A FÉ SE MANIFESTA EM OBRAS – Ev. José Costa
Junior
CONSIDERAÇÕES INICIAIS
O assunto desta lição diz respeito à fé manifestada através
das obras. O objetivo da carta-sermão de Tiago era o de instruir os leitores
acerca da natureza da salvação genuína, motivar os crentes a seguirem os
preceitos da verdadeira religião, adverti-los acerca da falsa fé e conduta
imoral, e o de encorajar os crentes a seguirem a sabedoria e moralidade de
Deus. Tiago nos desafia a pacientemente suportarmos a tribulação, firmemente
buscando a sabedoria divina e consistentemente colocando a fé em ação prática
fazendo o que é certo a abstendo-nos do que é errado, constantemente orando por
si mesmo e pelos outros.
Sua mensagem é prática, tratando de assuntos da vida diária
tais como controle da língua, relação com os outros, ajudando os que estão em
necessidade. Tiago demonstra o grande desafio da religião da fé no Deus
verdadeiro: que religião e moralidade, evangelismo e ética, doutrina e retidão,
crença e conduta, fé e obras andam todos juntos na vida cristã!
A maior ênfase trata da relação entre fé e obras. Esclarece que a salvação é um Dom de Deus e não pode
ser alcançada através das obras (ninguém é salvo pelas obras). No entanto uma
pessoa genuinamente salva irá demonstrar sua fé através das obras de amor e
ministério. Isto está plenamente de acordo com o ensino maior de Cristo no
Sermão da Montanha (Mateus 5:16) – a fé é demonstrada pela prática.
Esta ênfase, fé e obras, é o ponto crucial
da epístola, contendo declarações que têm dado lugar a infindáveis debates na
Igreja. Foram tais declarações que levaram Martinho Lutero a proferir sua
famosa crítica, quando chamou esta carta "epístola de palha". Mas a
declaração do apóstolo em seu conjunto é eminentemente razoável. Procura ele
mostrar a diferença que há entre uma fé viva e ativa, e a que existe apenas no
nome. "Meus irmãos, qual é o
proveito se alguém disser que tem fé, mas não apresenta obras? Pode, acaso, semelhante fé salva-lo?"
(Moff.). Não há antagonismo aqui entre o ensino de Tiago e o de Paulo. Este
ensina que a justificação diante de Deus não é nunca pelas obras da lei, mas
pela fé em Cristo (Rm 4.1-5.2). O apóstolo vê necessidade de frisar isto ao
procurar orientar os que pensam que, pela guarda da lei, podem achar a
salvação. Ao mesmo tempo ele daria todo seu apoio à alegação de Tiago de que a
fé que não se exterioriza na vida prática e na conduta, não passa de consumada
zombaria, e que ninguém é justificado perante Deus que ao mesmo tempo não seja
justificado praticamente perante os homens (ver Tt 1.16; Tt 3.7-8). A fé, sendo
a raiz, deve naturalmente dar origem as obras, que são os frutos. Tiago precisa
dar ênfase a este lado da questão, visto que a situação por ele enfrentada é
quase oposta àquela de que Paulo trata nos primeiros capítulos de Romanos.
Para ilustrar o
seu ponto, Tiago figura a conduta impiedosa de quem despede companheiros
cristãos tiritantes de frio e famintos, dizendo-lhes apenas "Desejo que passeis bem; aquentai-vos e
alimentai-vos bem", e deixa de lhes prover às necessidades corporais.
De que vale a fé que presencia tais sofrimentos e não se dispõe a acudir-lhes
benevolamente? Tiago presidia a Igreja de Jerusalém que sofrera (e
provavelmente naquela época ainda estava sofrendo) em consequência da fome
predita por Ágabo (ver At 11.28-30). Podia então falar de experiência própria.
"Votos de Felicidade" é uma
frase oca, a não ser que a pessoa que os formula concorra para isso (Plauto).
De que servem
meras palavras desacompanhadas da prática da misericórdia? Crença religiosa,
mesmo que seja ortodoxa, que não resulta em ação, é morta, porque lhe falta
poder. O mero assentimento a um dogma nenhum poder tem para justificar ou
salvar (cfr. Rm 2.13). "Ninguém é
justificado pela fé, a menos que esta o faça justo".
Erram os que tomam a só
crença de noções do evangelho pelo todo da religião evangélica, como fazem
muitos agora. Sem dúvida que a só fé verdadeira, pela qual os homens participam
na justiça, expiação e graça de Cristo, salva suas almas; porém produz frutos
santos e se demonstra verdadeira por seus efeitos nas obras deles, enquanto o
só assentimento a qualquer forma de doutrina ou crença histórica de fatos
difere totalmente da fé salvadora.
O objetivo deste estudo é trazer
algumas informações, colhidas dentro da literatura evangélica, com a
finalidade de ampliar a visão do sobre a fé manifestada através das obras. Não
há nenhuma pretensão de esgotar o assunto ou de dogmatizá-lo, mas apenas trazer
ao professor da EBD alguns elementos e ferramentas que poderão enriquecer sua
aula.
I.
DIANTE DO NECESSITADO
A FÉ SEM OBRAS É MORTA
Que proveito há se alguém disser que tem fé, e não
tiver obras? Eis uma pergunta puramente retórica. A forma que é redigida
implica que Tiago espera uma resposta negativa: absolutamente nenhum proveito!
A situação é a seguinte: alguém
diz que tem fé, mas faltam-lhe obras. Nesta passagem, fé tem um sentido
especial para Tiago, isto é, significa o credo ortodoxo expresso de modo
formal. Tal pessoa consegue passar numa prova de ortodoxia doutrinária, pois
afirma que Jesus é o Senhor. O problema dessa pessoa é que seu modo de vida
iguala-se ao de seus vizinhos judeus (ou pagãos) com uma diferença apenas: a
forma de culto. Não há evidências de dedicação integral e auto entrega, nenhum
sinal de desligamento das posses materiais, de compartilhamento de suas
riquezas. “Que proveito há?”.
Mais uma vez Tiago pergunta:
Pode essa fé salvá-lo? A forma desta segunda pergunta também implica a espera
de uma resposta negativa. Não há salvação para uma pessoa cujo discipulado é
deficiente na fé. Se esta for apenas intelectual, expressa tão somente em
práticas religiosas, não vai salvar a pessoa. O Antigo Testamento também
condena a piedade dissociada da ação, como a condenaram João Batista (Lc 3:7-14),
Jesus (Mt 7;15-27) e Paulo (Rm 1;5
2;6-8 6;17,18 Gl 6;4-6). Tiago segue a esteira das
Escrituras: a fé sem obras (discipulado) jamais salva.
Tiago esclarece seu ponto de
vista mencionando um exemplo sobre um irmão nu e/ou com falta de mantimento.
Ele não seleciona uma situação complicada. Não é o caso de alguém fora da
comunidade cristã (por isso não pode surgir perguntas do tipo: “você acha que
podemos alimentar o mundo inteiro?”), tampouco é o caso de necessidade numa
igreja distante (como no caso da coleta de Paulo para Jerusalém). Este é o caso
de alguém da comunidade local dos crentes (o irmão ou a irmã) cuja necessidade
é patente, porque estão nus, precisam de roupas. Ou estão precisando de
vestuários sociais para uso em público, ou da túnica que os aquece de noite,
servindo de coberta, ou suas roupas estão esfarrapadas, já não aquecem mais. E,
além disso, não dispõe do alimento diário.
Tal exemplo, embora
hipotético (se), é ao mesmo tempo exigente e realístico, visto que, numa
sociedade marginal como a do Novo Testamento, não era incomum as pessoas terem
falta de elementos básicos para sobrevivência (nos anos 40 e 50, a fome e a
miséria castigaram a Judéia com severidade).
As palavras de seu interlocutor
“Ide em paz, aquentai-vos e fartai-vos” indica que as necessidades materiais
daqueles irmãos foram reconhecidas – essa expressão provavelmente foi tirada de
uma oração. Todavia, se você nada fizer, “se não lhes derdes as coisas
necessárias para o corpo, que proveito há nisso?”. Tiago presume que o cristão
poderia fazer algo mais, além de orar; esse cristão (ou cristã) possui duas
túnicas e comida mais que suficiente para aquele dia. A simples obediência ao
evangelho no que concerne a compartilhar poderia suprir as necessidades
daqueles pobrezinhos, mas partir para o recurso fácil da oração intercessória
aliviou-lhe aliviou-lhe à consciência e disfarçou o fato de sua dispensa,
geladeira e freezer terem permanecido fechados.
O exemplo trazido por Tiago foi
um caso especifico de linguagem ortodoxa e crença intelectual, sem a obediência
ao evangelho. Este conceito vale também para a fé intelectual genérica; se esta
constitui tão somente uma convicção piedosa (em si mesma, deixando de despontar
em obediência aos mandamentos de Cristo, é totalmente inútil). Para Paulo, a
única fé que interessa, a “que importa é a fé que opera pelo amor” (Gl 5;6), em
vez dos rituais e hábitos religiosos. Para Tiago, a fé que conduz a ação é a
que salva. A ação (a obediência a Cristo) de modo algum é “equipamento opcional”,
nem nível opcional mais elevado de santidade, assim como a respiração não
constitui equipamento opcional para o corpo.
II.
EXEMPLOS
VETEROTESTAMENTÁRIOS DE FÉ COM OBRAS
Tiago enfrenta agora uma
possível objeção. Supõe o caso de alguém a arguir. “Tu tens fé e eu tenho obras:
mostra-me essa tua fé, sem as obras, e eu, com as obras, te mostrarei a minha
fé”. Então
declara, de modo prático, que a pretensão de ter fé, independente de obras de
caridade ou misericórdia, é inteiramente vã; porque visto como a fé não pode
ser discernida senão por seus efeitos (isto é, boas obras), segue-se que a
pessoa cuja vida não produz boas obras presumivelmente não tem fé.
Diariamente, pela manhã e à
tarde, os judeus piedosos recitavam o Shema, cujas palavras iniciais são,
"Ouve, ó Israel, Jeová nosso Deus, Jeová é um". Este monoteísmo era
um artigo fundamental do credo. Mas apenas assentir nele sem que daí
resultassem obras, isso não levava ninguém acima do plano dos demônios, os quais também creem no mesmo
fato. A crença dos demônios evidentemente não tem valor; eles estremecem quando
pensam em enfrentar o Deus único em juízo. Tal fé, que pode ser descrita como
simples crença intelectual, não é a fé que salva.
Tiago não leva para diante seu arrazoado,
mas escarnece ligeiramente do homem insensato. O adjetivo no grego é kenos, que
significa "vazio", sugerindo o devoto insensível, de cabeça oca, de
uma religião de mero formalismo. E prossegue dando dois exemplos de
justificação, tirados do Velho Testamento. Primeiro chama atenção para nosso
pai Abraão (Gl 3.6-7), que foi justificado pelas obras, quando, em inteiro
devotamento e obediência incondicional à ordem de Deus, ofereceu Isaque (ver Gn
22). Tiago e Paulo concordam que foi quando Abraão creu em Deus, que isto lhe
foi imputado para justiça (Gn 15.6), isto é, foi justificado pela fé perante
Deus.
Porém, quando pela fé ofereceu Isaque no
altar, foi justificado pelas obras perante os homens, visto como demonstrou com
isso a realidade de sua confiança em Deus. “Amigo de Deus” foi a caracterização
mais alta que já se fez de uma pessoa. Deus admitiu Abraão em Sua intimidade,
nada lhe ocultando (Gn 18.17), e sobre ele derramando as mais excelentes
bênçãos. Evidencia-se deste exemplo que a fé de Abraão não foi mera crença na
existência de Deus, e sim um princípio que o levou a confiar nas promessas
divinas, a agir pela vontade de Deus, a amar e a obedecer a essa vontade. Suas
obras justificaram lhes a fé e provaram a genuinidade da mesma.
A segunda ilustração é Raabe (cfr. Js 2.1 e
segs.; Hb 11.31). A fé que ela tinha no Deus de Israel era de tal qualidade que
se expressou em fazer ela o que pôde para proteger os Servos do Senhor. Ela
tinha fé, porque em Js 2;9,10 ela
professa uma fé proveniente de uma reflexão no que Deus havia feito em prol de
Israel. Todavia só a fé não seria suficiente para salvá-la; ela precisou agir
ao conceder alojamento aos espias e ao encaminhá-los para a liberdade, o que
representou arriscar a própria vida. Hebreus 11;31 enfatiza de modo semelhante
a ação motivada pela fé: “Pela fé Raabe, a meretriz, tendo acolhido em paz os
espias, não pereceu com os incrédulos”. A fé sozinha não a teria poupado, mas,
quando a fé a levou à ação, os espias a declararam justa. Raabe tornou-se uma
das pessoas da promessa, uma ancestral de Davi (e de Jesus), visto que a fé que
ela demonstrou desabrochou em ação de fidelidade ao Senhor, e não em mera
reflexão intelectual.
III.
A METÁFORA DO CORPO SEM O ESPÍRITO PARA EXEMPLIFICAR
A FÉ SEM OBRAS
Um corpo destituído de espírito (ou respiração) é um cadáver.
Os judeus sabiam que, quando uma pessoa “exalava o último suspiro” (as palavras
para respiração, suspiro, hálito e espírito são idênticas tanto no grego quanto
no hebraico), tal pessoa estava morta (Jo 19;30 - Lc 23;46 - Ec 3;21, 8;8,
9;5). Todo cadáver precisa ser sepultado. De modo semelhante, a fé que não
passa de crença intelectual está morta. Não pode salvar; torna-se um perigo,
pois pode iludir a pessoa quanto ao seu verdadeiro estado espiritual. A fé só
tem valor quando se transforma em um compromisso integral de fidelidade ao
Senhor, ao ligar a ação.
CONCLUSÃO
Concluindo, espero em DEUS
ter contribuído para despertar o seu desejo de aprofundar-se em tão precioso
ensino e ter lhe proporcionado oportunidade de agregar algum conhecimento sobre
estes assuntos. Conseguindo, que a honra e glória seja dada ao SENHOR JESUS.
Ev. José
Costa Junior
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