31 de julho de 2009

AMOR: O TESTE SOCIAL

AMOR: O TESTE SOCIAL

l João 2.7-11

Irmãos, não vos escrevo mandamento novo, mas o mandamento antigo, que desde o princípio tivestes. Este mandamento antigo é a palavra que desde o princípio ou vistes. Outra vez vos escrevo um mandamento novo, que é verdadeiro nele e em vós; porque vão passando as trevas, e já a verdadeira luz alumia. Aquele que diz que está na luz e aborrece a seu irmão até agora está em trevas. Aquele que ama a seu irmão está na luz e nele não há escândalo. Mas aquele que aborrece a seu irmão está em trevas, e anda em trevas, e não sabe para onde deva ir: porque as trevas lhe cegaram os olhos.

Em um apêndice de seu excelente livro e The Church at the End of the 20° Century (A Igreja no Final do Século XX), Francis Schaeffer fala sobre o amor como a “marca do cristão”. Seu estudo é baseado em João 13.34-35, em que se registra que Cristo deu um novo mandamento aos seus discípulos:

Um novo mandamento vos dou: Que vos ameis uns aos outros; como eu vos amei a vós, que também vós uns aos outros vos ameis. Nisto todos conhecerão que sois meus discípulos, se vos amardes uns aos outros”. Schaeffer ressalta que “apenas com essa marca o mundo pode saber que os cristãos são de fato cristãos e que Jesus foi de fato enviado pelo Pai”.

Ele está certo. Pode-se acrescentar a isso, no entanto, que é também pelo amor que os cristãos podem saber que são cristãos. Ou seja, o cristão pode saber que realmente foi vivificado por Cristo quando começa a amar e de fato ama as pessoas por quem Cristo morreu.

Esse é o tema do próximo trecho de 1 João, pois é nesses versículos (2.7-11) que o apóstolo ancião desenvolve o segundo teste, o social, para verificar se uma pessoa que considera conhecer a Deus de fato o conhece ou não. O primeiro teste se encontra nos versículos 3-6. É o teste moral, o teste de retidão.

O terceiro teste está nos versículos 18- 27. É o teste da crença ou doutrinário. Aqui, porém, o teste é de amor. Será que a pessoa que professa amar a Deus ama também o seu próximo? Se ama, pode ter certeza de que foi vivificado por Deus. Se não ama, João diz que essa pessoa não tem mais direito de se considerar um filho de Deus o que aquela que diz que conhece a Deus mas desobedece aos seus mandamentos.

Esse trecho é dividido em duas partes: primeiro, a lei cio amor, segundo, a vicia de amor. A segunda parte contém três aplicações contrastantes cio princípio básico.

A Lei do Amor (vv. 7,8)

Nos versículos precedentes, João exortou os crentes a guardar os mandamentos dc Deus. Mas isso era urna declaração geral. Agora ele traz à luz um mandamento específico: o mandamento de amar.

É verdade que os versículos 7 e 8 não contém a palavra amor e que, de fato, ele só é mencionado uma vez em todo esse trecho (no versículo 10). Mas o mandamento cio amor é o que João obviamente tinha em mente, como a referência ao “novo mandamento” de João 13 indica de modo evidente. A progressão de pensamento é que, se urna pessoa conhece a Deus, vai aguardar os mandamentos dEle, e se guardar os mandamentos de Deus, vai amar o próximo de acordo com o ensinamento de Cristo.

Amor como um antigo mandamento

No entanto, não existe nada fundamentalmente novo em tudo isso, pois João lembra seus leitores de que o mandamento é o que eles tinham recebido desde o princípio. É possível compreender essa última frase de duas formas diferentes. Ela pode se referir ao princípio do cristianismo, como a mesma frase parece fazer no capítulo 1. Ou pode ser entendida como uma referência ao princípio da religião revelada, ou seja, ao mandamento como existia na era do Antigo Testamento.

Provavelmente, é melhor optar pelo último sentido, pois é mais fácil ver um contraste antigo-novo entre a lei do amor contida no Antigo Testamento e a lei do amor restabelecida por Jesus para os cristãos do que imaginar um contraste entre o que existia no princípio do cristianismo e o cicie de algum modo ainda soa novo quando João escreve sua epístola.

O mandamento do amor é antigo, pois já existia e era conhecido antes da vinda de Cristo. Em sua forma mais simples, pode ser encontrado em Levítico 19.18, que diz: “Não te vingarás, nem guardarás ira contra os filhos do teu povo; mas amarás o teu próximo como a ti mesmo. Eu sou o Senhor”. É a esse versículo que Jesus se refere quando lhe pedem sua opinião quanto ao primeiro e maior mandamento. Ele disse que o maior mandamento era o registrado em Deuteronômio 6.5: “Amarás, pois, o Senhor, teu Deus, de todo o teu coração, e de toda a tua alma, e de todo o teu poder”. Mas o segundo, ele disse, era aquele encontrado em Levítico 19.18.

Amor como um novo mandamento

Em que sentido, então, o mandamento de amar é um novo mandamento? É novo no sentido que recebeu uma ênfase inteiramente nova e foi elevado a tini novo nível pelos ensinamentos e pelo exemplo de Jesus. Willian l3arclay sugere dois modos de como isso é verdade, aos quais também vamos acrescentar um terceiro.

Primeiro, em Jesus o amor se torna novo quanto à sua extensão. Na época de Cristo, o amor não era algo novo, mas ao mesmo tempo havia alguns que consideravam o amor como uma obrigação limitada a um círculo fechado de amigos ou, numa extensão maior, a uma nação. Para os judeus ortodoxos, o pecador não deveria ser amacio. Em vez disso, ele era alguém que Deus desejava destruir. Tampouco os gentios deveriam ser amados. Eles foram criados por Deus para o inferno. Em contraste, Jesus estendeu seu amor a todos.

Ele se tornou o “amigo dos pecadores”, um ouvinte simpático e professor de mulheres (que também eram desprezadas), e eventualmente alguém por quem a salvação foi estendida até para o mundo gentílico. Suas últimas palavras aos discípulos foram para que fizessem discípulos de todas as nações (Mt 28.19) e que eles deveriam ser testemunhas “em Jerusalém como em toda a Judéia e Samaria, e até aos confins da terra” (At 1.8).

Segundo, em Jesus o amor se tornou novo quanto à sua distância. Aqui as pessoas precisam olhar para a cruz, pois é na cruz que a altura e a profundidade do amor de Deus são vistas, e não são vistas com a mesma gradação em nenhum outro lugar. A que distância vai o amor de Deus? A distância até a qual o Filho de Deus assume sobre si a forma humana, morre na cruz, carrega sobre si os pecados de toda uma raça caída para que, ao receber a punição por aquele pecado, Ele esteja de fato alienado de Deus, o Pai, e assim grita em profunda agonia: “Deus meu, Deus meu, por que me desamparaste?” (Mc 15.34). Essa é a distância até aonde o amor de Deus vai. É aí que o amor se torna uma coisa inteiramente nova em Cristo.

Terceiro, em Jesus o amor se faz novo quanto à sua intensidade. João indica isso ao acrescentar no versículo 8 “é verdadeiro nele e em vós; porque vão passando as trevas, e já a verdadeira luz alumia”. Nesse versículo, “verdadeira” (alethes, alethinos) significa “genuína”, e a questão é que o amor verdadeiro ou genuíno, como a retidão genuína, agora está presente não apenas em Jesus, mas também naqueles que nele foram feitos vivos. Nesse sentido, o que não era possível na dispensação do Antigo Testamento agora é possível; pois a vicia de Jesus, que se expressa em amor, está em seu povo.

A Vida de Amor (vv. 9-11)

João estabeleceu que as trevas se passaram e a verdadeira luz está brilhando; porém as trevas não se firam completamente ainda, nem a luz é vista em toda parte ou em todas pessoas. Assim, ele destaca três exemplos daqueles para quem o teste do amor deve ser aplicado. Existem dois exemplos negativos e um positivo

Confissão sem amor

O primeiro exemplo é o da pessoa que “alega estar na luz ruas odeia seu irmão”.

João diz que tal pessoa “está em trevas”. O sujeito desse versículo (“Aquele que diz”) lembra declarações similares e de algum modo paralelas cio capítulo 1 ( “Se dissermos”, vv. 6,8,10), seu lugar no argumento corresponde diretamente com 2.4:

“Aquele que diz: Eu conheço-o e não guarda os seus mandamentos é mentiroso, e nele não está a verdade”. Nesse caso, porém, João não diz que a pessoa que confessa conhecer a Deus enquanto na verdade odeia seu irmão é um mentiroso, embora isso também seja verdade, mas em vez disso que ele está em trevas e anda em trevas até agora. Nesse versículo a referência é obviamente aos oponentes gnósticos de João, como também é o caso nos outros versículos que começam com “Se dissermos”.

Os gnósticos alegavam ser os iluminados. Mas eles na verdade estão em trevas, diz João, se falharem em amar seus irmãos.

Paulo disse a mesma coisa quando escreveu aos coríntios sobre o amor: “E ainda que tivesse o dom de profecia, e conhecesse todos os mistérios e toda a ciência, e ainda que tivesse toda a fé, de maneira tal que transportasse os montes, e não tivesse caridade, nada seria” (1 Co 13.2). Plummer declara: “A luz em um homem são trevas até que seja aquecida pelo amor”.

Amor brotando da luz

O segundo exemplo é positivo. É o da pessoa que demonstra que habita na luz por amar seu irmão. João diz que nesse comportamento “não há escândalo”.

A idéia cio escândalo pode ser aplicada de dois modos. Primeiro, pode ser aplicada aos outros no sentido de que uma pessoa que ama seu irmão não apenas caminha na luz, mas também é livre de ter ofendido o próximo. Esse é o sentido geral do mundo no restante cio Novo ‘Testamento. Por outro lado, também pode se aplicar ao indivíduo no sentido de que, se ele ama, caminha na luz e assim não causa escândalo.

O contexto quase exige essa segunda explicação, pois a questão levantada pelos versículos não é sobre o que acontece aos outros, mas sim sobre o efeito cio amor sobre o ódio do próprio indivíduo. O equivalente negativo dessa declaração ocorre apenas um versículo depois. Nesses versículos, João introduz a importante idéia de que “nosso amor e ódio não apenas revelam se já estamos na luz ou nas trevas, mas contribuem de fato para a luz ou as trevas na qual nós já estamos”.2 Aquele que anda na luz tem mais luz dia a dia. Aquele que caminha em trevas está cada vez mais imerso em trevas.

Ódio levando a mais trevas

O último dos exemplos de João também é negativo e segue-se naturalmente ao que o antecede. Ele falou sobre o homem que ama seu irmão e demonstrou as conseqüências disso. Agora ele volta ao caso daquele que odeia seu irmão e demonstra as conseqüências disso. Existem três conseqüências. Depois delas, João dá uma explicação final e resumida.

A primeira conseqüência está na natureza de uma observação: aquele que odeia seu irmão está em trevas. Essa é a expressão mais simples do teste em sua forma negativa.

A segunda conseqüência é que ele anda em trevas. Isso acrescenta a idéia de uma ação contínua ou de uma esfera contínua de atividade. Não é apenas um homem que falha em amar seu irmão que não tem conhecimento de Deus; também é que tudo o que ele faz está em trevas e é caracterizado pelas trevas. Ele continua nelas. Finalmente, João acrescenta que embora continue em sua caminhada de trevas, ele faz isso sem ter o conhecimento claro de um objetivo. Ele prossegue, pois o caminho da pessoa sem Deus é o de uma atividade sem descanso. Mas ele “não sabe para onde vai” (Jo 12.35).

Só existe uma explicação para essa incrível situação, uma situação na qual os homens andam em trevas, muito embora a luz verdadeira esteja brilhando, sem um objetivo, muito embora o objetivo de Deus em Cristo seja muito claro, O problema é que os homens são cegos e não conseguem ver a luz nem discernir o objetivo. Claramente não existe esperança para essas pessoas exceto em Deus, que é capaz de dar vista ao cego e conduzir os pés do pecador num caminho de retidão,

Conclusão

Esse último versículo introduz um termo qe pode ser aplicado à vicia de amor. É o termo “andar”, que sugere dar passos. O que é o amor afinal? Não é apenas um certo sentimento agraciável. Não é um sorriso. É uma atitude que determina o que alguém faz. Assim, é impossível falar sobre o amor sem pelo menos sugerir algumas das ações que deveriam fluir a partir cicie, assim como é impossível falar sobre o amor de Deus sem mencionar coisas tais quais a criação cio homem à sua imagem, a entrega da revelação cio Antigo Testamento, a vinda de Cristo, a cruz, o derramamento cio Espírito Santo e outras realidades.

O que significa amar? O que vai acontecer se aqueles que professam a vicia de Cristo amarem de fato uns aos outros? Francis Schaeffer, a quem me referi no início deste capítulo, tem diversas sugestões.

Primeiro, significa que quando o cristão falhou em amar seu irmão e, assim, agiu de modo errado com relação a ele, então irá até ele e dirá que sente muito. Parece fácil, mas não é, como qualquer um que já tenha tentado fazer isso sabe. Mesmo assim, mais do que qualquer outra coisa, expressa o amor e restaura aquela unidade que Jesus disse que deveria fluir do fato de que os cristãos amam uns aos outros e pela qual sua confissão é verificada ante o mundo.

Segundo, como a ofensa vem freqüentemente da parte dos outros, devemos demonstrar nosso amor pelo perdão. Isso é muito difícil, em particular quando a outra pessoa não pede desculpas. Schaeffer diz:

Devemos reconhecer continuamente que não praticamos o coração perdoador como deveríamos. E uma vez mais a oração é “perdoe nossas dívidas, nossas ofensas, assim como nós perdoamos nossos devedores”. Devemos ter um espírito perdoador antes mesmo de a outra pessoa expressar arrependimento pelos seus erros.

A oração do Senhor não sugere que quando a outra pessoa diz que sente muito então é que nós devemos demonstrar unidade ao ter um espírito perdoador. Em vez disso, somos chamados para ter um espírito perdoador sem que o outro tenha dado o primeiro passo. Podemos ainda dizer que ele está errado, mas ao mesmo tempo em que dizemos devemos perdoar.

O próprio João aprendeu a amar a esse ponto, pois anteriormente em sua vida ele era conhecido como um dos “Filhos do trovão”.

Certa vez ele desejou que viesse fogo do céu sobre aqueles que rejeitavam a Jesus (Lc 9.54). Mas à medida que passou a conhecer mais sobre o Espírito, passou a amar cada vez mais e mais.

Terceiro, precisamos demonstrar o amor com ações práticas, mesmo quando isso custa muito, O amor custou ao samaritano da parábola de Cristo. Custou a ele tempo e dinheiro, O amor custou ao pastor que se esforçou para encontrar sua ovelha, O amor custou a Maria de Betânia que, com seu amor, trouxe um frasco com líquido caríssimo aos pés de Jesus. O amor vai custar para todos que o praticam. Mas o que é comprado com ele será de grande valor, embora intangível; pois será a prova da presença da vida de Deus tanto para o indivíduo cristão quanto para o mundo que o observa.

Elaboração pelo:- Evangelista Isaias Silva de Jesus (auxiliar)

Igreja Evangélica Assembléia de Deus Ministério Belém Em Dourados – MS

As Epístolas de João de James M. Boice

Nenhum comentário: