A
Necessidade do Novo Nascimento
Texto
Áureo = "Não te maravilhes de te ter dito: Necessário
vos é nascer de novo." (Jo 3.7)
Verdade
Prática = Cremos na necessidade absoluta do novo nascimento pela graça de Deus,
mediante a fé em Jesus Cristo.
LEITURA
BÍBLICA EM CLASSE = João 3.1-12
INTRODUÇÃO
Havia um homem dos fariseus que se chamava
Nicodemos, um principal entre os judeus. Este veio a Jesus de noite e lhe
disse: “Rabi, sabemos que és mestre vindo de Deus, porque ninguém pode fazer
estes sinais que tu fazes se Deus não estiver com ele. Respondeu-lhe Jesus: “Em
verdade, em verdade te digo se o homem
não nascer de novo, não poderá ver o reino de Deus”. Nicodemos lhe disse: “Como
pode um homem nascer de novo sendo velho? Pode por acaso entrar uma segunda vez
no ventre de sua mãe e nascer?”Respondeu-lhe Jesus: “Em verdade, em verdade te
digo que aquele que não nascer da água e do Espírito não poderá entrar no reino
de Deus. O que é nascido da carne é carne; o que é nascido do Espírito é
Espírito. Não te maravilhes do que eu te disse: é necessário nascer de novo. O
vento sopra onde quer e se ouve o seu som; mas ninguém sabe de onde vem e nem
para onde vai; assim é todo aquele que é nascido do Espírito”. Perguntou-lhe
Nicodemos: “ Como pode acontecer isso?” Respondeu-lhe Jesus: “Tu és mestre de
Israel e não sabe disso? Em verdade,em
verdade te digo que aquilo sabemos falamos, e aquilo que temos visto
testificamos, mas vós não recebeis o nosso testemunho. Se eu vos tenho dito
coisas terrenas e não acreditastes, como acreditareis se eu vos falar das
celestiais? Ninguém subiu ao céu, senão aquele que de lá desceu, o Filho do
Homem, que está no céu. E assim como Moisés levantou a serpente do deserto, é
necessário que o filho do homem seja levantado para que todo aquele que Nele
crer, não se perda, mas tenha vida eterna. Porque Deus amou o mundo de tal
maneira que deu seu filho unigênito para que todo aquele que Nele crer não se
perda, mas tenha vida eterna”.João 3:1-16
COMO
ALCANÇAR A SALVAÇÃO, a pergunta principal da humanidade
Hoje ainda não lhes foi explicado o Evangelho.
Escreve o evangelista São João que certo fariseu de nome Nicodemos veio ao
Senhor de noite e teve com ele uma conversa, e Cristo, de sua parte, lhe pregou
um sermão para aquele homem piedoso que realmente ele não sabia que fazer com
ele: quanto mais o ouvia, menos o entendia.
Sobre essa historia se prega todo ano. Mas como hoje
o momento novamente é propício, falaremos mais uma vez sobre ela. Desde que o
mundo existe, os sábios que existem nele se perguntam: “De que modo se pode
alcançar a justiça e a bem-aventurança?”
Essa questão se discute desde quando há homens na
terra, e continuará sendodiscutida até que o mundo chegue a seu fim. Ainda nos
nossos dias atuais pode-se ver com quanto ardor debatemos esse assunto. Todos
crêem estar em condições de emitir um juízo, porém, com seu juízo, revelam sua
ignorância. Esta mesma questão, como nos informa o Evangelho para o dia de
hoje, Cristo a tratou com um homem que, falando nos términos da lei judaica,
era uma pessoa corretíssima e muito instruída.
Aquele homem quer discutir sobre aquilo que devemos
fazer e como devemos viver para sermos salvos, e espera que Cristo lhe dê uma
resposta. “Porque tu” ele diz, “és mestre vindo de Deus, pois os sinaisque tu
fazes vão além da capacidade de qualquer ser humano. Nós os fariseus ensinamos,
no campo do espiritual, a lei de Moisés. Opinas tu que há algo melhor que possa
nos recomendar?” Surge assim na discussão entre ambos a pergunta sobre as
obras, ou seja, a vida perfeita – a pergunta que inquieta aos homens de todas
as gerações.
I
- O que tenta alcançar a salvação pelos caminhos das obras, não a alcançará
Já os antigos romanos meditavam com muita seriedade
sobre qual era o caminho reto a seguir, acerca de como, por exemplo, se devia
lidar corretamente com a casa e a família. Seus interesses se dirigiam diante
de toda a exata determinação do que exige a “justiça”. Mas com isso se meteram
em um problema que não tem solução, como eles mesmos tiveram que admitir:
“excesso de justiça, excesso de injustiça.” Por qual motivo? Porque a “justiça”
no sentido estrito da palavra está fora de nosso alcance. Por isso que se tem
que buscar o caminho do meio e adaptar-se às circunstâncias.
Nesse sentido também se costuma dizer: “acertou como
os atiradores quando acertam o alvo”, quer dizer, não graças a sua pontaria,
senão graças a um impacto fortuito. Pois um bom atirador e até um eventual
ganhador é também aquele que chegou mais próximo do alvo. Assim o reconhecem
até os juristas. Tem que se dar por satisfeitos se com seu governo e
administração da coisa pública conseguem que ninguém inflija a outro injustiças
muito grosseiras, ainda quando seja impossível acertar e aplicar rigidamente a
justiça em sua forma pura. Porém quando chega ao poder um desses desorientados,
só causa alvoroço, distúrbios e dissensões.
Assim toda autoridade secular tem que se ater ao que
é possível. Não obstante, a razão gostaria de elevar a salvação ou a uma ordem
política perfeita pela via da injustiça. Porém tal coisa é impossível. Que
fazer então? Quase se diria que acontece como com aquele que queriasubir uma
alta montanha e por não poder fazer, exclamou: “Pois bem, ficarei aqui”. No
entanto, Cristo nos diz: “Se vossa justiça não for maior que a dos escribas e
fariseus, não entrareis no reino dos céus” (Mateus 5:20). Ali no sermão do
monte o Senhor explica qual o verdadeiro cumprimento da lei, e o que significa
acertar o alvo: não se irar, nem mesmo no recôndito do coração; não cobiçar nem
mesmo em pensamentos a mulher ou os bens do nosso próximo.
Ali se coloca diante dos nossos olhos a justiça mais
perfeita. E, apesar de tudo os homens acreditam poder alcançá-la mediante o
cumprimento da lei. “Não queremos nem pretendemos”, dizem, “acertar exatamente
o alvo”; se o conseguem com certa aproximação, se têm por desculpados. Nós,
porém, atentamos para o que nos ensina Cristo: “Ninguém pode ver o reino de
Deus ao menos que tenha acertado o alvo”. E no Apocalipse lemos: “Neste
tabernáculo não entrará nenhum imundo”. Que devemos fazer pois? Também
exclamaremos: “Temos que ficar aqui embaixo, não podemos subir a montanha”?
Tampouco Nicodemos sabe outra coisa que esta: “Eu
sou uma pessoa correta, vivo piedosamente conforme a lei e transito pelo
caminho que conduz ao céu”. E agora ele quer que esse Mestre lhe expresse sua
aprovação ou desaprovação – ainda que não gostaria de pensar nesta última
opção, senão espera que o Senhor lhe responda: “Sim, Nicodemos, és perfeito, e
ainda: Já és bem-aventurado e os demais entrariam no reino dos céus se fizessem
como tu”. Porém, ocorre justamente o contrário: Cristo o bota a correr do reino
dos céus: “Por certo, és um homem bom. Porém se não nasces de novo, tua justiça
não te servirá de nada.” O “nascer de novo”: esta é a justiça na qual
insistimos tanto em nossa pregação.
Ou seja: Cristo não tem a intenção de rechaçar a
lei, antes quer que ela seja cumprida. “Porém”, diz “a forma como vós a
cumpríeis não tem validade. Cumpríeis a lei só em vossa imaginação, mas não na
realidade. Os Dez Mandamentos são perfeitos, e quero que os cumpra. Quem quiser
entrar no céu tem que cumpri-los. Porém, com o vosso conceito do ‘direito’ e
com a vossa justiça, não os estais cumprindo”. Não temos outra justiça melhor
do que a que resultaria do meu cumprimento de tudo o que se manda nas duas
tábuas da lei de Moisés. Então seríamos “justos” – porém só justos conforme a
justiça dos fariseus, e não conforme a justiça exigida pela lei.
II.
Só a regeneração nos torna participantes da salvação eterna
É-nos dito, pois: “lhe é necessário nascer pela
segunda vez”. Para Nicodemos isso é chocante. Ele pensa em outras leis, alem do
ponto das leis mosaicas, tais como as que achamos no papado e no judaísmo
farisaico; espera que Cristo estabeleça artigos novos, leis novas, todoum
código novo. Porém, nada disso: Cristo não diz uma palavra quanto a leis e
estatutos novos. “Pois o que possuis em matéria de leis já é mais do que podeis
cumprir. Eu, em troca, os prego assim: Vós, vós mesmos precisam chegar ser
outras pessoas. Eu não falo de fazer ou não fazer, senão de chegar a ser. Tu
tens que chegar a ser outro homem, tens que nascer de novo. Isso será então a
justiça que acerta o alvo, a justiçasem mancha nem ruga, a justiça que
conseguirá entrar no céu”. Para Nicodemos, ao ouvir Jesus falar dessa maneira,
lhe vem certas duvidas. Essas são palavras novas para ele. “Entrar eu pela
segunda vez no ventre de minha mãe? Tolice!” Porém a essas tolices Cristo
acrescenta outras piores: “não te digo que tenhas de nascer de novo de pai e
mãe humanos, senão da água e do Espírito Santo”.
Agora, Nicodemos fica totalmente confundido. “Que
homem e mulher são esses: água e Espírito?” E como se ainda não fosse
suficiente, Cristo lhe pergunta:“Tu és mestre de Israel e não sabes disso?”, o
que soa como zombaria manifesta. E sem dúvida, Cristo tem que falar assim
porque o assunto é totalmente novo para Nicodemos. Para explicá-lo Cristo
recorre a uma ilustração como se quisesse dizer a Nicodemos: “queres que eu
desenhe para que tu entendas? Digo-te porém: se não podes captar com a razão,
capta-a com a fé. Pois se não acreditaste quando te falei coisas terrenas, como crerás se eu te falasse das
coisas espirituais? Nós falamos o que sabemos, e o que sabemos é a verdade e
vós não acreditais Pois bem: se alguém não quer crer, deixe-se!”
A nossa pregação, iniciada naquelas condições por
Cristo, se apoia exclusivamente na fé. Só com a fé se pode compreender da
“regeneração pela água e pelo Espírito”. O Espírito é o homem e a água a
mulher. O que isso implica, não o podes medir com a tua razão. Daí o tema que
pregamos seja artigo de boas obras ou de fé. E já os papistas aprenderam algo
de nós ao dizer que com a fé e a graça começa a vida verdadeiramente cristã.
Antes só se falava da missa privada e da invocação dos santos; agora, em troca,
dizem que a fé, efetivamente, salva, porém não só a fé, senão a fé em
cooperação com nossas obras. E essa cooperação, apóiam, é imprescindível. E a
nós criticam duramente afirmando que proibimos as obras e induzimos os homens à
preguiça. Todavia lhes falta bastante para serem tão piedosos e estarem tão
próximos da verdade como Nicodemos. Nós nunca proibimos as boas obras; mais
ainda: se dizemos algo a respeito das boas obras, nossa própria gente fica logo
com raiva, o qual é um claro sinal de que realmente pregamos sobre esse tema.
E apesar disso os papistas seguem blasfemando de
nós. Eles ensinam: “as boas obras têm quer vir com a ajuda da fé – vãs palavras
que demonstram que esses mestres não têm noção do que é fé, boas obras, nascer
do Espírito, nascer de Deus. É por isso que é necessário que estudemos com
cuidado o nosso presente texto (João 3:5) e outros iguais. Aqui se fala de
“nascer de novo”, não de “fazer algo novo”. Primeiro deves plantar uma arvore,
e logo terás também os frutos. Segundo seja boa ou mal a arvore, serão também
bons ou maus os frutos. O mesmo ocorre aqui. Nós chamamos um novo nascimento,
quer dizer, uma nova maneira de ser, uma nova pessoa, não somente um novo
vestido ou novas obras. Quando eu era monge, minha vestimenta eradistinta e
também minhas obras
eram; as sete
horas para as orações, a missa, o crisma, o celibato –
todas essas eram outras obras, muito dessemelhantes de minhas obras anteriores.
Porém a simples mudança das obras não é o que vale; que mude a pessoa, que
mudem os pensamentos e o ânimo: esse é o novo nascimento. Portanto não se pode
sobrepor as obras à fé. Em que uma criança contribui para que seja concebida e
venha à luz? Isso é obra dos pais; a criança não faz nada para que suas
perninhas e todos os seus membros cresçam; não é parte ativa nesse processo de
crescimento, senão parte meramente passiva. Qual foi, nesse sentido, a nossa
contribuição? Onde estão as obras cooperantes? Queria saber então de onde vem
essa insistência de que se deve agregar também obras , e logo obras próprias
nossas!
É verdade: a mãe leva a criatura em suas entranhas e
lhe dá o calor materno; no entanto, não é obra dela que essa criatura se
origine. De igual maneira quem pregamos e batizamos somos nós, no entanto, a
palavra e o batismo não são nossos; somente pomos à disposição nossa boca e
nossas mãos. Na realidade a palavra e o batismo são de Deus, no entanto somos
chamados colaboradores de Deus (1 Coríntios 3:9).
É,por certo, uma colaboração bastante modesta a
nossa. Não que contribuamos com obra ou a palavra; o único com que contribuo ao
batizar e pregar é com a voz, os dedos, a boca. Assim, na geração de uma
criança, o pai e a mãe só contribuem com a carne e o sangue como fatores seus;
a criatura concebida não contribui absolutamente em nada, senão que “se deixa
criar” por Deus todos os seus membros, e a mãe a leva em seu seio. Há alguma
razão então para que eu retire a honra de Deus e diga que eu mesmo me gerei e
que minha própria atuação contribuiu para que eu nascesse?
Isso não significaria um agravo a Deus? Por acaso
não somos chamados seus filhos, obras de suas mãos? Se é verdade que as obras
colaboram na regeneração, vejo- me obrigado também a achar que eu colaborei com
Deus – e isso é uma blasfêmia contra Ele. Mas se é verdade que eu sou nascido
de novo, como diz Cristo, não tenho que colaborar com nada, senão que tenho que
permanecer quieto e passivo para aquele que é meu Pai e Criador me faça nascer
de novo como filho seu. Nesse sentido o apostolo Paulo declara que “nós somos
uma nova criação, criados em Cristo para boas obras”. Como se vê, Paulo não se
esquece das boas obras, mas as menciona não por que tenham contribuído em algo,
não por que sejam elas que produzem a nova criação, mas “para que andássemos
nelas”.
Se é certo que minhas próprias obras contribuem para
que eu seja uma nova criação, bem posso me gloriar de ser meu próprio Deus;
porque o criar é obra exclusiva de Deus. Se eu colaboro, então Deus não é meu
único Deus, senão que eu também o sou. Por outro lado, se Ele é o único, não o
posso ser eu também, como se afirma muito claramente no Salmo: “Ele nos fez e não
nós a nós mesmos; somos seu povo e ovelhas de seu pasto”. E não obstante, certa
gente incorre em tremenda tolicede sustentar que a fé cria homens novos, mas
com a ajuda das obras. Mas precisa de toda lógica dizer que eu me crio a mim
mesmo e sou Deus junto com Deus, de modo que Ele me tem a seu lado como um Deus
adjunto. Assim como eu não me formei a mim mesmo no corpo de minha mãe, senão
que foi Deus quem me formou, valendo-se dos meus membros e do calor de minha
mãe, assim tampouco na regeneração somos convencidos mediante nossas próprias
forças e obras, senão unicamente pelas mãos e o Espírito de Deus. Em
consequência, é ilícito acrescentar obras à fé; do contrário, não é Deus só o
que me cria, senão que eu sou simultaneamente com ele meu próprio criador.
Ao fogo do inferno com um criador que se cria a si
mesmo! A Escritura me chama de uma nova criação de Deus e, não obstante, eu
haveria de atribuir a nova criação a mim mesmo? De esse modo eu seria criação e
criador, obra e obrador em uma mesma pessoa. A toda luz, esses são pensamentos
diabólicos e ensinos de homens cegos.
Devemos observar estritamente ao que aqui nos ensina
o evangelista São João. Também Paulo nos chama “novas criaturas”. Da mesma
maneira, pois, como não contribuo para meu nascimento corporal e pela minha
concepção,senão que sou parte meramente passiva e ‘me faço’ gerar e criar, da
mesma maneira tampouco as obras contribuem em nada para que o homem seja
regenerado.
Se não for assim, Deus já não será apenas Deus,
senão que nós seremos Deus junto com Ele e seremos nossos próprios
progenitores. Mas quando a criatura já está gerada, e quando a criancinha já
está formada no seio materno com todos seus membros, a mãe diz: “Sinto que o
nenezinho faz as obras que em seu estado pode fazer”. Porem, só o já criado dá
esses sinais de sua existência, e só quando foi dado à luz move seus membros, e
fica com vida, aprende a caminhar e a cantar. Mas se não tivesse sido criada
previamente, agora não se moveria.
III.
O regenerado se manifesta como crente mediante a prática de boas obras.
Nossa pregação quanto à nova criação é, pois, uma
vez que fomos regenerados, devemos andar em boas obras. Nesse sentido
fazemosalgo: pregamos; aqueles, todavia, que são convertidos não fazem nada
para chegar a sê-lo, já que somos criação e obra de Deus, “criados para que
andássemos em boas obras” (Efésios 2:10). Essas palavras nos falam com inteira
claridade. A semelhança com uma criatura humana é evidente. A criatura deve se
separar do corpo materno; antes de estar completamente formada, não contribui
em nada para esse fato.
Por que Deus a beneficiou de membros? Para se mover;
uma vez nascida deve caminhar, ficar de pé, comer, beber, trabalhar, mandar,
pois para isso nasceu. Se não fizesse nada, seria um tronco ou uma pedra.
Porémdeve fazer algo, para isso foi criada. A isso se refere Cristo quando
disse ao fariseu Nicodemos: “Todos vós quereis ser vossos próprios criadores.
Possuíeis a lei de Moisés e esforçai-vos para cumpri-la. Porem não obtereis
êxito, uma vez que ainda não nascestes de novo; não possuíeis o Espírito Santo.
Por conseguinte todas as vossas obras são obras do velho homem. Podeis, por
exemplo, construir uma casa ou fabricar um sapato, porém tais obras não têm
nada haver com o céu. Não são obras que conferem justiça a quem as faz. Também
os gentios são capazes de fazê-las. Ademais trazeis oferendas, circuncidais a
vossos filhos, usais as vestiduras sagradas – também isso está ao alcance de
qualquer pagão. Por isso digo que são obras do homem velho, nascido uma só vez, a saber, do seio de sua mãe.
Mas se quereis fazer obras que sejam de valor diante
de Deus e que tragam proveito ao próximo, precisais nascer de novo. Vós por sua
vez acreditam que o fazer obras que exteriormente parecem ser boas já está
assegurada a vossa entrada no céu, ainda mesmo o coração não se achando no
estado devido. Porem não façais as coisas ao contrário, não comeceis pelas
obras!”
Também os papistas são da opinião de que se pode
merecer o céu com suas obras que acompanham a graça. É um engano. As boas obras
não podem ajudar de nenhuma forma, nem como obras que precedem a graça, nem
como obras que lhe correm paralelas, nem tampouco como obras que seguem a
graça, senão que tudo tem que proceder do Espírito Santo e da água. “No lugar
de pai e mãe vos darei água e o Espírito Santo”, reza a pregação de Cristo.
Onde isso é assim, posso dizer: “minhas próprias obras não me criaram, nem me
geraram como nova criação, nem tampouco poderão fazê-lo, posto que fui criado e
gerado da água e do Espírito”. Também resulta agora fácil provar e julgar os
espíritos fanáticos.
Pois o que nasceu, o que já foi feito e criado, nãotem
necessidade de ser feito e criado. Como podem dizer então que as obras
subsequentes à graça me geram e me criam? Fazer boas obras é necessário;
correto – porém não para chegar a ser por meio delas uma nova criação. Portanto
há de se diferenciar entre fé e obras; assim, aqui o Senhor nos ensina. As
obras feitas antes da fé são condenadas como pecado. Em contrapartida, as obras
feitas por quem já tem fé são obras preciosas e boas. Todavia, tampouco essas
servem para nos converter em homens justos, senão para louvar e glorificar a
nosso Pai que está nos céus (Mateus 5:16) e para causar alegria aos anjos. Pois
quem por meio de boas obras e de uma pregação frutífera honra ao Pai, receberá
também dele a recompensa correspondente. Se não andas em boas obras, tampouco
nasceu ainda para elas (Efésios 2:10).
Onde se ensina e se vive dessa maneira, a verdade
aqui ensinada por Cristo permanece vigente em toda a pureza. Cristo diz que
temos que nascer, Paulo reforça que temos que ser criados por Deus. Falando em
termos de comparação com uma criatura: a criatura não se gera nem se faz nascer
a si mesma, senão que depois de ser criada pode fazer obras. Analogamente, a
árvore frutífera depois de plantada dá frutos. Não se diz: “Se não tiver peras
na árvore, essa não é uma árvore”, senão o inverso. Por isso cresce a pereira,
para que dê peras, para glória elouvor de Deus o Criador, e para que nós as
comamos. Assim, a obra de Deus é a que precede, e a nossa obra é a que segue.
Igualmente: se não existisse ferreiro, não existiria machado, pois para que
machado corte, previamente precisa ser fabricado.
Só um perfeito idiota poderia dizer: “Faz-me um
machado que colabore na sua fabricação, de maneira que mediante seu despedaçar
e cortar se transforme em machado”. Primeiro se fabrica o machado, e só então
se pode empregá-lo nos trabalhos aos quais a ele se destinam.
Sobre esse tema se discute de modo por demais
obstinado desde os primórdios da humanidade. E esse é o nosso ensino no qual
insistimos com toda energia, afim de que conserve o lugar correspondente
naigreja e para evitar que penetrem nela pessoas que atribuem um efeito também
às obras precedentes ou concomitantes. Primeiro deve estar a criação, o
nascimento: logo pode seguir a obra.
Nicodemos não pode compreender isso porque ele vive
na crença equivocada de que obterá êxito para entrar no céu graças as suas
obras precedentes. Cristo se opõe a ele com um sonoro NÃO: “o que não nascer de
novo, não pode ver o reino de Deus”.
Todos aqueles que ensinam algo que contrarie esse
artigo são falsos mestres. Nós, todavia, cremos e damos graças a Deus pelo fato
de que ao fim foi trago a luz e posto ao conhecimento de todos qual é o
verdadeiro caminho da vida: “Faz com que eu seja regenerado sem a colaboração
de nenhuma obra minha, mas apenas pela palavra e pela fé”. Se tal é o caso, sou
filho de Deus, tenho livre acesso a casa de meu Pai, e tudo quanto faço é bom e
aceito diante de seus olhos. Se meu pé escorrega, Ele me castiga. Se eu sou uma
arvore boa, levofrutos bons.
Se a árvore é tomada por vermes nocivos, o Pai os
extermina. Se eu sou um bom machado, sirvo para cortar; se no machado se produz
uma falha, também esse mal poderá ser sanado pelo Pai. Por isso vós os fariseus
estais muito distantes do alvo com vossas obras precedentes; porque dessas
resulta não mais que uma justiça válida diante dos olhos do mundo e para ela
vale o que acabo de dizer quanto ao atirador. A justiça proveniente da fé
acerta o alvo: aponta ao centro mesmo e penetra até a vida eterna – não por
nossos próprios meios, senão em união com aquele que é o Mediador, do qualse
fala na parte final do evangelho (João 3:14 e similares). Fomos criados por Ele e somos recriados por
Ele; por meio Dele somos uma criação perfeita, apesar de ainda não estarmos
livres de faltas e debilidades.
Isso se chama falar de forma cristã sobre a
regeneração, da qual os papistas, os turcos e os judeus não têm o menor
conhecimento. Estou seguro, portanto, que no Concílio1 dos papistas rejeitarão
esse artigo, já que a norma deles é julgar a obra de Deus segundo eles mesmos a
entendem. Cristo, porém, sustenta invariavelmente: “O que não nascer de novo,
não pode ver o reino de Deus”.
É preciso, pois, deixar de lado os pensamentos
próprios, a sabedoria própria, as opiniões próprias e ouvir somente a palavra
por meio da qual é criado em ti um coração novo sem a tua contribuição, como o
novo ser no corpo da mãe. Este texto soluciona a questão que se vem debatendo
no mundo inteiro sobrecomo é possível uma vida bem-aventurada e feliz. Não há outro
meio que a justiça efetuada pela regeneração não atinja o alvo.
CONCLUSÃO
Portanto amado leitor, o apelo de Deus ao teu
coração hoje é para que você morra para esse mundo, para a tua carne e viva
para Deus. Deixe que Ele te comunique a vida que você necessita, a vida
espiritual, a vida de Cristo que criará em você desejos que honrem ao teu Deus,
pois o Senhor Jesus mesmo promete: “Ao vencedor, dar-lhe-ei sentar-se comigo no
meu trono, ASSIM COMO EU VENCI e me sentei com meu pai no seu trono.
Quem tem ouvidos, ouça o que o Espírito diz às
igrejas” (Apocalipse 3:21-22). Vencer como Jesus venceu, nas mesmas condições,
assim como ele nasceu do espírito e foi vencedor, Deus te convida hoje para que
você tenha também esta experiência na tua vida, nascer do Espírito e ser um
vencedor em Cristo Jesus.
Elaboração pelo:- Evangelista Isaias Silva de Jesus
Igreja Evangélica Assembléia de Deus Ministério Belém Em Dourados –
MS
Bibliografia
Traduzido de
http://www.escriturayverdad.cl/mlutero.html
Original em espanhol: Nos EsNecesarioNacer De Nuevo.
Convertido para o formato digital por Andrés San Martín Arrizaga, 27 de
Fevereiro de 2007
Tradução: Luciano de Oliveira Revisão: Armando
Marcos Pinto 18 de outubro de 2012
www.projetospurgeon.com.br
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