13 de agosto de 2014

A FÉ SE MANIFESTA EM OBRAS


A FÉ SE MANIFESTA EM OBRAS – Ev. José Costa Junior

 

CONSIDERAÇÕES INICIAIS

 

O assunto desta lição diz respeito à fé manifestada através das obras. O objetivo da carta-sermão de Tiago era o de instruir os leitores acerca da natureza da salvação genuína, motivar os crentes a seguirem os preceitos da verdadeira religião, adverti-los acerca da falsa fé e conduta imoral, e o de encorajar os crentes a seguirem a sabedoria e moralidade de Deus. Tiago nos desafia a pacientemente suportarmos a tribulação, firmemente buscando a sabedoria divina e consistentemente colocando a fé em ação prática fazendo o que é certo a abstendo-nos do que é errado, constantemente orando por si mesmo e pelos outros.

 

Sua mensagem é prática, tratando de assuntos da vida diária tais como controle da língua, relação com os outros, ajudando os que estão em necessidade. Tiago demonstra o grande desafio da religião da fé no Deus verdadeiro: que religião e moralidade, evangelismo e ética, doutrina e retidão, crença e conduta, fé e obras andam todos juntos na vida cristã!

 

A maior ênfase trata da relação entre fé e obras. Esclarece que a salvação é um Dom de Deus e não pode ser alcançada através das obras (ninguém é salvo pelas obras). No entanto uma pessoa genuinamente salva irá demonstrar sua fé através das obras de amor e ministério. Isto está plenamente de acordo com o ensino maior de Cristo no Sermão da Montanha (Mateus 5:16) – a fé é demonstrada pela prática.

 

Esta ênfase, fé e obras, é o ponto crucial da epístola, contendo declarações que têm dado lugar a infindáveis debates na Igreja. Foram tais declarações que levaram Martinho Lutero a proferir sua famosa crítica, quando chamou esta carta "epístola de palha". Mas a declaração do apóstolo em seu conjunto é eminentemente razoável. Procura ele mostrar a diferença que há entre uma fé viva e ativa, e a que existe apenas no nome. "Meus irmãos, qual é o proveito se alguém disser que tem fé, mas não apresenta obras? Pode, acaso, semelhante fé salva-lo?" (Moff.). Não há antagonismo aqui entre o ensino de Tiago e o de Paulo. Este ensina que a justificação diante de Deus não é nunca pelas obras da lei, mas pela fé em Cristo (Rm 4.1-5.2). O apóstolo vê necessidade de frisar isto ao procurar orientar os que pensam que, pela guarda da lei, podem achar a salvação. Ao mesmo tempo ele daria todo seu apoio à alegação de Tiago de que a fé que não se exterioriza na vida prática e na conduta, não passa de consumada zombaria, e que ninguém é justificado perante Deus que ao mesmo tempo não seja justificado praticamente perante os homens (ver Tt 1.16; Tt 3.7-8). A fé, sendo a raiz, deve naturalmente dar origem as obras, que são os frutos. Tiago precisa dar ênfase a este lado da questão, visto que a situação por ele enfrentada é quase oposta àquela de que Paulo trata nos primeiros capítulos de Romanos.

 

Para ilustrar o seu ponto, Tiago figura a conduta impiedosa de quem despede companheiros cristãos tiritantes de frio e famintos, dizendo-lhes apenas "Desejo que passeis bem; aquentai-vos e alimentai-vos bem", e deixa de lhes prover às necessidades corporais. De que vale a fé que presencia tais sofrimentos e não se dispõe a acudir-lhes benevolamente? Tiago presidia a Igreja de Jerusalém que sofrera (e provavelmente naquela época ainda estava sofrendo) em consequência da fome predita por Ágabo (ver At 11.28-30). Podia então falar de experiência própria. "Votos de Felicidade" é uma frase oca, a não ser que a pessoa que os formula concorra para isso (Plauto).

De que servem meras palavras desacompanhadas da prática da misericórdia? Crença religiosa, mesmo que seja ortodoxa, que não resulta em ação, é morta, porque lhe falta poder. O mero assentimento a um dogma nenhum poder tem para justificar ou salvar (cfr. Rm 2.13). "Ninguém é justificado pela fé, a menos que esta o faça justo".

 

Erram os que tomam a só crença de noções do evangelho pelo todo da religião evangélica, como fazem muitos agora. Sem dúvida que a só fé verdadeira, pela qual os homens participam na justiça, expiação e graça de Cristo, salva suas almas; porém produz frutos santos e se demonstra verdadeira por seus efeitos nas obras deles, enquanto o só assentimento a qualquer forma de doutrina ou crença histórica de fatos difere totalmente da fé salvadora.

 

                O objetivo deste estudo é trazer algumas informações, colhidas dentro da literatura evangélica, com a finalidade de ampliar a visão do sobre a fé manifestada através das obras. Não há nenhuma pretensão de esgotar o assunto ou de dogmatizá-lo, mas apenas trazer ao professor da EBD alguns elementos e ferramentas que poderão enriquecer sua aula.

 

          I.            DIANTE DO NECESSITADO A FÉ SEM OBRAS É MORTA

 

                Que proveito há se alguém disser que tem fé, e não tiver obras? Eis uma pergunta puramente retórica. A forma que é redigida implica que Tiago espera uma resposta negativa: absolutamente nenhum proveito!

 

                A situação é a seguinte: alguém diz que tem fé, mas faltam-lhe obras. Nesta passagem, fé tem um sentido especial para Tiago, isto é, significa o credo ortodoxo expresso de modo formal. Tal pessoa consegue passar numa prova de ortodoxia doutrinária, pois afirma que Jesus é o Senhor. O problema dessa pessoa é que seu modo de vida iguala-se ao de seus vizinhos judeus (ou pagãos) com uma diferença apenas: a forma de culto. Não há evidências de dedicação integral e auto entrega, nenhum sinal de desligamento das posses materiais, de compartilhamento de suas riquezas. “Que proveito há?”.

 

                Mais uma vez Tiago pergunta: Pode essa fé salvá-lo? A forma desta segunda pergunta também implica a espera de uma resposta negativa. Não há salvação para uma pessoa cujo discipulado é deficiente na fé. Se esta for apenas intelectual, expressa tão somente em práticas religiosas, não vai salvar a pessoa. O Antigo Testamento também condena a piedade dissociada da ação, como a condenaram João Batista (Lc 3:7-14), Jesus (Mt 7;15-27) e Paulo (Rm 1;5  2;6-8  6;17,18  Gl 6;4-6). Tiago segue a esteira das Escrituras: a fé sem obras (discipulado) jamais salva.

 

                Tiago esclarece seu ponto de vista mencionando um exemplo sobre um irmão nu e/ou com falta de mantimento. Ele não seleciona uma situação complicada. Não é o caso de alguém fora da comunidade cristã (por isso não pode surgir perguntas do tipo: “você acha que podemos alimentar o mundo inteiro?”), tampouco é o caso de necessidade numa igreja distante (como no caso da coleta de Paulo para Jerusalém). Este é o caso de alguém da comunidade local dos crentes (o irmão ou a irmã) cuja necessidade é patente, porque estão nus, precisam de roupas. Ou estão precisando de vestuários sociais para uso em público, ou da túnica que os aquece de noite, servindo de coberta, ou suas roupas estão esfarrapadas, já não aquecem mais. E, além disso, não dispõe do alimento diário.

 

Tal exemplo, embora hipotético (se), é ao mesmo tempo exigente e realístico, visto que, numa sociedade marginal como a do Novo Testamento, não era incomum as pessoas terem falta de elementos básicos para sobrevivência (nos anos 40 e 50, a fome e a miséria castigaram a Judéia com severidade).

 

                As palavras de seu interlocutor “Ide em paz, aquentai-vos e fartai-vos” indica que as necessidades materiais daqueles irmãos foram reconhecidas – essa expressão provavelmente foi tirada de uma oração. Todavia, se você nada fizer, “se não lhes derdes as coisas necessárias para o corpo, que proveito há nisso?”. Tiago presume que o cristão poderia fazer algo mais, além de orar; esse cristão (ou cristã) possui duas túnicas e comida mais que suficiente para aquele dia. A simples obediência ao evangelho no que concerne a compartilhar poderia suprir as necessidades daqueles pobrezinhos, mas partir para o recurso fácil da oração intercessória aliviou-lhe aliviou-lhe à consciência e disfarçou o fato de sua dispensa, geladeira e freezer terem permanecido fechados.

 

                O exemplo trazido por Tiago foi um caso especifico de linguagem ortodoxa e crença intelectual, sem a obediência ao evangelho. Este conceito vale também para a fé intelectual genérica; se esta constitui tão somente uma convicção piedosa (em si mesma, deixando de despontar em obediência aos mandamentos de Cristo, é totalmente inútil). Para Paulo, a única fé que interessa, a “que importa é a fé que opera pelo amor” (Gl 5;6), em vez dos rituais e hábitos religiosos. Para Tiago, a fé que conduz a ação é a que salva. A ação (a obediência a Cristo) de modo algum é “equipamento opcional”, nem nível opcional mais elevado de santidade, assim como a respiração não constitui equipamento opcional para o corpo.

               

         II.            EXEMPLOS VETEROTESTAMENTÁRIOS DE FÉ COM OBRAS

 

Tiago enfrenta agora uma possível objeção. Supõe o caso de alguém a arguir. “Tu tens fé e eu tenho obras: mostra-me essa tua fé, sem as obras, e eu, com as obras, te mostrarei a minha fé”. Então declara, de modo prático, que a pretensão de ter fé, independente de obras de caridade ou misericórdia, é inteiramente vã; porque visto como a fé não pode ser discernida senão por seus efeitos (isto é, boas obras), segue-se que a pessoa cuja vida não produz boas obras presumivelmente não tem fé.

 

Diariamente, pela manhã e à tarde, os judeus piedosos recitavam o Shema, cujas palavras iniciais são, "Ouve, ó Israel, Jeová nosso Deus, Jeová é um". Este monoteísmo era um artigo fundamental do credo. Mas apenas assentir nele sem que daí resultassem obras, isso não levava ninguém acima do plano dos demônios, os quais também creem no mesmo fato. A crença dos demônios evidentemente não tem valor; eles estremecem quando pensam em enfrentar o Deus único em juízo. Tal fé, que pode ser descrita como simples crença intelectual, não é a fé que salva.

 

Tiago não leva para diante seu arrazoado, mas escarnece ligeiramente do homem insensato. O adjetivo no grego é kenos, que significa "vazio", sugerindo o devoto insensível, de cabeça oca, de uma religião de mero formalismo. E prossegue dando dois exemplos de justificação, tirados do Velho Testamento. Primeiro chama atenção para nosso pai Abraão (Gl 3.6-7), que foi justificado pelas obras, quando, em inteiro devotamento e obediência incondicional à ordem de Deus, ofereceu Isaque (ver Gn 22). Tiago e Paulo concordam que foi quando Abraão creu em Deus, que isto lhe foi imputado para justiça (Gn 15.6), isto é, foi justificado pela fé perante Deus.

 

Porém, quando pela fé ofereceu Isaque no altar, foi justificado pelas obras perante os homens, visto como demonstrou com isso a realidade de sua confiança em Deus. “Amigo de Deus” foi a caracterização mais alta que já se fez de uma pessoa. Deus admitiu Abraão em Sua intimidade, nada lhe ocultando (Gn 18.17), e sobre ele derramando as mais excelentes bênçãos. Evidencia-se deste exemplo que a fé de Abraão não foi mera crença na existência de Deus, e sim um princípio que o levou a confiar nas promessas divinas, a agir pela vontade de Deus, a amar e a obedecer a essa vontade. Suas obras justificaram lhes a fé e provaram a genuinidade da mesma.

 

A segunda ilustração é Raabe (cfr. Js 2.1 e segs.; Hb 11.31). A fé que ela tinha no Deus de Israel era de tal qualidade que se expressou em fazer ela o que pôde para proteger os Servos do Senhor. Ela tinha fé, porque em Js 2;9,10  ela professa uma fé proveniente de uma reflexão no que Deus havia feito em prol de Israel. Todavia só a fé não seria suficiente para salvá-la; ela precisou agir ao conceder alojamento aos espias e ao encaminhá-los para a liberdade, o que representou arriscar a própria vida. Hebreus 11;31 enfatiza de modo semelhante a ação motivada pela fé: “Pela fé Raabe, a meretriz, tendo acolhido em paz os espias, não pereceu com os incrédulos”. A fé sozinha não a teria poupado, mas, quando a fé a levou à ação, os espias a declararam justa. Raabe tornou-se uma das pessoas da promessa, uma ancestral de Davi (e de Jesus), visto que a fé que ela demonstrou desabrochou em ação de fidelidade ao Senhor, e não em mera reflexão intelectual.

 

        III.            A METÁFORA DO CORPO SEM O ESPÍRITO PARA EXEMPLIFICAR A FÉ SEM OBRAS

 

Um corpo destituído de espírito (ou respiração) é um cadáver. Os judeus sabiam que, quando uma pessoa “exalava o último suspiro” (as palavras para respiração, suspiro, hálito e espírito são idênticas tanto no grego quanto no hebraico), tal pessoa estava morta (Jo 19;30 - Lc 23;46 - Ec 3;21, 8;8, 9;5). Todo cadáver precisa ser sepultado. De modo semelhante, a fé que não passa de crença intelectual está morta. Não pode salvar; torna-se um perigo, pois pode iludir a pessoa quanto ao seu verdadeiro estado espiritual. A fé só tem valor quando se transforma em um compromisso integral de fidelidade ao Senhor, ao ligar a ação.

 

CONCLUSÃO

 

Concluindo, espero em DEUS ter contribuído para despertar o seu desejo de aprofundar-se em tão precioso ensino e ter lhe proporcionado oportunidade de agregar algum conhecimento sobre estes assuntos. Conseguindo, que a honra e glória seja dada ao SENHOR JESUS.

 

 

 

Ev. José Costa Junior

 

 

 

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