Discernimento
de Espíritos – Um Dom Imprescindível
INTRODUÇÃO
Nesta
lição introduziremos o assunto definindo o verbo “discernir”; destacaremos as
três fontes das manifestações sobrenaturais; falaremos sobre a importância do
dom de discernir os espíritos a fim de detectarmos a fonte das operações
miraculosas; pontuaremos ainda quais as ferramentas que Deus outorgou a igreja
a fim de que ela pudesse discernir as coisas espirituais; e, concluiremos
destacando três exortações paulinas úteis a vida cristã.
I – DISCERNIR E
DISCERNIMENTO
No
seu uso geral, discernimento é, na vida cotidiana, a capacidade de compreender
e avaliar as coisas com bom senso e clareza, de separar o certo do errado com
sensatez. O termo aparece nessa acepção na Bíblia (2 Sm 19.35; Jn 4.11). Mas,
no contexto teológico, o seu uso é muito mais amplo, como veremos a seguir.
·
O
verbo “discernir”.
O
Novo Testamento grego apresenta dois verbos traduzidos em nossas versões
bíblicas por “discernir”, anakrino e diakrino. O
significado do primeiro é amplo, como “perguntar, interrogar, investigar,
examinar” (Lc 23.14; At 17.11), e aparece também com o sentido de
“discernimento” (1 Co 2.14,15). O segundo verbo apresenta grande variedade
semântica e uma das variações é a de discernir (1 Co 11.29).
·
O
substantivo “discernimento”.
O
termo grego é diákrisis, que só aparece três vezes no Novo
Testamento e, em cada uma delas, o significado é diferente: uma vez com o
sentido de “briga” ou “julgamento” (Rm 14.1); outra, como “distinção” em que se
julgam pelas evidências se os espíritos são malignos ou se provém de Deus (1 Co
12.10); e, finalmente, para discernir entre o bem e o mal (Hb 5.14).
II
– CONHECENDO A FONTE DAS MANIFESTAÇÕES ESPIRITUAIS
As manifestações sobrenaturais podem ter
basicamente três origens.
·Divina.
·A
Bíblia não somente afirma a existência de Deus (Gn 1.1; Dn 2.28), como também
fala de suas intervenções miraculosas na terra (1 Sm 2.6-8). Ele opera sinais e
maravilhas (Êx 10.1; Nm 14.22; Dn 6.27).
·Humana.
·A
Bíblia fala de pessoas que profetizam “falsamente” (Jr 14.14); do “próprio
coração” (Jr 23.16); falam “sonhos mentirosos” (Jr 23.32). Na época do profeta
Isaías e Jeremias havia aqueles que afirmavam predizer o futuro (Is 8.19;
44.25; Jr 27.9; 29.8). Há casos no Novo Testamento de mágicos que iludiam as
pessoas com truques, fazendo seus seguidores crer que eles possuíam algum poder
para fazer milagres (At 8.8-11; 13.6).
·Diabólica.
Quando os demônios agem na vida das
pessoas podem fazê-las “operar sinais” (Êx 7.10,11; 2 Ts 2.9); “profetizar” (1
Rs 22.22); adquirir “grande força” (Mc 5.3,4); ter “conhecimento da vida íntima
das pessoas” (At 16.16). A Bíblia diz que: (a) Satanás usa as Escrituras e as
interpreta para o mal (Mt 4.6; Lc 4.10,11); (b) ele opera grandes sinais e
prodígios (Mt 24.24; 2 Ts 2.9; Ap 16.14; 19.20); e, (c) ele tem a capacidade de
transformar-se em anjo de luz (2 Co 11.14).
III
- O Dom de Discernimento
O
Dom de discernimento de espírito trata-se de uma dotação especial dada pelo
Espírito, para o portador do dom discernir e julgar corretamente as profecias e
distinguir se uma mensagem provém do Espírito Santo ou não: “E falem dois ou três profetas, e os outros julguem”.
Os espírito
malignos conseguem agir na congregação através de falsos mestres e falsos
profetas aí presentes. O profetizar, o falar em línguas estranhas ou a
possessão dalgum dom sobrenatural não é garantia de que alguém é genuíno
profeta ou crente, pois os dons espirituais podem serem falsificados por
Satanás.
·Mt 24.24 - Porque surgirão falsos cristos e falsos
profetas, e farão tão grandes sinais e prodígios que, se possível fora,
enganariam até os escolhidos.
·2 Ts 2.9-12 - A esse cuja vinda é segundo a eficácia
de Satanás, com todo o poder, e sinais e prodígios de mentira,E com todo o
engano da injustiça para os que perecem, porque não receberam o amor da verdade
para se salvarem. E por isso Deus lhes enviará a operação do erro, para que
creiam a mentira;Para que sejam julgados todos os que não creram a verdade,
antes tiveram prazer na iniqüidade.
IV – A NECESSIDADE DE DISCERNIR OS
ESPÍRITOS
Em um universo de muita pluralidade religiosa como
esta em que vivemos, onde existem muitas ações malignas, imitações e até
supostas ações sobrenaturais faz-se necessário a manifestação deste dom. É bom
dizer que pelo entendimento e pela lógica humana, nem sempre é possível avaliar
a origem das manifestações espirituais, porque às vezes são muito semelhantes.
Abaixo destacaremos alguns casos, que constam no registro bíblico, e que são
muito semelhantes entre si a fim de entendermos a importância do dom de
discernir para sabermos a fonte das operações sobrenaturais a fim de não sermos
enganados pelo diabo.
·O ESPÍRITO SANTO OPERANDO
Moisés tornou o cajado em serpente (Êx 7.10)
Elias fez cair fogo do céu (2 Re 1.10)
A mulher sunamita elogiou Eliseu (2 Re 4.9)
Saul profetizou (1 Sm 10.11)
Sansão tinha uma grande força (Jz 16.22)
·O ESPÍRITO MAL OPERANDO
Os magos tornaram o cajado em serpente (Êx 7.10,11)
O anticristo fará cair fogo do céu (Ap 13.13)
A mulher pitonisa elogiou Paulo (At 16.17)
Saul profetizou (1 Sm 18.10)
O gadareno tinha uma grande força (Mc 5.4)
V – O QUE NOS AUXILIA NOS
DISCERNIMENTO DAS COISAS ESPIRITUAIS
Ser um homem espiritual.
A expressão ‘homem espiritual’ no grego ‘pneumatikos
anthrõpos’, é o homem que, nascido de novo, procura andar segundo a natureza
divina recebida por ocasião do novo nascimento (Jo 3.3,7; 2 Co 5.17; Gl 6.15;
Jo 1.12.13; Ef 2.1,5; Cl 2.13; Tt 3.5; Tg 1.18; 1 Pe 1.23). Ao contrário do
homem natural, quanto as coisas espirituais, o homem espiritual “[…] discerne
bem tudo, e ele de ninguém é discernido” (1 Co 2.15-b). Por possuírem o
Espírito Santo, os crentes entendem estas coisas. Eles são capazes de fazer
julgamentos corretos sobre os assuntos espirituais, tais como: a salvação ou as
bênçãos futuras de Deus. Todo cristão nascido de novo deve ter, em certo grau,
a capacidade de “provar os espíritos” (1 Jo 4.1).
A Palavra de Deus.
Para que pudéssemos discernir as manifestações
espirituais Deus nos concedeu a Sua Palavra. Qualquer manifestação espiritual
que não esteja de acordo com as Escrituras, deve ser descartada. Jesus nos
advertiu sobre os falsos profetas, dizendo que eles fariam até prodígios (Mt
7.15; 24.11,24; Mc 13.22). Os apóstolos Paulo, Pedro e João também nos
advertiram quanto a isso (1 Ts 5.21; 2 Pd 2.1; 1 Jo 4.1).
O dom de discernir.
Quando da ocasião da vinda do Espírito Santo no Dia de
Pentecostes (At 2), dons espirituais foram concedidos a igreja a fim de
equipá-la para sua tríplice função: “adoração, edificação e evangelização” (1
Co 12.810). O dom espiritual é uma: “dotação ou concessão especial e
sobrenatural pelo Espírito Santo, de capacidade divina sobre o crente, para
serviço especial na execução dos propósitos divinos para e através da Igreja”.
O dom de discernir os espíritos (1 Co 12.10) é “uma ação sobrenatural do
Espírito Santo na vida do crente, capacitando-o a discernir as manifestações
sobrenaturais”. Pelo dom de discernimento, o crente pode saber, por exemplo, se
uma determinada profecia vem de Deus, do homem ou dos demônios. Ou seja, esse
dom capacita a “enxergar” todas as aparências exteriores e conhecer a
verdadeira natureza de uma inspiração (At 13.6-12; 16.16-18).
VI – O QUE A BÍBLIA NOS ORDENA A
JULGAR
A palavra “julgar” segundo o dicionário significa:
“emitir parecer, opinião sobre (alguém ou alguma coisa); formar conceito ou
opinião”. A Bíblia nos exorta a submetermos ao julgamento as seguintes coisas.
·Julgar as profecias.
Desde o AT que Deus ensinou o seu povo a julgar as
profecias (Dt 18.20-22). No NT, há o mesmo direcionamento. Na igreja de
Corinto, por exemplo, onde os dons espirituais eram abundantes (1 Co 1.7); e,
faziam parte regularmente dos cultos (1 Co 14.26). Quanto ao dom de profecia, o
apóstolo orientou aos que profetizavam que falassem um após o outro e que a
igreja julgasse o conteúdo das profecias (1 Co 14.29). A palavra “julgar” usada
por Paulo aqui neste texto é a expressão grega “diakrinetosan” que significa
“discernir”. Mas, que aspectos devemos julgar? Notemos alguns:
(a) a mensagem glorifica a Deus? (1 Co 10.31)
(b) a mensagem está de acordo com as Escrituras? (1 Pd
4.11);
(c) a mensagem edifica a igreja? (1 Co
14.3,4,5,12,17,26);
(d) a pessoa que profetiza se submete ao julgamento
dos outros? (1 Co 14.29); a pessoa que profetiza está no controle de si mesmo?
(1 Co 14.32); a pessoa que profetiza é submissa a Palavra de Deus e a
autoridade pastoral? (1 Co 14.37).
·Julgar a mensagem pregada.
Satanás também cria doutrinas heréticas com a
finalidade de destruir a pureza doutrinária da igreja, levando-a a apostasia.
Sabedor disto, Paulo exortou aos presbíteros de Éfeso (At 20.28), e previu,
pelo Espírito Santo, que isto ocorreria em maior abundância nos últimos dias (1
Tm 4.1-3). Paulo elogiou a igreja de Bereia, que examinava as Escrituras para
ver se o que ele estava falando era de fato a verdade (At 17.11). A igreja de
Éfeso foi grandemente elogiada por Jesus, pelo fato de ter rejeitado a mensagem
dos falsos apóstolos (Ap 2.2-b). Exortando as igrejas da Galácia, que estavam
sendo seduzidas por heresias, o apóstolo Paulo disse: “Mas, ainda que nós
mesmos ou um anjo do céu vos anuncie outro evangelho além do que já vos tenho
anunciado, seja anátema” (Gl 1.8).
·As manifestações espirituais.
Não podemos ignorar que o homem (At 8.8-11; 13.6) ou
mesmo Satanás e os demônios (Mt 24.24; 2 Ts 2.9; Ap 16.14; 19.20) podem
realizar coisas que se assemelham as operações miraculosas, com o intuito de
enganar as pessoas e induzi-las ao erro. Diante disto, necessitamos “provar os
espíritos” (1 Jo 4.1). À semelhança do metalúrgico que testa a integridade do
metal por meio do fogo, testar a mensagem com a verdade apostólica, para saber
qual o espírito que está por trás dela.
VII - TRÊS RECOMENDAÇÕES ÚTEIS A
VIDA CRISTÃ
Não extinguir o Espírito.
O Espírito Santo foi concedido a igreja para nela e
por meio dela manifestar a glória do Senhor, realizando proezas sinais e
maravilhas (At 2.1-4; Hb 2.4). Logo, não devemos jamais extinguir o Espírito (1
Ts 5.19); nem atribuir uma obra do Espírito Santo ao diabo, pois isto é um
pecado que não tem perdão (Mc 3.22-30).
Não desprezar as profecias.
Segundo Paulo não devemos desprezar ou desacreditar do
dom de profecia (1 Ts 5.20). O verbo “desprezeis” no grego é, literalmente,
“contar como nada”. O dom de profecia é de extrema importância para a igreja,
pois foi concedido para “edificação, exortação e consolação” (1 Co 14.3).
Examinar tudo e reter o bem.
Paulo orientou a igreja de Tessalônica a submeter as
manifestações espirituais a um exame minucioso para reter somente o que é bom
(1 Ts 5.21). Esta última exortação na passagem equilibra as primeiras duas. O
julgamento cristão, o bom senso, o exame criterioso são ações imprescindíveis
na vida da igreja.
CONCLUSÃO
Satanás tenta de todas as formas atacar o povo de Deus
até mesmo imitando as manifestações sobrenaturais com a finalidade de ludibriar
os salvos. Usemos a Palavra de Deus e busquemos o dom de discernimento de
espíritos, a fim de não cairmos no erro.
Por. Pb. Mickel S. Porto
REFERÊNCIAS
BÍBLIA DE
APLICAÇÃO PESSOAL. CPAD.
GILBERTO, Antônio
(Org.); et al. Teologia Sistemática Pentecostal. CPAD.
HOUAISS, Antônio.
Dicionário da Língua Portuguesa. OBJETIVA.
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Elinaldo. Dons espirituais e ministeriais. CPAD.
STAMPS, Donald C.
Bíblia de Estudo Pentecostal. CPAD.
VINE, W.E, et al.
Dicionário Vine.
CPAD.
Superintendência
de Escola Dominical - IEADPE
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