2 de fevereiro de 2010

O Ministério da Reconciliação –parte 2

O Ministério da Reconciliação –parte 2

2 CORÍNTIOS 4-7

EXPOSIÇÃO

Paulo forneceu um exemplo completo de sinceridade e vulnerabilidade e estabeleceu o alicerce para um ministério do Novo Concerto (capítulo 1). As boas novas do evangelho são que Deus está presente na vida do crente, dando a todos nós a esperança de transformação gradual em direção à semelhança de Cristo (capítulo 3). Construindo sobre esta realidade, Paulo afirma duas vezes: “Por isso.., não desfalecemos” (4.1,16). O ministério do Novo Concerto rejeita o uso ela “falsidade” para pregar as perfeições de Cristo, e não “a nós mesmos” (4.1-6). Somos como vasos de barro que contém um grande tesouro; o que importa não é o que é visto, mas o que não é visto; não o temporário, que está desaparecendo, mas o núcleo da eternidade interior (4.7-18).

Paulo faz uma pausa para observar que nossa mortalidade certamente será “absorvida pela vida. Vida, aqui, é sinônimo de perfeição. Isto não modifica nosso objetivo de procurar agradar ao Senhor, seja agora ou na glória (5.1-10).

Uma vez mais, Paulo afirma um princípio básico do ministério. Diferentemente daqueles que se orgulham do que pode ser visto, Paulo conta com o que não pode ser visto: a realidade de Cristo no coração do crente, e fato de que o amor motivará o crente a viver para o Senhor. Paulo está completamente convencido disto. O propósito da morte de Cristo foi que “os que vivem não vivam mais para si, mas para aquele que por eles morreu e ressuscitou”. E inimaginável que o sacrifício de Cristo deixasse de cumprir seu propósito (5.11—15).

Com esta perspectiva, Paulo já não mais considera a ninguém “segundo a carne”. Não se trata das aparências, mas da realidade espiritual. Não são as falhas atuais, mas a promessa do futuro que é mais real para o apóstolo. Uma vez que o crente está agora em Cristo, o novo chegou. E o novo certamente renovará o crente. Assim, a missão de Paulo para com o cristão é insistir na reconciliação isto é, uma vida que esteja em completa harmonia com Cristo, e com o fato de que, ao tornar-se pecado para nós, Cristo nos capacitou “para que, nele, fôssemos feitos justiça de Deus” (5.16-21). E isto acontecerá hoje! (6.1,2)

Com esta fundação teológica estabelecida, Paulo retorna a assuntos mais pessoais. Em todo o seu sofrimento, Paulo falou livremente aos coríntios, abrindo seu coração a eles (6.3-13). Com completa integridade, Paulo pode insistir para que os coríntios evitem a intimidade com os incrédulos, e confiem na promessa de Deus de que a pessoa que se purifica do pecado, será recebida por Deus como sua (6.14—7.1).

Quanto aos coríntios, as críticas de Paulo nunca tiveram a intenção de serem condenações. Paulo continua a ter grande confiança nestes crentes e os ama intensamente. Mas ele não lamenta as palavras que possam ter parecido ásperas, pois estas palavras foram ouvidas com uma “tristeza segundo Deus” que levou ao arrependimento. A reação dos coríntios às suas ásperas palavras demonstrou exatamente o que Paulo já sabia: que o Jesus invisível em seus corações realmente é a influência que controla suas vidas. E a reação deles trouxe alegria ao apóstolo e a outros que os amam como ele os ama (7.2-16).

ESTUDO DA PALAVRA

Pelo que, tendo este ministério, segUndo a misericórdia que nos foi feita, não desfalecemos (4.1; cf. 4.16). Em grego, a palavra é ouk egkakeo, “não se comportar com fraqueza’, e indica perseverança. Paulo entende a natureza da obra transformadora do Espírito nos crentes, e isto o mantém no caminho correto, não importando que revezes possam acontecer.

Corno é importante que nós também entendamos. E tão fácil ficar desencorajado, quando nossos filhos nos desapontam ou, quando alguém em quem investimos muito tempo, e por quem oramos, retorna ao seu antigo modo de vida. Como Paulo, nós precisamos perceber que temos um ministério do Novo Concerto ministério que reconhece as fraquezas humanas, e ainda confia no Espírito do Senhor para realizar aquela transformação interior gradual que, com o tempo, capacitará cada crente a refletir melhor a glória de nosso Senhor.

Temos, porém, esse tesouro em vasos de barro, para que a excelência do poder seja de Deus e não de nós (4.7). A imagem vívida do vaso de barro (ostrakinon skeuos) atraiu a atenção de muitos comentaristas. Tais vasos, freqüentemente usados como lâmpadas de azeite no século 1, eram ao mesmo tempo frágeis e baratos. Em nossos frágeis corpos mortais arde a chama do Espírito, revelando uma glória que é muito mais maravilhosa em vista da simplicidade de seu recipiente.

O fato de que Deus revelou-se no Cristo encarnado foi um grande milagre. Talvez um milagre ainda maior seja o fato de que Deus seja capaz de revelar-se para você e eu.

De maneira que em nós opera a morte, mas em vós, a vida (4.12). Os tradutores da versão NIV colocam “opera” na primeira sentença, o que pode levar a interpretação equivocada. A expressão en humin aqui é um dativo de vantagem, e a expressão deveria ser “mas é vida para vós” Paulo relatou as constantes pressões sob as quais ele desempenha seu ministério (4.7-9). Para Paulo, esta experiência de morte constante (sofrimento) não é apenas seu destino, mas também prova de seu chamado.

Sua constante exposição ao sofrimento e à sua fraqueza evidente significa somente que, nele, a vida da ressurreição de Jesus é manifestada (phanerothe [4.101). Paulo sofre voluntariamente porque seu compromisso contínuo, apesar de sua “morte”, exibe o poder de Jesus. Ele também sofre voluntariamente porque sua “morte” tem grande vantagem para os coríntios, pois seu sofrimento lhes trouxe a nova vida em Jesus de que eles agora desfrutam.

Existe um sentido no qual todos nós, que conhecemos Jesus, somos chamados ao sofrimento, da mesma forma como Jesus foi. Somente em nossas fraquezas nós podemos verdadeiramente exibir a força de Jesus. E, muito freqüentemente, somente sacrificando alguma coisa importante para nós, poderemos levar o dom da vida aos outros. Mas, como é bom quando podemos fazer nossos sacrifícios com a mesma alegria que Paulo expressa quando escreve: “Tudo isso é por amor de vós, para que a graça, multiplicada por meio de muitos, torne abundante a ação de graças, para glória de Deus” (4.15).

Não atentando nós nas coisas que se vêem, mas nas que se não vêem; porque as que se vêem são temporais, e as que se não vêem são eternas (4.18). A palavra é skopounton, normalmente usada com o sentido de “fixar os olhos em”, e indica um exame minucioso, um olhar penetrante que determina o valor da coisa examinada e mantém em vista aquele valor.

Este versículo é crucial para a compreensão do argumento de Paulo nestes capítulos. Claramente, ele vê falhas nos coríntios, e com a mesma clareza ele vê a aflição e os sofrimentos que estão associados com seu compromisso de servir a Cristo. Mas estas coisas são deixadas de lado por serem proskaira, “temporárias” (4.18). Paulo olha além dos meros fenômenos sensoriais, percebendo que tudo o que ele pode sentir e ver é passageiro e, em última analise, irreal. Paulo está preocupado com aquilo que é eterno, com uma realidade que está além do poder que nossos sentidos têm de descobrir. E essa realidade que ele descobriu em Cristo, e na qual ele fixou seu olhar (“atentou”) que determina seu caminho.

Quanto melhor entendermos os métodos de Deus, e quanto mais firmemente estivermos comprometidos com eles, melhor veremos nosso próprio caminho pela vida. Manter o olhar fixo no Eterno é a melhor maneira de proteger-se contra os desapontamentos e as aflições da vida.

Sabemos que, se a nossa casa terrestre deste tabernáculo se desfizer, temos de Deus um edifício, uma casa não feita por mãos, eterna, nos céus (5.1). Uma profissão impressionante de interpretações faz desta passagem uma das mais debatidas do NT.

A maioria dos estudiosos, entretanto, iguala a “casa terrestre” ao corpo mortal, e a “casa eterna” ao corpo da ressurreição ou a algum corpo intermediário com o qual o crente será “revestido” até a chegada do dia da ressurreição.

Embora este debate nunca possa ser adequadamente solucionado, vemos aqui um tema básico no pensamento cristão. Muitos, no século 1, acreditavam que a alma “nua” (5.3) poderia aproximar-se de Deus “despida” (sem um corpo). Para eles, a “ressurreição” era mais espiritual que corporal. Paulo resolveu este problema em 1 Coríntios 15, mas aqui retorna brevemente a ele. Aquela morte da qual o próprio Paulo está tão consciente (4.7-15), não é perda maior do que a morte física será; pois a perda do corpo mortal simplesmente significará ultrapassar o visível para um campo no qual embora invisível para nós agora — seremos revestidos novamente, e desta vez pela vida! (5.4). E esta maravilhosa transição do visível para o invisível, da mortalidade para a experiência completa da vida eterna, é assegurada pelo Espírito que está presente em nós (5.5).

Como são insignificantes nossas especulações sobre se Paulo tem ou não um corpo temporário, transitório, em vista nestes versículos. Nós temos certeza da verdadeira mensagem da passagem: além do tempo, existe a eternidade. E o retorno deste corpo presente ao pó é um evento completamente insignificante, pois um corpo celestial glorioso espera aqueles que morrem em Cristo.

Confiantes desta maravilhosa verdade... “o que nós queremos é agradar o Senhor, seja vivendo em nosso corpo aqui, seja vivendo lá com o Senhor” (5.9, versão NTLH).

Porque todos devemos comparecer ante o tribunal de Cristo (5.10). O bema em Corinto era uma plataforma elevada, localizada perto do centro da cidade. Embora fosse deste tribunal que as autoridades da cidade anunciavam as sentenças judiciais, a imagem não era assustadora para os leitores de Paulo no século 1. Era do bema que se faziam todas as proclamações públicas, aquelas que elogiavam as pessoas e aquelas que as censuravam.

Aqui Paulo não se refere ao julgamento final, mas àquela avaliação das obras do crente, mencionadas em 1 Coríntios 3.10-15. Na volta de Cristo, os crentes não somente irão sentir a plenitude da salvação, mas também comparecerão perante o Senhor hina kornisetai, “para que cada um receba segundo o que tiver feito” (5.10). O retorno de Cristo será tempo de colheita para nós, assim como para o Senhor. Nós somos a colheita de Deus, ao passo que cada um de nós colherá “segundo o que tiver feito por meio do corpo”.

Estejamos certos de viver de modo que nossa colheita seja abundante, e as palavras que Jesus dirá do bema celestial serão palavras de elogio e não de censura.

Porque o amor de Cristo nos constrange (5.14). “O amor de Cristo” é mais freqüentemente compreendido como um objetivo e não como um genitivo subjetivo. E o amor que Cristo tem por nós e expressou no Calvário, e não o amor que nós sentimos por Cristo, que exerce força constrangedora na vida do cristão. “Constranger” é sunechei, “estar controlando alguém”. Há mais coisas implicadas além da influência moral, O amor de Cristo liberou em nós um poder que não pode ser negado. Esse amor é transformador em caráter, e com muita certeza renovará o crente da mesma maneira que transformou Paulo que antes era inimigo do Senhor em seu servo mais dedicado.

Julgando nós assim: que, se um morreu por todos, logo, todos morreram. E ele morreu por todos, para que os que vivem não vivam mais para si, mas para aquele que por eles morreu e ressuscitou (5.14,15). Os termos de ligação neste texto explicam o significado das palavras de Paulo. Por que o amor de Cristo nos constrange? Porque esse amor encontrou expressão em sua morte por “todos” (aqui, claramente todos os crentes). Portanto, o crente, em união com

Jesus, também morreu, e em união com Jesus ressuscitou para uma nova vida (Rm 6.1-14). “Para que” é bina, que aqui expressa propósito mais do que resultado. O que Paulo quer dizer é que por meio da morte de Jesus e de nossa união com Ele, Deus pretende trabalhar tanto em nossas vidas que nós chegaremos ao lugar em que Paulo está agora um lugar onde viveremos para Jesus e não paia nós mesmos!

O que Paulo fez aqui foi lançar a base teológica na qual ele constrói seu ministério a grande verdade que modela a maneira como se relaciona com os coríntios e os outros. Paulo não perde a coragem, mesmo quando a igreja de Corinto está dividida por disputas e pela imoralidade. O apóstolo continua a ministrar com confiança, porque ele está absolutamente convencido de que nada no mundo será capaz de impedir o propósito de Deus na expiação! Deus, certamente, cumprirá sua vontade na vida de cada crente. O Senhor fará aquilo que planejou fazer quando deu seu Filho por nós.

Como Deus cumprirá seu objetivo? Unindo-nos a Jesus, para que compartilhemos tanto de sua morte quanto de sua ressurreição. Esta obra realizada pelo amor de Cristo exercerá força impulsionadora na vida do crente, e assim também os crentes de Corinto, certamente, crescerão à semelhança de seu Salvador.

Que verdade vital para ter em mente. As vezes, parece que damos um passo em direção à vida cristã, somente para retroceder dois. E freqüentemente aqueles que amamos parecem indiferentes, inabaláveis pelo chamado de Cristo ao pleno comprometimento. Quando desencorajados, nós podemos ter esperança. Deus certamente realizará seu objetivo em nós e neles. Por meio de seu grande amor, foi introduzido dentro de nós um poder que nos levará, como levou a Paulo, a “não viver mais para [nós mesmos], mas para aquele que por [nós] morreu e ressuscitou” (5.15).

Assim que, daqui por diante, a ninguém conhecemos segundo a carne (5.16). O mundo avalia as pessoas com base em seu desempenho, no que elas fazem ou deixam de fazer. De uma perspectiva mundana, os próprios coríntios poderiam ser considerados como fracassos cristãos defeituosos, na melhor das hipóteses, indistinguíveis dos “homens carnais” (1 Co 3.3). Mas, Paulo vê Cristo, vivo em seus corações, influência motivadora que modificará cada raciocínio deles até que decidam alegremente viver somente para Ele.

Ainda que também tenhamos conhecido Cristo segundo a carne, contudo, agora, já não o conhecemos desse modo (5.16). O verbo é egnokamen, “conhecer”, usado aqui no sentido de maneira de encarar ou compreender a Cristo. A idéia é introduzida para esclarecer a importância de não encarar os outros de maneira mundana (segundo a carne). Aqueles que julgam pelas aparências poderão pensar que Jesus foi um fracasso um Messias rejeitado por seu próprio povo e entregue por eles para a crucificação. Sob o ponto de vista do mundo, alguns poderão pensar que Jesus foi figura trágica ou cômica. Mas, como a realidade é diferente! A crucificação, longe de marcar sua missão como um fracasso, provou ser o principal pilar de seu sucesso. E a ressurreição demonstrou que Ele é o eterno Filho de Deus.

Que lembrete para nós, de que as coisas espirituais raramente são o que parecem ser. Nós aprendemos a olhar além das aparências, e devemos basear nossa vida em crenças que, apesar de freqüente falta de evidências visíveis, sabemos que refletem a realidade.

Assim que, se alguém está em Cristo, nova criatura é: as coisas velhas já passaram; eis que tudo se fez novo (5.17). O termo “velho” em grego é archaias, aquilo que vem de um tempo anterior. O novo ato da criação realizado no crente deixou em nosso passado a antiga ordem do pecado, da morte e da carne que está associada com Adão. A partir de agora, devemos encarar os outros e a nós mesmos a partir de uma perspectiva modelada pela realidade da obra de Cristo em nossas vidas. Paulo não está ensinando aqui o perfeccionismo. Nem está dizendo que devemos sentir agora libertação da influência daquilo que é “velho” em nossa vida.

O que Paulo está dizendo é que o velho “já passou” no sentido de que seu poder sobre nós está rompido. A nova dinâmica da vida em Cristo nos promete liberdade transformadora a liberdade que virá.

E tudo isso provém de Deus, que nos reconciliou consigo mesmo por Jesus Cristo e nos deu o ministério da reconciliação (5.18). Paulo prossegue seu argumento observando a tensão entre nosso estado reconciliado atual, e nossa experiência de reconciliação.

“Reconciliar” (katallasso) é um termo teológico crítico no NT, e indica mudança nos relacionamentos pessoais entre os seres humanos e, particularmente, entre os seres humanos e Deus. O Zondervan Expository Dictionary ofBible Words observa que diversas verdades vitais estão expressas em passagens nas quais esta palavra aparece.

(1) São os seres humanos que precisam ser reconciliados; sua atitude pecadora em relação a Deus deve ser modificada.

(2) Deus atuou em Cristo para realizar a reconciliação, para que, com nossos pecados já não mais computados contra nós, os crentes já não mais tenham base para considerar Deus como um inimigo.

(3) Quando cremos no evangelho, sentimos mudança psicológica e espiritual, pois nossas atitudes passam a estar em harmonia com a realidade divina (p. 515).

Esta passagem confirma a obra objetiva de Cristo ao realizar a reconciliação. Também concentra nossa atenção naquilo que é psicológico e espiritual. O “ministério da reconciliação” de Paulo está direcionado aos crentes e não aos incrédulos (5.18-20). O objetivo deste ministério é realizar essa mudança em percepção e em atitudes em relação a Deus, que irão capa- citar o cristão a tornar-se verdadeiramente novo. Com nosso exterior em completa harmonia com o próprio exterior de Deus, nós seremos... “Nele.., feitos justiça de Deus”.

Deus estava em Cristo reconciliando consigo o mundo, não lhes imputando seus pecados (5.19). O argumento de Paulo nesta passagem é bem fundamentado. A morte de Jesus foi uma propiciação, no sentido de que Ele pagou o preço que o pecado exige. A morte de Jesus foi redenção, no sentido de que o preço que Ele pagou, comprou nossa liberdade. E a morte de Jesus é reconciliação, no sentido de que ela exibe a graça de Deus e constitui prova de que Deus verdadeiramente perdoa, em lugar de computar nossos pecados contra nós.

A expressão me logizomenos autois, “não lhes imputando seus pecados” reflete uma verdade enfatizada em Romanos 4.

Deus não imputa os pecados contra ninguém que tenha fé em Jesus (Rm 4.3; = SI 32.2). O evangelho de Cristo enfatiza o perdão, não a condenação! Deixemos que a lei e nossa consciência nos condenem e nos deixem desconfortáveis a respeito de nossa situação com Deus. Jesus deixa tudo aquilo para trás e nos convida a ir livremente a Deus, certos de que os pecados já não são problema mais em nosso relacionamento com o Senhor.

O que torna este tema tão importante, é que o “ministério da reconciliação” do Novo Concerto divulgado por Paulo mantém esta mesma ênfase! Em seu relacionamento com os coríntios, ele não parece inclinado a computar seus pecados. E ele não os usa contra eles! Ao contrário, ele é positivo e otimista. Olhando além dos problemas atuais, ele diz, com total sinceridade: “Grande é a ousadia da minha fala para convosco, e grande a minha jactância a respeito de vós; estou cheio de consolação e transbordante de gozo em todas as nossas tribulações” (7.4).

Paulo está absolutamente convencido de que o amor de Cristo é a influência controladora na vida dos coríntios, e que eles chegarão à posição em que, como Paulo, viverão alegremente para o Senhor e não para si mesmos. O papel de Paulo não é culpar ou condenar, mas continuar a expressar a confiança que ele tem na obra de Cristo dentro deles e expressando esta confiança, ajudar os coríntios a viver mais e mais em harmonia com o Senhor.

Uma vez mais, que grande lição para nós. O pai ou o pastor que confia na crítica constante, cujas palavras produzem culpa, mais atrapalha que ajuda o crescimento espiritual. Mas o pai ou o pastor que diz “eu tenho grande confiança em você”, e se recusa a permitir que esta confiança seja abalada por falhas, mesmo que repetidas, realiza um ministério de reconciliação que produz frutos. Cristo está no coração de cada crente. O Espírito está presente para realizar sua obra de transformação. Devemos crer e confiar a Deus o crescimento e a transformação de nossos filhos, até que, pelo exemplo de nossa fé, eles venham a crer nele por si mesmos.

Antes, como ministros de Deus, tornando-nos recomendáveis em tudo (6.4). A palavra é sunistanein, “provar ou mostrar”. Paulo está partindo de sua própria experiência para fornecer um esquema que capacitará o leitor a reconhecer um verdadeiro servo de Deus.

Esta imagem, desenvolvida nos versículos seguintes, que lembra quadros de Rembrandt, é um estudo sobre a luz em contraste com as trevas. Contra o cenário das aflições (6.4,5), o servo de Deus exibe qualidades interiores através das quais brilha a luz de Jesus.

As nove aflições do cenário são apresentadas em grupos de três: provações gerais (“aflições, necessidades, angústias”); perseguições (“açoites, prisões, tumultos”) e as conseqüências naturais do compromisso (“trabalhos, vigílias, jejuns”). Mas a escuridão projetada por estas dificuldades serve mais para enfatizar do que para extinguir “a pureza, a ciência, a longanimidade e a benignidade” juntamente com “o amor não fingido” e “a palavra da verdade”, que o Espírito Santo e o poder de Deus operam na vida daqueles que servem a Cristo de forma voluntária (6.6,7).

Não vos prendais a um jugo desigual com os infiéis (6.14). A palavra aqui é heterozygountes, um “arreio duplo”, e só é encontrada aqui no NT Os comentaristas concordam que a instrução baseia-se na proibição do AT contra lavrar com animais diferentes (Dt 22.10), e quem sabe também contra o cruzamento de tipos diferentes de animais domesticados (Lv 19.19).

O problema é determinar como se aplica este princípio. Paulo já disse que os coríntios não devem se retirar da associação com os não cristãos, mesmo que estes sejam imorais (1 Co 5.9-13). E ele disse aos cônjuges cristãos que permanecessem com seus cônjuges não cristãos, pelo tempo que aquela pessoa desejasse viver com eles (1 Co 7.12- 14). Mas fica claro que Paulo espera que os cristãos só contraiam uru novo matrimônio “contanto que seja no Senhor” (1 Co 7.39).

Paulo afirmou um princípio geral, que nós podemos parafrasear. Não entre em nenhum relacionamento com infiéis que possa envolver um comprometimento dos padrões ou testemunhos cristãos. Sejam quais forem esses relacionamentos sociais, de negócios, ou outros Paulo sabe que cada um de nós precisa confiar na orientação do Espírito, que nos ajudará a decidir.

Mais tarde, Paulo nos dá uma palavra adicional de orientação. Devemos nos lembrar de que Deus nos chama para uma vida de pureza, eliminando de nossa vida qualquer coisa que contamine a carne e o espírito (7.1). Se um relacionamento que estivermos considerando não promover o “aperfeiçoamento da santificação no temor de Deus”, então ele deve ser evitado.

Recebei-nos em vossos corações (7.2). Apalavra choresate foi parafraseada como “abram espaço para mim’. A palavra transmite a idéia não somente de abertura, mas também de expansão. Paulo está dizendo: expandam seus corações, ampliem sua capacidade de reagir.

Freqüentemente, quando reagimos a alguma desconsideração real ou imaginária, quase podemos sentir nossos corações fechando-se. Paulo lembra os coríntios que não importa quais acusações possam ter sido feitas contra ele, “a ninguém agravamos, a ninguém corrompemos, de ninguém buscamos nosso proveito” (7.2). E mesmo seu pedido de que eles abram espaço para ele em seus corações, não é pronunciado em um espírito de condenação.

A melhor maneira de ajudar alguém a abrir o coração para nós é seguir o exemplo de Paulo e reafirmar nosso próprio amor, tendo cuidado para não atacar, criticar nem condenar.

Porque a tristeza segundo Deus opera arrependimento para a salvação, da qual ninguém se arrepende; mas a tristeza do mundo opera a morte (7.10). A palavra traduzida como “tristeza” é lupe em cada caso. Esta palavra grega, também traduzida como “pesar” e “dor” no NT, é um termo amplo que abrange todos os tipos de aflições físicas e emocionais. Curiosamente, os tradutores da Septuaginta a usaram para traduzir cerca de 13 termos hebraicos diferentes que exibem nuances sutis de significado não encontrado na língua grega.

Aqui, no entanto, a ênfase de Paulo está no fato de que a reação de uma pessoa a lupe será “segundo Deus” ou “segundo o mundo”. Quando a tristeza leva ao arrependimento aquela mudança no coração e na mente que nos coloca no caminho que leva à salvação esta tristeza cai na categoria das tristezas “segundo Deus”. E importante recordar que “salvação” é freqüentemente usada no sentido da libertação atual. Aqui, o que Paulo quer dizer é que o arrependimento reverte nossa corrida para o desastre, e redime a situação, de modo que somos libertos das conseqüências associadas às escolhas anteriores, e erradas, que fizemos.

Por outro lado, a tristeza é “do mundo”, se tudo o que ela produz é pesar, ou até mesmo um reconhecimento de que estivemos errados — mas, sem nos levar ao arrependimento. Um bom exemplo de tristeza do mundo é vista em Saul, que parece ter sentido arrependimento, quando admite a Davi “Pequei... Eis que procedi loucamente e errei grandissimamente” (1 Sm 26.21). Mas, apesar desta admissão, Saul não se arrependeu e seu fracasso em fazê-lo levou à sua morte pouco tempo depois.

A tristeza, o pesar ou a dor, não importa como interpretemos lupe aqui, é um presente de Deus para nós. O arrependimento significa que o aceitamos como um presente e transformamos a dor em alguma coisa que nos traz benefícios, apesar da dor.

Regozijo-me de em tudo poder confiar em vós (7.16). O verbo “confiarem tudo” é tharrein, “ter confiança, coragem”, ou ainda “ter completa confiança”. Paulo olha para frente sem medo, confiante no contínuo progresso dos coríntios em direção à fé.

Anteriormente, vimos que a confiança de Paulo está baseada em sua convicção de que Cristo morreu para trazer os crentes a uma situação de compromisso em que eles vivam para Ele e não mais para si mesmos (5.15). O apóstolo não baseia sua avaliação no que pode ser observado, mas no fato de que Cristo está no coração, e seu amor os “impelirá” às transformações.

E assim, a ênfase de Paulo, vista pelo lugar proeminente que foi dedicado à Palavra no início da sentença, não está na reação dos coríntios, tuas sim na sua própria! Chairo! “Regozijo-me!”

Como é bom ver nos outros a evidência de que, mesmo agora, estão reagindo positivamente àquela compulsão interior, e dando passos rumo ao temor e à obediência ao Senhor. Como é bom ver que nossa confiança não está equivocada!

Assim é com Paulo. Ele não está confiante porque eles foram “obedientes”, tendo recebido Tito com “temor e tremor” (7.15). Ao contrário, sua resposta era esperada, era confirmação da confiança que Paulo já possuía. O que esta resposta cria não é aumento da confiança, como se tivesse havido dúvida, mas sim alegria!

O TEXTO EM PROFUNDIDADE

O Ministério da Reconciliação (5.11-21)

Contexto. Paulo afirmou que não fixa os olhos “nas coisas que se vêem, mas nas que se não vêem; porque as que se vêem são temporais, e as que se não vêem são eternas” (4.18). Este é um princípio básico do ministério do Novo Concerto, que Paulo desenvolve em sua importante exposição da natureza de seu “ministério da reconciliação” aos coríntios.

Esta ênfase está em grande contraste com o judaísmo. Por um lado, o judaísmo tem um credo definido. Talvez a melhor representação do credo do judaísmo esteja expressa nos “Treze princípios da fé”, expostos por Moisés Maimônides (1135-1204 d.C.). Esse credo, preservado no livro de orações diárias, começa com... “eu creio, em perfeita fé, que o Criador, bendito seja seu nome e continua enumerando os seguintes princípios:

(1) Deus é o único Criador,

(2) exclusivamente Único,

(3) Ele está além de toda a concepção e forma, (4) o Primeiro e o Ultimo, e

(5) o verdadeiro Deus da oração, e

(6) são verdadeiras as palavras dos profetas,

(7) Moisés é o Primeiro e o verdadeiro profeta,

(8) toda a Torá foi dada a Moisés,

(9) não há Novo Concerto,

(10) o Criador é onisciente,

(11) e recompensa e castiga a observância dos mandamentos;

(12) em seu próprio tempo Deus ainda trará o Messias,

(13) e ressuscitará os mortos.

Mas embora o judaísmo seja um sistema teológico, é basicamente um sistema ritual, que coloca sua ênfase prática no princípio número 11 acima: a crença de que o que é visto é importante, pois Deus recompensa e castiga a observância dos mandamentos.

Em um livro útil, entitulado Judaism, Michael A. Fishbane, professor de História Religiosa Judaica na Brandeis University, na cadeira que homenageia Samuel Lane, escreve sobre o judaísmo como um sistema ritual:

No judaísmo tradicional, todos os aspectos da vida têm rituais segundo regulamentos halakhic desde os primeiros pensamentos e orações matinais até as orações finais na cama à noite, desde os alimentos permitidos ou não permitidos, até as práticas comerciais permitidas ou não permitidas, desde as obrigações diárias de oração até os requisitos para a celebração das festas e para o luto pessoal. Da mesma maneira, todos os aspectos da vida assumem o caráter legal de mutar e asur, ou ato “permitido” e “proibido”; e outras categorias como bayyav e patur, ou “obrigatório” e “livre” (não obrigatório), e qodesh e bol, ou “sagrado” e “profano”, também dominam a consciência religiosa diária e a experiência dos judeus tradicionais. Da mesma maneira, o judeu observante será tipicamente escrupuloso na execução de suas obrigações halakhic, ou seja, altamente atento à ocasião adequada e à maneira de cumprir os mandamentos (p.83).

Esta era, naturalmente, a formação de Paulo como fariseu, em uma das seitas judaicas mais rígidas no século 1. Portanto, o fato de Paulo dizer, como ministro do Novo Concerto abandonemos o que é visível, porque é temporário e transitório, e, deste modo, basicamente sem importância é realmente surpreendente.

De fato, a afirmação deve ter maravilhado também os pagãos do século 1. Como todos os homens de todas as épocas que tivessem a mais vaga noção de moralidade, ou de uma divindade que avaliava as ações de um homem segundo algum padrão moral, eles teriam avaliado a si mesmos e aos outros somente de acordo com o comportamento — pelo que faziam, não com base no invisível, mas somente no que podia ser observado.

Por que Paulo passou para a posição radical que agora assume? Porque, como ele disse no capítulo 3, ele é um ministro do Novo Concerto de Deus — um concerto que o credo de Maimômides nega abertamente. A obra do Antigo Concerto de Deus foi uma Lei externa, escrita em pedras. A obra do Novo Concerto de Deus é transformação interna do caráter do crente, escrita no coração. As obras do homem, sob o Antigo Concerto, eram visíveis; a obra de Deus no Novo Concerto é invisível. Ainda assim, o antigo é transitório e basicamente inútil, ao passo que o novo é eterno, repleto da promessa de salvação.

O ministério da reconciliação de Paulo está enraizado nesta percepção de realidade do Novo Concerto, percepção que modela o modo como ele se relaciona com os coríntios e com cada crente nas igrejas que ele ou outros tenham fundado por todo o império.

Interpretação. Muitos pontos do Estudo da Palavra (acima) analisaram os termos e idéias essenciais desenvolvidos nesta passagem. Portanto, aqui, para evitar repetições, é necessário somente explicar brevemente o argumento do apóstolo.

Paulo, com temor ao Senhor, está completamente comprometido com a missão de persuadir os homens. Ele rejeita a acusação que alguns lançaram contra ele, de apresentar um caminho “fácil” para a salvação, com a finalidade de obter o favor dos coríntios e de outros. E ele considera necessário explicar novamente o princípio do ministério em que ele opera: “Para que tenhais que responder aos que se gloriam na aparência e não no coração” (5.12). Aqui, vemos novamente o contraste entre o visível e o invisível. Os críticos de Paulo baseiam suas afirmações em resultados visíveis; Paulo baseia suas esperanças em algo o que não pode ser visto nem medido, naquilo que está no coração. Embora isto possa parecer loucura para alguns, não o é para o apóstolo, que conta com o amor de Cristo para “dinamizar” (ou “impelir”) uma transformação que flui do coração para o exterior.

Mas, tal transformação de dentro para fora realmente acontecerá? E preciso, uma vez que Cristo morreu por todos (os crentes), e os crentes “portanto morreram”, O propósito de Deus neste grande ato foi o de transformar inimigos não apenas em amigos, mas em seguidores. Ele morreu “para que os que vivem não vivam mais para si, mas para aquele que por eles morreu e ressuscitou” (5.15).

Isto modificou completamente a perspectiva de Paulo sobre a realidade espiritual. Ele não mais avalia os outros “segundo a carne” (5.16). Uma vez mais, nós retornamos ao contraste entre o visível e o invisível, O mundo, sem a percepção espiritual, só pode formar julgamentos com base nas evidências que estejam disponíveis aos sentidos. Paulo olha mais além, para o coração, e percebe que, “se alguém está em Cristo, nova criatura é” (5.17). O antigo elo com Adão, que mantinha a pessoa em escravidão, sem esperanças, está quebrado. O novo elo irrompeu em seu coração!

Portanto, o que Paulo tem é um “ministério de reconciliação”. Da mesma maneira como uma semente é regada para que possa crescer, também Paulo encoraja o crescimento do novo que, como uma semente esperando para irromper e florescer, reside no coração. No que se refere à posição legal, o crente foi trazido à harmonia com (reconciliado com) Deus por Cristo. Agora, é simplesmente uma questão de trazer o modo de vida de alguém à harmonia com Cristo; simplesmente questão de incentivar a nova vida a se expressar na maneira de viver.

Novamente vemos o agudo contraste entre o Antigo Concerto e o Novo. Aquele enfoca no que é exterior: no comportamento ritualizado. Este olha além das falhas e fracassos atuais e enfoca na “nova criatura” que está dentro. Aquele exige conformidade. Este incentiva a transformação.

Mas como um ministério de reconciliação do Novo Concerto incentiva a transformação? Paulo vê a chave na própria atitude demonstrada por Deus em relação à humanidade. Deus estava em Cristo, reconciliando consigo o mundo, não considerando os pecados cometidos pelas pessoas. Da mesma maneira, Paulo recusa-se a considerar os pecados dos coríntios. E se recusa a usar os fracassos deles contra eles mesmos! Em lugar de condená-los por suas inúmeras falhas, Paulo simplesmente continua implorando, pedindo, rogando (parakalountos, 5.20) que os coríntios conduzam suas vidas em harmonia com Cristo.

E ele o faz com tanta confiança e certeza, que deve ter incentivado os coríntios a se lançarem com total submissão. Afinal, aconteceu a grande transação. Deus colocou todo o peso de nossos pecados sobre Jesus Cristo, e em transação correspondente plantou nova vida em nossos corações, “para que, nele, fôssemos feitos justiça de Deus” (5.2 1).

Aplicação. E muito fácil cair na armadilha de avaliar com base no visível. Isso acontece nas igrejas que tendem a medir o sucesso e o fracasso em termos de crescimento numérico.

Acontece nas famílias em que os pais tendem a avaliar seu sucesso mais em termos das falhas de seus filhos no presente, do que em termos de seu potencial futuro. Acontece em nossa própria vida, quando nos encontramos às vezes tão oprimidos pela culpa e por nossos fracassos, que não estamos dispostos a arriscar dar outro passo em nova jornada de fé.

Mas, o entendimento de Paulo reflete a realidade como Deus a conhece, e como Deus quer que nós também a conheçamos. Coisas que podem ser vistas são transitórias. Por mais desencorajador que possa ser o presente, o dia de hoje não só está sujeito a mudança; as mudanças com certeza ocorrerão! A mensagem maravilhosa do Novo Concerto é que esta mudança — pelo fato de Cristo estar no coração d0 crente dar-se-á em direção à semelhança com nosso Salvador.

Elaboração pelo:- Evangelista Isaias Silva de Jesus Igreja Evangélica Assembléia de Deus Ministério Belém Em Dourados – MS Comentário Histórico-Cultural do Novo Testamento 3º. Edição

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