, trabalho, redes sociais, ele pode “anunciar a palavra” e viver a promessa de Atos 1.8, confiando que o Espírito Santo continua conduzindo a expansão do Reino.
VERDADE PRÁTICA
A igreja só crescerá quando ultrapassar seus próprios limites e levar a mensagem de Cristo para além de suas paredes.
ENTENDA A VERDADE PRÁTICA
• A verdadeira igreja de Cristo só experimentará crescimento real quando romper as barreiras de suas paredes e, movida pelo Espírito, ousar levar a mensagem do evangelho até os confins onde a luz ainda não brilhou.
LEITURA BÍBLICA
Atos 8.1-8,12-15.
1. E também Saulo consentiu na morte dele. E fez-se, naquele dia, uma grande perseguição contra a igreja que estava em Jerusalém; e todos foram dispersos pelas terras da Judeia e da Samaria, exceto os apóstolos.
• consentia. A ira assassina de Paulo contra os crentes foi manifestada aqui na sua atitude em relação a Estêvão (ITm 1.13-15). exceto os apóstolos. Elos permaneceram por causa de sua devoção a Cristo para cuidar dos crentes de Jerusalém e para continuarem a evangelizar a região (cf. 9.26-27).
foram dispersos. Liderada por um judeu chamado Saulo de Tarso, a perseguição espalhou a comunidade de Jerusalém v gerou a primeira ação missionária da igreja. Nem todos os membros da igreja de Jerusalém foram forçados a fugir; os helenistas, pelo fato de Estêvão ser provavelmente um deles, suportaram o impacto da perseguição (cf. 11.19-20).
2. E uns varões piedosos foram enterrar Estêvão e fizeram sobre ele grande pranto.
• homens piedosos. Provavelmente judeus piedosos (cf. 2.5; Lc 2.25) que protestaram publicamente contra a morte de Estêvão.
3. E Saulo assolava a igreja, entrando pelas casas; e, arrastando homens e mulheres, os encerrava na prisão.
• assolava a igreja. O verbo "assolar" foi usado em escritos extrabíblicas para referir-se à destruição de uma cidade ou ser estraçalhado por um animal feroz.
4. Mas os que andavam dispersos iam por toda parte anunciando a palavra.
• iam por toda parte. O verbo grego é usado frequentemente em Atos para expressar esforços missionários (v. 40; 9.32; 13.6; 14.24; 15.3,41; 16.6; 18.23; 19.1,21; 20,2).
5. E, descendo Filipe à cidade de Samaria, lhes pregava a Cristo.
• Filipe. Cf. 6.5. O primeiro missionário citado por nome na Escritura e o primeiro a receber o título de “evangelista" (21.8). cidade de Samaria. Antiga capital do Reino do Norte de Israel, que por fim caiu no poder dos assírios (722 a.C.) depois de 200 anos de idolatria e rebelião contra Deus. Depois de reassentar muitos do povo em outras terras, os assírios colocaram gentios de outras áreas na região, resultando numa mistura de judeus e gentios, que se tornaram conhecidos como samaritanos (veja notas em Jo 4.4,20).
6. E as multidões unanimemente prestavam atenção ao que Filipe dizia, porque ouviam e viam os sinais que ele fazia,
7. pois que os espíritos imundos saíam de muitos que os tinham, clamando em alta voz; e muitos paralíticos e coxos eram curados.
8. E havia grande alegria naquela cidade.
12. Mas, como cressem em Filipe, que lhes pregava acerca do Reino de Deus e do nome de Jesus Cristo, se batizavam, tanto homens como mulheres.
13. E creu até o próprio Simão; e, sendo batizado, ficou, de contínuo, com Filipe e, vendo os sinais e as grandes maravilhas que se faziam, estava atônito.
• Simão abraçou a fé. Sua crença foi motivada por razões puramente egoístas e nunca pode ser considerada genuína. Cf. Jo 2.23-24. Ele acreditava que a fé era um ato externo útil para receber o poder que Filipe possuía. Ao seguir Filipe, ele também poderia manter contato com o seu público anterior.
14. Os apóstolos, pois, que estavam em Jerusalém, ouvindo que Samaria recebera a palavra de Deus, enviaram para lá Pedro e João,
15. os quais, tendo descido, oraram por eles para que recebessem o Espírito Santo.
INTRODUÇÃO
INTRODUÇÃO
• A história da igreja em Atos 6 nos mostra algo surpreendente: o avanço do Evangelho não aconteceu em tempos de paz, mas no meio da perseguição. O texto nos lembra que os discípulos estavam concentrados em Jerusalém, acomodados naquele primeiro momento de crescimento. Mas a morte de Estêvão mudou tudo. Aquela perda dolorosa se tornou um marco, pois a partir dela os cristãos foram dispersos e a Palavra começou a alcançar novos territórios.
Aqui se cumpre a promessa de Jesus em Atos 1.8: eles seriam suas testemunhas em Jerusalém, na Judeia, em Samaria e até os confins da terra. O verbo usado por Lucas para “dispersar” é diaspeírō, que significa espalhar como sementes ao vento. Essa escolha de palavra mostra que, por trás da perseguição, estava a mão soberana de Deus, plantando a igreja em novos solos. O que parecia derrota era, na verdade, semeadura do Reino. Como observa Hernandes Dias Lopes, “a perseguição que visava sufocar a igreja foi o instrumento que Deus usou para multiplicá-la” (LOPES, 2017).
Essa lição é profunda: Deus não desperdiça a dor do seu povo, Ele a transforma em missão. Outro ponto essencial é o verbo usado para “anunciar a palavra”: euangelízō, proclamar as boas novas. Os que foram espalhados não se calaram. Eles não tinham templos, púlpitos ou estrutura, mas carregavam em si a mensagem que salva. Aqui aprendemos que a igreja não é limitada por paredes ou programas; ela existe onde Cristo é proclamado. Como destaca Craig Keener, “o Evangelho não depende de condições favoráveis para se espalhar; ele floresce justamente em meio à oposição” (KEENER, 2012).
É interessante notar que, enquanto muitos fugiam da cidade, eles não fugiam da missão. A Bíblia de Estudo Pentecostal comenta que “os crentes, mesmo em fuga, pregavam com ousadia, pois estavam cheios do Espírito” (BÍBLIA DE ESTUDO PENTECOSTAL, 1995).
Isso nos leva a uma reflexão séria: quantas vezes transformamos dificuldades em desculpas para o silêncio? A igreja primitiva transformava cada dificuldade em oportunidade. Assim, a mensagem de Atos 6 nos convida a examinar nossa própria fé. Será que temos vivido como discípulos que anunciam Cristo em toda parte, ou como crentes acomodados em nossas zonas de conforto? A perseguição de ontem se torna o espelho da omissão de hoje. O mesmo Espírito que sustentou os cristãos dispersos é o que nos capacita a viver e testemunhar hoje. Que não esperemos a pressão ou a dor para sermos despertos, mas que abracemos desde já o chamado de Jesus para sermos testemunhas até os confins da terra.
I. A IGREJA DIANTE DA PERSEGUIÇÃO
1. Embora perseguida, não fragmentada. A perseguição contra a igreja em Jerusalém não foi um acidente, mas parte do plano soberano de Deus para espalhar o Evangelho. Lucas nos relata que, após a morte de Estêvão, “levantou-se grande perseguição contra a igreja que estava em Jerusalém; e todos foram dispersos (diaspeírō, lançar sementes para longe) pelas regiões da Judeia e Samaria, exceto os apóstolos” (At 8.1). É importante perceber o contraste: enquanto o povo de Deus era espalhado como sementes ao vento, os apóstolos permaneceram em Jerusalém. Isso não significa que foram poupados da perseguição, mas que sua permanência era necessária para manter a base e dar estabilidade à igreja naquele momento crítico. Os capítulos anteriores (At 4–5) já descrevem as primeiras pressões sofridas pelos líderes. Porém, agora a perseguição não se restringe apenas a eles: toda a comunidade é alcançada. A intensidade do sofrimento cresce, mas, surpreendentemente, a igreja não se desintegra. Pelo contrário, mesmo dispersa, continua unida em fé e missão. Como observa Antônio Gilberto, “o Espírito Santo manteve a igreja em perfeita coesão, ainda que geograficamente separada” (GILBERTO, 1996, p. 214).
Isso nos mostra que a unidade da igreja não depende de localização, mas da ação do Espírito no corpo de Cristo. O detalhe de que os crentes foram espalhados “pela Judeia e Samaria” é um lembrete direto da promessa de Atos 1.8. A perseguição não apenas pressionou, mas empurrou a igreja para cumprir sua missão.
Craig Keener destaca que “a perseguição se tornou o meio inesperado pelo qual Deus moveu o seu povo para além das fronteiras de Jerusalém” (KEENER, 2012, p. 1234).
O que parecia uma estratégia do inimigo resultou na expansão do Reino. Aqui está uma grande lição: quando o sofrimento tenta calar a igreja, Deus o transforma em impulso missionário. Outro ponto essencial é que a igreja, mesmo ferida, não perdeu sua essência. O verbo grego diaspeírō reforça a ideia de que eles foram semeados. Cada crente se tornou uma semente missionária.
A Bíblia de Estudo Pentecostal comenta: “Deus permitiu que a perseguição viesse para que a Palavra fosse levada a outras regiões; os crentes se transformaram em missionários involuntários, mas obedientes” (BÍBLIA DE ESTUDO PENTECOSTAL, 1995, p. 1516).
A igreja não fugiu derrotada, mas avançou em fé. Essa realidade desafia nossas igrejas hoje.
Será que temos vivido uma fé que floresce apenas em tempos de conforto, ou somos capazes de permanecer unidos e ativos mesmo em tempos de pressão? A perseguição de Jerusalém expôs que a igreja era mais forte do que aparentava, porque sua força vinha do Senhor. Precisamos refletir: estamos prontos para ser espalhados como sementes, levando o Evangelho aonde Deus nos enviar, mesmo que pelas circunstâncias mais difíceis? O Espírito que sustentou a igreja primitiva continua sustentando a sua igreja hoje.
2. A igreja em luto A morte de Estêvão não foi apenas o fim de uma vida fiel, mas o início de um tempo de luto profundo para a igreja. Lucas registra que “varões piedosos foram enterrar Estêvão e fizeram sobre ele grande pranto” (At 8.2). O termo usado para “pranto” é κοπετός (kophetós), que significa não apenas lágrimas discretas, mas um choro alto, acompanhado de lamento coletivo. Era o tipo de expressão usada em funerais judaicos, quando a dor não se escondia, mas se tornava pública. A comunidade cristã, diante da perda de seu primeiro mártir, não reprimiu sua dor, mas a viveu diante de Deus, em comunhão uns com os outros. É significativo que Lucas diga que foram “varões piedosos” os responsáveis por esse gesto. Não sabemos ao certo quem eram, mas o contexto favorece que fossem discípulos de Cristo.
Mesmo sob perseguição, arriscaram-se a honrar Estêvão com um funeral digno, em vez de abandoná-lo à desonra reservada aos condenados. Era perigoso chorar publicamente um seguidor de Jesus em Jerusalém naquele momento, mas eles o fizeram movidos pela piedade e pela fé. Aqui percebemos um princípio precioso: a verdadeira piedade não é omissa, mas se manifesta em gestos concretos de compaixão, mesmo em tempos de risco. Esse luto revela muito sobre a espiritualidade da igreja primitiva. Ao contrário do mundo que teme a morte, o povo de Deus chora com esperança.
O lamento piedoso não é negação da fé, mas expressão dela. Como Paulo mais tarde explicaria, não choramos como os que não têm esperança (1Ts 4.13). As lágrimas da igreja sobre Estêvão são sementes que, regadas pelo Espírito, se transformarão em ousadia missionária. O sangue derramado do mártir não silenciou o testemunho; ao contrário, impulsionou-o ainda mais longe, até Samaria e aos confins da terra (At 8.4-5).
Para nós hoje, esse texto é um convite a refletir sobre como lidamos com a dor e com as perdas em nossas comunidades. Muitas vezes, queremos aparentar força, escondendo o sofrimento. Mas a igreja de Jerusalém nos ensina que é legítimo chorar, que o luto é espiritual quando vivido diante do Senhor. Chorar pelos que partiram na fé é reconhecer que a morte não tem a última palavra. A comunidade que sabe prantear seus santos é a mesma que se fortalece para prosseguir na missão.
Assim, aprendemos que a igreja que se arrisca não é apenas a que prega ousadamente em meio à perseguição, mas também a que se permite sentir, sofrer e se compadecer. Uma igreja que chora junto é uma igreja que se mantém unida. E uma igreja que honra seus mortos é também a que continua fiel ao chamado de viver e anunciar Cristo, custe o que custar.
3. Mas não desesperada. A morte de Estêvão poderia ter mergulhado a igreja em um abismo de medo e desânimo. No entanto, Lucas nos mostra que, embora a comunidade tenha chorado profundamente, não se entregou ao desespero. Eles lamentaram, sim, mas não perderam a esperança. O verbo usado para descrever o pranto é κοπετός (kophetós), um termo que expressa lamento intenso, mas não sem direção. Era um choro diante de Deus, não um grito de desespero vazio. A igreja sabia que Estêvão havia sido recebido pelo Senhor da glória, como ele mesmo viu em sua visão final (At 7.55-56).
Aqui percebemos uma lição preciosa: a tristeza não é sinal de fraqueza espiritual, mas parte da experiência cristã. O que distingue a igreja do mundo não é a ausência de lágrimas, mas a forma como ela as derrama. Enquanto o mundo pranteia como quem perdeu tudo, os discípulos choram como quem já tem a vitória garantida em Cristo. A comunidade, ferida pela perda, encontrou consolo na promessa da ressurreição. Esse equilíbrio entre dor e esperança mostra que a fé não nega a realidade, mas a transcende. Note que o martírio de Estêvão trouxe consequências graves para toda a igreja. A perseguição aumentou, e muitos foram dispersos. Porém, em vez de silenciar, os crentes se espalharam levando consigo a mensagem do evangelho (At 8.4).
É impressionante perceber como Deus transforma o luto em missão. A mesma igreja que sepultou Estêvão foi a que se levantou para testemunhar ainda mais ousadamente. É como se o sangue do mártir tivesse se tornado a semente de uma colheita ainda maior, exatamente como Tertuliano diria séculos depois. Essa realidade nos confronta hoje. Quantas vezes nossas comunidades se paralisam diante das perdas, dos conflitos ou das perseguições modernas? O exemplo da igreja primitiva nos desafia a não permitir que a dor nos consuma, mas que nos impulsione a continuar.
Uma igreja que aprende a chorar com esperança é também a que se mantém viva na missão. Não podemos permitir que a tristeza, por legítima que seja, nos roube a chama do testemunho. Assim, a lição é clara: a igreja não estava desesperada porque sabia em quem tinha crido. Sua força não vinha de estratégias humanas, mas da convicção de que Cristo reina, mesmo quando seus servos são mortos. O que parecia derrota tornou-se oportunidade de expansão. E essa mesma esperança é a que deve nos mover hoje: podemos chorar, mas nunca desistir; podemos sofrer, mas sempre avançaremos, porque a Palavra de Deus não pode ser presa.
II. A IGREJA QUE EVANGELIZA
1. Evangelização centrada na Palavra. A Igreja Primitiva tinha uma marca que não podemos perder de vista: era uma igreja que evangelizava. Lucas registra que “os que andavam dispersos iam por toda parte anunciando a palavra” (At 8.4). A palavra usada aqui para “anunciar” é εὐαγγελίζω (euangelízō), que significa proclamar as boas-novas com convicção e autoridade.
O detalhe impressionante é que aqueles discípulos estavam fugindo da perseguição, mas não fugiam da missão. A fé deles não era circunstancial, estava enraizada na certeza de que o evangelho não podia ser silenciado. O texto nos ensina que a igreja não apenas sobrevivia ao sofrimento, mas crescia em meio a ele. A força desse crescimento não vinha de uma estrutura humana, mas da ação conjunta do Espírito Santo (πνεῦμα ἅγιον, pneûma hágion) e da centralidade da Palavra. A comunidade estava cheia da presença de Deus e, ao mesmo tempo, fundamentada nas Escrituras. Essa combinação é fundamental.
Sem o Espírito, a mensagem se torna fria e sem vida. Sem a Palavra, o entusiasmo perde direção e profundidade. Estêvão havia sido morto, e muitos irmãos estavam sendo perseguidos. Mesmo assim, o evangelho não parou de ser pregado. Isso nos mostra que a fidelidade dos primeiros cristãos não dependia de templos, recursos ou condições favoráveis. Eles carregavam dentro de si o fogo do Espírito e a verdade do evangelho. Cada lar, cada praça, cada cidade por onde passavam se tornava um púlpito improvisado. A Palavra não estava presa a Jerusalém; ela se espalhava porque o povo de Deus se espalhava.
Esse relato confronta nossas igrejas hoje. Será que nossa evangelização depende demais de programas e eventos dentro das quatro paredes? A igreja de Atos não esperava o momento ideal; ela anunciava Cristo no caminho, na fuga, no exílio. Não era uma evangelização apenas planejada, mas espontânea, nascida de corações cheios da Palavra e do Espírito. Somos chamados a viver o mesmo: pregar em todo tempo, em toda parte, em toda circunstância. Portanto, a lição é clara. Se quisermos ver conversões, milagres e libertações, precisamos voltar ao modelo bíblico. Uma igreja que evangeliza não é apenas uma igreja que fala de Cristo, mas uma comunidade que vive em Cristo. O Espírito Santo e a Palavra continuam sendo o alicerce da missão. Quando caminhamos nessa direção, não importa a perseguição, o evangelho sempre avançará.
2. Evangelização centrada em Cristo. A evangelização verdadeira sempre tem um centro inegociável: Jesus Cristo. Lucas nos diz que Filipe, um dos sete escolhidos para servir na comunidade, ao chegar em Samaria “lhes pregava a Cristo” (At 8.5).
O verbo usado aqui é κηρύσσω (kērýssō), que significa proclamar com autoridade, como um arauto que anuncia uma mensagem oficial do rei. Filipe não se apoiava em discursos populares, nem em teorias filosóficas, mas anunciava a cruz e a ressurreição de Cristo como a resposta definitiva de Deus ao pecado humano. Essa ênfase não era acidental. Filipe entendia que todo o Antigo Testamento apontava para Cristo, e que a promessa do Espírito Santo havia sido derramada para exaltar a obra do Filho. Evangelizar, portanto, não era oferecer uma religião melhor ou um estilo de vida mais atraente, mas apresentar o Cordeiro de Deus, morto e ressuscitado, como o único que pode salvar. Qualquer evangelização que não tenha Cristo crucificado no centro se torna, no fundo, vazia e sem poder transformador. É por isso que a obra em Samaria foi tão poderosa.
A cidade era marcada por práticas religiosas confusas e por influência espiritual distorcida, mas a pregação centrada em Cristo trouxe luz em meio às trevas. Onde Cristo é anunciado, o Espírito Santo opera sinais de libertação, cura e salvação. Não eram as palavras de Filipe que convenciam, mas o testemunho do Espírito confirmando a mensagem da cruz. Como destaca Craig Keener, a força da missão em Atos nunca esteve em técnicas humanas, mas na fidelidade ao Cristo exaltado e na presença do Espírito (KEENER, 2012).
Esse texto desafia as igrejas de hoje. Muitas vezes confiamos mais em estratégias, métodos e programas do que na simplicidade do evangelho. Mas Filipe nos lembra que a evangelização não precisa de adornos para ser eficaz. O que transforma corações é a Palavra ungida pelo Espírito. Como dizia Antônio Gilberto, “a pregação da cruz continua sendo a maior necessidade da igreja em todas as épocas” (GILBERTO, 1984, p. 112).
O impacto missionário de Samaria não nasceu da criatividade humana, mas da obediência a Cristo. Portanto, precisamos nos perguntar: Cristo ainda é o centro da nossa evangelização? Nossas mensagens conduzem as pessoas à cruz ou apenas às nossas ideias? A resposta determinará se veremos resultados superficiais ou verdadeira transformação. Se voltarmos a pregar a Cristo em sua plenitude, veremos novamente cidades impactadas, famílias libertas e vidas restauradas. É a cruz que abre o caminho para a vida nova. É Cristo quem salva.
III. A IGREJA QUE DÁ SUPORTE À EVANGELIZAÇÃO
1. O suporte da igreja. A missão nunca foi responsabilidade de indivíduos isolados, mas da Igreja como corpo unido. Em Atos 8.14, Lucas registra que, quando os apóstolos em Jerusalém ouviram que Samaria havia recebido a Palavra, enviaram Pedro e João para confirmar e apoiar a obra.
O verbo usado, ἀπέστειλαν (apésteilan), traduzido como “enviaram”, é o mesmo que dá origem ao termo apóstolo. Não se tratava de um envio casual, mas de uma comissionamento oficial da comunidade. Isso mostra que a Igreja de Jerusalém não apenas se alegrava com o avanço do evangelho, mas se envolvia ativamente em dar suporte à missão que se expandia. Esse detalhe é precioso. Filipe já estava pregando em Samaria com grande êxito, mas os apóstolos entenderam que a obra não poderia prosseguir sem o acompanhamento, a cobertura espiritual e o fortalecimento comunitário. Assim, Pedro e João foram até lá, e sua chegada trouxe não apenas encorajamento, mas também uma dimensão mais ampla da graça de Deus, pois foi através deles que os samaritanos receberam o Espírito Santo (At 8.15-17).
Aqui aprendemos que a missão não é sustentada apenas pelo pregador individual, mas pelo compromisso coletivo da Igreja. Isso nos confronta hoje. Não basta enviar missionários ou evangelistas para além das fronteiras da congregação. É necessário sustentar a obra com intercessão, acompanhamento pastoral, suporte financeiro e presença espiritual.
Antônio Gilberto lembra que “a Igreja missionária é aquela que não apenas envia, mas que permanece unida em oração, comunhão e apoio aos que vão” (GILBERTO, 1984, p. 119).
Negligenciar esse suporte é enfraquecer a própria missão. A exegese do texto nos mostra ainda um princípio teológico importante. Samaria, um território historicamente dividido dos judeus, foi agora alcançada pelo mesmo evangelho que transformara Jerusalém. A unidade da Igreja em apoiar essa missão indicava que o Reino de Deus não poderia ser limitado por barreiras culturais ou geográficas.
Como afirma Craig Keener, “a participação dos apóstolos na missão em Samaria legitimava e consolidava a unidade entre judeus e samaritanos na nova comunidade messiânica” (KEENER, 2012, p. 1542).
Isso significa que, quando a Igreja dá suporte à evangelização, ela não apenas fortalece os que pregam, mas também afirma a inclusão de todos os povos no plano de Deus. Portanto, a pergunta que nos cabe hoje é: como nossas igrejas têm apoiado a missão? Temos enviado, sustentado, intercedido e caminhado junto com aqueles que estão no campo? Ou temos nos limitado a esperar relatórios ocasionais sem verdadeiro envolvimento? Uma Igreja que se arrisca é uma Igreja que apoia. O exemplo de Jerusalém nos desafia a renovar nosso compromisso com os que pregam além dos nossos muros. Onde há envio com suporte, há avanço real do Reino.
2. A igreja que discipula. O discipulado não é apenas ensinar fatos sobre Cristo; é conduzir vidas para uma experiência transformadora com o Espírito Santo. Em Atos 8.15, Lucas nos mostra que, ao chegar a Samaria, os apóstolos oraram pelos novos convertidos para que recebessem o Espírito Santo. O verbo grego usado, προσεύχονται (proseúchontai), indica uma oração contínua e insistente, não meramente formal. Isso revela que o discipulado da Igreja Primitiva envolvia não só ensino, mas também intercessão fervorosa, fortalecendo o vínculo entre os crentes e a ação do Espírito.
O texto mostra que a conversão e o batismo nas águas não garantiam automaticamente a recepção do Espírito Santo. Isso nos ensina algo crucial: a iniciação cristã é um processo completo. O ensino dos apóstolos incluía conversão, batismo e capacitação espiritual. O Espírito Santo não é um detalhe opcional, mas o poder que confirma a obra de Cristo no coração e habilita o crente para o serviço e a santificação.
Como observa Antônio Gilberto, “o discipulado autêntico une doutrina, prática e experiência do Espírito, formando discípulos maduros e operantes na obra de Deus” (GILBERTO, 1984, p. 145). Essa passagem nos desafia hoje a refletir sobre como discipulamos os novos convertidos. Não basta instruir sobre a Bíblia; é preciso conduzir cada um à experiência viva com o Espírito. A oração apostólica em Samaria evidencia que o acompanhamento pastoral e a cobertura espiritual são essenciais para que a fé não seja apenas intelectual, mas transformadora.
Craig Keener lembra que a presença do Espírito garante frutos duradouros e vida cristã ativa (KEENER, 2012, p. 1548).
Além disso, o exemplo de Samaria mostra que o discipulado é comunitário. A Igreja de Jerusalém não apenas enviou apoio missionário, mas também participou ativamente da maturação espiritual daqueles que recebiam a Palavra. A conexão entre ensino, oração e capacitação pelo Espírito reflete a integralidade do discipulado apostólico.
A Igreja que se arrisca, portanto, não abandona ninguém; ela sustenta, orienta e fortalece cada membro no caminho da fé e da missão. Devemos nos perguntar: nossas igrejas estão oferecendo um discipulado completo?
Estamos conduzindo os novos convertidos à experiência real com o Espírito ou nos limitamos a transmitir conhecimento? Uma fé sem o poder do Espírito é frágil. O chamado de Samaria nos desafia a cultivar uma Igreja que ensina, ora e capacita, formando discípulos que vivem, pregam e transformam o mundo com Cristo.
3. Sem o recebimento do Espírito, o discipulado está incompleto. O discipulado não se limita à instrução ou ao batismo nas águas. Filipe pregou a Cristo em Samaria e realizou sinais que confirmaram a Palavra, conduzindo muitos à fé. No entanto, Lucas nos mostra que, apesar de aceitarem a mensagem e serem batizados, esses novos crentes ainda não haviam recebido o Espírito Santo. O termo grego usado em Atos 8.15, λαμβάνω (lambánō), indica “receber de forma contínua e plena”, ressaltando que o discipulado cristão só se completa com a capacitação espiritual concedida pelo Espírito.
Os apóstolos Pedro e João foram enviados para orar e impor as mãos sobre os samaritanos, permitindo que eles experimentassem plenamente o derramamento do Espírito. Esse ato não era apenas simbólico; era a consumação da obra de Cristo em suas vidas, capacitando-os para o serviço e a santificação.
Como observa Antônio Gilberto, o discipulado apostólico é um processo integral: ensino, prática e experiência espiritual caminham juntos, formando discípulos aptos a testemunhar com poder (GILBERTO, 1984, p. 145).
Essa narrativa nos desafia a refletir sobre nossa prática de discipulado hoje. Quantas vezes promovemos conhecimento sem conduzir os novos crentes à experiência viva com o Espírito Santo? A conversão sem o poder do Espírito é incompleta, e a igreja que se arrisca a discipular verdadeiramente não deixa ninguém apenas na teoria da fé.
Craig Keener enfatiza que a presença do Espírito é o que torna a fé eficaz e transformadora, produzindo frutos duradouros na vida do crente (KEENER, 2012, p. 1548).
O modelo de Samaria mostra ainda que o discipulado envolve acompanhamento e intercessão comunitária. A Igreja de Jerusalém não apenas enviou apoio missionário, mas participou ativamente da maturação espiritual dos novos convertidos.
O vínculo entre ensino, oração e capacitação pelo Espírito cria uma comunidade de fé que sustenta, encoraja e habilita cada crente para viver e compartilhar o Evangelho com ousadia. Devemos nos perguntar: nossa igreja valoriza a experiência do Espírito tanto quanto o ensino da Palavra? Estamos conduzindo os novos na fé à plenitude de Cristo ou nos limitamos a instruí-los superficialmente?
A história de Filipe e dos apóstolos nos desafia a cultivar discípulos completos, que conheçam, experimentem e vivam o poder do Espírito em cada área de suas vidas.
CONCLUSÃO
Nesta lição, aprendemos que a propagação do Evangelho após a perseguição não foi obra do acaso, mas resultado de uma igreja fiel à Palavra de Deus e centrada em Cristo. O poder transformador não estava em estratégias humanas nem em técnicas persuasivas, mas na pregação da cruz e na ação vivificante do Espírito Santo. Filipe e os apóstolos nos mostram que evangelizar não é apenas transmitir informação; é conduzir vidas ao encontro de Cristo, capacitando-as pelo Espírito. A narrativa em Samaria nos desafia a refletir sobre a essência de nossa missão. Um evangelho sem Cristo e sem a Palavra é vazio e impotente.
A Bíblia, ao invés de enfatizar métodos ou programas, revela o que realmente muda vidas: o Espírito que sela a fé e a Palavra que ensina, corrige e guia. É essa combinação que sustenta discípulos maduros e gera uma igreja que cresce mesmo em meio à oposição. Portanto, nosso chamado hoje é claro: evangelizar com fidelidade à Escritura, com Cristo no centro, e buscar diligentemente o poder do Espírito para que a mensagem seja viva e transformadora.
Seguimos o exemplo da igreja primitiva quando não confiamos em nossas habilidades, mas na promessa de Deus de agir poderosamente através de Sua Palavra e de Seu Espírito. Esta lição preciosa, depois de aprofundada com informações importantes, nos leva a três aplicações práticas para a vida do aluno:
1. Centralize Cristo em tudo o que você faz: - Avalie sua vida e ministério: suas palavras, ações e projetos estão fundamentados na cruz de Cristo e na Palavra de Deus? Sem Cristo no centro, mesmo o esforço mais intenso se torna vazio. Faça da sua fé uma experiência viva, que reflete a presença de Cristo em cada decisão.
2. Confie no poder do Espírito Santo, não apenas em suas estratégias: - Ao evangelizar, discipular ou servir, lembre-se de que é o Espírito que transforma corações. Planejar é importante, mas depender do Espírito é essencial. Ore, busque orientação divina e permita que Ele conduza suas ações, assim como fez com Filipe e os apóstolos; e
3. Discipule com atenção completa: - Não basta levar alguém a aceitar a mensagem; é preciso guiá-lo para que viva a experiência completa de fé. Ensine, oriente e acompanhe novos crentes na leitura da Palavra, no batismo e na entrega ao Espírito Santo. O discipulado integral fortalece a igreja e cria seguidores maduros de Cristo.
OTIMA AULA