16 de junho de 2025

Do julgamento à ressurreição

 

Do julgamento à ressurreição

TEXTO ÁUREO

 

 “E, quando Jesus tomou o vinagre, disse: Está consumado. E, inclinando a cabeça, entregou o espírito.” (Jo 19.30).

 

Entenda o Texto Áureo

Está consumado” (Tetelestai) - O verbo grego τετέλεσται (tetelestai), traduzido como “Está consumado”, é um perfeito passivo indicativo, denotando uma ação concluída com efeitos permanentes. É a proclamação da vitória de Cristo sobre o pecado, a morte e Satanás.

Segundo o Comentário Bíblico Beacon, esta é a declaração do cumprimento total da missão redentora de Jesus, incluindo as profecias messiânicas e o sacrifício substitutivo.

Champlin observa que esta palavra era usada em recibos comerciais com o sentido de “totalmente pago”, indicando que a dívida do pecado fora quitada de forma plena e definitiva.

MacArthur afirma que Jesus não morreu como vítima, mas como vencedor triunfante, entregando voluntariamente seu espírito após cumprir perfeitamente a vontade do Pai (Jo 10.18).

 

VERDADE PRÁTICA

 

Na cruz, Jesus triunfou sobre o pecado; na Ressurreição, conquistou a vitória sobre a Morte.

 

Entenda a Verdade Prática

Em resumo, o sacrifício de Jesus na cruz e sua ressurreição formam um evento único e poderoso que demonstra sua vitória sobre o pecado e a morte, oferecendo salvação e esperança para a humanidade.

 

LEITURA BÍBLICA

 

João 19.17,18,28-30; 20.6-10.

 17. E, levando ele às costas a sua cruz, saiu para o lugar chamado Calvário, que em hebraico se chama Gólgota,

Carregando a cruz – Ou, de acordo com a melhor leitura, “carregando a cruz para si mesmo”. Segundo os evangelhos sinóticos (Mateus 27:32; Marcos 15:21; Lucas 23:26), durante o caminho, Simão de Cirene foi obrigado a ajudar ou carregar a cruz. Inicialmente, o Senhor carregava a cruz por si mesmo, mas a linguagem notável de Marcos (15:22, φέρουσιν) sugere que Ele tenha fraquejado sob o peso. Compare com as notas de Mateus 27:31 e seguintes.

Muitos escritores, desde a época de Melito (Routh, Rell. Sacrr. 1:122), viram na história de Isaque (Gênesis 22:6) um tipo deste incidente. Compare com João 18:12, nota.

Saiu – Compare com Hebreus 13:12-13. Este “sair” (João 18:1) da cidade corresponde ao “entrar” (João 12:12): o “Caminho da Dor” até a linha de triunfo. Gólgota – Veja a nota em Mateus 27:33.

 

18. Onde o crucificaram, e, com ele, outros dois, um de cada lado, e Jesus no meio.

Eles crucificaram – Ou seja, os judeus, não diretamente, mas atuando por meio dos soldados romanos (v. 23), a quem foi confiada a execução. Para mais detalhes sobre a natureza da punição, veja a nota em Mateus 27:35.

Dois outros – São descritos como “ladrões” (λῃσταί, compare com João 18:40) por Mateus (27:38) e Marcos (15:27), e como “malfeitores” (κακοῦργοι, compare com João 18:30) por Lucas (23:32).

É possível que tenha sido intencional que esses criminosos fossem crucificados com o Senhor, a fim de igualar Sua alegada ofensa de traição com a deles. Compare com João 18:40, nota. No meio – Significando que Cristo ocupava a posição de destaque naquela cena de vergonha extrema. Mesmo no sofrimento, Cristo aparece como Rei. João, ao acrescentar essa cláusula, enfatiza um pensamento que os outros evangelistas deixam subentendido (Mateus 27:38; Marcos 15:27; Lucas 23:33).

 

28. Depois, sabendo Jesus que já todas as coisas estavam terminadas, para que a Escritura se cumprisse, disse: Tenho sede.

Depois disso] A frase não é indefinida, como “depois dessas coisas”; veja João 5:1. O ministério de Cristo para os outros havia terminado. Em seguida, a atenção se volta para Seu próprio sofrimento.

Mas todo o foco está concentrado no próprio Senhor, em Suas palavras e ações; e talvez por essa razão São João omita qualquer menção às três horas de escuridão (Mateus 27:45; Marcos 15:33).

Sabendo] Compare com João 13:1. estavam agora cumpridas] estão agora concluídas. A versão A.V. perde o paralelo marcante entre esta frase, “estão agora concluídas” (ἤδη τετέλεσται), e a que se segue, “Está consumado” (τετέλεσται).

Para que a Escritura se cumprisse] Essa cláusula pode ser conectada tanto com as palavras anteriores (“estavam agora cumpridas para que …”) quanto com as palavras seguintes (“… cumpridas, para que a Escritura se cumprisse, disse …”).

O destaque que o Evangelista dá ao cumprimento das palavras proféticas em cada detalhe do sofrimento de Cristo indica que a segunda interpretação é a correta. A “sede”, expressão intensa de exaustão física, foi especificada como parte da agonia do Servo de Deus (Salmo 69:21), e o Messias suportou isso até o fim. O incidente perde seu pleno significado se não for visto como um dos elementos do caminho previsto da Paixão.

Além disso, não há dificuldade na frase “estão agora concluídas” ao anteceder esse evento. A “sede” já era sentida, e esse sentimento incluía a confissão dela. O cumprimento da Escritura (nem é preciso dizer) não era o objetivo do Senhor ao proferir a palavra, mas havia uma correspondência necessária entre Seus atos e a prefiguração divina deles. se cumprisse] fosse realizado, aperfeiçoado.

A palavra usada (τελειωθῇ, Vulg. consummaretur, para a qual alguns manuscritos substituem a palavra usual πληρωθῇ) é muito significativa. Ela parece indicar não apenas o cumprimento isolado de um traço específico da imagem profética, mas a conclusão perfeita de toda a profecia. Essa manifestação de sofrimento físico foi a última coisa necessária para que o Messias fosse “aperfeiçoado” (Hebreus 2:10; 5:7 e seguintes), e assim o ideal profético foi “consumado” Nele.

Ou, expressando o mesmo pensamento de outra forma, a “obra” que Cristo veio “aperfeiçoar” (João 4:34; 17:4) estava escrita na Escritura, e pela realização dessa obra a Escritura foi “aperfeiçoada”. Assim, sob diferentes aspectos dessa palavra e do que ela implica, a profecia, a obra terrena de Cristo e o próprio Cristo foram “aperfeiçoados”.

 

29. Estava, pois, ali um vaso cheio de vinagre. E encheram de vinagre uma esponja e, pondo-a num hissopo, lha chegaram à boca.

O ato nesta ocasião (contrastando com Lucas 23:36) parece ter sido um ato natural de compaixão, e não de zombaria. A ênfase está no sofrimento físico do Senhor, e não na forma como Ele o enfrentou.

Agora (omitir) havia … um vaso … de vinagre] Parece certo, conforme Lucas 23:36, que o “vinagre” era um vinho azedo e diluído, a bebida comum dos soldados. Isso pode ter sido trazido por eles para seu próprio consumo durante a longa vigília. A menção ao “vaso colocado” é exclusiva de São João.

E encheram … e puseram …] tendo, portanto, colocado uma esponja cheia de vinagre sobre um ramo de hissopo, colocaram-na … O relato de São João não especifica quem realizou o ato. “Eles” pode se referir aos soldados mencionados antes ou aos “judeus”, que ele considera os verdadeiros responsáveis ao longo do relato (João 19:16).

O relato em São Mateus (27:48, veja a nota) e em São Marcos (15:36), igualmente impreciso, atribui a ação a “um dos que estavam ali”. Mas, como São Lucas (23:36) menciona que os soldados ofereceram “vinagre” ao Senhor em um momento anterior de Sua Paixão, parece provável que um deles, impressionado pelo que havia ocorrido, agora Lhe oferecesse, por compaixão, a bebida que antes fora oferecida em tom de escárnio.

Hissopo] Em São Mateus e São Marcos, menciona-se “uma cana”, que provavelmente deve ser distinguida do hissopo; embora o “hissopo” tenha sido frequentemente identificado com a planta do alcaparreiro, que possui hastes de cerca de um metro. Compare com Mateus 27:48, nota, e o Dicionário da Bíblia, verbete correspondente.

 

30. E, quando Jesus tomou o vinagre, disse: Está consumado. E, inclinando a cabeça, entregou o espírito.

Está consumado; e abaixando a cabeça, deu o Espírito. O que está consumado? A lei é cumprida como nunca antes, nem desde então, em sua “obediência até a morte, nem mesmo a morte da cruz”; Profecia messiânica é cumprida; A redenção está completa; “Ele acabou a transgressão, e fez a reconciliação pela iniquidade, e trouxe a justiça eterna, e selou a visão e a profecia, e ungiu o santo dos santos”; Ele inaugurou o reino de Deus e deu origem a um novo mundo.

 

João 20

6. Chegou, pois, Simão Pedro, que o seguia, e entrou no sepulcro, e viu no chão os lençóis

Então veio Simão Pedro – Simão Pedro, portanto, também chegou, enquanto João ainda permanecia do lado de fora.

Entrou no túmulo – Imediatamente, sem hesitar ou olhar antes.

E viu os lençóis de linho ali … – Literalmente, “e ele contemplou os lençóis de linho (e v. 7) deitados”. A mudança abrupta de tempo verbal indica uma pausa no fluxo do pensamento. Pedro entra com coragem, e então percebe os detalhes. O verbo usado para “contemplar” (θεωρεῖ) sugere um olhar fixo e atento, examinando cada detalhe.

 

7. e que o lençol que tinha estado sobre a sua cabeça não estava com os lençóis, mas enrolado, num lugar à parte.

O lençol – Compare com João 11:44.

Sobre a sua cabeça – A ausência do nome de Jesus é notável. O escritor está totalmente imerso no pensamento de Cristo. Compare com João 20:15.

Dobrado em um lugar à parte – Literalmente, “separado, em um único lugar”. Não havia sinais de pressa. O túmulo vazio transmitia uma sensação de completa tranquilidade. As roupas funerárias haviam sido cuidadosamente removidas e organizadas em dois locais distintos. Isso deixava claro que o corpo não havia sido roubado por inimigos; também tornava improvável que amigos o tivessem levado às pressas.

 

8. Então, entrou também o outro discípulo, que chegara primeiro ao sepulcro, e viu, e creu.

Então entrou também o outro discípulo … – Agora ele não hesita mais em entrar no túmulo, que já estava comprovadamente vazio. Ele entrou, viu (εἶδε) e creu. Tudo é descrito em uma única sentença, sem interrupções ou mudanças na estrutura (contrastando com o versículo 6). João viu o que Pedro viu: os claros sinais de que o corpo do Senhor havia sido retirado – e creu. A interpretação exata do verbo “creu” aqui é desafiadora. Provavelmente não significa simplesmente que João acreditou que o corpo havia sido removido, como Maria Madalena relatou. Isso era uma conclusão lógica e óbvia a partir do que ele viu. O uso do verbo de forma absoluta sugere uma aceitação confiante de um mistério ainda não totalmente compreendido, mas com plena confiança no amor divino.

Os três sinais – a pedra removida, o túmulo vazio e as vestes funerárias arrumadas – apontavam para algo maior que ainda seria revelado. João esperou com fé pela explicação. Talvez “creu” signifique que, de alguma forma, João percebeu que o Senhor estava vivo. Isso criaria um forte contraste entre “creu” e “sabiam” (compare com João 6:69). Se os discípulos tivessem realmente compreendido as Escrituras, teriam sabido que a ressurreição era uma necessidade divina.

Mas João, como os outros discípulos (“eles não sabiam”), ainda não havia entendido plenamente o ensino do Antigo Testamento nem as palavras de Jesus. No entanto, agora ele se distingue dos demais: ele creu, enquanto os outros ainda não sabiam.

 

9. Porque ainda não sabiam a Escritura, que diz que era necessário que ressuscitasse dos mortos.

Pois ainda … – Compare com Lucas 24:21; Marcos 16:14. A crença na ressurreição surgiu apesar da total falta de preparação dos discípulos para aceitá-la. Em vez de ser baseada em uma interpretação prévia das Escrituras, foi o próprio fato da ressurreição que iluminou o verdadeiro significado delas. Compare com Lucas 24:25, 24:45.

Os principais sacerdotes estavam cientes das palavras de Jesus sobre sua ressurreição e, temendo que isso pudesse causar problemas, tomaram medidas para evitá-los (Mateus 27:63 e seguintes).

Por outro lado, os discípulos, por mais que amassem Jesus, não se lembraram dessas mesmas palavras para seu consolo. Esse contraste revela o caráter de cada grupo e é algo profundamente verdadeiro quando se leva em conta as diferentes concepções que descrentes e discípulos tinham sobre a pessoa, a morte e a ressurreição de Cristo.

A Escritura – Provavelmente, a referência é ao Salmo 16:10. Compare com Atos 2:24 e seguintes; 13:35.

O evangelista menciona um testemunho específico (ἡ γραφή, compare com João 17:12), e não o conteúdo geral das Escrituras (κατὰ τὰς γραφάς, 1 Coríntios 15:3-4).

Deveria – Essa necessidade divina (δεῖ) aparece constantemente nos eventos inesperados da vida terrena de Jesus. Veja Mateus 26:54; Marcos 8:31; Lucas 9:22, 17:25, 22:37, 24:7, 24:26, 24:44 (e 46); João 3:14, 12:34; Atos 1:16. Veja também João 2:4 (ὥρα), nota.

10. Tornaram, pois, os discípulos para casa.

Então os discípulos foram embora … – Os discípulos, portanto, partiram, sentindo que nada mais poderia ser aprendido ali.

Os anjos, que haviam aparecido às mulheres, não se manifestaram aos apóstolos. Essas aparições seguem as leis de uma economia espiritual. Compare com João 20:12.

 

INTRODUÇÃO

Ao nos aproximarmos dos capítulos 19 e 20 do Evangelho de João, adentramos ao clímax da missão redentora do Filho de Deus. Aqui não temos apenas uma narrativa histórica de dor e triunfo, mas uma exposição teológica da mais profunda revelação divina.

Prisão, julgamento, flagelação, crucificação, morte, sepultamento e ressurreição de Jesus não são episódios isolados, mas atos interligados de um drama cósmico, no qual o Verbo eterno consuma a redenção da humanidade. João, o teólogo do Logos encarnado, registra com precisão cada detalhe, conduzindo o leitor à compreensão de que tudo foi cumprido conforme a soberana vontade do Pai. A expressão de Jesus na cruz — “Está consumado” (Jo 19.30) — não é um suspiro de derrota, mas um brado de vitória, o selo final sobre uma missão que começou na eternidade e se manifestou na plenitude dos tempos.

O termo grego tetelestai carrega o sentido jurídico de “plenamente pago” e o sentido sacerdotal de “oferta completa”. Como observa Gordon D. Fee, “em Jesus, o sofrimento não é mero padecimento, mas o meio através do qual Deus redime; e a ressurreição é o aval de que a obra está concluída”.

O Comentário Bíblico Pentecostal ressalta que a entrega voluntária de Jesus, seguida de sua ressurreição gloriosa, revela a soberania messiânica sobre a morte, e não apenas sua submissão ao sofrimento. A cruz não foi um acidente teológico, mas o ponto culminante da fidelidade do Filho ao Pai.

Craig S. Keener enfatiza que João apresenta Jesus não como uma vítima trágica, mas como o soberano que domina cada etapa da Paixão.

Quando Cristo diz “Está consumado”, ele não declara o fim de sua vida, mas a plenitude de sua obra.

Amos Yong, teólogo pentecostal contemporâneo, argumenta que a ressurreição não é apenas uma doutrina, mas uma realidade espiritual que impulsiona a missão contínua da Igreja: “A missão de Deus, cumprida em Jesus, continua agora pelo poder do Espírito que ressuscitou o Senhor”. A vitória de Cristo sobre a morte, narrada em João 20, é também a inauguração de uma nova criação.

Robert P. Menzies acrescenta que a ressurreição no Quarto Evangelho é acompanhada de uma promessa: a presença contínua do Espírito será a marca dos discípulos do Ressuscitado. Ainda como forma introdutória, Encontramos o comentário na Bíblia de Estudo Pentecostal, destacando que o túmulo vazio é a garantia de que nenhuma força pode deter os propósitos divinos.

A pedra removida não é apenas um gesto de poder, mas uma convocação ao testemunho: “Ele vive!”. Como comenta Antônio Gilberto, “a ressurreição é o selo da aprovação divina sobre tudo o que Jesus ensinou, fez e prometeu”.

Os comentários Beacon e Esperança convergem ao afirmar que o “Está consumado” sintetiza toda a missão messiânica: a obediência perfeita, o sacrifício vicário e a vitória sobre o pecado e a morte.

Já John MacArthur conclui com precisão reformada: “Cristo não morreu como mártir. Ele morreu como Redentor, cumprindo plenamente o plano eterno de salvação”. Portanto, ao estudarmos João 19–20, somos conduzidos ao centro do Evangelho: a cruz e a ressurreição não apenas aconteceram — elas mudaram tudo. Todo o drama da salvação se concentra nestes capítulos. E toda a esperança da fé cristã repousa sobre esta declaração final: “Está consumado”. A obra está feita. A dívida foi paga. A morte foi vencida. O túmulo está vazio. A esperança vive!

 

I. A PRISÃO E A CONDENAÇÃO DE JESUS

1. A prisão. Após o sublime capítulo 17, em que Jesus ora como nosso Sumo Sacerdote intercessor, os capítulos 18 e 19 de João nos transportam para o cenário mais dramático da redenção: a prisão do Cordeiro de Deus.

Terminando seu discurso final aos discípulos, Jesus atravessa o ribeiro de Cedrom (gr. Kedrón), indo ao Jardim do Getsêmani — um lugar de oração, mas agora palco de conflito espiritual.

João, diferentemente dos Sinópticos, não enfatiza o sofrimento emocional de Jesus, mas a sua autoridade soberana diante da escuridão que se aproxima. Ali, entre as oliveiras, no Jardim do Olival, o Verbo encarnado, ciente da hora, não recua: Ele avança em direção ao cálice da aflição.

Segundo Craig S. Keener, o jardim não é apenas um local geográfico, mas um eco do Éden, onde o segundo Adão, ao contrário do primeiro, submete-se perfeitamente à vontade do Pai, mesmo sabendo que isso o levaria à cruz¹. Jesus não é apanhado de surpresa, tampouco coagido. Ele se apresenta com autoridade aos soldados que vêm prendê-lo, e ao dizer “Sou Eu” (gr. Egō eimi), os inimigos recuam e caem por terra (Jo 18.6).

Esse termo é teologicamente carregado: Egō eimi é uma afirmação da identidade divina — o mesmo nome pelo qual Deus se revelou a Moisés em Êxodo 3.14. João revela, assim, que o mesmo Deus que disse “Eu Sou” na sarça ardente é o que agora se entrega voluntariamente aos algozes.

Gordon D. Fee destaca que, no Evangelho de João, Jesus nunca é passivo diante da cruz, mas o protagonista soberano de sua própria paixão. A entrada de Judas, portando um beijo traiçoeiro, cumpre a Escritura (Sl 41.9), mas também revela a dureza de um coração que, mesmo andando com a Luz, preferiu as trevas.

Segundo Antônio Gilberto, a traição com um beijo representa “o cúmulo da falsidade e da insensibilidade espiritual”, sendo o sinal que marca o início da maior injustiça já cometida na história humana. Logo após sua prisão, Jesus é conduzido até Anás e depois Caifás, numa sequência de julgamentos ilegítimos e violentos.

O Comentário Bíblico Pentecostal ressalta que os abusos sofridos por Jesus não foram apenas físicos, mas espirituais: o Santo dos santos foi cuspido, esbofeteado e ridicularizado por aqueles que deveriam ser guardiões da justiça.

Em seguida, Ele é levado a Pilatos, governador romano, para cumprir o desígnio da cruz — pois somente Roma podia aplicar a pena de morte.

Conforme observa John MacArthur, “embora o Sinédrio desejasse sangue, a autoridade final repousava sobre Pilatos, e isso se dá para que se cumprisse a profecia da crucificação — morte de cruz, e não por apedrejamento como previa a Lei judaica”. Este não é apenas um relato histórico, mas uma declaração da soberania de Deus sobre cada etapa do drama redentor. Mesmo cercado por soldados e traído por um amigo, Jesus se mantém no controle: Ele não é um prisioneiro da política ou da religião — Ele é o Rei que marcha para o trono da cruz com plena consciência de sua missão eterna. Como afirma Amos Yong, “a prisão de Jesus não é o fim, mas o início visível do triunfo escatológico de Deus no mundo”. Diante desse Cristo que se entrega, o leitor é chamado não apenas a observar, mas a adorar.

 

2. O interrogatório. O relato do interrogatório de Jesus diante de Pilatos                   (Jo 18.28–40) é uma poderosa demonstração do contraste entre a justiça corrompida dos homens e o propósito soberano de Deus. Após ter sido preso e levado à casa de Anás e Caifás durante a madrugada, Jesus é conduzido ao pretório logo ao amanhecer.

 

Os líderes religiosos judeus — paradoxalmente preocupados com a impureza cerimonial da Páscoa (Jo 18.28), mas indiferentes ao crime de condenar um inocente — rejeitam julgar Jesus pelas próprias leis, pois buscam a pena capital, algo que só a autoridade romana poderia aplicar. A ironia é gritante: os guardiões da Lei entregam o Justo ao império da injustiça. Pilatos inicia o interrogatório com ceticismo e desconforto político. Seu questionamento (“Que acusação trazeis contra este homem?”Jo 18.29) é uma tentativa de escapar da armadilha que os judeus armam para ele.

 

Quando os líderes dizem: “Se este não fosse malfeitor, não o teríamos entregado” (v. 30), evitam apresentar evidências — pois, de fato, não havia crime real, apenas ódio religioso.

 

Craig S. Keener observa que, naquele contexto, “os romanos não se envolviam em disputas religiosas internas dos judeus, a menos que houvesse risco de desordem pública”. Assim, a tensão entre a autoridade civil e a pressão religiosa torna-se o pano de fundo do julgamento mais injusto da história. Ao interrogar Jesus, Pilatos ouve uma resposta inesperada: “O meu Reino não é deste mundo” (Jo 18.36). Aqui, Jesus utiliza a expressão basileía (βασιλεία), não no sentido territorial, mas em seu aspecto teológico e escatológico. Ele não nega ser rei, mas define que seu reinado não deriva do poder político, mas da vontade do Pai eterno.

 

Gordon D. Fee destaca que, nesse momento, “Jesus reinterpreta a ideia de Reino à luz da cruz, como dom gracioso do governo de Deus, e não como instrumento de dominação”. Pilatos, incapaz de compreender o Rei que reina por meio da entrega, se vê diante de um dilema: condenar o inocente ou enfrentar a fúria de um povo inflamado pelo fanatismo. Na tentativa de evitar a responsabilidade, Pilatos recorre à tradição pascal de libertar um prisioneiro, e apresenta Jesus ao lado de Barrabás — um notório criminoso (Jo 18.40).

 

No grego, o termo lēstḗs (λῃστής) usado para Barrabás, pode significar “salteador”, mas também se referia a insurretos políticos. Pilatos esperava que o povo rejeitasse o violento Barrabás e escolhesse Jesus. Mas o ódio cego prevaleceu: eles escolheram o violento em lugar do Príncipe da Paz. John MacArthur observa que “Pilatos usou de manipulação para salvar Jesus, mas ao final, sacrificou a justiça para preservar sua carreira”.

 

O Comentário Bíblico Pentecostal observa que este momento revela a corrupção da liderança religiosa e a fragilidade das estruturas humanas diante do propósito divino: “Mesmo quando os homens agem movidos pelo ódio, Deus conduz a história rumo ao seu clímax redentor”. Para Amos Yong, esta cena revela que o Reino de Deus jamais será compreendido por sistemas mundanos, pois “o poder de Cristo é revelado na fraqueza, e a justiça de Deus triunfa onde o mundo só vê derrota”. O povo preferiu Barrabás — símbolo da força e da revolta —, mas Deus entregou seu Filho, o verdadeiro Cordeiro, cuja vitória viria não pelo confronto, mas pela cruz.

 

3. A condenação. A sentença contra Jesus Cristo, narrada em João 19.1–2, revela a profundidade do sofrimento vicário do Filho de Deus e a perversidade de um sistema judicial manipulado pelo ódio e pela conveniência política.

Pilatos, na tentativa de acalmar os líderes religiosos sem condenar à morte um inocente, ordena que Jesus seja açoitado (gr. phragellóō – φραγελλόω), um termo usado para designar o mais severo tipo de flagelação romano. O açoite consistia em tiras de couro reforçadas com pedaços de osso e metal, projetadas não para punir, mas para mutilar. Segundo Craig S. Keener, “esse tipo de flagelo não raramente levava à morte antes mesmo da crucificação”.

 

A intenção de Pilatos era apelar à compaixão do povo — mas o plano falha, e a violência apenas se intensifica. Após o açoite, os soldados romanos zombam de Jesus, coroando-O com espinhos e vestindo-O com um manto púrpura (Jo 19.2).

 

A “coroa” (gr. stéphanos – στέφανος), ironicamente, era o símbolo da honra e do triunfo; aqui, ela é transformada num instrumento de escárnio e dor. Espinhos longos e duros — possivelmente da planta Zizyphus spina-christi, comum na Judeia — perfuram o couro cabeludo ricamente irrigado, causando sangramento intenso.

 

Como observa John MacArthur, “os soldados estavam ridicularizando a realeza de Jesus, mas, sem saber, coroavam o Rei dos reis com o símbolo de sua glória: o sofrimento”. Nesse momento, não temos apenas a injustiça humana; temos a manifestação mais profunda da justiça divina. A carne dilacerada, o sangue escorrendo e o silêncio de Cristo apontam para o cumprimento das palavras proféticas de Isaías 53.4–5: “certamente, Ele tomou sobre si as nossas enfermidades... foi traspassado pelas nossas transgressões”.

 

O Comentário Bíblico Pentecostal destaca que, para os crentes pentecostais, este sofrimento é vicário, redentor e completo — “Cristo não apenas levou nossos pecados, mas também nossas dores e doenças, numa dimensão que toca corpo, alma e espírito”.

 

Anthony D. Palma reforça: “o sofrimento físico de Cristo foi real e necessário; não apenas símbolo, mas substituição”. Na perspectiva espiritual, Jesus não foi apenas vítima de um sistema injusto. Ele entregou-se voluntariamente como Cordeiro imaculado (Jo 10.18). Aquele que podia chamar legiões de anjos (Mt 26.53), permaneceu em silêncio, cumprindo em Si mesmo o plano eterno da redenção.

 

Gordon D. Fee afirma que “o Cristo que sofre não é fraco, mas o Deus que se revela no escândalo da cruz. A fraqueza dEle é a nossa força”. Cada gota de sangue vertida foi a assinatura divina da nova aliança, firmada não em tábuas de pedra, mas nos corações partidos que n’Ele encontram cura. Essa condenação injusta não foi acidente da história. Foi o ponto central do plano eterno de Deus.

 

Como resume Antônio Gilberto, “a cruz não foi um erro; foi um decreto. E a dor de Cristo é o clímax do amor de Deus em ação”. No açoite e na coroa, vemos não apenas sofrimento, mas a glória do Evangelho — Deus se fazendo maldição para que fôssemos feitos justiça (2Co 5.21). Ao contemplarmos este momento, não há como permanecer indiferente. Diante do Sangue, resta-nos a reverência e a rendição.

 

II. CRUCIFICAÇÃO, MORTE E SEPULTAMENTO DE JESUS

 1. O caminho do Calvário. Quando Pilatos finalmente cede à pressão religiosa e política dos líderes judeus, João registra com precisão a sentença que selaria o destino redentor da humanidade: “Então, entregou-lho para que fosse crucificado” (Jo 19.16). O verbo grego paradídōmi (παραδίδωμι), aqui traduzido como “entregou”, carrega um peso teológico significativo: não se trata apenas da ação de Pilatos, mas do cumprimento do plano soberano de Deus. Como afirma Craig S. Keener, “embora os homens tenham agido por crueldade e covardia, o ato de entrega se alinha ao propósito divino da salvação”. Sob o peso de uma cruz romana, instrumento de morte e escárnio, Jesus percorre o caminho até o Gólgota, o Lugar da Caveira (Jo 19.17).

O termo hebraico Gulgōlet, traduzido no grego como Golgothā (Γολγοθᾶ), referia-se à forma da colina ou à quantidade de crânios que ali jaziam, testemunhas silenciosas das execuções romanas. Era um lugar público, escolhido intencionalmente para expor os crucificados à vergonha, ao sofrimento prolongado e ao escárnio das multidões.

Como destaca John MacArthur, “o Gólgota não foi escolhido ao acaso — Deus ordenou que o Cordeiro morresse à vista de todos, para que ninguém dissesse que a redenção foi escondida”.  

A crucificação, relatada em João 19.18, foi mais que um evento histórico; foi o clímax cósmico do drama redentor. O Messias foi colocado entre dois criminosos — um à direita e outro à esquerda — em cumprimento direto da profecia de Isaías 53.12: “foi contado com os transgressores”. Essa cena não apenas reforça a humilhação de Cristo, mas também a sua identificação plena com os pecadores. Um dos malfeitores zombava, mas o outro, tocado pela graça, declarou: “Lembra-te de mim quando entrares no teu Reino” (Lc 23.42).

O Comentário Bíblico Pentecostal enfatiza que essa conversão de última hora revela a “potência do Reino já presente, mesmo na morte iminente”. A trajetória de Jesus até o Calvário não pode ser lida como derrota, mas como triunfo sacrificial. Ele não foi arrastado à força, mas foi como ovelha muda perante os seus tosquiadores (Is 53.7).

Gordon D. Fee ressalta que, nos escritos joaninos, “Jesus nunca é vítima; Ele é o Rei exaltado em seu trono de madeira”. A cruz, para João, é exaltação (cf. Jo 3.14; 12.32), não humilhação. O Cristo ferido no madeiro é o mesmo que atrai todos a Si. O caminho do Calvário foi a estrada da nossa reconciliação com Deus. Cada passo sangrento pavimentou a ponte entre o céu e a terra. Portanto, o caminho do Calvário não é apenas um trajeto geográfico ou um capítulo sombrio da história. É o epicentro da esperança cristã.

Ali, entre o céu escuro e a terra abalada, o Filho do Homem foi levantado — para redimir, para salvar, para cumprir a eterna vontade do Pai.

 

2. A missão foi encerrada. Na agonia final da cruz, Jesus, plenamente consciente e no domínio de si, expressa uma das declarações mais teologicamente densas de toda a Escritura: “Tenho sede” (Jo 19.28). Essa afirmação não é apenas um clamor fisiológico; é um sinal inequívoco de que até os últimos detalhes proféticos estavam sendo cumpridos. O verbo grego usado aqui, διψάω (dipsáō), não indica apenas desidratação, mas também uma profundidade espiritual — a sede daquele que bebeu o cálice da ira de Deus até a última gota.

 

Como afirma Craig S. Keener, “a sede de Jesus representa tanto sua humanidade quanto o cumprimento deliberado da Escritura, especialmente o Salmo 69.21”. A oferta de vinagre (Jo 19.29), uma bebida azeda usada pelos soldados romanos para matar a sede nos dias de calor, foi colocada numa esponja e erguida até os lábios do Salvador. O ato aparentemente banal era, na verdade, carregado de sentido escatológico e tipológico. Jesus não rejeita o vinagre — Ele o recebe, não para alívio, mas como cumprimento.

 

Conforme explica Gordon D. Fee, “João apresenta Jesus como um Messias soberano, que mesmo na morte continua dirigindo o roteiro da redenção”. E então, vem o brado final: “Está consumado!” (Tetelestai, τετέλεσται – Jo 19.30).

 

No grego koiné, este verbo no tempo perfeito indica uma ação completa no passado com efeitos permanentes. Era um termo usado em recibos comerciais e significava “pago por completo”. A missão do Filho — a obediência perfeita, a satisfação da justiça divina, a vitória sobre o pecado — foi plenamente realizada.

 

John MacArthur salienta que “não foi um grito de exaustão, mas de conquista; um pronunciamento de que toda dívida espiritual foi cancelada para sempre”. Ao proclamar Tetelestai, Jesus não apenas encerra sua missão terrena, mas sela eternamente a nova aliança com seu sangue.

 

O Comentário Bíblico Pentecostal destaca que “o grito final do Cristo crucificado reverberou como o triunfo do Reino — uma declaração de que Satanás, o pecado e a morte foram derrotados de uma vez por todas”.

 

Anthony D. Palma, por sua vez, observa que este momento não marca o fim da vida de Jesus, mas o cumprimento de sua função messiânica como o Servo Sofredor de Isaías 53. Diante disso, o leitor atento não pode permanecer indiferente. O brado da cruz nos arranca da apatia espiritual e nos lança na presença de um Deus que sangrou por nós.

 

Aquilo que estava separado agora está reconciliado. O véu foi rasgado, a dívida foi paga, e a missão foi cumprida. Tetelestai! — uma palavra, um grito, uma eternidade de redenção.

 

3. O Sepultamento. O silêncio da morte na cruz dá lugar a um inesperado movimento de fé e coragem: “Depois disto, José de Arimateia... rogou a Pilatos o corpo de Jesus” (Jo 19.38). O nome Iōsēph ho apo Harimathaias (Ἰωσὴφ ἀπὸ Ἁριμαθαίας), revela não apenas a origem geográfica de José, mas seu papel singular na narrativa da paixão. Embora membro do Sinédrio (Mc 15.43) — o mesmo conselho que conspirou contra Jesus —, José não consentiu com tal decisão (Lc 23.50-51). Até então um discípulo secreto (mathētēs kekrummenōs), ele agora rompe com o medo, tornando-se, como observa Craig Keener, um símbolo poderoso de discipulado corajoso em tempos de trevas.

 

A riqueza de José (Mt 27.57) cumpria diretamente a profecia de Isaías 53.9: “...com o rico esteve na sua morte...”. A tradição judaica exigia sepultamento imediato, e João faz questão de mencionar que “no lugar onde Jesus fora crucificado havia um jardim” (Jo 19.41), sugerindo que o túmulo estava próximo ao Gólgota — uma caverna escavada na rocha, típica dos sepulcros de homens nobres, nunca antes usada.

 

Gordon D. Fee enfatiza que, ao ceder seu próprio túmulo, José não apenas demonstrou honra, mas se identificou publicamente com Aquele que fora desprezado. A expressão grega usada para “rogou a Pilatos” é ērōtēsen ton Pilaton (ἠρώτησεν τὸν Πιλᾶτον), implicando não uma exigência, mas uma súplica respeitosa e determinada.

 

Isso sugere que José conhecia bem os protocolos romanos, onde corpos de crucificados eram muitas vezes deixados insepultos. No entanto, Pilatos, talvez ainda impressionado pela conduta de Jesus e desejando encerrar rapidamente o episódio, concede o pedido.

 

Como aponta John MacArthur, isso não apenas demonstra providência divina, mas também uma quebra do protocolo comum, orquestrada soberanamente.

Nicodemos, outro fariseu outrora temeroso, une-se a José, trazendo cerca de 34 quilos (litras – λίτρας) de mirra e aloés — uma quantidade usada para sepultamentos reais. Isso nos revela que, mesmo em sua morte, Jesus foi tratado como Rei.

 

Como destaca o Comentário Bíblico Pentecostal, esse ato carrega não só honra, mas fé escatológica: ambos viam em Jesus mais que um mártir — viam o Messias. Portanto, o sepultamento de Jesus não foi mero ritual fúnebre, mas uma proclamação silenciosa, carregada de fé e cumprimento profético. O túmulo de José se tornou o berço da esperança eterna.

O silêncio da rocha selada ecoava o anúncio celestial: o Justo foi enterrado como um rei, mas não permaneceria ali. Como bem ensina Antônio Gilberto, a sepultura emprestada foi apenas uma estação provisória entre a cruz e a glória.

 

III. A RESSURREIÇÃO DE JESUS

 

1. O Túmulo Vazio. Na alvorada do primeiro dia da semana, algo absolutamente extraordinário irrompeu a ordem natural: "Houve um grande terremoto" (seismòs megas, Mt 28.2), sinalizando uma intervenção direta do céu na história. Um anjo do Senhor, com aparência como um relâmpago e vestes alvas como a neve, desceu e removeu a pedra do sepulcro — não para permitir que Cristo saísse, mas para que os homens pudessem ver que Ele já havia ressuscitado.

 

Segundo Craig Keener, o terremoto aponta para uma teofania, ou seja, uma manifestação divina que inaugura uma nova era redentora. No Evangelho de João, Maria Madalena, tomada por devoção e ainda cativa pela dor da perda, chega ao sepulcro prói skotias étì ōn (πρωῒ σκοτίας ἔτι οὔσης — Jo 20.1), “ainda escuro”, revelando não apenas a hora, mas o estado sombrio da alma que desconhece ainda a glória da ressurreição. Ela não estava sozinha: conforme Marcos (16.1), Maria, mãe de Tiago, e Salomé a acompanhavam, levando aromas para ungir o corpo de Jesus.

 

O túmulo, porém, estava vazio. O corpo havia desaparecido, mas não furtado — havia ressuscitado. A ausência do corpo não era silêncio; era proclamação. O túmulo vazio não é um vácuo de sentido, mas uma pregação poderosa: “Por que buscais entre os mortos ao que vive?(Lc 24.5). A linguagem do Evangelho de João emprega verbos como blepō (βλέπω – “ver com percepção”) e eidon (εἶδον – “compreender”), mostrando que a descoberta do túmulo vazio levou a uma compreensão progressiva da ressurreição (Jo 20.8).

 

Segundo Gordon D. Fee, o túmulo vazio é o ponto de inflexão entre a antiga criação e a nova criação, onde a morte começa a retroceder.

 

Antônio Gilberto destaca que a ressurreição literal de Cristo é a âncora da fé cristã: se o túmulo estivesse cheio, nossa fé estaria vazia.

 

O Comentário Bíblico Pentecostal ressalta que os detalhes fornecidos pelos evangelistas — a pedra removida, o lençol deixado e os anjos presentes — foram cuidadosamente preservados para sustentar a historicidade do evento.

 

O Comentário MacArthur acrescenta que o túmulo emprestado por José de Arimateia serviu, na providência divina, para não deixar dúvidas sobre a identidade do corpo ali depositado.

 

Portanto, o túmulo vazio não é apenas um detalhe narrativo: é a certidão de nascimento da esperança cristã. Não havia corpo, mas havia glória. Não havia morte, mas vida transbordante. O silêncio da sepultura tornou-se o megafone da eternidade, proclamando: Cristo ressuscitou! Ele venceu a morte e reina para sempre!

 

2. A Ressurreição como base da Fé Cristã. A ressurreição de Jesus Cristo não é apenas um acontecimento extraordinário na narrativa dos Evangelhos — ela é o fundamento da fé cristã, o eixo em torno do qual gira toda a esperança escatológica do crente. O apóstolo Paulo, em sua magistral defesa da ressurreição em 1 Coríntios 15, é taxativo: “Se Cristo não ressuscitou, é vã a nossa pregação, e vã, a nossa fé” (1Co 15.14).

 

Em outras palavras, sem a ressurreição, a cruz seria apenas uma tragédia, e o cristianismo, um idealismo vazio.

 

Como destaca Gordon D. Fee, para Paulo, a ressurreição é a cláusula de validade de todo o plano redentor — se ela for anulada, toda a estrutura da salvação desmorona.

 

A primeira razão para crermos com segurança na ressurreição é a autoridade das próprias palavras de Cristo. Em João 20.9, somos informados que ainda não haviam compreendido as Escrituras que afirmavam que “era necessário que Ele ressuscitasse dos mortos”.

 

O verbo grego dei (δεῖ), traduzido por “era necessário”, carrega o sentido de uma exigência divina e profética, indicando que a ressurreição não foi um mero acaso, mas um cumprimento do propósito soberano de Deus.

 

Como afirma Anthony D. Palma, esse “necessário” é o eco dos planos eternos de Deus revelados desde Moisés até os profetas. A segunda evidência poderosa é a constatação empírica e física do túmulo vazio.

 

Pedro e João correram ao sepulcro após ouvir o relato de Maria Madalena                   (Jo 20.6-7) e encontraram ali os lençóis cuidadosamente dispostos, e o sudário que estivera sobre a cabeça de Jesus dobrado em outro lugar. O cuidado com os detalhes reforça que não houve roubo ou confusão, mas sim uma ordem sobrenatural indicando a vitória sobre a morte.

 

Craig Keener observa que essa descrição da cena é típica de uma narrativa ocular de alta credibilidade histórica. No entanto, o ápice do relato é a experiência íntima e transformadora de Maria Madalena. Ela chorava diante do túmulo quando viu dois anjos (Jo 20.11-13), mas foi ao ouvir o próprio Jesus chamar seu nome — “Maria!” — que seus olhos se abriram.

 

A palavra grega legō (λέγω), aqui usada, revela mais que uma fala comum: é uma palavra que toca a alma, que penetra a identidade. Ela se torna, então, a primeira testemunha da ressurreição, incumbida por Jesus de anunciar aos discípulos: “Subo para meu Pai e vosso Pai, meu Deus e vosso Deus” (Jo 20.17).

 

Segundo Robert P. Menzies, isso marca uma revolução na relação entre o Cristo glorificado e seus seguidores, pois agora Ele compartilha com eles a mesma filiação espiritual diante do Pai. Assim, a ressurreição é mais do que um milagre do passado: é a proclamação do início da nova criação, o selo da vitória sobre o pecado e a morte, a certeza de que a cruz não foi o fim, mas o portal da glória.

Como declara o Comentário Bíblico Beacon, a ressurreição é o “Amém de Deus” ao “Está consumado” do Calvário.

 

3. O Cristo Ressurreto quebra a incredulidade. A incredulidade tem o poder de trancar portas — não apenas as de casas, mas também as da alma. Os discípulos estavam reunidos “com as portas trancadas, por medo dos judeus” (Jo 20.19), e o clima era de desespero, de perda, de dúvidas abafadas. Maria Madalena já havia proclamado com lágrimas nos olhos: “Eu vi o Senhor!” (Jo 20.18).

 

Pedro e João haviam testemunhado o túmulo vazio e os lençóis dispostos com ordem (Jo 20.6-7). E ainda assim… o medo sufocava a fé. Mas é exatamente aí, no ambiente denso da dúvida e da dor, que Jesus entra. O verbo grego ēlthen (ἦλθεν) — “veio” — usado em João 20.19, carrega a ideia de chegada repentina e soberana, indicando que nenhuma parede, nenhuma alma fechada, é obstáculo para o Cristo glorificado.

 

A primeira palavra do Ressuscitado é: “Paz seja convosco” — eirēnē hymin (εἰρήνη ὑμῖν). Essa não é apenas uma saudação educada. É uma infusão do shalom divino que desarma o medo, cura a alma fragmentada e restaura a esperança.

 

Como escreve Craig Keener, essa paz é um eco da promessa de João 14.27, onde Jesus havia dito: “Deixo-vos a paz, a minha paz vos dou”. Agora, essa paz é selada não com palavras, mas com as marcas dos cravos nas mãos. A incredulidade não resiste ao toque das feridas redentoras³. Jesus aparece também à beira do mar de Tiberíades (Jo 21.1), revelando-se mais uma vez, agora a Pedro e a outros discípulos que haviam retornado às redes — às velhas rotinas, como quem tenta reconstruir uma vida sem esperança.

 

Mas o Cristo ressuscitado não permite que seus escolhidos vivam de saudade ou remorso. Com ternura divina, Ele realiza novamente o milagre da pesca abundante, como no início do ministério (Lc 5.1-11), reacendendo o chamado e renovando a missão.

 

Gordon Fee observa que esse milagre é o símbolo da vocação restaurada — pois, mesmo após a negação, Jesus chama Pedro de volta à liderança, agora temperada pelo quebrantamento. O impacto da ressurreição é tão avassalador que não apenas convence: quebra, reconstrói, envia.

 

Anthony D. Palma afirma que o Cristo ressurreto “não veio apenas para ser admirado, mas para capacitar discípulos feridos a se tornarem testemunhas cheias do Espírito”. Pedro, o homem que chorou amargamente, será o mesmo que levantará sua voz no Pentecostes, proclamando com ousadia: “A este Jesus, Deus ressuscitou, do que todos nós somos testemunhas” (At 2.32).

 

O mesmo Cristo que entrou na sala trancada é aquele que entra hoje nos recônditos da alma de quem ainda chora, duvida e espera. Diante dEle, a incredulidade se desfaz como névoa ao sol da manhã. A dúvida é vencida não por argumentos, mas pelo encontro real com o Cristo vivo. Como escreveu Antônio Gilberto, “a presença viva de Jesus é a maior resposta que a alma humana pode receber”. Ao leitor que ainda hesita, ou que já perdeu as palavras da fé: ouça novamente a voz do Ressuscitado — “Paz seja contigo” — e permita que Ele entre, toque, cure e envie.

 

CONCLUSÃO

A Ressurreição do Senhor Jesus não é apenas mais um episódio nas páginas do Novo Testamento — ela é o clímax da história da redenção, o selo divino que autentica tudo o que Jesus ensinou, realizou e prometeu.

Ela não representa apenas a vitória de um homem sobre a morte, mas a invasão do Céu na história humana, proclamando que o túmulo não é o destino final para aqueles que estão em Cristo.

O verbo grego egeírō (ἐγείρω), frequentemente usado nos relatos da ressurreição, significa não apenas “levantar”, mas ser levantado com poder soberano por ação direta de Deus (Rm 8.11).

Jesus não ressuscitou como quem escapou da morte — Ele a esmagou sob Seus pés, como o Vencedor que vive para sempre.

O apóstolo Paulo declara com veemência em 1Coríntios 15 que “se Cristo não ressuscitou, é vã a nossa pregação, e vã a nossa fé” (v.14).

A fé cristã não repousa sobre filosofias, nem sobre moralidades, mas sobre um túmulo vazio e um trono ocupado nos céus. E essa verdade é tão vital que os primeiros cristãos arriscaram tudo, inclusive a própria vida, para proclamar que Aquele que fora crucificado agora reina vivo.

Como escreve Craig Keener no Comentário Bíblico do Novo Testamento, Vida, p. 1154: “a ressurreição de Jesus é a centelha que incendiou o movimento cristão com uma coragem sobrenatural”. A Ressurreição não é apenas uma doutrina a ser confessada, mas uma experiência que transforma tudo: o coração, o destino e a eternidade. Quando o Credo Apostólico declara: “Creio na ressurreição da carne”, ele não se refere a uma esperança abstrata, mas sim a uma esperança enraizada em um evento histórico e corpóreo: o corpo real de Jesus venceu a morte real.

Como nos ensina Antônio Gilberto na Teologia Sistemática Pentecostal, CPAD, p. 226: “a ressurreição de Cristo é a garantia irrevogável da ressurreição futura dos que creem Nele”. Essa convicção transformou mártires em adoradores, e perseguidos em proclamadores da verdade. Quem contempla o Cristo ressuscitado não pode mais viver da mesma maneira. Ele nos convida a olhar para a morte não com temor, mas com fé. O túmulo é apenas uma porta — e Jesus é a chave que a destrancou para sempre. Mais do que uma lembrança pascal, a Ressurreição é um chamado diário à fidelidade, à esperança e à santidade. Quem realmente crê que Cristo vive, não pode permanecer no pecado como se nada tivesse mudado.

Como escreve Gordon D. Fee, em Paul, the Spirit, and the People of God, Hendrickson, p. 150: “o poder que ressuscitou Jesus habita agora nos crentes, santificando sua vida e preparando-os para a glória futura”. Este não é um convite religioso; é um clamor do Céu aos corações adormecidos: Desperta, ó tu que dormes, levanta-te dentre os mortos, e Cristo te iluminará! (Ef 5.14).

O Cristo vivo nos chama a viver não apenas com fé, mas com os olhos fixos no dia em que também seremos ressuscitados em glória imortal (1Co 15.52-53).

Se hoje o seu coração estiver frio, se a sua fé estiver ferida, se a sua esperança parecer enterrada, volte-se para o túmulo vazio. Ouça de novo a voz do anjo: “Ele não está aqui! Ressuscitou!” (Mt 28.6).

E como Maria Madalena, corra, chore, prostre-se — mas, sobretudo, anuncie. O Cristo que venceu a morte venceu também por você. E por isso, não há mais noite, nem desespero, nem derrota definitiva. Está consumado. Está vivo. E voltará

 

Amem