O NASCIMENTO
DE JESUS
TEXTO AUREO
= E deu a luz
o seu filho primogênito, e envolveu-o em panos, e deitou-o numa manjedoura,
porque não havia lugar para eles na estalagem.
VERDADE
PRATICA =
Deus revelou seu amor a humanidade ao enviar a este mundo o seu Filho Jesus.
LEITURA
BIBLICA = LUCAS 2.1-7
O Nascimento
de Jesus (Lucas 2:1-52)
2:1-7 / O propósito
primordial desse primeiro parágrafo é preparar o palco para uma cena, o cântico
angelical (vv. 13,14) e a visita dos pastores vv. 15-20). Outro propósito, no
entanto, é colocar o nascimento de Jesus no contexto ambiental do grande
imperador romano César Augusto (v. a nota abaixo).
O
édito do rei persa Ciro, para que se reconstruísse Jerusalém e o tempo fizeram
que os planos de Deus fossem implementados (v. 2 Crônicas i(c2.2-23; Esdras
1:1-4; Isaias 44:28—45:l), e de maneira semelhante a ordem de Augusto para que
se convocasse toda a população do império para recensear-se desempenhou papel
importante no plano redentor de Deus. O censo deveria apurar a renda, as
propriedades e as riquezas dos habitantes para fixar os impostos. Todos iam
alistar-se, cada um à sua própria cidade (v. 3), pelo que José também subiu da
Galiléia... à cidade de Davi, chamada Belém (v. 4).
Para
Lucas, o significado da viagem a Belém (v. Miquéias 5:2) e da visita dos
pastores (Ezequiel 34:23; 37:24) se encontra no contexto de Davi. Lucas redigiu
seu registro de tal modo que, diante o reinado do grande
rei terreno, César Augusto, o filho de José — homem da casa e família de Davi
(v. 4), o maior rei de Israel e pai do Messias — nasceu. Belém era a cidade de
Davi (v. 4), pelo que foi muito pertinente que seu filho messiânico nascesse
ali também.
Por
que razão Maria teve de acompanhar José (v. 5) constitui enigma para muitos
comentaristas, visto que a presença dela para o devido registro não era
necessária. À vista, no entanto, do final da gravidez, e considerando-se as
criticas negativas que se deveriam ter levantado contra Maria pelo fato de
engravidar antes do casamento, não é de surpreender que ela houvesse
acompanhado seu marido José (v. a nota abaixo).
É
claro que para os propósitos da narrativa de Lucas, marido e mulher devem ser
mantidos juntos, pois, embora só José precise ir a Belém, é o sentimento de
Jesus que deve acontecer na cidade de Davi, e é nessa ocasião que o cântico
angelical e a visita dos pastores ocorrerão. A descrição do fato de Jesus ter
nascido num estábulo (numa caverna?) e colocado numa manjedoura (i.e., um
dispositivo aumentador dos animais, v. 7) reflete a preocupação de Lucas pelos
pobres e humildes, e também prepara o caminho para visita dos pastores.
2: 8-20 / A história
dos pastores enseja outro testemunho celestial (i,e., de anjos. vv. 13,14), e
fortalece a conexão entre Jesus e orei Davi.
Lembremo-nos
deque Davi havia sido pastor de ovelhas (1 Samuel 16:11) cm alguns dos salmos,
muitos dos quais lhe são atribuídos, Davi referiu Deus como o nosso Pastor, e
ao povo de Deus como ovelhas (Salmos 23:1; 28:9; 100:3).
Além do
mais, os profetas prometeram que um dia Deus levantaria um novo Davi, que
atuaria como Pastor de Israel (Ezequiel 34:23). Na
Palestina do primeiro século os pastores não tinham a reputação de ser
extremamente escrupulosos com respeito à propriedade alheia. Com freqüência
eram tratados com desprezo e considerados como nada menos que vagabundos e
ladrões, Não podemos ter certeza se Lucas teria em mente esse conceito; se o
tinha, aqueles humildes pastores estariam ante fruindo as bênçãos que muitas
outras pessoas de pouco prestígio haveriam de receber de Jesus, durante seu
ministério terreno (v. Talbert, p. 33-4). (Se Lucas considerasse os pastores
ladrões, então estamos diante da ironia deter Jesus nascendo e morrendo na
companhia de transgressores da lei (v. Lucas 23:32- 43]).
Em certa
noite, quando os pastores cuidavam de seu rebanho (v. 8), um anjo do Senhor
desceu aonde eles estavam (v. 9). Esse anjo provavelmente é Gabriel (v. 1:19, 26; v. as notas
sobre 1:11, acima) que, noutras ocasiões, apareceu a fim de fazer anúncios
importantes. A aparição desse anjo não é razão de alarme (vv. 9,10), porque não
veio para executar julgamento, como aconteceu às vezes (e.g., 2 Reis 19:35). O
anjo veio a fim de trazer uma mensagem, uma boa nova de grande alegria, que o
será para todo o povo (v. 10).
As boas
novas são declaradas com simplicidade no v. II: É que hoje
vos nasceu na cidade de Davi o Salvador, que é Cristo, o Senhor. Com freqüência
Lucas usa a palavra “hoje” no sentido da chegada do dia da salvação (v. a nota
abaixo).
Cidade
de Davi refere-se, naturalmente, a Belém; é bem adequado que a primeira vez que
Lucas usa essa palavra seja em conexão com o nascimento do filho messiânico de
Davi. O anjo chama a criança recém-nascida “Salvador”, “Messias” e “Senhor”.
Tais títulos merecem nossa consideração aqui.
Salvador: embora o
evangelho de João se refira a Jesus como o “Salvador” (4:42), dentre os
sinóticos só Lucas chama a Jesus Salvador. Maria chama a Deus “meu Salvador” no
Magnificat (1:47), mas aqui em 2:11 esse título é aplicado a Jesus. As únicas
outras referências de Lucas a Jesus como Salvador estão em Atos (5:31; 13:23).
Seria um título significativo tanto para os judeus como para os gentios. A
palavra “salvador” ocorre no Antigo Testamento com referência a vários
indivíduos (Juízes 3:9,15) e ao próprio Deus (1 Samuel 10:19; Isaías 45:15,21).
Todos esses versículos da LXX usam a palavra “salvador”, a que Lucas usa em
2:11. No mundo grego e romano, a palavra “salvador” (soter, no grego) com
freqüência era aplicada deuses (como Zeus) e a grandes figuras militares e
políticas. Uma inscrição
antiga chama Júlio César “deus manifestado e salvador comum da vida humana”
(Fitzmyer, p. 204). Assim é que a referência a Jesus como Salvador” seria
título prontamente entendido e apreciado entre judeus e gentios.
Cristo: o anjo
também atribui a Jesus o título popular de Cristo (christos). A palavra
“Cristo” é a tradução grega da palavra hebraica “messias”. Ambas querem dizer
“ungido”. A pessoa que foi ungida foi reconhecida e consagrada como apta para
determinada função especial, em geral para ser rei, ou para agente específico
de Deus. É claro que esse título era empregado para ser designar a pessoa que
Deus levantaria para ser o libertador de Israel.
Portanto,
anunciar que o Messias havia nascido era o mesmo que anunciar a chegada do dia
da libertação de Israel. Normalmente se entendia que essa libertação tinha
sentido militar. Entendia-se que o Messias derrotaria os inimigos de Israel e
exaltaria o povo de Deus (como vemos essa idéia refletida de certo modo no
Magnificat, especialmente 1:51,52), Embora não aja controvérsia em 2:11 a
respeito desse tipo de expectativa messiânica, a próxima vez em que essa
palavra aparecer, anunciando a chegada de uma ia messiânica (4:21), tal
controvérsia estará em pauta (v. o comentário obre 4:14-30). Por ora, todavia,
os leitores de Lucas devem aguardar em tensa expectativa, imaginando (como o
faz Maria em 2:19) que significam as coisas.
Senhor: Finalmente,
o anjo também chama Jesus “Senhor” (kyrios, v. a nota abaixo). Esse é o
principal e o mais comum título de Jesus, nos escritos Lucas. É palavra que
tanto se usa para Deus como para Jesus. “Senhor” às vezes é a tradução do nome
Iavé (“Aquele que É”; v. Êxodo 3:14) e provavelmente deve ser entendido em 2:11
em termos da encarnação; em outras palavras, o Senhor está presente em Jesus.
Essa idéia é encontrada no primitivo cristianismo, como se evidencia na
confissão: “Jesus é Senhor” (1 Coríntios 12:3; Romanos 10:9; v. Fitzmyer, p.
200-4).
Como
no caso de Zacarias (1:18-20) e de Maria (1:36), os pastores também recebem um
sinal (i.e., uma evidência comprovadora), que há de confirmar o anúncio dos
anjos. Haveriam de encontrar uma criança envolta em faixas e deitada em
manjedoura (v. 12). Essa declaração final representa o clímax da narrativa,
quando subitamente apareceu como anjo uma multidão da milícia celestial
louvando a Deus e dizendo: Glória a Deus (13).
As frases
usadas por Lucas nesse versículo são derivadas do Antigo Testamento grego (v. 1
Reis 22:19; Salmos 148:2). O hino dos anjos compõe-se de duas partes: [Haja] Glória a Deus
nas maiores alturas, e [haja ] paz na terra entre os homens, a quem ele quer
bem (v. 14; v. a nota abaixo). É possível que a segunda parte desse hino se
refira à idéia de eleição divina, a qual aparece com freqüência nos escritos de
Lucas (além daquelas passagens do evangelho que serão discutidas; v. também
Atos 13:48). O hino convoca a “paz” (i .e., shalom, ou bem-estar) sobre a terra
(i.e., sobre os habitantes da terra), pelos quais Deus demonstrará favor especial.
É
provável que Lucas entenda esse favor em termos do evangelho da salvação que se
torna possível mediante o nascimento do Messias. Lucas pode estar fazendo
referência à paz em contraste com a celebrada “paz de Augusto” (Pax Romana), A
paz que o Messias traz é a paz reconciliadora entre a humanidade e Deus (v.
Isaías 9:6; Ellis, p. 82).
Tão
subitamente como apareceram, os anjos voltaram aos céus (v. 15), deixando que
os pastores corressem a fim de visitar Maria e José, e a criança deitada na
manjedoura (v. 16). E, vendo-o [a Jesus] divulgaram o que se lhes havia dito a
respeito deste menino (v. 17). Não se sabe com clareza a quem se refere a
palavra todos do v. 18. É possível que Lucas tenha em mente os hóspedes que
estavam naquela hospedaria; o caso é que todos quantos ouviram as notícias
ficaram admirados: Todos os que ouviram se admiraram.
O
testemunho independente dos pastores atendeu à preocupação de Lucas: que
houvesse duas testemunhas dos acontecimentos celestiais, para que se observasse
a exigência da lei com respeito ao emprego de provas testemunhais (Deuteronômio
19:15); v. Lucas 24, em que há dois homens no caminho de Emaús; há duas
aparições do Cristo ressurreto e duas referências separadas a testemunhas sobre
o cumprimento das Escrituras).
Não
só o anjo do Senhor apareceu a Maria e a José para anunciar-lhes o nascimento
do Messias, mas apareceu também aos pastores. Enquanto os pastores
voltavam,glorificando e louvando a Deus por tudo o que tinham ouvido e visto
(v. 20), Maria.., guardava todas estas palavras, meditando-as no coração (v.
19). Lucas pode estar dando a entender que a fonte das informações é a própria
Maria (v. também o v. 51).
2:21-40 / A próxima
seção maior da narrativa diz respeito à circuncisão de Jesus e sua apresentação
no templo. Como no caso de João Batista (1:59- 60), na época de sua
circuncisão, Jesus recebeu o nome que o anjo dissera a seus pais (v. 21). Além
disso, assim como o ato de atribuir o nome a João Batista induziu a que fosse
apresentado e ao pronunciamento de uma profecia (1:64-79), quando Jesus recebeu
seu nome houve uma apresentação c uma declaração profética a seu respeito
(2:22-32).
Os
rituais desempenhados por José e Maria nos vv. 22-24 demonstram que os pais de
Jesus são judeus piedosos que observam com fidelidade as exigências da lei do
Senhor (v. Êxodo 13:1-2; Levítico 12:4). A oferta que fazem de um par de rolas
ou dois pombinhos indica que José e Maria eram pessoas de posses modestas (v.
Levítico 12:8). O aparecimento de Simeão (v. 25) permite que Lucas confirme de
novo o anúncio anterior da identidade e destino messiânicos dc Jesus.
Vê-se
isso na descrição de Simeão como justo e piedoso, que esperava a consolação de
Israel (v. 25; v. 2:38) e no que ele diz nos vv. 29- 32. É óbvio que, ao contemplar
a Jesus, Simeão reconhece que a consolação (te Israel por que tanto se esperou
finalmente está disponível. A referência ao Espírito Santo (vv. 25,27) prepara
o caminho para a proclamação de louvor e ação de graças (i.e., o Nunc Dimittis,
vv. 29-32). À semelhança de um atalaia que acha ter chegado ao final de sua
tarefa (v. Fitzmyer, p. 428), Simeão pede que o Senhor permita que seu servo
possa partir: Agora, Senhor, despedes em paz o teu servo (v. 29).
Ao ver a
Jesus, Simeão viu a salvação (v. 30) que Deus preparou diante de todos os
povos (v. 31; v. [saías 52:10). A referência à luz para revelação aos gentios
(v. 32; v. Isaías 42:6; 49:6) esclarece mais ainda essa idéia e antecipa a
universalidade do evangelho, tema que encontra raízes na promessa feita a
Abraão (v. o comentário sobre 1:55,73). A segunda metade do v. 32, entretanto,
não deve ser negligenciada. Essa salvação de Deus trará glória ao povo de
Israel (Isaías 46:13). Ainda que o poderoso ato de salvação de Deus se estenda
a todas as nações, o lugar de preeminência ocupado por Israel não se perderá.
É
importante que se saliente esse ponto, porque com freqüência, quando se aprecia
a ênfase de Lucas de que a salvação de Deus foi estendida aos gentios,
presume-se que Israel deixou de desempenhar seu papel e que deixou de gozar do
favor de Deus. Israel na verdade vai rejeitar o Messias e, por causa desse
grave erro sofrerá uma catástrofe (v. Lucas 19:41-44); mas, se as palavras de
Gabriel a Maria (1:30-33) significam alguma coisa, Israel não foi posto de
lado.
Embora
o caso não possa ser discutido aqui (v. a discussão na Introdução), Lucas vê
grande parte, senão a maior parte de Israel num estado de desobediência
empedernida, condição que nem é permanente nem fica fora das profecias escriturísticas
(v. Lucas 21:22; 24:25-27; Atos 13:40,41; 28:23-28; Romanos 11:25-32). Essa
idéia de uma rachadura em Israel se torna explícita nos vv. 34 e 35: Eis que
este menino está destinado tanto para ruína como para levantamento de muitos em
Israel, e para ser alvo de contradição (também uma espada traspassará a tua
própria alma), para que se manifestem os pensamentos de muitos corações.
A
última parte do v. 34 e a primeira do v. 35 antecipam a rejeição pessoal de
Jesus (v. Lucas 22:66—23:5); e a rejeição judaica da pregação apostólica (v.
Atos 4:18; 5:17,18; 6:13,14; 8:1; 13:45; 14:2,19; 17:5,6,13; 21:27,28; 24:2-9;
25:2,3; 28:23-28). A última parte do v. 35 refere-se a uma espada aguda que
traspassará a alma de Maria. Ao longo dos séculos, numerosas explicações têm
sido feitas quanto a essa declaração. Talvez a interpretação mais popular seja
que a rejeição e a morte de Jesus causariam tremenda tristeza a Maria, como
talvez esteja descrito em João 19:25-27 (assim o declara Marshall, p. 122-3).
O
problema dessa interpretação é que se baseia no evangelho de João. Lucas, no
entanto, não retrata Maria sofrendo ao pé da cruz. Outra interpretação, que tem
a vantagem de basear-se no evangelho de Lucas apenas, é que a espada se refere
à divisão que Jesus causará em Israel, de que Maria faz parte (segundo
Fitzmyer, p. 429-30; v. também Schweizer, p. 57).
Em Lucas
12:51-53, Jesus adverte que por causa dele as famílias se dividirão. A declaração
de Simeão a Maria, entendida dessa forma, faz paralelismo com o resto do
oráculo. Assim como Jesus causará divisão em Israel, de modo geral, assim
também sua mãe, de modo particular, vai experimentar angústia por causa da
mensagem e do ministério de seu filho.
Possivelmente
com o desejo de apresentar duas testemunhas, Lucas passa a expor a reação da
profetisa, chamada Ana (v. 36). O nome Ana é o mesmo nome do Antigo Testamento,
e talvez tenha a intenção de trazer à memória a mãe de Samuel (1 Samuel 1,2), de modo
especial tendo em mente a similaridade que há entre as apresentações das
crianças no templo a de Samuel (1 Samuel 1:22-24) e a de Jesus (Lucas 2:22). Há
outros paralelismos entre Samuel e Jesus, os principais dos quais são os
seguintes:
De certa
maneira, Ana é um paralelismo do menino Samuel. Assim como
Samuel não entrou no templo (i.e., no tabernáculo) de modo permanente, enquanto
não se desmamou (1 Samuel 1:22-24), assim também Ana, aparentemente não se liga
ao tabernáculo continuamente enquanto não se torna viúva (Lucas 2:36,37).
Assim como
Samuel ficou no templo em comunhão com Deus, assim também Ana durante muitos
anos adorava noite e dia em jejuns e orações (v. 37). Embora
Lucas não registre uma única palavra do que Ana falou, ele nos diz que ela dava
graças a Deus, e falava a respeito do menino a todos os que esperavam a
redenção de Jerusalém (v. 38). Até mesmo esse aspecto das atividades de Ana nos
traz à memória o ministério de Ana, em trazer alívio a Israel da opressão dos
filisteus (v. 1 Samuel 7:3-13).
Os vv. 39 e
40 encerram a apresentação. Cumpridas todas as ordenanças segundo a lei do Senhor, voltaram
para a Galiléia, para a sua cidade dc Nazaré. Crescia o menino e se fortalecia,
enchendo-se de sabedoria; e a graça de Deus estava sobre ele (v. 39). Assim
como João Batista crescia e se fortalecia em espírito” (1:80), também Lucas, de
modo semelhante, descreve Jesus (v. o paralelismo de Samuel, acima).
2:41-52/Embora essa
não seja exatamente uma história sobre a infância dc Jesus, fica bem evidente
que Lucas tenciona que o episódio de Jesus, sendo encontrado no templo, faça
parte de sua narrativa completa. É um episódio que se encerra com um refrão (v.
52) semelhante a outros que encerram narrativas de infância (1:80; 2:40). Esse
incidente serve de transição entre a infância e a vida adulta de Jesus. Também
ilustra o crescimento de Jesus e sua sabedoria (2:40). O versículo inicial não
só prepara o palco para a cena, mas outra vez sublinha a fidelidade e a piedade
de José e Maria, O ensino de Jesus no templo, visto no contexto da celebração
da Páscoa, pode com certeza antecipar seu ensino final no templo, noutra
Páscoa, durante a semana da paixão (v. Lucas 21:37).
O incidente
faz levantar urna série de perguntas difíceis, quando o analisamos de uma
perspectiva histórica e psicológica. Por exemplo, como poderia o menino Jesus ter
sido esquecido por um dia inteiro (v. 44); e onde ele teria dormido durante
aquelas três noites em que esteve sem seus pais (v. 46)? E mais, levando-se em
conta sua grande sabedoria, por que não demonstrou maior consideração pelos
pais? Entretanto, Lucas não está interessado em responder a essas perguntas,
visto que nada têm que ver com o objetivo de sua narrativa. O objetivo de sua
narrativa é estabelecer o sentido de missão de Jesus, e como o Senhor se
preparou para ela. Isso fica bem evidente nas perguntas que ele formula e
coloca nos lábios de Jesus, para seus pais, agora aliviados (e talvez
perplexos) :Por que me procuráveis? Não sabíeis que me cumpria estar na casa de
meu Pai? (v. 49).
Esse
incidente, à semelhança da visita dos pastores (vv. 16-20) sua mãe guardava no
coração (v. 51). Com o refrão do v. 52 (v. o paralelismo com Samuel, acima), a
narrativa da infância de Jesus, corno aconteceu no caso de João Batista (1:80),
chega ao final. Quando Jesus reaparece em cena, já é adulto, pronto para
iniciar seu ministério público.
Notas
Adicionais
2:1 \ César
Augusto:
Esse imperador colocou um ponto-final nas horrendas guerras civis do Império
Romano, e seu longo reinado (de 27 aC. a 14 d.C.) trouxe prosperidade e paz a
todo o Império (v. Fitzmyer, p. 399-400).
2:1-2 /
recenseamento: Numerosas dificuldades prendem-se à referência feita por Lucas ao
primeiro recenseamento (v. 2) ordenado por César Augusto (v. 1), quando Quirino
era governador da Síria (v. 2). Tais dificuldades poderiam ser resumidas da
seguinte maneira, a seguir (quanto a um estudo mais completo v. Marshall, p.
100-4; Fitzmyer, p. 401-5): (1) De acordo com Mateus 2:1, Jesus nascera nos
dias do rei Herodes. Visto ser fato consumado que Herodes morreu em 4 a.C., o
nascimento de Jesus deve ter ocorrido antes da morte de Herodes (mas não muito
antes, de acordo com a idade de Jesus em locas 3:1,23 e de acordo com Mateus
2:15, que dizem que Herodes morreu sendo Jesus muito jovem). O problema é que
não existe registro de um recenseamento ordenado por César Augusto nessa época.
E difícil imaginar que em nenhuma de todas as histórias antigas não houvesse
urna menção sequer a um recenseamento de amplitude global. (2) Contudo, há um
registro de um recenseamento feito durante a época em que Quirino era o
governador da Síria, mas isso ocorreu em 6 ou 7 d.C., após o exílio do tetrarca
Arquelau. Tem-se aventado hipótese deque talvez Quirino fosse o governador da
Síria em ocasião anterior, mimas isso não seria solução real, visto que
Quintílio Varo fora o governador durante os últimos dois anos da vida de
Herodes (6-4 a.C.) e Sêncio Saturnino, nos últimos três anos anteriores (9-6
a.C.).
Não
sabemos quem era o governador durante os anos 3 e 2 a.C., mas, visto que esse
período seria posterior à morte de Herodes, não temos aí a solução. Tem-se
mencionado com freqüência um fragmento de inscrição que demonstra ter sido
Quirino o governador da Síria em ocasião anterior (v. Marshall, p. 103), mas
tal fragmento não menciona o nome dc Quirino, tampouco aponta taxativamente
para um segundo período de governo na Síria.
Além
disso, a hipótese de ter sido Quirino uma espécie de governador militar da Síria,
ao lado do governador (civil) Saturnino, não passa mie especulação, e teria
ocorrido em época muito anterior, não podendo ajudar na solução do problema.
(3) Em Atos 5:36,37 Lucas menciona duas pessoas que se diziam “messias”.
Ficamos sabendo que um Judas Galileu levantou-se nos dias (lo recenseamento.
Certamente essa é uma referência ao recenseamento de Lucas 2:1,2.
Josefo
(Guerras 7.253) nos fala de um levante contra o recenseamento e os impostos que
se lhe seguiriam, chefiado por esse Judas Galileu, durante o reinado de
Quirino. A passagem de Atos tende a confirmar a suspeita de que Lucas 2:2 se
refere de fato ao recenseamento feito durante o governo de Quirino cm 6 e 7 d
.C., cerca de dez anos após o nascimento de Jesus.
Entretanto,
o maior problema com referência a Atos 5:36,37 é a menção de Teudas (v. 36) e a
declaração, no v. 37, de que depois desse, levantou-se Judas, o galileu.
Segundo Josefo (Anti güidade, 20.97), Teudas chefiou uma revolução quando Fado
era o governador (44 d.C.). Se Josefo estiver certo (e nem sempre ele é
confiável) e se estiver fazendo menção ao mesmo Teudas mencionado em Atos 5:36
(e nesse caso Josefo e Lucas estão claramente em conflito), pode ser que Lucas
esteja laborando em confusão (ou, melhor diríamos, que suas fontes são obscuras
e incompletas). Entretanto, visto que em muitos outros casos Lucas demonstra
ser muito mais confiável que Josefo, é mais sábio nesse caso deixar suspenso o
julgamento.
Existe
alguma evidência (Marshall, p. 104) de que, por causa das relações tensas entre
Augusto e Herodes, nos últimos anos deste, o imperador romano exigiu que os
súditos de Herodes fizessem um juramento de lealdade. Após a morte de Herodes e
do período relativamente curto do reinado incompetente de seu filho Arquelau,
como tetrarca da Judéia, ordenou-se um recenseamento. Lucas poderia ter
considerado todas as seqüências com um só episódio, ou como se tudo houvesse
culminado no recenseamento que fora ordenado nos dias em que Quirino era o
governador. Além do mais, o uso peculiar que Lucas faz da palavra “primeiro”
(protos) pode dar apoio a essa linha de raciocínio.
Como
tem sido observado pela maioria dos comentaristas, ouso da palavra “primeiro”
aqui é gramaticalmente esquisito. Marshall acredita (p. 104) que talvez Lucas
quisesse dizer “antes” (significado legítimo de protos) no sentido de “este recenseamento
(antes daquele que )fora feito quando Quirino era governador da “Síria”, num
esforço para diferenciar o recenseamento a que 2:1,2 faz referência e o outro,
que se conhece melhor, e que foi efetuado em 6 e 7 dc.
Essa
solução, entretanto, se complica por causa de uma referência em Atos 5:37 ao
recenseamento (e aqui Lucas não deixa implícita nenhuma diferenciação), e por
causa da tradução proposta de 2:2 que, assim admitem os estudiosos, dá à
palavra protos sentido incomum.
E
possível que a conclusão dc Marshall seja a mais judiciosa: “Nenhuma solução
está livre de dificuldade, e dificilmente o problema pode ser resolvido sem que
haja a descoberta de nova evidência” (p. 104).
2:5 / com
Maria, sua esposa: Essa palavra (grega) pode ser traduzida por “noiva”,
“comprometida” (NASB), e mesmo “casada”. Dc fato, muitos manuscritos trazem a
informação que Maria era “sua esposa”. Ainda que Lucas quisesse dizer que Maria
agora estava casada com José, o estado avançado da gravidez ultrapassava o
tempo decorrido desde que se haviam casado; a anormalidade teria ficado óbvia a
todas as pessoas de Nazaré e seria possível, senão provável, que o casal
sofresse críticas ferinas e insultos.
Que
isso poderia ter acontecido até nos anos que se seguiram ao nascimento de Jesus
podemos verificar nas observações mordazes que encontramos em João 8:41. Quer
Maria já estivesse casada com José, quer ainda fosse sua noiva, não é difícil
entender as razões por que ela quis acompanhar José, a despeito de estar
prestes a dar à luz.
2:7 /
enfaixou-o: Compare Sabedoria 7:4: “Eu estava enfaixado, e em minhas fraldas, e
cuidaram de mim”; v. também Ezequiel 16:4.
2:9 / e a
glória do Senhor: É expressão comum do Antigo Testamento; v. Exodo 16:7.
brilhou: O
aparecimento de Deus com freqüência se associa à luz; v. Exodo 24:17.
2:11/hoje: V.
Lucas4:2l;5:26; 12:28; 13:32,33; 19:5,9;22:34,61;23:43.
Cristo, o
Senhor:
Alguns manuscritos trazem “o Cristo do Senhor”, como em Lucas 2:26. Todavia a
redação dada pela maioria dos manuscritos, que é a que originou a tradução de
NVI, é a original; quanto a uma pesquisa mais profunda dessa expressão, v. Leaney,
p. 95-6. “Senhor” nem sempre implica divindade, visto que há ocasiões em que
significa simplesmente um pronome de tratamento, como “senhor”. Mas há casos em
que “Senhor” é palavra usada em seu sentido absoluto, o que Lucas 2:11 parece
fazer, referindo-se à divindade.
2:12/ E isto
vos servirá de sinal: Compare-se com Êxodo 3:12; 2 Reis 19:29.
2:13/ uma
multidão da milícia celestial: Compare-se com 1 Reis 22:19.
2:14 /
Glória a Deus nas maiores alturas: Embora um texto exato equivalente a esse não
ocorra no Antigo Testamento, há paralelismos nos livros apócrifos: 1 Esdras 9:8
(“dá glória ao Senhor”); Bar. 2:18 (“dará glória a ti... ó Senhor”).
paz: O Messias
deveria trazer a paz; Isaías 52:7; 57:19; Leaney, p. 96. A tradução, entre os
homens, a quem ele quer bem é a traducão preferível, em vez daquela baseada na
versão do rei Tiago, que se valeu de manuscritos posteriores, cuja tradução é
defeituosa: “boa vontade para com os homens”. Há expressões paralelas a essa
nos rolos do mar Morto (v. Fitzmyer, p. 411-2).
2:22 /
Passados os dias da purificação deles segundo a lei de Moisés: a expressão
de Lucas, “deles”, de certo modo é desorientadora, pois, falando de modo
estrito, só a mãe é que precisaria de purificação (não o pai, nem o filho).
Durante sete dias a mulher estaria imunda e durante outros 33 dias precisaria
licar confinada (Levítico 12:2-8; v. Lachs, p. 31).
Jerusalém: O nome
dessa cidade histórica aparece nos escritos de Lucas com mais freqüência do que
em qualquer outro livro do Novo Testamento. A tradição identificou a cidade com
Salém; v. Gênesis 14:18; HBD, p. 463-73.
2:23 / Todo
primogênito: Literalmente: “Todo o macho que abre a madre”. Esse versículo é
paráfrase de Exodo 13:2. Lucas queria que o leitor entendesse, é lógico, que a
dedicação de Jesus transcende as dedicações rotineiras de todos os demais
filhos primogênitos judeus.
2:25 / a
consolação de Israel: A esperança de Simeão fundamenta-se nas promessas escriturísticas
da “restauração do reino a Israel” (Tiede, p. 75; v. [saías 40:1; 49:6; 61:2).
2:29-32 / O cântico
Nunc Dimittis, como o Magnificat (1:46-55), e o Benedictus (1:68-79), também
traz à memória várias passagens escriturísticas:
2:29 /
despedes em paz o teu servo: LXX Gênesis 15:15; cf. Atos 15:33.
2:30,31/porque
os meus olhos já viram a tua salvação, a qual preparaste diante de todos os
povos:
Isaías 40:5 (v. Lucas 3:6); 52:10. Apalavra que Lucas usa para “salvação”
(soterion) é relativamente rara no Novo Testamento. Três das quatro ocorrências
estão em Lucas/Atos. Tannehill (p. 40-42) observa que Lucas tomou emprestada
essa palavra da LXX (como vemos na citação que o evangelista faz de Isaias
40:5), e é provável que desejasse que o leitor entendesse um fato: Simeão era
uma das primeiras testemunhas que viriam a salvação de Deus. Tal salvação,
graças à obra missionária apostólica, seria pregada por todo o Império Romano.
2:32 /luz
para revelação aos gentios: Isaías 42:6: 49:6; 60:1. Isaías 49:6 será citado mais tarde em
Atos 13:47; 26:23.
e para
glória do teu povo de Israel: LXX Isaías 46:13.
2:34 / tanto
para ruína como para levantamento de muitos em Israel: J. T.
Sanders (p. 161) crê corretamente que a referência aqui se faz a toda a
história de Lucas-Atos. Mas está errado ao pensar que Atos 1—5 reflete o
“levantamento” de Israel, e que Atos 6—28 reflete a “ruína” de Israel.
Não
só esse autor fez a reversão, sem a menor justificativa, da seqüência da ruína
e do levantamento, como ainda é improvável, em primeiro lugar, que Lucas
atribua algum sentido temporal,de qualquer tipo, a essas palavras.
E
muito possível que Lucas quisesse dizer simplesmente que algumas pessoas
cairiam, enquanto outras se ergueriam (v. Schweizer, p. 57), talvez no sentido
de uma reversão (v. Tannehill, p. 29; e a seguir, na p. 29, o n’ 37. Tannehill,
com referência a Lucas 2:34, refere-se a uma “levantamento dentro de Israel”).
Por
implicação, Israel será dividido quanto à forma por que reagirá perante Jesus
(v. Atos 28:24,25).
2:36 / uma
profetisa chamada Ana: “Ana” é a forma grega do nome hebraico Hannah. Já discutimos a
história de Hannah, que deu à luz Samuel, e o criou, história que está
registrada em 1 Samuel 1 e 2, e que contribuiu para a narração da infância de
Jesus (v. o comentário e as notas sobre 1 :46-55, acima).
E
interessante notar que, de acordo com uma tradição judaica, Ana, a mãe
deSamuel, era profetisa (b. Megilla 14a; conforme o observou Lachs, p. 32-13).
2:42/doze: Não havia a
exigência de as crianças participarem dc atividades
religiosas
dos adultos, senão após os 13 anos de idade. Ao mostrar Jesus, que participava
de atividades religiosas antes dessa idade, Lucas de novo sublinha a piedade e
a retidão da familia sagrada.
Todavia,
pode haver algo mais do que isso. Lachs (p. 34) propõe com grande
plausibilidade que Locas poderia ter sido influenciado pela tradição segundo a
qual Samuel iniciou suas atividades proféticas com a idade de doze anos (v.
Josefo, Antiguidade 5.348).
Talvez
haja verdade nessa afirmativa, à luz das alusões deliberadas e freqüentes à
história do nascimento e educação de Samuel (o v. 40, acima, faz-nos lembrar de
1 Samuel 2:21,26; o Magnficat [Lucas 1:46-55] foi modelado segundo o cântico de
agradecimento de Ana, em 1 Samuel 2:1-10). Quanto a uma lista de meninos
prodígios de doze anos, v. Schweizer, p. 63.
2:46 /
assentado no meio dos mestres: Lendas apócrifas de urna época posterior
(e.g., O Evangelho da Infância, de Tomé) falam de Jesus no templo, ou na
sinagoga, deixando admirados os mestres da lei, por causa de sua sabedoria
profunda e grande conhecimento.
Elaboração
pelo:- Evangelista Isaias Silva de Jesus Igreja Evangélica Assembléia de Deus Ministério Belém Em Dourados –
MS
Comentário
Bíblico Contemporâneo Edição Contemporânea de Almeida
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