28 de abril de 2025

A verdade que liberta

 

A verdade que liberta

TEXTO ÁUREO

“E conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará.” (Jo 8.32)

  

Entenda o Texto Áureo

 

E conhecereis a verdade. Na grande Oração Intercessória de João 17, Jesus ora por Seus discípulos: “Santifica-os na verdade; a Tua palavra é a verdade” (João 8:17). Na resposta à pergunta de Tomé em João 14, Ele declara: “Eu sou o caminho, a verdade e a vida” (João 14:6).

 

É esse pensamento que está presente na conexão entre a continuidade em Sua palavra e o conhecimento da verdade aqui. Esses judeus professavam conhecer a verdade e ser os expositores oficiais dela. Eles ainda tinham que aprender que a verdade não era apenas um sistema, mas também um poder; não apenas algo a ser escrito ou falado, mas também algo a ser sentido e vivido.

 

Se eles permanecerem em Sua palavra, realmente serão Seus discípulos; vivendo a vida da verdade, eles ganharão a percepção da verdade. “seguindo a verdade em amor” eles crescerão “em tudo naquele que é a cabeça, Cristo” (Efésios 4:15).

 

E a verdade vos libertará. Aqui, como em João 17:17, fala-se da verdade e santidade como correlativas. A luz da verdade dissipa as trevas em que se encontra a fortaleza do mal. O pecado é a escravidão dos poderes da alma, e essa escravidão é desejada porque a alma não vê seu terrível mal.

 

Quando ele percebe a verdade, surge um poder que o levanta da sua paralisia e o fortalece para quebrar os grilhões pelos quais foi amarrado. A libertação do domínio romano era uma das esperanças nacionais ligadas ao Advento do Messias. De fato, existe liberdade de um inimigo mais esmagador do que as legiões de Roma. (Comp. Marcos 5:9; Lucas 8:30)

 

VERDADE PRÁTICA

O Verbo Divino representa a Verdade que se manifesta na história para libertar o pecador.

 

Entenda a Verdade Prática:

 

"Verdade" aqui não se refere apenas aos fatos que envolvem Jesus como o Messias e o Filho de Deus, mas também o ensino que ele trouxe.

 

O discípulo do Senhor Jesus genuinamente salvo e obediente conhecerá a verdade divina e a liberdade do pecado (v. 34) e a busca da realidade, essa verdade divina não provém apenas de concordância intelectual (1Co 2.14), mas de comprometimento salvador com Cristo (cf. Tt 1.1-2).

 

LEITURA BÍBLICA- João 7:16-18,37,38; 8:31-36

 

João 7.16-18, 37,38 

16. Jesus respondeu e disse-lhes: A minha doutrina não é minha, mas daquele que me enviou.

 

Respondeu-lhes Jesus. Respondeu-lhes, portanto, Jesus. A resposta do Senhor aborda a dificuldade dos questionadores. Seu ensino não era de origem própria (Minha doutrina não é minha), mas derivado de um Mestre divino, infinitamente maior que os rabinos populares.

 

E possuía um duplo aval: um critério interno e um critério externo; o primeiro, por seu caráter essencial, e o segundo, pelo caráter daquele que o entregava. Aquele cuja vontade estava em harmonia com a vontade de Deus não poderia deixar de reconhecer a origem do ensino. Além disso, a devoção absoluta de Cristo a Aquele que O enviou era um sinal de Sua verdade.

 

17. Se alguém quiser fazer a vontade dele, pela mesma doutrina, conhecerá se ela é de Deus ou se eu falo de mim mesmo.

 

Um princípio importantíssimo; por um lado ele mostra que a disposição de agradar a Deus é a porta de entrada para esclarecer todas as questões que afetam vitalmente o interesse eterno de alguém e, por outro, que a falta disso, percebido ou não, é a causa principal de infidelidade em meio à luz da religião revelada.

 

18. Quem fala de si mesmo busca a sua própria glória, mas o que busca a glória daquele que o enviou, esse é verdadeiro, e não há nele injustiça.

 

Sua própria honra. Compare com João 5:30, 5:41 e seguintes. mas quem busca… A segunda parte da frase é reformulada em uma forma positiva, expressando tanto o pensamento absoluto (é verdadeiro, ἀληθής, Vulg. verax) quanto a ação em relação aos outros (não há injustiça nele).

 

Para a conexão entre “falsidade” e “injustiça,” veja Romanos 2:8; 1 Coríntios 13:6; 2Tessalonicenses 2:12. Injustiça é a falsidade colocada em prática.

 

37. E, no último dia, o grande dia da festa, Jesus pôs-se em pé e clamou, dizendo: Se alguém tem sede, que venha a mim e beba.

E no último e grande dia da festa – o oitavo (Levítico 23:39). Era um sábado, o último dia de festa do ano, e distinguido por cerimônias muito marcantes. “O caráter geralmente alegre desta festa irrompeu neste dia em alto júbilo, particularmente no momento solene em que o sacerdote, como foi feito em todos os dias deste festival, trouxe, em vasos de ouro, água da corrente de Siloé, que fluía sob a montanha do templo e solenemente derramava sobre o altar.

 

Então as palavras de Isaías 12:3 eram cantadas, “Com alegria tirareis água dos poços da Salvação, e assim a referência simbólica deste ato, insinuada em João 7:39, foi expressa”.

 

Tão extasiante era a alegria com que esta cerimônia era realizada – acompanhada pelo som de trombetas – que costumava ser dito: “Quem não a tivesse testemunhado nunca tinha visto alegria alguma” (Lightfoot).

 

Se pôs Jesus em pé. Nesta alta ocasião, então, Aquele que já tinha atraído todos os olhos para Ele por Seu poder sobrenatural e ensino inigualável – “Jesus pôs-se”, provavelmente em alguma posição elevada.

 

Se alguém tem sede, venha a mim, e beba. Que oferta! Os desejos mais profundos do espírito humano estão aqui, como no Antigo Testamento, expressos pela figura da “sede”, e a satisfação eterna deles pela “bebida”. À mulher de Samaria Ele tinha dito quase a mesma coisa, e nos mesmos termos (João 4:13-14).

 

Mas o que para ela foi simplesmente afirmado como fato, é aqui transformado em uma proclamação mundial; e enquanto lá, a doação por Ele da água viva é a idéia mais proeminente – em contraste com sua hesitação em dar a Ele a água perecível do poço de Jacó – aqui, o destaque é dado a Si mesmo como a fonte de toda a satisfação.

 

Ele tinha convidado na Galiléia todos os CANSADOS E SOBRECARREGADOS da família humana a vir sob Sua asa e eles encontrariam DESCANSO (Mateus 11:28), que é apenas o mesmo profundo desejo, e o mesmo profundo alívio, sob outra figura igualmente gratificante.

 

Ele tinha na sinagoga de Cafarnaum (João 6:36) anunciado a si mesmo, de todas as formas, como “o Pão da Vida”, e como capaz e autorizado a apaziguar a “FOME”, e a saciar a “SEDE”, de todos os que se aplicam a Ele. Não há, e não pode haver, nada além disso aqui. Mas o que foi em todas as ocasiões proferido em particular, ou dirigido a uma audiência local, é aqui soado nas ruas da grande metrópole religiosa, e em linguagem de extraordinária majestade, simplicidade e graça.

É apenas a antiga proclamação de Yahweh que agora soa através da carne humana: “Venham, todos vocês que estão com sede, venham às águas; e, vocês que não possuem dinheiro algum” etc. (Isaías 55:1 NVI).

 

Sob esta luz temos apenas duas alternativas; ou dizer com Caifás Dele que proferiu tais palavras, “Ele é culpado de morte”, ou cair diante Dele para exclamar com Tomé: “Meu Senhor e Meu Deus!

 

38. Quem crê em mim, como diz a Escritura, rios de água viva correrão do seu ventre.

 

As palavras “como diz a Escritura” referem-se, é claro, à promessa na última parte do versículo – mas não tanto a qualquer passagem em particular, mas à tensão geral da profecia messiânica, como Isaías 58:11; Joel 3:18; Zacarias 14:8; Ezequiel 47:1-12; na maioria das passagens, a ideia é a de águas saindo de baixo do Templo, com as quais nosso Senhor se compara e aqueles que acreditam nEle. A expressão “do interior de seu corpo” significa, da sua alma, como em Provérbios 20:27. Sobre os “rios de água viva”, veja João 4:13-14. Lá, porém, a figura é “uma fonte”; aqui é “rios”. Refere-se principalmente à abundância, mas indiretamente também à dispersão dessa água viva para o bem dos outros.

 

João 8

 

31. Jesus dizia, pois, aos judeus que criam nele: Se vós permanecerdes na minha palavra, sereis meus discípulos.

 

ἔλεγεν οὖν…πρὸς τοὺς πεπιστευκότας αὐτῷ Ἰουδαίους, Dizia, pois, Jesus aos judeus que criam nele, ou seja, aqueles que ficaram impressionados com suas declarações recentes (mas compare os versículos 33 e 40). πιστεύειν seguido por um dativo não representa um grau de fé tão alto quanto πιστεύειν εἴς τινα; mas indica um estágio no caminho para o discipulado. Você deve acreditar no que um homem diz antes de poder acreditar nele. Para a construção πιστεύειν εἴς τινα, veja em João 1:12; e compare com a nota em João 6:30 em πιστεύειν τινί. Para a construção ἔλεγεν πρός τινα, veja em João 2:3.

 

Se vós permanecerdes em minha palavra…[ἐὰν ὑμεῖς μείνητε ἐν τῷ λόγῳ τῷ ἐμῷ κτλ]. Compare com 2João 1:9, onde temos μὴ μένων ἐν τῇ διδαχῇ τοῦ Χριστοῦ θεὸν οὐκ ἔχει. No versículo 37 e em João 5:38, uma metáfora diferente é empregada, isto é, a do λόγος de Deus habitando no crente. Mas (veja em 5:38) as duas expressões “permanecendo em sua palavra” e “sua palavra permanecendo em nós” vêm à mesma coisa. Veja também em João 6:56, João 15:7. verdadeiramente sereis meus discípulos [ἀληθῶς μαθηταί μού ἐστε]. Este é o posto mais alto entre os cristãos, isto é, aqueles que atingiram o estágio de discipulado. Veja em 15:8, onde isso é repetido.

32. E conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará.

 

Quando Jesus disse “conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará”, ele estava se referindo à sua mensagem, como fica evidente em vários versículos de João 8: “Muitas coisas tenho para dizer a vosso respeito e vos julgar; porém aquele que me enviou é verdadeiro, de modo que as coisas que dele tenho ouvido, essas digo ao mundo” (Jo 8.26); “Quando levantardes o Filho do Homem, então, sabereis que EU SOU e que nada faço por mim mesmo; mas falo como o Pai me ensinou” (Jo 8.28); “Eu falo das coisas que vi junto de meu Pai” (Jo 8.38); “Mas agora procurais matar-me, a mim que vos tenho falado a verdade que ouvi de Deus” (Jo 8.40); “Mas, porque eu digo a verdade, não me credes. Quem dentre vós me convence de pecado? Se vos digo a verdade, por que razão não me credes? Quem é de Deus ouve as palavras de Deus; por isso não me dais ouvidos, porque não sois de Deus” (Jo 8.45-47).

 

33. Responderam-lhe: somos descendência de Abraão, e nunca serviremos a ninguém; como dizes tu: Sereis livres?

 

Responderam-lhe [ἀπεκρίθησαν πρὸς αὐτόν]. Assim אBDLWΘ 33 (veja a construção em João 2:3); mas NΓΔ tem ἀπεκρ. αὐτῷ. Aqueles que deram a resposta que se segue não foram os judeus que “acreditaram nele” (versículo 31), mas os opositores judeus, com os quais, no restante deste capítulo, Jesus está envolvido em controvérsia.

 

Ele não poderia ter acusado “os judeus que creram Nele” de procurarem o matar (versículos 37, 39).

 

Somos descendência de Abraão Σπέρμα Ἀβραάμ ἐσμεν (compare com Salmo 105:6, Isaías 41:8). Este foi o maior orgulho dos judeus, de que eles eram os herdeiros da aliança com Abraão, por causa de sua descendência direta dele. Compare com Gênesis 22:17, Lucas 1:55. e nunca servimos a ninguém [καὶ οὐδενὶ δεδολεύκαμεν πώποτε].

 

Claro que isso não era verdade. O cativeiro na Babilônia é apenas um exemplo do contrário; e eles estavam sob o jugo de Roma mesmo enquanto falavam. Mas eles não admitiriam, nem para si mesmos, que não eram um povo livre. Eles não eram escravos (ο͂εδουλεύκαμεν), de fato, mas Jesus ainda não havia usado a palavra δοῦλος. Sua réplica petulante realmente marcou a consciência inquieta de que eles não eram tão livres quanto gostariam de ser: como, pois, dizes: Sereis livres?

 

34. Respondeu-lhes Jesus: Em verdade, em verdade vos digo que todo aquele que comete pecado é servo do pecado.

 

A resposta à vanglória nacional dos judeus está na afirmação do verdadeiro princípio da liberdade (Em verdade, em verdade. Compare com vv. 51, 58).

 

Todo aquele que comete pecado: “cometer pecado” (ποιεῖν τὴν ἁμαρτίαν) não se refere apenas a atos isolados de pecado, mas a viver uma vida de pecado (1João 3:4, 3:8).

 

O contraste exato é “praticar a Verdade” (João 3:21; 1 João 1:6) de um lado e “praticar justiça” do outro (1João 2:29, 3:7). O pecado, como um todo—fracasso completo, desvio do alvo, em pensamento e ação—é colocado em oposição à Verdade e à Retidão. o servo – “o escravo”, “o servo escravizado” (δοῦλος). A mesma imagem aparece em Paulo (Rom. 6:17, 6:20).

 

35. Ora, o servo não fica para sempre em casa; o Filho fica para sempre.

 

A transição do pensamento da escravidão ao pecado para o da liberdade pelo Filho é condensada. A escravidão ao pecado é o tipo geral de um relacionamento falso com Deus. Aquele que é essencialmente escravo não pode ser filho de Deus. Qualquer ligação externa que ele tenha com Deus pode durar apenas por um tempo.

A união permanente com Deus deve basear-se em um fundamento essencial e duradouro. Mesmo a história de Abraão demonstra isso: Ismael foi expulso; as promessas se concentraram em Isaque.

 

Assim, há dupla mudança no pensamento: (1) da escravidão ao pecado para a ideia de escravidão; e (2) da ideia de filiação (contrastada com a ideia de escravidão) para o Filho. Compare Gálatas 4:22ss; Romanos 6:16ss.

 

Em casa. Compare com 14:2; Hebreus 3:6 (οἶκος). o Filho fica para sempre: O Filho permanece para sempre.

 

36. Se, pois, o Filho vos libertar, verdadeiramente, sereis livres.

 

Portanto, se o Filho vos libertar. O pensamento de Jo 8:31-32 é repetido em referência especial à posição que eles reivindicaram para si mesmos. É necessária a emancipação de que Ele falou, e Sua missão no mundo é proclamá-la. Se entrarem em união espiritual com Ele e permanecerem nesta nova relação espiritual, isso os tornará novas criaturas, libertos do pecado pelo poder da verdade. Na linguagem de Paulo, como citado acima, “Cristo será formado neles”. Eles se tornarão “membros de Cristo” e “filhos de Deus”. O Filho da família divina os libertará e nEle eles se tornarão membros da grande família do próprio Deus. (Veja também o mesmo pensamento da morada divina que é apresentado particularmente aos gentios por Paulo, em Efésios 2:11-22. Ver também neste Evangelho, Jo 14:2-3.).

Verdadeiramente sereis livres. A palavra original não é a mesma que é traduzida como “verdadeiramente” em Jo 8:31. Eles reivindicaram liberdade política, mas eram, na realidade, súditos de Roma. Eles reivindicaram liberdade religiosa, mas na realidade eram escravos da letra. Eles reivindicaram liberdade moral, mas eram na realidade escravos do pecado.

 

A liberdade que o Filho proclamou era realmente liberdade, pois era a liberdade de sua verdadeira vida emancipada da escravidão do pecado e levada à união com Deus. Para o espírito do homem, que no conhecimento da verdade revelada por meio do Filho pode contemplar o Pai e o lar eterno, existe uma liberdade real que nenhum poder pode restringir. Em todo este contexto, os pensamentos passam espontaneamente para o ensino de Paulo, o grande apóstolo da liberdade.

 

Não poderia haver ilustração mais completa das palavras do que a fornecida em sua vida. Ele, como Pedro e João (Romanos 1:1, por exemplo; 2Pedro 1:1; Apocalipse 1:1), aprendeu a se considerar um “servo”, mas era de Cristo, “cujo serviço é perfeita liberdade”. Sentimos, quando pensamos nele em cativeiro diante de Agripa, ou um prisioneiro em Roma, que ele é mais verdadeiramente livre do que o governador ou César diante de quem está, e mais verdadeiramente livre do que ele próprio era quando estava armado com autoridade para amarrar homens e mulheres porque eram cristãos. As cadeias que prendem o corpo não podem prender o espírito, cujas cadeias foram soltas. Ele é realmente livre, pois o Filho o libertou.

 

INTRODUÇÃO

 

 Jesus dizia, pois, aos judeus que criam nele: Se vós permanecerdes na minha palavra, verdadeiramente, sereis meus discípulos (31). Não é acidental que João aqui descreva a reação dos judeus que criam nele de modo diferente da reação mencionada no versículo 30. Esta distinção aponta para os níveis da fé. Crer nele (31) implica uma impressão favorável, uma concordância com o que Jesus dizia, mas não necessariamente uma decisão de comprometimento com o discipulado. Crer nele (30) significa depositar a fé nele pelo que Ele é, mais do que pelo que Ele faz, e este é o caminho para o verdadeiro discipulado. Assim, enquanto uma pessoa permanecer na Palavra de Jesus, será verdadeiramente seu discípulo.

 

Este relacionamento é de verdade e de liberdade. E conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará (32). O que é que torna um homem verdadeiramente livre? Uma interessante combinação de fatores importantes é dada aqui, em 30-32. Crer nele (30), permanecer na sua palavra (32), o verdadeiro discipulado (31), e o conhecimento da verdade (32) — tudo isto torna um homem livre.

A verdade que gera a liberdade é viva e pessoal e não pode ser outra, senão a verdade encarnada, o Filho (36).

 

I. JESUS, A VERDADE EM JERUSALÉM

 

1. Da Galileia para Jerusalém. Em João 7.8 “meu tempo ainda não está cumprido” - revela a segunda razão porque Jesus não iria à festa em Jerusalém. Os judeus podiam matá-lo antes que o tempo certo de Deus se cumprisse (cf. Cl 4.4). O comprometimento de Jesus com o tempo de Deus não permitia nenhum desvio em relação ao que Deus havia decretado.

 

Mas subiu em oculto; Assume-se que o Pai havia orientado e permitido que Jesus fosse a Jerusalém. A ocultação de sua viagem indica máxima discrição, que foi exatamente o contrário do que os irmãos haviam pedido de Jesus (cf. v. 4).

 

Em Jerusalém, durante a  festa, os judeus o procuravam (11). O contraste entre "os judeus" nesse versículo e "multidões" no v. 12 indica que o termo "judeus" designa as autoridades judaicas hostis da Judeia, cuja sede era em Jerusalém. Não há dúvida de que a procura por Jesus tinha por trás intenções hostis.

 

2. A verdade na Festa dos Tabernáculos. As multidões, compostas de judeus, galileus e judeus da diáspora (espalhados), expressaram várias opiniões sobre Cristo. O espectro variava desde aceitação superficial ("Ele é bom") até rejeição Cínica ("engana o povo"). O Talmude judaico revela que a segunda opinião sobre Jesus, a de ser um enganador, tornou-se a predominante entre muitos judeus (Talmude Babilônico Sinedrio 43a). 7.14-24 A crescente hostilidade a Jesus não impediu o seu ministério de ensino.

 

Pelo contrário, Jesus implacavelmente externou a defesa de sua identidade e missão. No meio da Festa dos Tabernáculos, quando judeus de todas as partes de Israel haviam migrado para Jerusalém, Jesus mais uma vez Começou a ensinar. Nessa seção, Jesus estabeleceu a justificativa para o seu ministério e ensinou com autoridade como Filho de Deus. Nessa passagem, cinco razões são estabelecidas para mostrar que as afirmações de Jesus a respeito de si mesmo eram verdadeiras:

 

1) seu conhecimento sobrenatural tinha origem no próprio Pai (vs. 15-16);

 

2) seu ensino e conhecimento podiam ser confirmados por provas (v. 17);

3) suas ações demonstravam o seu desprendimento (v. 10);

4) seu impacto sobre o mundo era surpreendente (vs. 19-20); e

5) suas obras demonstravam a sua identidade como Filho de Deus (vs. 21-24).

 

Talvez Jesus tenha esperado até o meio da festa a fim de evitar uma "entrada triunfal" prematura, que alguns poderiam ter forçado sobre ele por motivação política, ao templo e ensinava. Jesus ensinava de acordo com o costume rios mestres e rabinos da época. Rabinos proeminentes entravam nos recintos do templo e expunham o Antigo Testamento às multidões, as quais se assentavam em volta deles.

 

3. Vivendo na verdade. A diferença qualitativa do ensino de Jesus se encontrava na sua fonte, ou seja, o Pai o concedeu a Jesus (8.26,40,46-47; 12.49-50). O ensino de Jesus tinha origem no próprio Pai, em contraste com os rabinos que o haviam recebido de homens (Gl 1.12). Enquanto os rabinos se apoiavam na autoridade de outros (uma longa corrente de tradição humana), a autoridade de Jesus centrava-se nele mesmo (cf. Mt 7.28-29; At 4.13).

 

Aqueles que estão fundamentalmente comprometidos em fazer a vontade de Deus serão guiados por ele na afirmação de sua [de Deus]. A verdade de Deus é auto autenticada pelo ministério de ensino do Espirito Santo (cf. 16.13; 1 Jo 2.20,27). Enquanto outros salvadores e messias agiam em favor de seus próprios interesses egoístas, desse modo revelando a sua falsidade, Jesus Cristo como Filho de Deus veio unicamente para glorificar o Pai e realizar a vontade do Pai (2Co 2.17; Fp 2.5-11; Hb 10.7).

 

Se Jesus tivesse sido um impostor religioso, o mundo, jamais teria reagido com tanto ódio. Pelo fato de o sistema perverso do mundo amar o que é seu, seu ódio a Jesus demonstra que ele veio de Deus. (15.18-19).

 

II. JESUS, A VERDADE DIANTE DOS ESCRIBAS E FARISEUS

 

1. A verdade no episódio da mulher adúltera. A seção 7.53—8.11 trata da mulher adúltera e, muito provavelmente, não fazia parte do conteúdo original de João, como defendem alguns estudiosos. Foi incorporada em vários manuscritos em diferentes lugares do Evangelho, como por exemplo, depois dos versículos 36,44,52 ou 21.25, enquanto um manuscrito a coloca depois de Lucas 21.38.

 

Evidência manuscrita externa, representando uma grande variedade de tradições textuais, e decisivamente contrária à sua inclusão, pois os manuscritos antigos e melhores a excluem. Muitos manuscritos marcam a passagem para indicar dúvida quanto à sua inclusão. Importantes versões antigas a excluem. Nenhum pai da igreja grega comentou essa passagem antes do século 12.

O vocabulário e estilo da seção também são diferentes do restante do Evangelho, e a seção interrompe a sequência do versículo 52 para 8.12ss.

 

Muitos, no entanto, pensam que o texto possui todas as características de veracidade histórica, talvez sendo parte de tradição oral que circulava em alguns lugares na igreja ocidental, de modo que alguns comentários se fazem necessários. Apesar de todas essas considerações de possível inafiançabilidade dessa seção, é provável que se esteja equivocado quanto à questão, e assim é bom considerar o significado dela e mantê-la no texto, assim como também Mc 16.9-20.

 

Como diz Bernard, "se parece com as histórias dos Sinóticos sobre Jesus; a sua ternura e seriedade indicam que representa fielmente o que Jesus disse e fez quando uma mulher, que havia pecado contra a castidade, foi trazida à sua presença". Assim, o evento pode muito bem ser usado com propósitos homiléticos.

 

Na lei, nos mandou Moisés que as tais sejam apedrejadas. Tu, pois, que dizes? (5) "A mulher não foi trazida perante Jesus para um julgamento formal, mas para fazer com que Ele expressasse a sua opinião sobre um aspecto da Lei Mosaica, que poderia posteriormente ser usada contra Ele... Um exame do código mosaico indica que o apedrejamento como punição para o adultério era exigido somente nos casos em que uma virgem noiva ou uma mulher casada fosse considerada culpada (Dt 22:21-24).

 

João deixa claro que o único objetivo dos escribas e fariseus que trouxeram a mulher era o de fazer Jesus cair em uma armadilha: Isso diziam eles, tentando-o, para que tivessem de que o acusar (6, "alguma base de acusação"). A armadilha foi armada sob a forma de um dilema. Se Jesus tivesse dito que ela era culpada e eles tivessem executado o castigo, eles o teriam levado perante os romanos por incitar um assassinato. Mas se Ele tivesse se inclinado a um tratamento misericordioso "os seus críticos o teriam declarado um blasfemador que não aceitava os decretos da lei sagrada"."

 

2. Jesus, a Verdade revelada. Jesus dizia, pois, aos judeus que criam nele: Se vós permanecerdes na minha palavra, verdadeiramente, sereis meus discípulos (31). Não é acidental que João aqui descreva a reação dos judeus que criam nele de modo diferente da reação mencionada no versículo 30.

 

Esta distinção aponta para os níveis da fé. Crer nele (31) implica uma impressão favorável, uma concordância com o que Jesus dizia, mas não necessariamente uma decisão de comprometimento com o discipulado. Crer nele (30) significa depositar a fé nele pelo que Ele é, mais do que pelo que Ele faz, e este é o caminho para o verdadeiro discipulado. Assim, enquanto uma pessoa permanecer na Palavra de Jesus, será verdadeiramente seu discípulo.

 

Este relacionamento é de verdade e de liberdade. E conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará (32). O que é que torna um homem verdadeiramente livre? Uma interessante combinação de fatores importantes é dada aqui, em 30-32. Crer nele (30), permanecer na sua palavra (32), o verdadeiro discipulado (31), e o conhecimento da verdade (32) — tudo isto torna um homem livre. A verdade que gera a liberdade é viva e pessoal e não pode ser outra, senão a verdade encarnada, o Filho (36).

 

A menção de Jesus à liberdade evocou nos judeus uma pergunta. Responderam-lhe [os que criam nele (31)]: Somos descendência de Abraão, e nunca servimos a ninguém; como dizes tu: Sereis livres? (33) Sem saber, os judeus estavam em uma escravidão, que era do pior tipo.

 

O que é que faz um homem escravo? Três coisas são evidentes:

 

1. Pecado — todo aquele que comete pecado é servo do pecado (lit., "é um escravo do pecado"; o artigo definido em grego sugere a personificação do pecado como um senhor, 34) ;

 

2. A separação da única fonte verdadeira de liberdade — o servo não fica para sempre em casa (35); o servo do pecado (34), pela sua própria situação de servo, não tem direito a nenhum dos privilégios que pertencem a um filho, por exemplo, a herança, a permanência na residência, a liberdade;

 

3. Uma motivação completamente errada — contudo, procurais matar-me, porque a minha palavra não entra em vós (lit., "A minha palavra não obtém progresso em vocês", 37). Aqui está a Imagem dos homens que crêem nele, que reconhecem o poder da personalidade e da mensagem, mas se ressentem enormemente quando descobrem que a defesa da moralidade convencional e tradicional que apresentam é inspirada por motivos pecaminosos.

 

Eles são levados a pensar, de forma equivocada, que uma profunda preocupação pela elevada moralidade traz consigo a libertação do pecado".' A última e definitiva diferença entre a liberdade e a escravidão pode ser rastreada até a fonte de cada uma delas. Eu falo do que vi junto de meu Pai, e vós fazeis o que também vistes [ou "o que ouvistes", conforme algumas versões] junto de vosso pai (38).

 

“A revelação perfeita, por meio do Filho, se baseia no conhecimento perfeito e direto”. "Sem dúvida, a alusão a vosso pai não é a Abraão, mas sim ao "pai deles, o diabo",  explicitada no versículo 44. Nunca servimos a ninguém era a falsa afirmação dos judeus e de muitos outros espíritos orgulhosos e pecadores. Nesta seção (29-36),

 

Alexander Maclaren destaca:

 

1. A nossa escravidão (34) ;

2. A nossa ignorância em relação à escravidão (33) ;

3. A consequente indiferença à oferta de Cristo de liberdade (33).

 

3. A Verdade que o mundo precisa conhecer. O versículo 32 começa com a conjunção “e” (Gr. καὶ) que o conecta ao versículo 31, que diz: “Disse, pois, Jesus aos judeus que haviam crido nele: Se vós permanecerdes na minha palavra, sois verdadeiramente meus discípulos; e conhecereis a verdade...”.

 

Jesus estava, portanto, dizendo: “Se vocês permanecerem na minha palavra, isto é, na mensagem que eu proclamo, vocês conhecerão a verdade e ela vai libertá-los”. Sendo, portanto, a verdade identificada com a mensagem de Jesus, qual seria, enfim, o conteúdo central dessa mensagem tão poderosa para libertar? Muito simples.

 

É, obviamente, no mesmo capítulo 8 de João que está a resposta. Lendo esse capítulo, aprendemos que essa mensagem afirma que Jesus é a luz do mundo (Jo 8.12), aquele que o Pai enviou (Jo 8.42), o Deus-Filho que existe desde os tempos eternos (Jo 8.58) e que é poderoso para salvar (Jo 8.36) e conceder a vida eterna a todo aquele que crê nas suas palavras (Jo 8.51).

 

Em João 8 aprendemos que Jesus proclamava essas coisas acerca de si mesmo com frequência (v.25) e que essa mensagem era aprovada pelo Pai (v.18). Importante notar que, fazendo oposição a essa mensagem está o diabo, que domina os homens (Jo 8.38) e que só profere mentiras (Jo 8.44).

  

III. JESUS, A VERDADE QUE LIBERTA O PECADOR

 

1. A verdade que liberta. Se a mensagem de Jesus é a verdade que liberta, de que, exatamente, ela nos liberta? Nesse ponto, João 8 é ainda mais claro: “Replicou-lhes Jesus: Em verdade, em verdade vos digo: todo o que comete pecado é escravo do pecado... Se, pois, o Filho vos libertar, verdadeiramente sereis livres” (Jo 8.34,36). Com base nesse versículos temos uma melhor compreensão das lindas palavras de João 8.32.

 

Jesus estava dizendo aos seus ouvintes: “Se vocês acolherem a mensagem divina que eu proclamo acerca de quem eu sou, isso implicará o conhecimento real da verdade que, afinal, vai livrá-los da escravidão do pecado”. Nós nos acostumamos a ouvir esse versículo proclamado na boca de alguns políticos, no entanto, seu uso não é aquele teológico senão, apenas de cunho político.

 

Como seria bom se, em épocas de campanha política ou mesmo fora dessas épocas, algum candidato ou líder nacional proclamasse o verdadeiro significado de João 8.32!

 

Quem nos dera, se ao invés de vermos e ouvirmos tantas barbaridades proclamadas em nossos púlpitos que só enxovalham o evangelho e o nome de Jesus, ouvíssemos a proclamação do verdadeiro significado de João 8.32!

 

Infelizmente, o que tem ocorrido é o esvaziamento do sentido tão importante desse texto. Que Deus tenha misericórdia, pois, do nosso povo que continua sem conhecer a verdade e, consequentemente, permanece na mais triste e deplorável escravidão.

 

2. O que é a verdade?  O homem vive sob o chicote de três carrascos: é escravo do diabo, do mundo e da carne. O homem não pode libertar a si mesmo dessas amarras. A religião, com seus rituais, não pode libertar o homem do pecado. As ciências humanas, com seus recursos variados, não conseguem quebrar as algemas do medo, que oprimem o homem. Somente o Filho de Deus pode libertar o cativo.

 

Somente ele tem o poder de arrancar a armadura do valente, vencê-lo e saquear sua casa. Somente ele pode tirar o pecador da potestade de Satanás para Deus e arrancá-lo do império das trevas para o reino da luz. Jesus foi categórico: “Se, pois, o Filho vos libertar, verdadeiramente sereis livres”. Disse, ainda: “E conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará” (Jo 8.32).

 

A verdade nada mais é do que a Palavra de Deus. Aprendemos que é por intermédio da Palavra que experimentamos a libertação verdadeira, pois ao restaurar a alma do pecador ela o liberta do seu estado de pecado e de miséria e o traz do reino das trevas para o reino da maravilhosa luz de nosso Senhor Jesus.

 

3. Verdadeiramente livres. O homem só pode ser livre se ele conhecer a verdade. Jesus Cristo é a verdade que liberta o homem da escravidão do pecado. Quando o homem ouve o Evangelho e crê em Jesus como seu Salvador, verdadeiramente está livre. Se Jesus libertar, verdadeiramente somos livres.

 

Livres da culpa do pecado, livres da condenação do pecado e livres da pena que o pecado impõe. Para que isto se tornasse possível, Jesus Cristo se fez homem, venceu todas as tentações, cumpriu cabalmente a lei, tomou sobre si os nossos pecados, sofreu o castigo em nosso lugar e pagou o preço exigido que era  a sua morte na cruz.

 

Mediante o sacrifício de Jesus feito em nosso lugar e a nosso favor podemos nos ver livres do domínio do pecado e das consequências do pecado. Ele nos liberta da escravidão do pecado e nos dá a vida plena e abundante. O homem é verdadeiramente livre quando Jesus Cristo transforma a sua vida, libertando-o do império das trevas e trazendo para sua maravilhosa luz (Cl 1.13).

 

Como livres que somos podemos por meio de Cristo oferecer a Deus sacrifício de louvor que é fruto de lábios que confessam o seu nome (Hb 13.15).

 

Também desejamos que as outras pessoas que ainda não conhecem o Senhor Jesus como seu Salvador, venham ouvir o Evangelho e  possam assim crer em Jesus. Somos livres para adorar a Deus em Espírito e em verdade e somos livres para pregar a verdade do Evangelho que pode libertar o homem da escravidão do pecado. Por isso, o homem só pode se considerar verdadeiramente livre quando Jesus o libertar.

 

CONCLUSÃO

 

Conhecer a verdade é conhecer o amor de Deus, que é revelado em Jesus para salvar os seres humanos, livrando-os da escravidão do pecado (conforme Jo 1:14,Jo 1:17; Jo 3:21; Jo 4:23-24; Jo 17:17,Jo 17:19).

 

Sustentar o ensino de Cristo que é a verdade (14,6) conduz à verdade que torna uma pessoa livre da escravidão ao pecado. A salvação não é obtida por meio de conhecimento intelectual, como imaginavam os gnósticos, mas por meio de um relacionamento vital com Jesus Cristo e do compromisso com a verdade que ele revelou (18.37). Jesus mesmo é a verdade que nos liberta (8.36).

 

É a fonte da verdade, a norma perfeita do que é bom. Liberta-nos das consequências do pecado, do autoengano e do engano de Satanás. Mostra-nos claramente o caminho à vida eterna com Deus. Jesus não nos dá liberdade de fazer o que quisermos, a não ser liberdade para seguir a Deus. Ao procurar servir a Deus, a verdade perfeita do Jesus nos liberta para que sejamos tudo o que Deus quis que fôssemos. O escravo de Cristo experimenta a liberdade real do espírito nos propósitos de Deus (36; Rm 8.2-45).

 

Boa aula